Nada de anistia. Queremos julgamento e justiça para todos os criminosos, a começar pelo presidente

Militares ameaçam, usando para isso jornalistas de cabresto com informações de cocheira, como se diz no jóquei e nas estrebarias. Mas não é isso o que o povo quer e não podemos repetir erros passados. A anistia no fim da ditadura deu nisso: militares se acham tutores do Estado e acima da lei, como casta a parte, quando são apenas funcionários públicos com armas, uniformes, soldo, pensões e treinamento bancados por nós.

Escrevi aqui, um dia antes da eleição de Lula: 

As urnas consagrando Lula, qual será a opção do lado vitorioso, o nosso lado? Uma anistia geral, como a covarde da ditadura? Ou lutaremos por Justiça?

Não é vingança nem ódio (ok, um pouco de ódio tempera tudo, pelos quatro criminosos anos que vivemos), é Justiça. Não quero Bolsonaro e seu bando pendurados em postes como Mussolini, mas que todos sejam julgados pelos crimes cometidos e, condenados, que paguem as penas determinadas em lei.

A CPI da Covid poderia ser uma boa entrada. Levar para o banco dos réus toda a conclusão de seu relatório e punir exemplarmente todos os criminosos cujos crimes sejam provados.

Damares, Weintraub, Salles, Pazzuelo, todos devem enfrentar os processos que lhes cabem e pagar pelo que fizeram.

Em memória dos 690 mil brasileiros vítimas da Covid que aqui não estão, não podemos anistiar os que os assassinaram direta ou indiretamente.

Vladimir Safatle também escreveu na Comissão Arns:

Anistia nunca mais

Muitas vozes alertam o Brasil sobre os custos impagáveis de cometer um erro similar àquele feito há 40 anos. No final da ditadura militar, setores da sociedade e do governo impuseram o silêncio duradouro sobre crimes contra a humanidade perpetrados durante os vinte anos de governo autoritário. Vendia-se a ilusão de que se tratava de astúcia política. Um país “que tem pressa”, diziam, não poderia desperdiçar tempo acertando contas com o passado, elaborando a memória de seus crimes, procurando responsáveis pelo uso do aparato do Estado para prática de tortura, assassinato, estupro e sequestro. Impôs-se a narrativa de que o dever de memória seria mero exercício de “revanchismo” – mesmo que o continente latino-americano inteiro acabasse por compreender que quem deixasse impunes os crimes do passado iria vê-los se repetirem.

Para tentar silenciar de vez as demandas de justiça e de verdade, vários setores da sociedade brasileira, desde os militares até a imprensa hegemônica, não temeram utilizar a chamada “teoria dos dois demônios”. Segundo ela, toda a violência estatal teria sido resultado de uma “guerra”, com “excessos” dos dois lados. Ignorava-se, assim, que um dos direitos humanos fundamentais na democracia é o direito de resistência contra a tirania. Já no século 18, o filósofo John Locke, fundador do liberalismo, defendia o direito de todo cidadão e de toda cidadã matar o tirano. Pois toda ação contra um estado ilegal é uma ação legal. Note-se: estamos a falar da tradição liberal.

Os liberais latino-americanos, porém, têm essa capacidade de estar sempre abaixo dos seus próprios princípios. Por isso, não é surpresa alguma ouvir um ministro do Supremo Tribunal Federal, como Dias Toffoli, declarar, em pleno 2022, pós-Bolsonaro: “Não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina, uma sociedade que ficou presa no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás, para o retrovisor, sem conseguir se superar (...) o Brasil é muito mais forte do que isso”.

Afora o desrespeito a um dos países mais importantes para a diplomacia brasileira, um magistrado que confunde exigência de justiça com clamor de ódio, que vê na punição a torturadores e a perpetradores de golpes de estado apenas vingança, é a expressão mais bem acabada de um país, esse sim, que nunca deixou de olhar para o retrovisor. Um país submetido a um governo que, durante quatro anos, fez de torturadores heróis nacionais, fez de seu aparato policial uma máquina de extermínio de pobres.

