O que o JN mostra e o que esconde sobre prevenção de enchentes no RS

Ontem, o Jornal Nacional exibiu uma reportagem falando que muitos dos problemas causados pelas chuvas agora no Rio Grande do Sul poderiam ter sido evitados, caso um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de 2012 tivesse sido implementado em sua totalidade. Trecho:


Mais de dez anos atrás, o Rio Grande do Sul recebeu sinal verde para projetos que poderiam ter reduzido o impacto dessas enchentes. Mas eles nunca ficaram prontos. Os projetos do governo estadual tinham o objetivo de evitar enxurradas e alagamentos na Grande Porto Alegre, uma das áreas mais afetadas pela cheia atualmente. Eles foram incluídos no PAC, Programa de Aceleração do Crescimento. em dezembro de 2012. Isso significa que tiveram aprovação do governo federal para receber recursos, mas ficaram parados ou mal andaram. A construção de 40 quilômetros de diques e casas de bombas para conter as cheias do Rio Gravataí e do Arroio Feijó nem começou. O projeto foi aprovado com valor de R$ 226 milhões. 


O que a reportagem do Jornal Nacional disse é realmente lamentável. Projeto pronto, verbas reservadas e nada foi feito de 2012 para cá.

Mas o que o Jornal Nacional não disse também deve ser revelado.

Primeiro: Esse PAC foi desenhado no governo da presidenta Dilma com o governador petista Tarso Genro no comando do Rio Grande do Sul.

De lá para cá, Tarso Genro não conseguiu se reeleger em 2014 (com motivos que vamos apontar mais adiante), vindo a seguir um medebista, Ivo Sartori, até 2018, e Eduardo Leite, de janeiro de 2019 até agora, já que foi reeleito.

Então estão aí em parte os culpados por nada daquele projeto ter ido adiante.

Mas não é só isso.

Em 2012, com Dilma na presidência, o Brasil vivia uma lua de mel com o PT. Desde os governos do presidente Lula, que entregou a faixa a Dilma com a maior aprovação da história.

Dilma não ficava atrás. Em seu governo tivemos a menor taxa de juros e o menor índice de desemprego da história. O Brasil parecia fadado a ser feliz.

Mas o mercado e os Estados Unidos não estavam muito contentes com os rumos que o país tomava, associando-se ao BRICS, apoiando o Mercosul, com um governo que seria muito à esquerda para o gosto do capitalismo neoliberal mundial.

Em março de 2013, a presidenta Dilma chegou ao auge de aprovação de sua imagem pessoal. Pesquisas lhe davam 79%.

Vieram as jornadas de junho, com muitas reivindicações justas e válidas ainda hoje, que foram instrumentalizadas pela direita e insufladas pela mídia, Rede Globo à frente. 

Especialmente quando, em setembro de 2013, Dilma assinou a Lei que direcionava 75% dos royalties do petróleo para a Educação e 25% para a Saúde.

Estimava-se à época um volume de "U$S 112 bilhões apenas em royalties nos próximos dez anos e que somente o Campo de Libra gerará recursos de U$S 368 bilhões nos próximos 35 anos" [O Globo].

Mas para o neoliberalismo mundial era demais. Às jornadas de junho somaram-se às manifestações pregando que não houvesse a Copa de 2014, "Não vai ter Copa", "Escola padrão Fifa", etc.

A aprovação da presidenta Dilma caiu quase 30 pontos em três meses.

Mercado, EUA e mídia pareciam satisfeitos com a queda, que abria a possibilidade de uma candidatura tucana (que veio a ser Aécio Neves)  vencer as eleições presidenciais de 2014.

Para ajudar o trabalho, em março de 2014 começou oficialmente a Operação Lava Jato. E em junho vem à tona o famoso caso do triplex do Guarujá, a partir de uma reportagem do jornal O Globo de março de 2010.

O Jornal Nacional, que ontem lamentava o PAC de prevenção às enchentes não ter ido adiante, batia diariamente contra a "corrupção do PT" e funcionava de house organ da Lava Jato, construindo a imagem do "herói" Moro e dos "corruptos" Lula e governo Dilma.

Nem assim foi suficiente. Dilma derrotou Aécio por estreita margem e se reelegeu.

Não podiam mais suportar quatro anos do PT. O foco passou a ser o impeachment de Dilma.

2015 foi ano de manifestações gigantescas, cobertas por emissoras da Globo ao vivo, chamando o povo para as ruas para derrubar o governo.

O que finalmente aconteceu em 2016.

Depois, ainda arrumaram a prisão de Lula para que ele não concorresse em 2018.

De lá para cá, vieram Temer e Bolsonaro e o desmonte de todo o estado de bem-estar social, o pré sal foi passado adiante, vieram as privatizações, as perdas de direitos dos trabalhadores, o fim da destinação dos royalties para Educação e Saúde.

Agora, o JN lamenta que as obras daquele PAC não tenham sido feitas, mas escondem que parte disso se deve ao trabalho do JN. Não é só culpa dos políticos inoperantes, como quer dar a entender.

Quando pedirão desculpas ao povo brasileiro por terem ajudado a derrubar um governo legitimamente eleito?

Imagine os US$ 480 bilhões de dólares estimados investidos obrigatoriamente 75% em Educação e 25% em Saúde, como o Brasil estaria hoje? 

Parte da responsabilidade de não estar assim se deve à mídia corporativa, em especial a Globo e o Jornal Nacional.


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