Porque tem a mídia a seu lado, a oposição - que é minoria no Brasil - consegue pautar a maioria. Discutimos tudo o que lhes interessa e nada do que não lhes interessa. Embora tenham levado duas surras nas urnas.
A renovação das concessões de rádio e TV, por exemplo, que deveria ser exaustivamente debatida pela sociedade, não o foi. Perdeu-se a oportunidade, enquanto se discutia o caso Renan.
A direita está sempre unida e pró-ativa. Enquanto isso, a esquerda mal conseguiu juntar 1300 assinaturas (confira) num abaixo-assinado em favor da instalação da CPI da TVA. Imagine você o número de assinaturas que a direita conseguiria, caso a CPI da TVA interessasse a ela. Taí a diferença.
Agora temos aí a possibilidade do escandaloso monopólio do Grupo Abril na distribuição de revistas. E um silêncio sepulcral sobre o assunto.
Perdemos tempo discutindo articulistas da direita, e isso só se reflete no aumento do salário deles. O que havia para ser dito sobre Ali Kamel, por exemplo, já o foi. Sinceramente, alguém acredita que alguma coisa mudará na Globo caso ele saia da direção de jornalismo? É exatamente o oposto. Se alguma coisa mudar no jornalismo da Globo, ele sai. Assim como já aconteceu com Armando Nogueira e, em outras instâncias, Walter Clark e Boni. Gente muito, mas muito mais importante que Kamel na história da Globo. Kamel não é o cabeça, é o laquê.
Ganhamos a eleição por ampla maioria. Todas as pesquisas indicam uma grande aprovação do governo Lula. No entanto, estamos sempre na defensiva, reagindo às pautas da direita.
A história do terceiro mandato de Lula
Estamos sempre sendo pautados pela oposição, como agora com a história do terceiro mandato de Lula. O responsável pela emenda da reeleição indefinida, ressuscitada agora, era tucano na época, o hoje ex-deputado Inaldo Leitão. A emenda foi apresentada em 1999, durante o governo FHC, e serviria possivelmente para seu terceiro mandato, caso o segundo não fosse o desastre que foi. Sobre isso nada se fala. Nem sobre a declaração do ex-ministro Sérgio Mota de que o PSDB tinha um projeto de poder de 30 anos.
No entanto, mesmo com as negativas de Lula, eles ficam nos empurrando goela abaixo o assunto, a tal ponto que FHC "exige" que Lula se declare, formal e peremptoriamente, contra a possibilidade. E aí corre o presidente, corre o PT, corremos muitos de nós a fazer o que querem, a dizer que não se deve mexer no jogo, que nada de terceiro mandato.
Por quê? Se a maioria do Congresso decidir, se a medida for levada a um referendo popular e o povo concordar com a possibilidade de um terceiro mandato, por que Lula não pode concorrer?
Esse assunto é completamente extemporâneo. Lula está no primeiro ano de seu segundo mandato. Temos que esperar para ver o que vai acontecer. Mas, se, mais adiante, o governo continuar com o trabalho que vem fazendo, a aprovação continuar lá em cima, aí sim o assunto pode voltar.
Sou do Rio de Janeiro. Vi o projeto dos CIEPs ser desmontado, porque à época não havia a possibilidade de reeleição. Brizola não pôde concorrer e Moreira Franco, que o sucedeu, começou o desmonte do projeto. Vamos deixar que o mesmo ocorra, por exemplo, com o Bolsa Família? Ou alguém tem alguma dúvida de que ele será desmontado na primeira bicada tucana?
Quem quiser outra história, que não deixe os congressistas aprovarem a emenda que torna possível o terceiro mandato; se esta possibilidade for aprovada, que busquem a reprovação do povo no referendo; se isso também passar, busquem derrotar Lula nas urnas. Simples assim.
Clique aqui para ir ao Player de Vídeos do Blog do Mello
Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mail
É desanimador, a minoria tem os meios de comunicação nas mãos. é difícil lutar contra ela.
ResponderExcluirMas estou com vc. Somos brasileiros de fato e não desistimos nunca, continue sempre com a verdade.
boa sorte no próximo ano.
Mello!
ResponderExcluirBravo!
Tua reflexão é fantástica.
As estratégias da "direita unida" são fácilmente passadas e despejadas na maioria da população.