Alguns deveriam pensar melhor sobre a experiência social de “elaborar o passado” como condição para preservação do presente. Não existe “superação” onde acordos são extorquidos e silenciamentos são impostos. A prova é que, até segunda ordem, a Argentina nunca mais passou por nenhuma espécie de ameaça à ordem institucional. Nós, ao contrário, enfrentamos tais ataques quase todos os dias dos últimos quatro anos. Nada do que aconteceu conosco nos últimos anos teria ocorrido se houvéssemos instaurado uma efetiva justiça de transição, capaz de impedir que integrantes de governos autoritários se auto-anistiassem. Pois dessa forma acabou-se por permitir discursos e práticas de um país que “ficou preso no passado”. Ocultar cadáveres, por exemplo, não foi algo que os militares fizeram apenas na ditadura. Eles fizeram isso agora, quando gerenciavam o combate à pandemia, escondendo números, negando informações, impondo a indiferença às mortes como afeto social, impedindo o luto coletivo.

É importante que tudo isso seja lembrado neste momento. Porque conhecemos a tendência brasileira ao esquecimento. Este foi um país feito por séculos de crimes sem imagens, de mortes sem lágrimas, de apagamento. Essa é sua tendência natural, seja qual for o governante e seu discurso. As forças seculares do apagamento são como espectros que rondam os vivos. Moldam não apenas o corpo social, mas a vida psíquica dos sujeitos.

Cometer novamente o erro do esquecimento, repetir a covardia política que instaurou a Nova República e selou seu fim, seria a maneira mais segura de fragilizar o novo governo. Não há porque deleitar-se no pensamento mágico de que tudo o que vimos foi um “pesadelo” que passará mais rapidamente quanto menos falarmos dele. O que vimos, com toda sua violência, foi o resultado direto das políticas de esquecimento no Brasil. Foi resultado direto de nossa anistia.

A sociedade civil precisa exigir do governo que se inicia a responsabilização pelos crimes cometidos por Bolsonaro e seus gerentes. Isso só poderá ser feito nos primeiros meses do novo governo, quando há ainda força para tanto. Quando falamos em crimes, falamos tanto da responsabilidade direta pela gestão da pandemia, quanto pelos crimes cometidos no processo eleitoral.

O Tribunal Penal Internacional aceitou analisar a abertura de processo contra Bolsonaro por genocídio indígena na gestão da pandemia. Há farto material levantado pela CPI da Covid, demonstrando os crimes de responsabilidade do governo que redundaram em um país com 3% da população mundial contaminada e 15% das mortes na pandemia. Punir os responsáveis não tem nada a ver com vingança, mas com respeito à população. Essa é a única maneira de fornecer ao estado nacional balizas para ações futuras relacionadas a crises sanitárias similares, que certamente ocorrerão.

Por outro lado, o Brasil conheceu duas formas de crimes eleitorais. Primeiro, o crime mais explícito, como o uso do aparato policial para impedir eleitores de votar, para dar suporte a manifestações golpistas pós-eleições. A polícia brasileira é hoje um partido político. Segundo, o pior de todos os crimes contra a democracia: a chantagem contínua das Forças Armadas contra a população. Forças que hoje atuam como um estado dentro do estado, um poder à parte.

Espera-se do governo duas atitudes enérgicas: que coloque na reserva o alto comando das Forças Armadas que chantageou a República; e que responsabilize os policiais que atentaram contra eleitores brasileiros, modificando a estrutura arcaica e militar da força policial. Se isso não for feito, veremos as cenas que nos assombraram se repetirem por tempo indefinido.

Não há nada parecido a uma democracia sem uma renovação total do comando das Forças Armadas e sem o combate à polícia como partido político. A polícia pode agir dessa forma porque sempre atuou como uma força exterior, como uma força militar a submeter a sociedade. Se errarmos mais uma vez e não compreendermos o caráter urgente e decisivo de tais ações, continuaremos a história terrível de um país fundado no esquecimento e que preserva de forma compulsiva os núcleos autoritários de quem comanda a violência do Estado. Mobilizar a sociedade para a memória coletiva e suas exigências de justiça sempre foi e continua sendo a única forma de efetivamente construir um país.


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No Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, a luta de um povo na altivez e determinação de uma menina palestina. Assista

Hoje é Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Então, peço licença para pedir um minuto de sua atenção para ouvir a palavra de uma menina palestina.

Sabemos que nunca o mundo viveu em paz. Há sempre uma guerra nova, geralmente iniciada ou provocada pelos Estados Unidos.

Mas há uma guerra incessante acontecendo há décadas, que infelizmente só aparece escondida em fragmentos de notícias: a guerra de extermínio do povo palestino por Israel. Tomando suas terras, expulsando-os, assassinando-os, inclusive crianças.

