quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A absolvição de Renan e os moralistas do alheio

Duas postagens, uma no Blog do Nassif e outra no Blog do Noblat, resumem a votação do processo de cassação do senador Renan Calheiros. Na ordem:

1. A elegia da hipocrisia
Enviada por Helena Chagas

Defensores do voto aberto votaram contra fim do secreto.

Quem te viu, quem te vê. Quem viu no início da sessão a animadíssima defesa dos senadores hoje do fim do voto secreto até acredita. Alguns chegam a prever para amanhã o início de uma campanha retumbante nesse sentido. Mas, no dia 13 de março de 2003, quando a Casa derrotou emenda constitucional do senador Tião Viana acabando com o voto secreto para cassações, muita gente boa que discursa hoje para abrir o voto ficou contra.

Arthur Virgílio, por exemplo, que hoje fez veemente defesa do voto aberto no início do julgamento, dizia na ocasião: "O voto secreto é um instrumento que deixa o parlamentar a sós com sua consciência em uma hora que é sublime, em que o voto é livre de quaisquer pressões, que podem ser familiares, do poder econômico, de expressão militar ou de setores do Executivo. Voto pela manutenção do voto secreto".

E assim também fizeram, na ocasião, seus colegas Cesar Borges (DEM), Tasso Jereissati (PSDB), Eduardo Azeredo (PSDB), Heráclito Fortes (DEM), Garibaldi Alves (PMDB), Gerson Camata (PMDB), Agripino Maia (DEM), Edison Lobão (DEM), Marco Maciel (DEM), José Sarney (PMDB), Mão Santa (PMDB) e Leomar Quintanilha (PMDB), entre outros.

Ou seja, muda a platéia, muda o voto.

2. Renan intimidou senadores

- Senadora Heloísa Helena. A senhora sonegou o pagamento de impostos em Alagoas. Deve mais de R$ 1 milhão. Tenho um documento aqui que prova isso. E nem por isso eu o usei contra a senhora - disparou Renan Calheiros ao se defender da tribuna do Senado pouco antes de ser absolvido pela maioria dos seus pares.

- É mentira, mentira - gritou a presidente do PSOL sentada no meio do plenário. Pouco antes, ela subira à tribuna para atuar como advogada de acusação.

Renan não deu bola para a reação de Heloísa. Em seguida, virou-se para Jefferson Perez (PDT-AM) e comentou:

- Veja bem, senador Jefferson Perez. Eu poderia ter contratado a Mônica [Veloso, ex-amante dele] como funcionária do meu gabinete. Mas não o fiz.

Perez nada disse. Ouviu calado.

Então foi a vez do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Renan disse olhando diretamente para ele:

- A Mônica Veloso tem uma produtora. Eu poderia ter contratado a produtora dela para fazer um filmete e pendurar a conta na Secretaria de Comunicação do Senado. Eu não fiz isso.

Simon ouviu calado.

Registre-se que o clima de intimidação dos senadores começou a ser criado logo no início da sessão quando discursou o senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Ele foi o primeiro a falar.

Duas pérolas produzidas por Dornellles:

- Crime tributário não é causa para quebra de decoro.

- Amanhã, isso pode ser usado contra os senhores. Porque muitos aqui têm problemas fiscais.

Dornelles foi secretário da Receita Federal no governo de João Figueiredo, o último general-residente da ditadura de 1964. E depois foi ministro da Fazenda do governo José Sarney. [E também, como bem lembrou o Alexandre, do Blog do Alê, ministro do Trabalho de Fernando Henrique Cardoso]

No Jornal Nacional, foi curioso assistir a um diretor da OAB atacando o corporativismo do Congresso. Como se advogados, promotores, juízes não vivessem livrando a cara uns dos outros.

Um representante da CNBB também criticou a decisão, mas nada falou sofre os escândalos de pedofilia na Igreja Católica, acobertados pela cúpula da Igreja, tendo o cardeal Ratzinger (atual Papa Bento XVI) à frente da tropa de choque. Procurem pelo vídeo da BBC sobre o tema, aqui ao lado na caixa de vídeos do blog.

O que houve é que dessa vez o vício não prestou sua homenagem à virtude, embora a hipocrisia continue reinante.

Estou esperando a Veja - primeira a exigir transparência e a atacar todo mundo - gritar exigindo a criação da CPI da TVA, para provar que a transação é limpa e cristalina.

Mas aí a Veja, que defende CPI pra tudo, comporta-se como os senadores hipócritas da postagem de Helena Chagas no Blog do Nassif, e mais o advogado e o religioso do Jornal Nacional, que adoram criticar a casa do vizinho mas não põem uma única peça de roupa das suas para quarar ao sol da realidade.

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13 comentários:

  1. Anônimo13.9.07

    Bravo Mello!

    Pelo fim da hipocrisia!
    Ainda bem que a história é logo ali.
    Podemos conectá-la com o momento.
    A relação tempo-espaço está cada vez mais próxima.
    É uma no cravo e outra na ferradura.
    Continue nesta caminhada: faz bem para a saúde política!

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  2. Anônimo13.9.07

    O Renan também disse que a mulher do Gontijo da empreiteira trabalhou na campanha do Tasso Jereissati.

