O mercado financeiro se utiliza de ferramentas que orientam sobre onde devem realizar seus investimentos. São as agências de risco, conhecidas como agências de rating. As principais são Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch. Elas medem a saúde das empresas, governos e até cidades, estados, países.
É verdade que, embora se digam altamente técnico-científicas, quando fracassaram de modo retumbante na crise financeira de 2008, que quase quebrou as principais Bolsas de Valores do mundo, elas se confessaram aquilo que são: agências de palpites, impressões, opiniões, comandadas por sentimentos, interesses, e motivações muitas vezes, ou na maioria delas, inconfessáveis, diante do Tribunal.
Quem assistiu ao filme "Inside Job" ("Trabalho Interno", no Brasil), vencedor do Oscar, viu os patéticos depoimentos de seus principais executivos, confessando-se simples palpiteiros. Ali parecia selado o destino delas. Quem voltaria a acreditar em agências falíveis e palpiteiras, como qualquer outro agente do mercado?
Mas não foi o que se deu e hoje as pessoas continuam balizando seus investimentos a partir dos "palpites" dessas agências, que deram, todas elas, a principal nota, o triple A, AAA, a fundos com papéis podres que levaram inclusive grandes bancos à bancarrota em 2008.
Países também são e continuam a ser avaliados por essas agências e investidores são incentivados ou não a colocarem seu rico dinheirinho neles . Ou não.
Brasil na mira
O Jornal Nacional publicou ontem que uma dessas agências de rating, a Moody's, embora tenha mantido a qualificação do Brasil a um passo do sonhado "grau de investimento", quando sinaliza aos acionistas que é uma boa e é seguro colocar seu dinheiro ali, rebaixou o "sentimento", a perspectiva de favorável para estável.
Na prática, a agência indica que não vai elevar a nota do Brasil no curto e médio prazo. A Moody’s afirmou que o Brasil vem crescendo de maneira sólida, tem uma economia diversificada, fez reformas estruturais, e está menos vulnerável a choques externos.
Mas listou fatores para explicar o rebaixamento da perspectiva:
- A piora acentuada na capacidade do governo pagar a dívida pública;
- A rigidez nos gastos públicos e um progresso mais lento do que esperado no corte de gastos;
- E o aumento do custo no financiamento da dívida pública com uma dívida maior do que a prevista para esse ano e o ano que vem.
O pior vem depois, que é aquilo que destacamos no título: a solução.
Para melhorar a nota de crédito, é preciso fazer reformas mais profundas:
- Reduzir a veiculação de receitas - a obrigação de gastar um percentual mínimo da arrecadação em determinadas áreas;
- Desvincular benefícios sociais: como a aposentadoria do salário mínimo.
Traduzindo:
- Acabar com o investimento obrigatório do governo em saúde e educação, que tem um percentual mínimo estabelecido na Constituição. Ou seja, quebrar a Constituição e os investimentos nessas duas áreas fundamentais;
- Isso mesmo o que está escrito. Que aposentadorias e benefícios não sejam mais obrigatoriamente atrelados ao valor do salário mínimo, o que pode fazer com que fiquem congelados e defasados.
Nos dois casos, os perdedores somos nós, que devemos viver com menos dinheiro de pensões, auxílios e aposentadorias no bolso, e menos saúde e educação para que Moody's nos dê o grau de investimento e o mercado financeiro lucre com nossa desgraça.
Mídia e mercado pressionam o governo do presidente Lula para isso.