Pelo menos neste Dia Internacional dedicado ao povo palestino,  dê seis minutos e nove segundos de sua atenção a esta menina palestina. Ouçam seu dolorido mas altivo depoimento, que não canso de reproduzir aqui no blog. Sua força, sua determinação —esta que tentam quebrar para, criminosamente, tomar-lhes as terras.

#FreePalestine



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'O bolsonarismo é um movimento político de ladrões' - Celso Rocha de Barros

Do sociólogo Celso Rocha de Barros, na Folha:

Quando o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto resolveu apoiar o golpe de Estado de Jair Bolsonaro, todos os que acompanham política brasileira concluíram a mesma coisa: é por dinheiro. Ao mesmo tempo, todos se perguntaram: de onde está saindo o dinheiro para o Golpolão do PL?

A resposta é simples: em 2022, os fascistas de Bolsonaro concorreram pelo PL. Graças a isso, o partido, que sempre foi meio ladrão, mas até outro dia não era fascista, defensor de assassinato em massa por falta de vacina ou da legitimidade de que se "pinte um clima" entre adultos e meninas de 14 anos, tornou-se a maior legenda da Câmara.

Segundo a jornalista Maria Cristina Fernandes, se Valdemar não abraçasse o golpe, a ala bolsonarista do PL deixaria a legenda antes da posse do novo Congresso. O tamanho da bancada determina quanto cada partido vai receber dos fundos partidário e eleitoral. Por isso, Valdemar precisa segurar os fascistas no PL até que eles sejam contados a favor dele na divisão dessa grana.

Por isso, o maior partido do Parlamento brasileiro está tentando anular os votos das urnas em que os pobres votaram, de modo a garantir que um fascista que causou a morte de centenas de milhares de brasileiros durante a pandemia possa dar um golpe de Estado.

Por grana.

Valdemar topa colocar em risco o voto de mais da metade dos brasileiros que votou em Lula, incluídos aí dois terços dos brasileiros mais pobres, Valdemar topa colocar em risco décadas de construção da democracia, Valdemar topa numa boa garantir foro privilegiado aos assassinos da pandemia, desde que role um trocado.

Não deixa de ser um consolo saber que Valdemar não apoia o fascismo sinceramente. Isso, aliás, é consistente com sua trajetória: ele sempre apoiou todo mundo, mas nunca sinceramente.

Por outro lado, a adesão, mesmo que temporária, do PL ao golpismo prorroga a precariedade da democracia brasileira dos últimos anos. Em troca de dinheiro, o centrão sempre foi com Bolsonaro até a véspera do golpe, mas sempre o abandonou na hora da decisão. O que vemos agora é que os golpistas ainda conseguem mobilizar dinheiro suficiente para prorrogar essa agonia.

E o golpolão ainda pode ter consequências piores. Por orientação de Bolsonaro, o PL tentará atrapalhar a aprovação da PEC que garantirá o pagamento do Bolsa Família. Isto é, Jair Bolsonaro deu a ordem de não deixar que Lula possa pagar o Bolsa Família aos pobres brasileiros, e Valdemar deve cumpri-la. Se isso der certo, em fevereiro de 2023, os pobres brasileiros não ganharão Bolsa Família, mas Valdemar ganhará uma fortuna do fundo partidário.

Finalmente, o golpolão é uma aula sobre o que seria um golpe de Jair Bolsonaro: seria um golpe de ladrões, porque o bolsonarismo é um movimento político de ladrões. Os políticos bolsonaristas têm defeitos tão horrendos, tão piores que os dos outros políticos brasileiros, que o fato de que também são ladrões às vezes passa despercebido. A ladroagem não é nem o quarto ou o quinto entre seus piores defeitos. Mas são ladrões.

É preciso que o mundo político brasileiro puna Valdemar e o PL pela adesão ao golpismo. O golpolão não é a corrupção brasileira que sempre parasitou nossa democracia, é uma mutação do parasita que ameaça matá-la.

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Milly Lacombe e o 'menino Ney'

Sou fã da Milly Lacombe, uma de nossas melhores colunistas, também no futebol. É dela esta coluna sobre Neymar, o "menino Ney" da nossa crônica esportiva.

Menino Ney está triste. Se sente injustiçado; não entende por que é tão detestado pelo país cujas cores defende com excelência.