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  3. Anônimo13.9.07

    Falem o que quiserem a respeito da absolvição do Renan, mas por favor não queiram culpar a "grande imprensa". Afinal, os senadores se reuniram em segredo, livre das pressões espúrias da classe média ressentida e da mídia golpista que insistem em não enxergar os feitos extraordinários do governo Lula. O mérito pela vitória de Renan não é deles. Façam-nos ao menos este favor. Só este.

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  4. Anônimo13.9.07

    Independentimente de tudo, as provas estavam lá para quem quisesse ver. Eles não poderiam ignorar a sociedade desse jeito. Tudo bem que muitos tem o rabo preso mas isso não justifica que se livre o pulha desses da cassação. Que lhe tirem o mandato que outros sejam também processados pelas sua Mônicas e Gotijos da vida. "Grande Imprensa" ou não, a sociedade precisa melhorar sua representação.

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  5. Anônimo13.9.07

    Foi bom terem falado do Tasso Jereissati. Esse barão do atraso, com seu cabelo pastinha bem anos 60 chamou outro dia um outro senador de boneca, querendo ofender.
    Sou homossexual e não aceito toda forma de preconceito. Mas isso não foi comentado nem aqui no seu blog que é mais aberto, pq? Mesmo que o senador fosse homossexual e daí? Não tem nada a ver criticar a opção sexual dele. Há homossexuais de várias tendências, até os enrustidos, que trancam-se nos armários e só se expõe para agredir os outros, que parece ser o caso.
    É a sociedade hipócrita.

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  6. Anônimo13.9.07

    Se padres são pedófilos; se advogados são coniventes; se os profissionais da imprensa são golpistas, então locupletemo-nos todos. E que nenhum político de governo ou oposição venha cobrar pelos abusos na sociedade. Como dizia a canção, "É proibido proibir".
    Mello, já que você gosta de citar La Rochefoucauld (que não era bem um pensador de esquerda), deveria levar em conta a diferença entre ser e dever ser. Quando a barra fica suja para o nosso lado, espirrar lama em todo mundo é a saída mais fácil. Saída que voce, aparentemente, escolheu na intenção de defender o governo Lula.

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  7. Anônimo13.9.07

    Caro Mello e Colegas Blogueiros,

    A grande “tacada” política da grande mídia.

    Sabe-se que a grande mídia teve uma derrota como nunca antes na historia das eleições no Brasil, fato esse propalado ate por diretor de redação de jornalões, ao falar assustado: “Se acontecer será um fato novo, pois isso nunca aconteceu antes”.
    A partidarização tem sido uma constante da grande mídia no Brasil e na América Latinas nos últimos dois anos, para dizer o mínimo, na grande maioria com derrota acachapante, como vem comprovando as analises e estudos sobre o fato que vem sendo divulgado aqui e lá fora.

    Esta ficando cada vez mais claro e transparente a guerra entre “Os Donos do Poder” (livro de Raimundo Faoro), por um lado à elite secular que esteve no poder desde a fundação da Republica (Inacabada, como bem disse Fabio Konder Comparato) muito bem representada hoje pela grande mídia e setores políticos do centro-direita, e por outro lado à formação de uma nova elite capitaneado pelo Presidente reeleito, Lula. Algo diz que a guerra dos bastidores do poder esta assumindo ares de manchete da noticia.

    Os sinais de que a derrota foi de uma “primeira batalha” e não “derrota de uma guerra” estão pipocando por todos os lados. Esta havendo uma constante manipulação da informação pelos jornalões e pelas TVs que vem desde apos a eleição de Lula em 2002 em uma escalada, a mais recente, com vídeos, é a denuncia no site do Luiz C. Azenha sobre fatos ocorridos em 2004 no governo de Minas: Jornalistas de Minas denunciam pressão do governo Aécio e demissão de quem não "se enquadra". Lembrando o estilo Serra de tratar os jornalistas.
    Os casos de demissões de jornalistas vem de longa data, um dos mais comentados foi do jornalista Franklin Martins, da rede globo em 2006 e muito outros apos as eleições.

    Ainda não esta claro se existe formalmente um “cartel” da grande mídia, mas esta mais que claro que eles querem virar o jogo e vencer a guerra, apostando numa cartada tipo Serra-Aécio para 2010.
    O nível da guerra política poderá comprometer o jogo democrático e a democracia no Brasil.

    Gostaria de dizer que a frase acima, “A grande tacada...” e uma referencia aos movimentos de jogatinas financeiros desde o inicio da Republica no Brasil, com Rui Barbosa, ate a implantação da moeda Real nos anos 90’s, com os economistas da era FHC, termo brilhantemente resgatado e citado no livro “Os Cabeças-de-Planilha” - Como o pensamento econômico da era FHC repetiu os equívocos de Rui Barbosa, do jornalista Luis Nassif. Livro este condenado a entrar para o rol de livros a serem lidos sobre a historia do Brasil, tal qual a sua importância.

