quarta-feira, 7 de junho de 2006

MLST: A invasão dos 'bárbaros'

Invasão da Câmara. Foto de Adriano Machado / AEHá pouco tempo, estradas do centro-oeste até o porto de Paranaguá foram obstruídas por ruralistas, por durante quase dois meses. O direito de ir-e-vir das pessoas ficou subjugado aos comandos da estrada, que definiam quem podia ou não passar.

A mídia noticiou o fato, na grande maioria das vezes, em pequenas notícias perdidas nas páginas de menor visibilidade. Não se leu um editorial reclamando que a Constituição estava sendo violentada, não se viu um editorial defendendo a necessidade de o Exército restabelecer a ordem. Os políticos que se pronunciaram através da imprensa criticavam não os ruralistas, mas a “insensibilidade do governo para o grave problema no campo”.

Como resultado, o governo liberou bilhões para os ruralistas, em créditos a perder de vista e novos financiamentos de dívidas, que vêm sendo roladas ano após ano, governo após governo.

Agora, com a invasão da Câmara por membros do MLST, tudo muda. Invoca-se a Constituição, clama-se por uma ação do Exército, exige-se repressão violenta e cadeia “ para os baderneiros”.

E o que queriam esses “baderneiros”? Resumidamente, duas coisas: pressa na reforma agrária, penalização para os que exploram o trabalho escravo. Sobre este tema, existe um projeto a ser votado que pune com desapropriação o proprietário que for flagrado beneficiando-se de trabalho escravo. A bancada ruralista sabota a votação, e o projeto está parado.

Os membros do MLST foram à Câmara e queriam ser recebidos ontem mesmo porque buscavam ser ouvidos, queriam que os deputados votassem esses projetos. A urgência explica-se: amanhã começa a Copa do Mundo. Após, começa a campanha eleitoral, e o Congresso simplesmente não vai votar mais nada nesta Legislatura – embora vá continuar a receber normalmente.

A mídia e boa parte da opinião pública criticam aquilo que foi visto nas imagens reproduzidas na TV e nos depoimentos de seguranças da Câmara, que afirmam que o MLST já chegou quebrando tudo. Os membros do MLST dizem que desceram dos ônibus e pretendiam apenas entrar para falar com os deputados e que isso lhes foi proibido pela segurança. ( Na verdade, vídeo recolhido pela polícia mostra que eles pretendiam fazer uma manifestação no interior da Câmara – mais especificamente no Salão Verde – para divulgar suas pretensões. Mas, alegam, foram impedidos de entrar.)

Artigo do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de hoje, afirma que "Basta vestir terno e gravata, olhar para cima e qualquer um entra ali [na Câmara]". Será que se, em vez do MLST, quem quisesse entrar na Câmara fossem 500 membros da poderosa Fiesp, todos devidamente de terno, eles seriam barrados pela segurança?

É verdade que não se justificam o vandalismo e o quebra-quebra que aconteceram, mas enxergar no episódio de ontem apenas esta parte visível e encobrir o grave problema da falta de reforma agrária e do trabalho escravo no Brasil é querer tapar o sol com a peneira.

Clique aqui e adicione este blog aos seus Favoritos

9 comentários:

  1. Anônimo7.6.06

    Não somos um país sério.

    O MSLT é liderado por um engenheiro frustrado filho de usineiro.

    Uma das "vândalas" mais ensandecidas usava tatuagem. Apesar do meu preconceito, acho difícil negar que é no mínimo inusitado.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo7.6.06

    Bom, nada haver o preconceito dito aí, então todo mundo que usa tatuagem é baderneiro!?
    -==-
    É íncrivel que praticamente nenhum meio da mídia tenha colocado esse posicionamento do seu post. Aliás, nem é íncrivel, estamos no Brasil e isso é rotina, passa despercebido pela cabeça do povo, ninquém enxerga como muita gente tenta ludibriar os fatos reais.