O colega Raphinha foi às redes dizer que o Brasil não merece o Neymar, intensificando a sensação de menino Ney é um injustiçado e incompreendido.

Alguns na imprensa começam a se indignar em nome da dor do menino Ney.

Esqueçam em quem ele votou, pedem. As eleições acabaram, agora é Copa, completam.

A verdade é que o menino Ney não votou porque ele não transferiu seu título de eleitor, mas menino Ney declarou que votaria em Bolsonaro.

Ele tem direito de votar em quem quiser, berram muitos.

Verdade: teria mesmo.

Teria esse direito sagrado se um dos candidatos não fosse alguém de extrema-direita que diz amar a tortura, que tem como herói de vida um torturador que organizava o estupro de mulheres e arrastava os filhos pelas mãos para assistir ao estupro, que acena alegremente para o nazi-fascismo, que defende Hitler, que acha que negros podem ser medidos em arrobas, que mulheres merecem ser estupradas, que gays devem morrer.

Aos que ainda evocam os direitos democráticos de Menino Ney declarar voto em quem quiser eu diria que, nesse contexto, o único dever democrático seria o de se manifestar contra esse candidato.

Qualquer outra posição é apoio direto ou indireto ao nazi-fascismo bolsonarista.

Não é pouca coisa. É coisa demais, aliás.

Mas menino Ney calou sobre os horrores de seu amigo Bolsonaro e depois fez uma dança juvenil para declarar voto avisando que dedicaria um gol a ele na Copa.

Bem, esse gesto de amor a Bolsonaro não acontecerá na primeira fase. Menino Ney está fora por contusão.

Saiu de campo chorando. Pouco vibrou pela vitória. Está atento a si mesmo.

A Copa era para ser dele mas a marcação implacável e violenta o tirou de jogo e da primeira fase.

Neymar não é um menino, como tentam fazer parecer a todo o instante. É um homem de 30 anos.

Ele sabe perfeitamente que, jogando como joga, se não soltar a bola rapidamente vai ser marcado com intensidade. No jogo com a Sérvia ele segurou a bola e não deu passes que poderiam ter virado gol de seus colegas.

Optou por chamar para si a responsabilidade e quem viu o jogo com olhos atentos entendeu o que ele fez e o que ele deixou de fazer.

Aos que dizem que o posicionamento político dele está no passado e que agora é hora de Copa do Mundo eu diria o seguinte: posicionamento político nunca está no passado.

Posicionamento político é todo dia.

É o que a gente faz das nossas vidas, é como a gente trata outros, é as lutas que a gente escolhe lutar e as lutas que a gente escolhe ignorar.

É tentar driblar o fisco, ser multado e agir para negociar a multa mesmo sendo bilionário.

É fazer isso sabendo que os 88 milhões de reais da multa poderiam ser usados na construção de hospitais, escolas, estradas.

"Ah, mas no Brasil tem muita corrupção. O dinheiro não vai ser usado pra isso".

Bem, se você não pagar impostos o dinheiro certamente não será usado.

Mas, se pagar, existe uma chance que é estatisticamente boa de ele ser usado sim.

E se parte dele for usada já é melhor do que nada.

(Para entender a treta com a receita: em 2015 Neymar foi autuado em R$ 188 milhões por não ter declarado seu imposto de renda no valor de R$ 63,6 milhões de 2011 a 2013. Sobre o valor inicial, houve multa e juros de 150%. Os advogados de Neymar recorreram da multa e conseguiram anular parte das sanções. Os 88 milhões é o valor dos 63,6 corrigidos).

Posicionamento político é colaborar com a investigação de uma acusação de violência sexual. Mas Neymar não fez isso quando foi acusado por uma funcionária da Nike e, ao não fazer, teve seu contrato interrompido pela empresa.

Posicionamento político é todo dia.

É, também, entender que o jogo é para o time e pelo time. Que segurar tantas bolas não ajuda o coletivo.

Posicionamento político é usar seu poder simbólico como um dos maiores atletas vivos para falar em nome dos excluídos.

É usar de privilégios e oportunidades para ser responsável pela comunidade.

Posicionamento político é optar por se manter um adolescente nas barras das calças do pai mesmo sendo um homem adulto.

Posicionamento político é escolher não entender dos negócios bilionários que ele mesmo gera para apenas jogar bola.

