Servilismo político e interesses financeiros se alternam e confundem na prática do autoritarismo midiático
Em sua coluna semanal no Poder360, o jornalista Janio de Freitas denuncia a parcialidade da mídia comercial e corporativa, que deixa de fazer seu trabalho de interesse público para servir a interesses políticos e do mercado financeiro.
Apropriadamente, o título do artigo é A consagração da censura.
Via internet ou impressos, jornais no Brasil são, a um só tempo, o campo disponível para o debate público e o meio que bloqueia o debate, peça essencial para a democracia.
No século 21, ainda há dirigentes de “mídia” –jornalistas profissionais ou não– que se ocupam de sonegar ou enfraquecer certas notícias, possuídos de uma visão patológica. É um vezo paranóico associado à falta de ética. A decisão repressiva parte de quem se imagina, e à sua publicação, com um poder gigantesco de influência sobre o leitor/ouvinte, visto, portanto, como inferior, incapaz de discernimento. A ética profissional e a pessoal, sempre indissociáveis, não convivem com os vezos paranóicos.
Servilismo político e interesses financeiros tanto se alternam como se confundem na prática desse autoritarismo, vá lá, midiático. Dele vieram, nos últimos dias, 2 casos, exemplares.
A sociedade inteira recebe os reflexos dos juros oficiais, que o Banco Central estabelece com a autonomia de que desfruta há exatos 2 anos. A altitude dos atuais 13,75% contrapõe-se aos programas do governo, sobretudo aos sociais que são a sua prioridade. Um impasse complexo. Com mais 2 anos de mandato, Roberto Campos Neto preside o banco na condição de adepto íntimo do bolsonarismo e indemissível.
O alcance dessa situação irracional, as formas da autonomia e ela mesma suscitaram reações do governo encabeçadas pelo próprio presidente Lula. A indisfarçável oposição majoritária da “mídia” abriu fartos espaços a economistas, políticos e empresários em ataques ao presidente e em defesa do Banco Central tal como está e faz. E daí se iniciou algo tão necessário quanto raro aqui: um debate público. Público em todos os sentidos.
Por duas a três semanas. As vozes críticas aos juros tidos como a taxa real mais alta do mundo, e sem causa objetiva para isso, perderam quase todo o seu espaço. Em seu lugar, vieram duas atitudes de consagração da censura.
A primeira: destinado a repercussão forte, um manifesto lançado por economistas de alto conceito apresentou uma avaliação convincente do problema configurado nos juros, recebeu em pouco tempo cerca de 1.000 assinaturas –e foi sonegado aos leitores pela quase totalidade dos noticiosos mais frequentados, em todos os gêneros.
A oportunidade de difundir alguns conhecimentos importantes, de motivar alguma reflexão, de provocar exercício crítico –em uma palavra, de servir à cidadania– foi enterrada junto com a informação jornalística.
A outra decisão: em torno do mesmo tema, André Lara Resende deu à TV Bandeirantes uma entrevista extraordinária. Cabeça inconvencional, criativa e destemida, André disse à vontade o que era para ser dito. Inclusive sobre o jornalismo. Sem dúvida, entrevista para muita repercussão “mídia” afora. E, no entanto, ficou só naquela emissão, naquela noite.
Mas também há lealdade e respeito ao leitor. Por exemplo, com um jornalismo de visão tão global que penetra e revela até mais recôndito na mente alheia. Assim se fica sabendo que o presidente Lula “elegeu como prioridade” tornar-se “negociador […] para acabar com a guerra na Ucrânia”. Porque está “de olho no Nobel da Paz”.
E nós que pensávamos, incapazes de mergulhar nas ambições inconfessas dos demais, serem o emprego, o salário, os problemas sociais a prioridade do governo. Que farsante, esse Lula!
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