Folha ataca Lula 5 vezes na capa de domingo, enquanto esconde suas mãos sujas na ditadura

Não é por falta de assunto. O Brasil é grande. O mundo é maior. Mas a Folha decidiu que iria gastar o fel de sua manhã dominical atacando o presidente Lula e seu governo em cinco matérias diferentes, que ocupam — não fosse a imagem do PSG campeão da Champions League — mais de 80% de sua capa.

  1. Base governista frágil deixa Lula sem controle de pacote da reeleição
  2. Entre negação e desculpas, mensalão completa 20 anos e segue tabu no PT
  3. Entrevista com a ex-ministra da Saúde Nísia Trindade: "Houve machismo para desqualificar o meu trabalho"
  4. Viagens de servidores federais sob sigilo custam R$ 3,5 bi em 10 anos
  5. Entrevista com líder oposicionista de extrema direita da Venezuela Henrique Capriles: "Se o Lula se incomodasse, teria mantido a pressão contra Maduro"

Não coube espaço para uma única matéria positiva sobre o governo ou Lula. E não foi por falta de motivo. Somente nesta semana que se encerrou no sábado antes da edição de domingo da Folha houve:

  1. Governo Lula lança programa que amplia atendimento e reduz tempo de espera no SUS
  2. Lula é o presidente mais popular da América do Sul, revela Latam Pulse
  3. Lula recria Secretaria de Economia Criativa e fortalece políticas culturais no MinC
  4. Governo Lula dará bolsa de R$ 200 por mês para alunos de cursinhos populares
  5. Efeito Lula: PIB cresce 1,4% no trimestre, acima das projeções do mercado
  6. Presidente Lula cria assentamento no Paraná que beneficiará 450 famílias rurais
  7. Governo Lula tem o melhor superávit para abril em três anos: R$ 17,8 bi
  8. Efeito Lula: Turismo no Brasil bate novo recorde em abril e injeta quase R$ 4 bi na economia
  9. Efeito Lula: Brasil registra saldo de mais de 257 mil novos empregos em abril

Ao menos uma dessas não poderia estar na capa para não ficar tão escancarada a perseguição da Folha a Lula e seu governo a quem trata como inimigos?

Não é à toa que uma neta roubava o avô mensalmente, surrupiando dinheiro da aposentadoria do velhinho e culpava Lula, um caso bizarro, que mostra como a alienação provocada pelas mídias, aí incluídas as redes sociais, causa estrago à imagem do presidente e de seu governo.

Mas a Folha não precisava falar nem bem ou mal do governo Lula. Poderia presentear seus leitores e assinantes com uma resposta oficial ao livro "A Serviço da Repressão : Grupo Folha e Violações de Direitos na Ditadura", da Editora Mórula.

 


A jornalista Andrea Freitas, no Meio, fez uma entrevista com uma das autoras do livro, a jornalista Flora Daemon:

Que tipo de evidências do apoio do Grupo Folha ao regime militar vocês identificaram?

Um eixo importante era como os veículos da Folha eram utilizados pela ditadura e com quais fins. No final dos anos 60 e início dos anos 70, que foi o auge da repressão, o regime estava matando muita gente. E, naquele momento, os carros da Folha, eu falo isso sem medo de errar, foram cruciais para que muitas pessoas fossem monitoradas, sequestradas, assassinadas e desaparecidas. A gente conseguiu mapear várias ações em que os carros da Folha estavam presentes. Uma é muito conhecida, mas ainda não estava muito bem elucidada, a emboscada da Rua João Moura. Nesse episódio, os militares já sabiam que os militantes da ALN estavam fazendo expropriação de armamentos. Criaram uma emboscada, com alguns agentes deixando as armas de maneira pouco cuidadosa. Militantes da ALN passaram e viram. Mas era tudo armado. Um pouco adiante, tinha um caminhão de entrega de jornais da Folha. Na parte traseira, havia agentes. Quando os militantes da ALN tentaram pegar os armamentos, os agentes saíram da caçamba e mataram três militantes. Mas houve uma sobrevivente, Ana Maria Nacinovic, que relatou o que aconteceu. Esse é um caso bem emblemático porque a gente pôde associar o uso do veículo da Folha à morte de três militantes da ALN.

E o que os donos do Grupo Folha ganharam com isso?

Poder. Não é à toa que eles também viraram os donos, de uma maneira muito complicada, da maior rodoviária da América Latina à época, a de São Paulo. Eles usaram um terreno público para fazer essa rodoviária privada, com ônibus para vários países da América Latina. Ganharam muito dinheiro explorando um terreno público.

Tinham costas quentes com o governo militar, eles conseguiram ganhar muito dinheiro nesse processo. O jornal não tinha só um papel lucrativo objetivamente, mas também político. E nisso, o negócio foi se diversificando também. Eles foram comprando outras empresas, a exemplo da Lithographica Ypiranga, que fazia toda essa parte de gestão de papel, que compraram por um preço irrisório. O próprio jornal Última Hora, de Samuel Wainer, que estava sufocado pela ditadura, pois ele foi um dos poucos que não apoiou a repressão, eles compraram também a preço de banana. Tudo isso entra na conta do que a gente chama de benefícios econômicos, em função do contexto ditatorial. E o Grupo Folha foi crescendo, de uma maneira assustadora.

Além dos veículos e da chancela jornalística, o que mais o grupo fez e ganhou na ditadura?

Se a gente for trabalhar pela esfera da comparação, o Grupo Folha colaborou jornalisticamente, editorialmente, perseguiu jornalistas, perseguiu pessoas, foi beneficiado economicamente e, no final das contas, pode ser responsabilizado indiretamente pela tortura, desaparecimento, sequestro e morte de pessoas. Nenhuma outra empresa do ramo da comunicação no Brasil teve um grau de colaboração neste nível. E é muito interessante que a gente associe muito mais a Folha à abertura política do que à ditadura. Isso é um reposicionamento de marca digno de muita atenção.

Perseguiu pessoas e jornalistas, de que forma?

Conseguimos mapear policiais do alto escalão do Dops em vários setores das empresas do grupo. No administrativo, na portaria, na segurança. Alguns disfarçados e outros não, mas todos com anuência da empresa. Não eram policiais do baixo clero. Os irmãos Robert e Edward Quass eram delegados do Dops, da alta hierarquia. Eles foram contratados para trabalhar na Folha vinculados à direção do jornal. Tinham uma sala. E isso foi confirmado por dezenas de pessoas, inclusive Boris Casoy que é abertamente de direita e fala da importância deles na vigilância de jornalistas e na utilização da empresa como extensão do Dops de SP. Vários jornalistas do grupo presos pela repressão viraram notícia nos jornais do grupo como terroristas, com publicação de ficha pessoal, com endereço, telefone, nome dos pais. Rose Nogueira cobria cultura na Folha da Tarde. Foi presa e torturada durante sua licença-maternidade, tendo um recém-nascido de 28 dias. Foi demitida por abandono de emprego, mas o próprio jornal noticiou a prisão dela. Ficar de olho em jornalistas era uma prática comum.


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Pensado bem, deve ser por isso que a Folha prefere atacar Lula e seu governo a falar de seu passado. É um fator Ricúpero modificado: O que é bom (do Lula) a gente esconde; o que é ruim (da Folha) também.

 

 

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