E é também zombar de um colega de profissão usando sua condição de pessoa que enfrentou o inferno do vício para tentar diminuí-lo.

Tudo isso é se posicionar politicamente.

Aos meus colegas que pedem que esqueçamos o que fez Neymar porque as eleições acabaram eu digo: as eleições não acabaram.

Elas seguem acontecendo.

Num país com 33 milhões de famintos e com 125 milhões de pessoas que não sabem quando farão a próxima refeição as eleições nunca acabam porque precisamos estar atentos e fortes como estivemos no período eleitoral durante todos os dias do ano.

Pedir que a gente esqueça o que fez Neymar e se concentre no futebol é pedir que nos alienemos completamente. É abrir espaço para anistias. É separar política e futebol de forma perversa. É dar as costas para a devastação do país.

O atleta não se separa do homem. E é por isso que tanta gente hoje detesta Neymar.

Foram muitas mortes, muita dor, muita opressão para ele desse os ombros e se mandasse para jogar vídeo game depois de apoiar um monstro.

Neymar não é vítima de absolutamente nada e se ele buscar amadurecer terá que encarar essa verdade.

Ser patriota não é vestir a camisa amarela e dizer que vamos ganhar o hexa. Longe disso.

É possível torcer contra a seleção e ser mais patriota que Neymar.

Traições à pátria vêm também na forma de dribles no fisco e de silêncios convenientes quando o presidente usa um vírus como arma biológica contra sua própria população.

É por tudo isso que o choro de Neymar não comove muita gente.

Choramos por anos e não tivemos um sinal de solidariedade vindo dessa seleção que agora exige nosso amor e carinho.

Se esse amor e carinho vier, ele terá vindo muito na conta do único cara que se manifestou em nosso nome.

E que, quiseram os deuses do futebol, fizesse um dos gols mais bonitos da história das Copas logo na estreia.

Então, Raphinha, se tem alguém que não merece a força, a luta e a garra do povo brasileiro é essa seleção de alienados políticos e de apoiadores da extrema direita.

E agora, como escreveu no Twitter a comunicadora Ana Flor, Neymar terá que lidar com o fato de defender as cores de um país que ou não gosta dele ou não liga tanto assim para ele.

Mas seria importante que ele também soubesse que não tem nada mais bonito do que reconhecer erros, amadurecer e se redimir. Sendo quem é - um dos maiores artistas desse jogo que tanto amamos - tenho certeza de que o Brasil que hoje o despreza estaria pronto para acolhê-lo e celebrá-lo.

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Lafa e os desempenhos da vacina e da cloroquina na estreia do Brasil na Copa


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Alexandre de Moraes indefere ação de coligação de Bolsonaro e aplica multa que pode deixar Jair sem casa, salário e mordomias em 2023

A coligação de Jair Bolsonaro, capitaneada pelo presidente do PL Valdemar de Costa Neto entrou com um pedido absurdo de anulação de quase 60% das urnas, com a intenção de tirar a vitória de Lula e declarar Bolsonaro vitorioso no tapetão. Mas apenas as urnas do segundo turno e apenas na eleição presidencial. No entanto, como diz o ditado, foi buscar lã e saiu tosquiada.

O presidente do TSE primeiramente pediu que a coligação anexasse ao processo também as urnas do primeiro turno, o que seria também pedir a anulação de urnas que deram quase 100 deputados ao partido de Valdemar e Bolsonaro, o PL 22. 

Claro que não o fizeram. Em vista disso, Alexandre de Moraes escreveu em sua sentença:

...