    Praticamente nenhum jornal também explicou que o fato ali, ocorreu de um grupo DISSIDENTE do MST, e não o próprio, simplesmente os chamavam de "sem terra". Cabia no mínimo, explicar direito quem eram eles, mas nem isso fizeram, se preocuparam em relacionar diretamente o PT ao "quebra-quebra" e esqueceram que o ataque foi apenas uma reação a uma ação que ocorre todos os dias na vida dessas várias pessoas.

    Como já foi dito, nada justifica o ato dessas pessoas(porque quem paga aquilo que foi quebrado, é o próprio povo)mas esquecer e não noticiar corretamente o porque do ataque, é um erro fatal.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo8.6.06

    Quanta besteira...

    Sim, se vc se lembra a paralisação das estradas apareceu até no Jornal Nacional, com um pedido de ação da Polícvia, pois os caminhoneiros estavam perdendo suas cargas;
    É o mesmo tratamento de quando trabalhadores da Volks paralizam a Anchieta - ninguém pede cacetetes, e sim desobstrução;
    O caso da Câmara é mais grave pela violência, daí o pedido de cadeia e punição;
    Lembrando : "Engravatados" prefeitos em moviemnto, também foram impedidos de entrar e bangunçar a Câmara....lembra?
    Você está sendo partidário, com meias verdades e falacioso...

    ResponderExcluir
  4. Anônimo8.6.06

    Quanta besteira...

    Sim, se vc se lembra a paralisação das estradas apareceu até no Jornal Nacional, com um pedido de ação da Polícvia, pois os caminhoneiros estavam perdendo suas cargas;
    É o mesmo tratamento de quando trabalhadores da Volks paralizam a Anchieta - ninguém pede cacetetes, e sim desobstrução;
    O caso da Câmara é mais grave pela violência, daí o pedido de cadeia e punição;
    Lembrando : "Engravatados" prefeitos em moviemnto, também foram impedidos de entrar e bangunçar a Câmara....lembra?
    Você está sendo partidário, com meias verdades e falacioso...

    ResponderExcluir
  5. Anônimo8.6.06

    Mello o Jornalista do PT.

    ResponderExcluir
  6. Se estes pobres coitados nao entram nem em shopping center...

    ResponderExcluir
  7. Anônimo8.6.06

    Acho que a maneira de se analisar o fato utilizada pelo Mello é perfeita. Os atos injustificáveis de violencia que vimos pela TV tem origem em um problema antigo e gravíssimo que temos no Brasil: a falta de uma Reforma Agrária real e definitiva, que resulta em violencias muito maiores do que as mostradas pela midia, que ocorrem todos os dias atraves de trabalho escravo, grilagem de terra, etc.

    ResponderExcluir
  8. Anônimo8.6.06

    E qual seria essa reforma agrária? Nos moldes propostos pelo MST usando pequenas propriedades no estilo dos anos 50/60?!?!?!?! Fazendo isso quanto tempo levaria até a produção agrícola ser insuficiente para sustentar o país?

    Apesar do pessoal de esquerna não perceber o mundo mudou, e muito! Agricultura agora, assim como muitas outras coisas, é produção em massa! Propriedades gigantescas e altamente mecanizadas com foco na produção. Existem muitas bocas p'ra alimentar, esse sistema de "agricultura familiar" não produz em quantidade suficiente.

    ResponderExcluir
  9. Anônimo8.6.06

    Laércio disse.......
    Mello,
    Tem todo o meu apoio, parabéns pela análise lúcida e perspectiva histórica sobre as questões tratadas em seu blog. Os jornalões, emissoras de tv e outros blogões deste Brasil, tem memória seletiva, agem partidariamente, além de desinformar, estimulam luta fratricida, como se vê nos comentários destes blogões .
    São os que denomino de "cavaleiros do apocalipse". Mello neles.

    ResponderExcluir

Gostou? Comente. Encontrou algum erro? Aponte.
E considere apoiar o blog, um dos poucos sem popups de anúncios, que vive apenas do trabalho do blogueiro e da contribuição dos leitores.
Colabore via PIX pela chave: blogdomello@gmail.com
Obrigado.