    Sds,
    João Sebastião Bar

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  8. Está faltando lógica em todo esse debate. As regras do jogo são: o senado é soberano, foi lá que começou e eles decidiram. Não aceitar a decisão lá tomada equivale a negar o seu direito de decidir.

    Assim como dizer que o povo brasileiro só é bom quando esolhe o meu candidato. Ora bolas. Não sou juiz, não sou advogado, mal dou conta do meu trabalho, cada um que faça o seu. Posição em contrário significa negar as regras do jogo, é um recurso golpista fundamentado nesta "lógica" de manada dos cansados.

    Vamos trabalhar, cada um fazendo o seu, que todos sairemos ganhando. Contrariando a "lógica" dos espertinhos que semeiam o terror verbal, de olho gordo nas próximas eleições.

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  9. Foi mais uma derrota da imprensa. òtimo o comentário.

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  10. Anônimo14.9.07

    Raphael, como assim "ignorar a sociedade"? Fale só por ti,rapaz. Eu não lhe dei procuração para falar por mim nem pelos meus, lembrando que tb somos membros da tal sociedade, ok? ''Eles'' quem? Os senadores imundos? Veja a lista dos senadores que atualmente respondem a PROCESSOS por crimes de desvio de dinheiro público, improbidade, peculato e outras modalidades de corrupçãô: Eduardo Azeredo, Marconi Perillo, Flexa-ribeiro(preso recentemente), Lucia Vânia, Cícero Lucena(o MP pediu semana passada a cassação deste ético), Mario Couto - TODOS DO PSDB! Mais senadores: Collor, Mão-Santa(cassado por corrupção há alguns anos), Romero Jucá, João Ribeiro, etc... Estes ilibados senhores têm moral pra cassar alguém? Logo o Renam, outrora homem forte do caçador de maracujás e PASMEM, Ministro da Justiça do fhc, isso mesmo, Ministro da Justiça do fhc. Imaginem o arsenal de informações que ele têm acerca dos "cassadores", os eternos pilhadores do erário, bem como dos incontáveis esquemas de corrupção que surrupiaram bilhões do povo brasileiro, em especial as roubatizações criminosas. Se aprontarem, o cabra abre o bico...Hoje, olhando bem na cara do Pedro Simon e do Jeferson Perez, disse algumas frases "enigmáticas" que para bom entendedor significaram:''eu sei que vocês fizeram isto e isto, portanto boca fechada senão...'' Os dois de mudo passaram a calados. Seria interessante ver o arsenal do Renam, né não?

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  11. André Carone,
    ué, eu não sabia que era o governo Lula que estava sendo julgado...

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  12. Anônimo15.9.07

    Em reflexão às apreciações bem pinçadas da história, por Helena Chagas

    MANIFESTO SACO CHEIO!

    Todo mundo diz q brasileiro não sabe votar.Claro,não sabe votar assim como o analfabeto não sabe escrever.

    Ora, todo mundo sabe que o "sistema" foi criado por uma elite e, praticamente,imposto de cima prá baixo. Não sendo ensinado,explicado na escola,não é sequer compreendido por muitos.

    Para que a população brasileira participe da vida política e passe a votar com consciência,sabendo quem é quem no jogo político, é preciso que acompanhe as ações dos políticos que elegeram. E isto só pode acontecer se houver TRANSPARENCIA em todas as ações cometidas pelos parlamentares, até para que possam ser julgados em suas eficiências.

    Os parlamentares brasileiros que são cúmplices do VOTO SECRETAM revelam o descompromisso com com os elitores. Precisam levar cartão AMARELO e serem expulsos do jogo, por infrigirem as regras DEMOCRÁTICAS.

    Afinal, a quem de nós interessa aceitar um Congresso soberano que não respeita a soberania de seu propio povo ?

    A tal segurança e o clima de tranquilidade que a liberdade do VOTO SECRETO dá aos parlamentares, é um dispositivo abusivo que, além de encobrir possíveis tramas de corrupção, nos impõe, autoritariamente,a inaceitável perda da liberdade no exercício da cidadania que todos nós eleitores mal começamos a por em prática.

    Se os parlamentares se sentem em risco de vida, de serem retalhados pelos seus opositores( também parlamentares ) e não os enfrentam com os dipositivos legais ....
    não servem ao povo, aos brios da pátria,tão somente ao JOGO POLÍTICO que SE CARICATURIZA COMO UM FARSA!

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  13. Anônimo17.9.07

    Caro Mello,
    governos jamais deixam de ser julgados, seja pelo presente ou pela posteridade. Um bom exemplo disso é o governo tucano, que vendeu a CRVD a preço de torresmo e agora, anos depois, começa a responder pelo que fez durante (volto a dizer!) um governo democraticamente eleito, sustentado por uma popularidade estratosférica e elogios incessantes no exterior.
    Quis acreditar que sua intenção era proteger Lula porque me recuso a crer que você estivesse defendendo Renan Calheiros. Ele certamente agradece pela tática de espirrar lama nos acusadores quando não se pode mais fingir que as acusações não existem. Para além de culpas ou inocências, a sua mensagem (da qual discordo profundamente) mostra a vitória de Renan Calheiros como educador, pois você aplicou o mesmo método com perfeição.
    um abraço,
    André.

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