Nunes Marques tem seu destino ligado ao mais perigoso bicheiro do RIo

O destino parece unir, como algemas unem a mão direita à esquerda, o destino do ministro do STF Kássio Nunes Marques ao do bicheiro Rogério de Andrade, sobrinho do capo Castor de Andrade, já falecido.

Rogério de Andrade é tido como o mais perigoso, poderoso e violento bicheiro do Rio de Janeiro. São inúmeras as acusações contra ele, inclusive de assassinatos. Mas sempre se livrou corrompendo a polícia e se cercando de ex-policiais violentos e perigosos, como o ex-capitão do BOPE Adriano da Nóbrega, chefe do chamado Escritório do Crime, assassinado na Bahia em provável queima de arquivo, e do ex-sargento Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes. Ronnie Lessa era sócio de Rogério de Andrade em parte de seu império de máquinas caça-níqueis.

Os tentáculos do bicheiro na polícia, no entanto, são ainda mais profundos: um levantamento feito pelo GLOBO com base em processos judiciais, sindicâncias e boletins internos das polícias revela que, desde 1998, 101 agentes oriundos de forças de segurança foram acusados de trabalhar para Andrade. Ao todo, 79 policiais militares, 14 policiais civis, seis bombeiros, um policial federal e um policial penal já foram associados à tropa do bicheiro nas últimas três décadas — efetivo equivalente ao que um batalhão de médio porte da capital do Rio, como o 6º BPM (Tijuca), emprega diariamente no patrulhamento das ruas de sua região. [Globo]

 

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Por quatro vezes o destino de Rogério de Andrade esteve nas mãos do ministro Nunes Marques. Na mais recente, tomada na terça-feira, 16, o ministro liberou Rogério do uso de tornozeleira eletrônica e também da obrigação de não sair de casa após as 18h.  Agora ele está livre para sair a qualquer hora e sem monitoramento.

A primeira decisão de Nunes Marques que beneficiou Rogério de Andrade foi em setembro de 2021. O ministro do STF suspendeu um mandado de prisão contra o bicheiro pela suspeita de ser o mandante da execução do também contraventor Fernando Iggnácio, numa emboscada, em novembro de 2020. A investigação foi da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) da Polícia Civil. Embora, à época, o chefe da segurança de Rogério, o sargento reformado da PM Márcio Araújo de Souza, tenha ficado na cadeia pelo mesmo crime. Três meses depois, Nunes Marques decidiu pelo trancamento da ação penal contra Rogério de Andrade, favorecendo-o pela segunda vez.

A terceira decisão que o beneficiou ocorreu em agosto de 2022. O ministro do STF suspendeu novo mandado de prisão contra Rogério de Andrade, por organização criminosa e corrupção ativa. Nunes Marques também revogou as prisões do filho do contraventor, Gustavo de Andrade, e do chefe da segurança, Márcio Araújo, em junho e outubro de 2023, respectivamente.[Globo]

O jornalista Rafael Soares, autor do livro "Milicianos", com extensa pesquisa sobre o tema, publicou em seu perfil no X uma série de xuítes:

Um detalhe sobre a infiltração do bicheiro Rogério Andrade no Estado e o risco do fim de seu monitoramento pela Justiça. 

Em 2021, ele teve a prisão decretada pelo homicídio de seu rival Fernando Iggnácio. Quando soube do mandado resolveu fugir — com a ajuda de um séquito de PMs.

Na teoria, a obrigação dos mais de 20 PMs que faziam parte de sua escolta pessoal era denunciar o paradeiro de Rogério ou até dar voz de prisão a ele. Não foi o que aconteceu.

Mensagens obtidas pelo MPRJ mostram que os agentes passaram os quatro meses seguintes trabalhando para proteger o bicheiro da Justiça enquanto ele se escondia num sítio em Araras, na Região Serrana do Rio.

Enquanto o mandado de prisão esteve em vigor, Rogério jamais foi encontrado.

  

 

Comício de Bolsonaro e a decisão do ministro

 

Internautas também fizeram uma ligação entre a liberação do uso de tornozeleiras por Rogério de Andrade e o comício bolsonarista de lançamento da pré-campanha de Ramagem à prefeitura do Rio.

A grande festa foi na quadra da Mocidade Independente, que tem a família de Castor de Andrade como patronos e Rogério de Andrade como presidente de honra.

Como Nunes Marques foi indicação de Bolsonaro ao STF, ficou a dúvida:


 

 

Bicheiros não mandam flores

 

Como será que o assassino de Marielle e Anderson, Ronnie Lessa, enquanto aguarda a sentença final de seu caso, recebeu na cadeia a notícia de liberação total de Rogério de Andrade por Nunes Marques?

Ronnie Lessa começou um processo de delação premiada, onde entregou os que seriam os mandantes do crime de Marielle e Anderson, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. 

Só que os acordos de delação premiada vão mais fundo e devem querer saber também das relações de Ronnie com Rogério de Andrade. Ou conta tudo ou tem o acordo anulado e perde as possíveis vantagens que viriam dele.

"O que será que Rogério de Andrade pensa disso?", deve estar se perguntando Ronnie Lessa, agora com o antigo sócio livre, leve e solto. Certamente, preocupado.

Quem assistiu à série "Vale o Escrito — A Guerra do Jogo do Bicho" sabe que as desavenças ou delações entre eles não costumam ser resolvidas com flores — a não ser aquelas que enfeitam os velórios. 


 



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