A total má-fé da requerente em seu esdrúxulo e ilícito pedido, ostensivamente atentatório ao Estado Democrático de Direito e realizado de maneira inconsequente com a finalidade de incentivar movimentos criminosos e anti-democráticos que, inclusive, com graves ameaças e violência vem obstruindo diversas rodovias e vias públicas em todo o Brasil, ficou comprovada, tanto pela negativa em aditar-se a petição inicial, quanto pela total ausência de quaisquer indícios de irregularidades e a existência de uma narrativa totalmente fraudulenta dos fatos.
Conforme se depreende de modo cristalino da documentação técnica acostada aos presentes autos, as urnas eletrônicas, de todos os modelos, são perfeitamente passíveis de plena, segura e clara identificação individual, uma a uma.
...
Os argumentos da requente, portanto, são absolutamente falsos, pois é totalmente possível a rastreabilidade das urnas eletrônicas de modelos antigos.
...
Diante de todo o exposto, INDEFIRO LIMINARMENTE A PETIÇÃO INICIAL, TANTO EM RAZÃO DE SUA INÉPCIA (CPC, art. 330, § 1º, c/c art. 485, I), COMO PELA AUSÊNCIA DE QUAISQUER INDÍCIOS E CIRCUNSTÂNCIAS QUE JUSTIFIQUEM A INSTAURAÇÃO DE UMA VERIFICAÇÃO EXTRAORDINÁRIA (artigo 51, caput, da Resolução TSE n. 23.673, de 14 de dezembro de 2021). A conduta da requerente exige, entretanto, a condenação por litigância de má-fé.
Os Partidos Políticos, financiados basicamente por recursos públicos, são autônomos e instrumentos da Democracia, sendo inconcebível e inconstitucional que sejam utilizados para satisfação de interesses pessoais antidemocráticos e atentatórios ao Estado de Direito, à Justiça Eleitoral e a soberana vontade popular de 156.454.011 (cento e cinquenta e seis milhões, quatrocentos e cinquenta e quatro mil e onze) eleitoras e eleitores aptos a votar.
Nos termos do § 3º do art. 292 do CPC, arbitro o valor da causa no valor de R$ 1.149.577.230,10 (um bilhão, cento e quarenta e nove milhões, quinhentos e setenta e sete mil, duzentos e trinta reais e dez centavos), que é, exatamente, o valor resultante do número de urnas impugnadas, ou seja, todas aquelas diferentes do modelo UE2020 havido no parque de urnas do TSE e utilizadas no 2º Turno (279.383) multiplicado pelo custo unitário das últimas urnas eletrônicas adquiridas pelo TSE (R$ 4.114,70).
Assim, nos termos do art. 81, caput, do CPC, CONDENO A AUTORA POR LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ, À MULTA DE R$ 22.991.544,60 (vinte e dois milhões, novecentos e noventa e um mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e sessenta centavos), correspondentes a 2% (dois por cento) do valor da causa aqui arbitrado.
DETERMINO, ainda, à Secretaria Judiciária e à Coordenadoria de Execução Orçamentária e Financeira, ambas desse TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, os IMEDIATOS BLOQUEIOS E SUSPENSÕES DOS FUNDOS PARTIDÁRIOS DOS PARTIDOS DA COLIGAÇÃO REQUERENTE até efetivo pagamento da multa imposta, com depósito dos respectivos valores em conta judicial.
CONSIDERANDO ainda o possível cometimento de crimes comuns e eleitorais com a finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro, DETERMINO seja oficiada a Corregedoria-Geral Eleitoral, para instauração de procedimento administrativo e apuração de responsabilidade, em eventual desvio de finalidade na utilização da estrutura partidária, inclusive de Fundo Partidário, em especial no que se refere às condutas de VALDEMAR DA COSTA NETO e CARLOS CÉSAR MORETZSOHN ROCHA.
DETERMINO, por fim, a extração integral de cópias e sua imediata remessa para o Inquérito n. 4.874/DF, em curso no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, para investigação de VALDEMAR DA COSTA NETO e CARLOS CÉSAR MORETZSOHN ROCHA.
Publique-se e intime-se. [trechos retirados da sentença, que pode ser lida na íntegra aqui]


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Jota Camelo e o ministro que o Mercado quer


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André Dahmer e a herança moderna


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Nico e a longa espera da transição


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Brasil hexacampeão mundial, é o que aponta simulador estatístico do jornal espanhol El País

Estatisticamente falando, em geral as estatísticas e prognósticos feitos em Copas do Mundo erram. Mas não é por isso que deixam ser ser feitas projeções em todas elas.

Nesta no Qatar não vai ser diferente. O principal jornal da Espanha, El País, fez um simulador de resultados (leia aqui [em espanhol] como foi feito) e deu Brasil, como mostra imagem acima.

Será que desta vez acertam? O Brasil é um dos favoritos. E o calor do Qatar pode ser fatal para as seleções europeias. 

Como disse o poeta Torquato Neto: "Pode não ser, pode ser / Abro a porta e  janela / Todo dia é dia D.".

