Em 3 páginas na edição de domingo, Globo apresenta seu anti-Lula para 2026

Na edição deste domingo, o jornal O Globo, braço impresso do grupo Globo, publica mais um perfil na sua série denominada "Persona".

"Persona", segundo o próprio Globo, "é uma série de perfis mensais feitos por colunistas, editores e principais repórteres do Globo com as mais relevantes figuras da República". 

O nome diz muito sobre a série. Persona, na teoria junguiana, é a personalidade que a pessoa apresenta em público, que pode ser totalmente diferente de sua personalidade verdadeira. 

Seria esse o perfil que se busca numa entrevista para "traçar perfil", o verniz, a máscara, a persona? Não seria, por outro lado, mostrar o que se esconde por trás da "persona"?

No mundo corporativo também se usa a palavra"persona". Ela é aquele consumidor padrão, aquele que é o foco a quem deve ser direcionada a campanha. Cria-se uma "persona" para sintetizá-lo e enxergá-lo como uma pessoa. Por exemplo: Dona Maria, casada, 3 filhos, moradora em tal bairro, renda mensal X, etc.", e criam-se anúncios e projetos de vendas e até produtos direcionadas a essa "persona".

Mais uma vez, "persona" não é uma pessoa real. Ela é, no caso do mundo corporativo, idealizada; no caso do mundo político, forjada.

Pois é essa "Persona" que O Globo apresenta em três páginas e oito fotos escritas por Bela Megale: 

"Tarcísio de Freitas. Equilíbrio entre radicais e instituições mobiliza o governador preferido da direita para voo em 2026."

Já havíamos comentado aqui que a Globo tem pré-candidato para 2026: Tarcísio. O perfil em grande estilo no domingo, dia de maior comercialização de jornais, confirma o nome do pré-candidato da Globo e da mídia.

O perfil mostra a "persona" como grande negociadora, que convive em harmonia com opostos como Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes.

Fala de Tarcísio numa conversa descontraída com o ministro Alexandre na época do comício de Bolsonaro na Paulista em fevereiro, que ele teria tornado possível com habilidade:

Tarcísio deu sua palavra a Moraes, ao decano Gilmar Mendes e ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de que tudo correria “sob controle” na Paulista. Teve que levar o recado para o outro lado de que, se houvesse ataques ao tribunal, os ministros não hesitariam e seriam obrigados a responder.

Na verdade, enxugando a "persona", Tarcísio serviu de mensageiro de Bolsonaro para tranquilizar o STF e tornar possível a manifestação.

Assim como cedeu ao bolsonarismo raiz na montagem de seu governo:

Para a secretaria de Segurança, escolheu um perfil ‘linha-dura’: o capitão da Polícia Militar e deputado federal Guilherme Derrite. Ex-comandante da Rota, atraiu milhões de seguidores nas redes sociais com falas controversas sobre mortes de bandidos nas operações policiais. Em uma delas, defendeu que “é vergonhoso” para um policial não ter ao menos “três ocorrências” por homicídio no currículo. Para a secretaria da Mulher colocou a vereadora Sonaira Fernandes, que já postou na internet mensagens classificando o feminismo como “a sucursal do inferno” ou “ideologia imunda que mata mais que guerras e doenças”.

Em relação aos assassinatos em série cometidos por policiais na Baixada Santista, Tarcísio declarou na época sobre a possibilidade de ser denunciado internacionalmente:

"Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí".

Nesse episódio, a persona saiu de controle e deixou antever sua personalidade real. 

A repórter comenta o episódio assim:

Em conversas reservadas, contudo, Tarcísio faz um mea-culpa. Admite que errou ao afirmar que não estava “nem aí”. Pressionado, também tem tentado mostrar que não é omisso aos abusos cometidos pela polícia, que ele costuma classificar como “erros de procedimento” que tiram a razão da corporação. Neste mês, condenou publicamente a ação do PM que agrediu uma mulher no metrô, em São Paulo, e o afastou. Também determinou o afastamento de policiais que agrediram um cadeirante em uma operação no início de abril, em Piracicaba (SP). O governador não verbalizou em público sua irritação, mas, nos bastidores, descreveu a ação policial como “horrorosa”.

A repórter não conseguiu uma mísera declaração dele sobre o tema. O que acha das mortes? Preferiu off, conversas reservadas com amigos falando sobre a "persona". O homem que não estava "nem aí" para a violência, de repente vira um legalista.  Mas na real, o que ele disse à repórter:

O governador avalia que há uma “romantização” por parte da imprensa e da população sobre o enfrentamento ao crime organizado. Chega a dizer que bandidos, muitas vezes, ganham o rótulo de “preto, pobre e trabalhador” apenas depois de serem mortos.

Ou seja... quando se defende tratamento humanitário estamos "romantizando"...

Mais adiante, chegam ao ponto central, que motivou a entrevista: as eleições de 2026.

Fala-se sobre a pesquisa feita entre bolsonaristas que mostra que Tarcísio tem a preferência deles disparado: 61%. 

Mas, como todo pré-candidato, ele diz que não o é, e apela à modéstia: "Um cavalo selado não passa duas vezes". A repórter vai aos amigos: 

Aliados e integrantes do governo descrevem o “cavalo selado” possível em três cenários: um pedido explícito de Bolsonaro para que o pupilo concorra, Lula fora da disputa ou com grande reprovação nas pesquisas, fruto de uma economia indo de mal a pior e sem perspectiva de melhora.

Aqui, a "persona" deixa vir à tona a personalidade:

Hoje, Tarcísio avalia que a economia perderá fôlego até 2025, sem chances de recuperação. Considera o Lula 3 mais parecido com a era Dilma do que com os governos anteriores do petista.
Em outras palavras: é candidatíssimo. Com bolsonaristas e a mídia em peso a seu lado, porque ele é um Bolsonaro de sapatênis — o que significa que pode ser bem pior do que Bolsonaro, se é que isso é possível.

Mas é a aposta da mídia, que é absolutamente contrária a um governo popular, que priorize especialmente o mais pobre e não o mercado financeiro.





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