O menino Jesus é uma criança palestina e um sinal de vitória

Meu menino Jesus está ferido, mas vivo. Perdeu um braço, mas faz o sinal de vitória com a mão que lhe sobrou. E ainda sorri, porque meu menino Jesus é palestino, é valente, é semente, como o primeiro menino Jesus, aquele que prenderam na cruz. 

Meu menino Jesus talvez seja uma menina, porque não fica claro a que sexo pertence essa criança ferida por Israel, que objetivava matá-la, como Herodes e os que condenaram Jesus à cruz, mas não conseguiram.

Minha criança Jesus é isso, criança, nascida antes do evento que todos esperamos, a meia noite da virada do dia 24 para 25 de dezembro, quando os cristãos comemoram, por convenção, o nascimento de Jesus Cristo, aquele menino, aquela criança que teria vindo ao mundo para nos salvar.

Quantas Marias também não tentaram chegar a um lugar seguro neste Natal para o nascimento de seus filhos? Quantas Marias assassinadas pelas bombas de Israel entre as seis mil mulheres mortas até o momento?

Pelo exército de Israel, com soldados que mandam fazer camisetas com uma mulher palestina grávida, um alvo desenhado sobre sua barriga e as palavras "1 shot, 2 kill". Uma bala, dois palestinos mortos.

Quantas crianças Jesus não foram assassinadas até o momento? São quase oito mil. E continuam morrendo de morte matada, fria e covarde.

Algumas Marias conseguiram chegar à maternidade. Mas Israel destruiu a maternidade. E elas tiveram que fugir.

E saíram com suas barrigas, como a Maria original, aquela do Jesus original, à procura de um lugar para deixar nascer a criança que quer vir ao mundo, mesmo que parte do mundo, através das bombas e do silêncio e/ou apoio de muitos, queira assassiná-la, ainda no ventre.

Algumas crianças nasceram prematuras, estavam em incubadoras no maior hospital de Gaza, aquela coleçãozinha de crianças Jesus, com oxigênio lhes escondendo boca e nariz, mas salvando-lhes a vida. 

Até que as forças de Israel tomaram o hospital, mandaram evacuá-lo e não ofereceram condições, nem permitiram que condições fossem criadas, para que aquelas crianças Jesus nas incubadoras pudessem enfim respirar o ar sem ser o do hospital.

Todas aquelas crianças Jesus morreram.

Como foram encontradas anteontem quatro Marias grávidas, ainda com os bebês em seus ventres, que simplesmente foram mortas e terraplanadas pelos tratores de Israel, que estão "limpando" Gaza, transformando-a num campo nivelado, onde antes havia prédios, apartamentos, casas, quartos, móveis, brinquedos, gente, crianças. Vida.

Mas minha criança Jesus, apesar de tudo, sorri para a câmera e faz o sinal da vitória, como o pioneiro menino, que morreu aos 33, mas vive até hoje e até hoje nos faz sonhar com um mundo justo, onde as crianças possam nascer e viver e sejam sempre bem-vindas, nunca bombardeadas, assassinadas.

Ainda hoje, uma mãe palestina dará à luz na Palestina ocupada e bombardeada, mesma terra onde nasceu o menino Jesus, uma criança que ainda teima em sua barriga. 

E é pra ela que a criança da foto faz o sinal de vitória. Porque é. E será. Sempre.

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