Globo tem pré-candidato para presidente em 2026? É o que parece

Ontem, uma reportagem do Jornal Nacional mostrou a prisão de uma quadrilha, que fraudava licitações públicas em São Paulo.

O objetivo aqui não vai ser a notícia, mas a estrutura dela, como ela é montada para causar uma certa percepção no público — no caso, o telespectador do Jornal Nacional.

Todas as informações foram retiradas da reportagem.

  • Uma denúncia anônima, em 2023, despertou a atenção de um grupo de promotores do Ministério Público...
  • Ao investigar o caso, os promotores descobriram...
  • O esquema, segundo o MP, contava com três núcleos...
  • "A investigação demonstrou que esses membros da facção criminosa adotavam posturas de violência, de grave ameaça, com a finalidade de excluir concorrentes", conta o promotor de Justiça...
  • Ainda segundo os promotores...
  • "Um crescimento espantoso no número de captação de contratos, principalmente contratos públicos. Em coisa de cinco anos, as empresas mais do que multiplicaram por 10 os seus rendimentos, o seu capital social. Só uma delas tem contratos, nos últimos cinco anos, de mais de R$ 200 milhões", acrescenta [o promotor] Frederico
  • Os promotores disseram que essa operação não tem...

Para coroar a reportagem, o JN traz a palavra daquele que parece ser o pré-candidato da Globo em 2026, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, que faz um discurso grandiloquente e assume como dele um trabalho feito pelo MPSP.

"Isso mostra uma face do crime, crime que está ficando cada vez mais ousado. Um crime que está se infiltrando no poder político, um crime que está lavando dinheiro cada vez mais em atividades lícitas e está ficando cada vez mais poderoso. É um grande risco para o Brasil, é um risco para o nosso estado. Isso aí subtrai divisa, isso aí acaba com atividades produtivas, isso traz a competição desleal e mantém essa massa criminosa operando. É mais uma operação. Acontecerão outras, tem outras sendo gestadas, e esse combate ao crime organizado não vai cessar".

Uma operação que teve seu início a partir de uma denúncia anônima feita ao MPSP e foi inteiramente investigada por ele. 

É bom frisar que o Ministério Público, embora faça parte do Executivo, detém independência funcional, financeira e administrativa. Portanto não depende do governador de plantão para agir ou deixar de agir.

A cratera do metrô

Essa reportagem do JN lembra uma outra, com a mesma operação da notícia para causar determinada emoção no telespectador: a da cratera do metrô.

O governador da época era o tucano José Serra, e a Globo uma ferrenha apoiadora.

Um acidente numa obra do metrô de São Paulo para construção da estação Pinheiros causou uma imensa cratera. Sete pessoas morreram soterradas: o motorista de um caminhão que trabalhava na construção, o motorista e o cobrador de um ônibus engolido pela cratera, dois passageiros e dois pedestres.

Um ano depois a situação continuava a mesma. Mas o Jornal Nacional encontrou um meio de transformar uma notícia negativa num fato positivo, que gerou emoção no telespectador:

Naquele sábado a cratera do metrô de São Paulo completou um ano. Uma cratera que vitimou sete pessoas. Nem o laudo com as causas do acidente foi apresentado à população. E como o JN tratou o assunto?

Começou com uma homenagem, na cabeça, lida por Renato Machado:
As vítimas do desabamento de um trecho das obras do metrô de São Paulo foram homenageadas hoje - quando o acidente completou um ano.
Depois, algumas informações:
O acesso ao local do acidente continua interditado. Estão interditados 21 imóveis. O laudo técnico sobre as causas e os possíveis culpados não foi concluído. Deveria ter ficado pronto em outubro do ano passado, mas foi adiado para março.
Alguma sonora? Alguma entrevista com o governador ou responsável pelo desastre? Alguma cobrança? Por que nem o laudo ficou pronto? Por que a área continuava interditada? Nada.

Em seguida vem o final:
Entre os veículos soterrados estava um micro-ônibus que passava pelo local.
Nele estava o marido de Thays Gomes, o cobrador do ônibus. Grávida na época do acidente, ela esperava Cauã, hoje com quase um ano.
Revolta de Thays com a perda do marido? Reclamação contra o governo? Nada disso, segundo a reportagem. Sobre imagens de uma alegre e inocente criança brincando, o repórter prossegue, antes da sonora de Thays:
Ela diz que guarda boas lembranças do marido apesar de tanto sofrimento.
“Uma coisa boa foi o meu filho, o nosso filho”, diz Thays.
Pois é, da cratera do metrô ficou uma coisa boa... O nosso filho: dela, do marido morto, da cratera do metrô e do Jornal Nacional.




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