Morre Aritana, mais antigo cacique do Alto Xingu, vítima da COVID e do descaso do governo com indígenas


Líder do Alto Xingu, Aritana Yawalapiti, de 71 anos, morreu nesta quarta-feira (5), em Goiânia, vítima da Covid-19. Mais antigo e respeitado cacique da região, Aritana Yawalapiti, viveu com os irmãos Villas-Bôas, e é mais uma vítima indígena da pandemia que se alastra no país, auxiliada pelo presidente e seu general Cloroquina.
O líder da etnia Yawalapiti é a mais velha autoridade atuante na região. Aos 19 anos, aceitou a incumbência de ser cacique.
Passou os cinco anos seguintes em reclusão, recebendo ensinamentos para ocupar o posto. O indígena que hoje usa a internet é um dos últimos remanescentes dos povos que caçavam e pescavam com arco e flecha nascidos antes da criação do Parque Indígena do Xingu (PIX). Ele cresceu ouvindo os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas, dois dos mentores da maior reserva indígena do mundo.
“Você é quem vai tomar conta dessa terra”, disse Cláudio ao jovem Aritana. “Quando o branco entrar aqui, ele vai vir com papéis e panos coloridos para convencer vocês. No dia em que você deixar, acabou o Xingu”, relembrou Aritana, numa entrevista publicada no site De Olho nos Ruralistas
Aritana ficou preocupado com a chegada de Bolsonaro ao poder ao saber das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o desejo de “integrar” os indígenas na sociedade capitalista e da proposta de uso de suas terras para lucrarem com o agronegócio: 
“Não precisamos plantar soja. Temos a nossa roça, mandioca, milho, pesca, caça. O governo tem que respeitar o nosso modo de vida”.
Para o líder do Alto Xingu, o governo tem uma dívida histórica com os indígenas. “Tomaram tudo o que tínhamos, principalmente dos parentes de outras etnias: terra, madeira, riquezas minerais”, afirma. “Então, tem mais é que dar melhorias. E sem contrapartida. Queremos internet, televisão, dentista? Sim, precisamos! Mas que respeitem a nossa forma de vida”, finaliza Aritana, enquanto sai de sua oca, nu, para tomar mais um banho no rio Toatoari.




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