Bolsonaro, Mercado e Centrão, o ménage à trois - por Fernando Haddad



Em sua coluna deste sábado na Folha, Haddad mostra que Bolsonaro está tentando um ménage à trois com o Mercado e o Centrão. O povo, os trabalhadores, servidores públicos de baixa e média renda são escalados para pagar a conta.
Ménage à trois

Três meses atrás, escrevi neste espaço: Os dilemas de Bolsonaro nunca foram de natureza ética, tema que ele desconhece. O dilema de Bolsonaro, agora real, é de natureza econômica... A dúvida que lhe aflige é sobre os efeitos da permanência de Guedes e sua cartilha econômica vintage. Bolsonaro terá que decidir quem paga a conta. Entre o povo e a reeleição, de um lado, e o mandato e o mercado, de outro, a sinuca do impeachment.
Nesta semana, Guedes surpreendeu Bolsonaro com o seguinte alerta: Os conselheiros do presidente que o estão aconselhando a pular a cerca, a furar o teto, vão levar o presidente para uma zona de incerteza, uma zona de impeachment. O presidente sabe disso e tem nos apoiado, arrematou. Mandetta e Moro que o digam.
A equiparação entre furar o teto e pular a cerca coloca a prática no rol das possíveis traições ao mercado que dariam base ao afastamento. Participar de ato pelo fechamento do Supremo, prescrever cloroquina, obstruir a Justiça no encalço do primogênito por peculato e lavagem de um bom dinheiro, nada se assemelha ao único e verdadeiro crime de responsabilidade: enganar o mercado.
Bolsonaro, então, ensaiou, na sua última live circense, a possível solução para manter o mandato e se reeleger. O teto é o teto... o piso sobe... e cada vez mais você tem menos recursos... a ideia de furar teto existe, o pessoal debate, qual o problema? Mas alguém vazou... o mercado reage, o dólar sobe, a Bolsa cai... mas esse mercado aí, tem que dar um tempinho... um pouquinho de patriotismo não faz mal a eles.
Em vez de enganar o mercado, por que não convidá-lo, em nome da pátria, para um ménage à trois com o centrão? Obviamente, não é no charme de Bolsonaro que o mercado está interessado, e cabe-nos perguntar sobre os termos da troca política, ou seja, o que se ganha e quem, afinal, perde.
Para conhecer os perdedores, basta recapitular as negociações que estão em curso em torno das reformas, pelas quais: trabalhadores com carteira assinada perdem o que restou dos seus direitos com a carteira verde e amarela; servidores públicos de baixa e média renda são penalizados com a reforma administrativa, enquanto a elite do serviço público é poupada; os serviços públicos, sobretudo saúde, educação superior e segurança continuam sofrendo cortes; as estatais são preparadas para venda.Sem dúvida, diante de um pacote desses, o patriotismo pode falar mais alto.
A elite brasileira sempre foi tida por míope. Se participar desse ménage é porque nem de perto é capaz de enxergar.




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