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O reencontro com o Brasil; ministros do STF em NY; e a transição é Lula - por Janio de Freitas

Coluna de Janio de Freitas, hoje na Folha:

A recepção do mundo ao retorno de Lula tem a anormalidade dos fenômenos. As publicações importantes, muitos chefes de governo, e manifestações dos conscientes das urgências naturais, sociais e políticas do planeta celebram a volta do Brasil pelas mãos de Lula. Nas palavras do escritor Jon Lee Anderson: "As pessoas ao redor mundo estão esperando de você, Lula, não que salve a Amazônia, mas que salve o mundo".

Há pouco a se comparar com essa expressão universalizada de inquietude e vontade, feita com espontaneidade que subjuga a era do invasivo marketing. O nome Lula ecoa no mundo como o de Mandela soou em nossos dias, por admiração ao homem e à obra de sua vida comovente. Lula —ideia, histórico, palavra, pessoa— é a causa e a confiança.

Vê-se, por contraste, quanto o Brasil fugiu do mundo real. Quanto o mundo o queria. Quanto pode dar à humanidade. Quanto estão atrasados, caquéticos, os que criaram e sustentaram os quatro anos do domínio de mentalidades fardadas, estreladas, condecoradas e desprovidas de pensamento. Está bem claro: o mundo mudou e a visão dos militares ficou fora, completamente fora da realidade. Caserna e caverna.

Não é só o golpismo enraizado, nem a presunção de direito à impunidade, ou a prepotência dada pela arma. É a visão. A estratégia de uma Amazônia toda ocupada por atividades econômicas, e para isso devastada, como forma de esvaziar ambições invasoras, é o extremo oposto ao que a racionalidade, a ciência e a nova consciência mundial anseiam. O desatino da ocupação virou exploração ilegal lá e negócio sujo no governo Bolsonaro, mas a estratégia é anterior. É militar. E amparou, por óbvia concordância, a política anti-amazônica, anti-indígena e negocista adotada pelo governo.

Salvo pela exploração política e comercial de religiões, o bolsonarismo é a prática revivida da mentalidade atrasada, aquela que já na ditadura do general Médici consumiu fortunas e vidas na Transamazônica que seria a espinha dorsal da ocupação econômica da floresta. Tal permanência, já de meio século no exemplo dado, denuncia a falta absoluta de reflexão e o domínio absoluto do atraso. Com o acréscimo do golpismo pago por empresários não menos atrasados, vislumbra-se o que espera por Lula do outro lado do Ano Bom.

INACEITÁVEIS

Os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Luís Roberto Barroso são devedores de explicação pública sobre sua participação em um ciclo de palestras no exterior. Por que falar a empresários brasileiros em Nova York, e não aqui? Esses "encontros" têm o confessado propósito de aproximar empresários, muitos deles com sérios problemas legais, e autoridades de áreas que lhes interessam. A duvidosa legalidade —a questão antiética nem suscita dúvida— é agravada pela remuneração também a ser confirmada, ou não, pelos ofertantes de conhecimentos extraordinários sobre "O presente e o futuro do Brasil".

O mesmo cabe dizer sobre palestras políticas de colunistas de jornal e TV. Complacências e citações promocionais retribuem as altas remunerações. Se esses colunistas têm coisas tão valiosas a dizer, a ponto de haver remuneração de quase R$ 400 mil, por que não as fazem no jornal ou TV que os emprega? (Dispensam-se explicações).

NO FINAL

Se há critérios na montagem do grupo de transição, são ininteligíveis. A meio da última semana, já ia para 300 o número de integrantes admitidos por Geraldo Alckmin. Com tantos contribuintes de sugestões e debates, e pouco mais de um mês até a posse, a safra de relatórios competentes e propostas adotáveis não promete o desejado.

O grupo da economia é, de longe, o mais interessante, por incluir algumas cabeças criativas. O mesmismo fracassado domina há bastante tempo essa área, a imprensa/TV e quase todo o empresariado influente. Parece boa a oportunidade para algo novo, inteligente e mais favorável ao país.

A Defesa não teve indicações. Nem conviria ter. Necessário é acertar na escolha de um ministro, talvez um jurista, capaz de alargar os conceitos institucionais e a formação da oficialidade. Atualizar cabeças.

Mas que ninguém se engane: o que vai prevalecer como governo é a combinação de ideias e de entendimentos circunstanciais feita pelo presidente Lula da Silva. Aliás, eleito por brasileiros e saudado por estrangeiros para isso mesmo.



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