Sarney defende liberdade de imprensa. Menos no Amapá

E o ex-presidente Sarney, heim? Aproveitou a grande audiência da TV Senado, antes do pronunciamento do senador Renan Calheiros, e mandou dois recados: um da Globo e outro da Folha. Usou como bombom a defesa da democracia.

No recado da Folha, convidou os presentes para uma missa em memória do publisher do jornalão paulista, intransigente apoiador da ditadura militar (como Sarney, aliás, que foi presidente do partido dos militares).

No recado da Globo (utilizado mais adiante no Jornal Nacional), sentou o malho em Chávez, como mostra a transmissão da rádio Senado:

“No momento em que o governo tem o poder de silenciar qualquer órgão de oposição, a qualquer título, nesse momento eu passo a temer o que seja o conceito nesse país de democracia.”

Só que a liberdade de imprensa defendida pelo ex-presidente tem hora e local para acontecer. No Amapá, durante a última campanha eleitoral, por exemplo, ela apanhou muito da campanha do senador, como denuncio nesta postagem daquela época (agosto de 2006):

Amapá: Uma causa nobre para os "indignados úteis"

Já que o sonho da eleição de Alckmin não vai vingar mesmo (o que este blog afirma há muito tempo, desde março), que tal uma causa nobre para os "indignados úteis" gastarem sua indignação?

Ninguém liga para o Amapá. Nem os institutos de pesquisa vão até lá. Cobrem, no máximo, 25 estados. Sobram sempre dois, e o Amapá é um deles. Pois é no Amapá que o senador José Sarney (PMDB) montou um novo feudo (o antigo, no Maranhão, está retratado aqui). E, lá, busca a reeleição. O principal aliado do ex-presidente no estado é o Judiciário. Tudo o que Sarney pede é atendido sem demora. Os jornais, rádios e blogs do Amapá vivem censurados, com matérias retiradas do ar e multas distribuídas aos montes. A rádio Equatorial, além de multa de R$ 70 mil, já esteve fora do ar por três vezes, durante 48 horas cada. Parece que está fora do ar agora, novamente. O jornal Folha do Amapá é censurado sistematicamente há semanas, com suas principais matérias sendo retiradas do ar, por ordem da Justiça.

E depois, ao final de seu pronunciamento, o senador Sarney ainda bateu no peito, dizendo que sempre respeitou a liberdade de imprensa, quando presidente.

Ora, qualquer um que viveu aquela época - ou que veio a estudá-la - sabe que Sarney não apitava nada. Era uma rainha da Inglaterra de bigodes. Gozou da imensa popularidade do início do Plano Cruzado e saiu do governo debaixo de vaia, com uma inflação de 80%, sem ter culpa de uma coisa ou de outra.

Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mail