4 pauladas de Janio em uma coluna: no ministro da Defesa, nos empresários double bind, em Ciro e em Bolso-ignaro

A coluna de Janio de Freitas na Folha hoje está afiada e contundente, como certos contos do início da carreira de Rubem Fonseca.

Oposição à democracia não isenta de deveres

Em condições anormais, o percurso daqui ao dia 30 se encerrará com vitória do ex-presidente Lula. Contudo, não está extinto o risco de que se volte ao que é a normalidade destes tempos, sucessão impune de aberrações e crimes do governo, um tanto contidos desde o primeiro turno eleitoral.

A combinação de derrota inapelável do golpismo na batalha inicial e condições mais promissoras para Lula, nos dados preliminares, não garante sucessão tranquila com possível derrota de Bolsonaro.

O Tribunal Superior Eleitoral proclamou os 100% de aprovação às urnas e à contagem. Importa pouco ou nada o silêncio de Bolsonaro a respeito. Não é o caso do Ministério da Defesa e do general-ministro Paulo Sérgio Nogueira.

Foram a infantaria no ataque às urnas e à lisura eleitoral, dando realidade às circunstâncias golpistas em que Bolsonaro foi e é o "laranja".

A investida da Defesa em nome dos militares, sem precedente algum que a justificasse, foi pública e documentada em questionamentos com óbvio propósito de induções na opinião geral.

Os experts informáticos e eleitorais das Forças Armadas perscrutaram os intestinos das urnas e os hipotéticos mistérios do processo. O próprio general pôde conhecer a iluminada e transparente sala secreta e escura denunciada pelo despudor de Bolsonaro.

Quantas fraudes ou indícios a operação militar detectou? E as urnas, que tal? Ou não era no processo eleitoral que estava o desvio alegado pela operação?

É razoável esperar que a Defesa e seu ministro cumpram o dever de informar o país sobre o assunto com que o inquietaram. E o diminuíram no mundo. Oposição à democracia não isenta de deveres.

Pretexto para apoiar Bolsonaro

Só um candidato idiota cairia na exigência, muito mais idiota, de que Lula revele já o seu ministro da Fazenda/Economia, para ser aceitável como Bolsonaro pelo empresariado.

Se exposto o escolhido, que talvez nem exista ainda, nada impediria que esses empresários continuassem financiando e atuando por Bolsonaro. Nem Lula, se eleito, estaria impedido de em pouco tempo demitir o ministro associado aos tais empresários.

A pobreza mental e moral desse empresariado que age na política só por interesse direto, dominado por ganância e egoísmo patológicos, é responsável por grande parte das desgraças que assolam o país. A corrupção grossa começa por aí.

Lula governou por oito anos, encerrados há menos de 12, e saiu com 82% de aprovação ao seu governo. Não saber quais são as ideias e métodos, que o caracterizam como governante e como pessoa, só se explica por asnice insolúvel.

A exigência do nome já, e que saia da turma obcecada pelos cifrões privados, é só pretexto para apoiar Bolsonaro com o engodo de que o fazem por indefinição de Lula.

Decisivas

As mulheres e o Nordeste são os fatores mais relevantes desta eleição presidencial.

Ciro Gomes, paulista do Ceará, não deixou de acompanhar o grau de influência nordestina, embora à sua nova maneira surtada: a subida de Bolsonaro, nas primeiras pesquisas do segundo turno, saiu de Ciro Gomes por intermédio de seus aficionados persistentes.

Um presente dado ao bolsonarista explícito pelo bolsonarista implícito.

Bolsonaro deu sua explicação para o fracasso no Nordeste: "Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior analfabetismo. São do nosso Nordeste". É a explicação de analfabeto. E analfabeto muito especial.

Dinheiro público deu-lhe o longo ensino escolar, os cursos da preparatória e da academia militar. Nessas etapas até foi pago para ser aluno.

Recebeu teto, comida e roupa lavada do ensino até ser apenas excluído do Exército, por terrorismo, em tramoia na Justiça Militar. Apesar de tudo isso, é um ignorantaço que mal disfarça o analfabetismo.

Como é possível que isso aconteça nas Forças Armadas, e está visto que não é raro, prova que não é pela escola fundamental ou média que a reforma do ensino se faz urgente.

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