Fantasma de 1971 assombra Botafogo

Em 1971, como neste 2023, o Botafogo abriu imensa vantagem sobre os demais times. Não era o Brasileirão, que nem havia nesse formato naquela época. Era o Campeonato Carioca. 

O Botafogo tinha um time tão bom e superior aos outros que era chamado de Selefogo. O Brasil havia acabado de se tornar tricampeão mundial no ano anterior e quatro jogadores daquela seleção jogavam no Botafogo: o capitão Carlos Alberto, o zagueiro Brito e os atacantes Jairzinho e Paulo Cesar Lima ou Caju.

Disparado na frente da tabela, todos já consideravam o Botafogo campeão, quando o time parou, de repente. Despreocupado com a larga vantagem, foi perdendo pontos preciosos aqui e ali, até que, antes da decisão com o Fluminense, perdeu para o Flamengo (a quem havia vencido no primeiro turno por 2 a 0) e empatou com América e Bonsucesso.

Ainda assim, na final o Botafogo tinha a vantagem do empate. E tudo parecia certo com o 0 a 0 no placar. 

Até que, aos 42' do segundo tempo, veio outro fator que guarda semelhança com os dias de hoje. Erro de arbitragem. Numa batida de escanteio, o lateral esquerdo do Fluminense empurra o goleiro do Botafogo, que solta a bola nos pés do ponta-esquerda Lula, que só tem o trabalho de empurrar para as redes. 1 a 0, Fluminense campeão, contra todos os prognósticos.

Marco Antonio empurra o goleiro Ubirajara

O Botafogo de 2023 parece ir pelo mesmo caminho. Embora com história em tudo diferente. Sem craques como o time de 1971, o Botafogo apostou no conjunto, que vinha sendo trabalhado há um bom tempo, e se aproveitou que os times mais fortes da competição estavam se dedicando a outras competições, como Copa Brasil, Sul-Americana e Libertadores.

Uma série de erros, não apenas dos jogadores, começou a virar o vento, que parecia empurrar o Botafogo para um campeonato tranquilo, onde chegou a botar 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Com a ida do técnico que formou o time, Luis Castro, para o exterior, o Botafogo acabou optando por outro treinador português, Bruno Lage, que por pura vaidade resolveu mudar o estilo de jogo do time.

A equipe caiu de produção, começou a perder jogos, e os dirigentes a seguir cometeram um grande erro, que pode custar o campeonato. 

Após a derrota para o Flamengo, numa atitude que surpreendeu a todos, Bruno Lage pediu demissão. Aí o grande erro: Os dirigentes não aceitaram e foram precisos mais alguns jogos catastróficos para que ele fosse finalmente demitido.

O time perdeu o pique e até hoje não se reencontrou. Além disso, outros jogadores caíram de rendimento, especialmente o melhor jogador e artilheiro do time e do campeonato, Tiquinho Soares.

Desde que se machucou, ainda no primeiro turno, Tiquinho nunca mais voltou a ser o mesmo e ultimamente tem tido performances muito abaixo do que pode realizar. No pênalti perdido contra o Palmeiras, aos 37' do segundo tempo, que poderia dar ao Botafogo a folga de 4 a 1 no placar, tinha o olhar perdido, ansioso, respirava muito. No jogo contra o Vasco brigava com a bola.

É hora de aproveitar que ele está suspenso por cartão e não pode jogar a próxima partida e tratar de ver qual o problema dele, se físico ou psicológico, e buscar uma solução.

Outra coisa é o Diego Costa. Lento e fora de posição, tendo que buscar jogo — o que nunca foi a dele. Ou bem botam ele em campo dentro da área para brigar com os zagueiros ou o deixem no banco.

Ainda é possível ser campeão. Somos líderes e temos um jogo a menos. Mas é preciso afastar o fantasma de 1971. 

Desaprender a jogar o time não desaprendeu. O primeiro tempo da partida contra o Palmeiras prova isso. Tem que mostrar aos jogadores aqueles 45 minutos contra o timaço do Palmeiras. Aquele é o Botafogo que tem que jogar todas as partidas.

Só assim o campeonato será possível, após 28 anos no sereno.

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