Ombrear com poderosos é uma luta permanente.
Boa luta!
Caro Mello, como sempre, você apresenta o problema de forma clara. Realmente, governo, partidos do governo e blogueiros pró-esquerda estão sempre correndo atrás, pautados pela grande mídia (GM) oposicionista. O que fazer, então?
ResponderExcluirObservando o fluxo da informação, vemos que ela sai da fonte geradora do fato, passa por um intermediário e chega à sociedade. Muitas notícias são geradas pelo governo, mas este não se comunica diretamente com a sociedade.
É a GM que repassa as informações à sociedade. Obviamente, a GM processa a informação e divulga uma versão deformada convenientemente. Selecionando o que apresentar e como fazê-lo, a GM consegue pressionar os governos, criando um “suposto” apelo popular.
A GM possui equipes de coleta de informações e os meios de divulgação: rádio, jornais, revistas, tv e a internet. Tem a faca e queijo nas mãos. O governo também possui seus meios, não tão eficientes. Todos estes meios estão a perder terreno para a internet. Felizmente, na internet, há formas de competir com a GM. Além disso, a internet permite a interatividade, o que coloca a mídia em questão, ao contrário dos outros meios, onde impera o monólogo.
Ocorre que no espaço virtual, a GM possui os grandes portais, apoiados por sua estrutura de informações. Isto mantém a hierarquia já comentada. O que faz a grande maioria dos blogs de inclinação esquerdista? Coleta informação na GM e a processa. Assim, a pauta é sempre determinada pela GM. O máximo que se pode fazer é desmascarar a manipulação que a GM nos impõe, descontando o alcance limitado destes blogs. O que fazer para reverter este processo?
Conto-lhe algo que li no blog do PHA. Nos atentados aos trens em Madrid, o governo de Aznar logo fez correr a versão de que se tratava de uma ação do ETA. Isto foi logo encampado pela GM. Uma pequena rádio, ironicamente associada ao El País, divulgou indícios de que se tratava de um atentado cometido pela al qaeda. Logo esta notícia tomou toda a mídia de assalto. O que quero dizer é que quem pauta é quem divulga a notícia original, ou sua interpretação bem trabalhada. No último caso, a GM recorre à credibilidade de especialistas escolhidos a dedo.
Dou exemplo de casos de sucesso. 1- O Azenha viajou a Venezuela para cobrir o referendo. Enviou notícias antes da GM brasileira. Alcançou recordes de acesso. 2- o pequeno site contas abertas frequentemente pauta a grande mídia com suas informações sobre a execução orçamentária, tendo como fonte o próprio governo. 3- o blog do valente, linkado por você, fornece informações e análises de qualidade da estrutura de transportes. Deveríamos explorar mais esta fonte. 4- o site www.cidadaomacaense.com causou sensação em Macaé, RJ (atualmente desativado não sei a razão) ao divulgar informações do diário oficial do município e outras secretamente repassadas por funcionários públicos (talvez este tenha sido o motivo da desativação).
Se os blogueiros se esforçassem para apresentar informação inédita bruta e/ou análises bem processadas, e o governo colocasse à disposição destes blogueiros notícias quentes e técnicos para dar suporte, seria possível lançar a pauta. Lembro de que Nassif calou a boca de muitos sobre o suposto déficit da previdência ao destrinchar, de modo simples, a contabilidade utilizada. Enfim, acho que é possível inverter a pauta, ganhando umas batalhas, mas não com a postura atual.
Caro Mello,
ResponderExcluirsomos pautados pela direita ao menos desde 2003, já que a política economica de Lula faria inveja a Pedro Malan. Nao custa lembrar que a "esquerda" conta atualmente com quadros valorosos como Romero Jucá, Roseana Sarney, Hélio Garcia e Márcio Fortes - ministro das cidades indicado pessoalmente por Severino Cavalcanti.
É verdade que se concede um peso absurdo, por exemplo, às opiniões de colunistas irados. Mas eles são espertos, carregam na tinta porque querem ver a repercussão de sua própria imagem, e não da notícia com a qual trabalham. E a armadilha funciona.
Até aqui, concordo com o seu comentário. Quanto ao resto, eu me pergunto quem somos "nós" -- ou então, quem são "vocês". Não assino o abaixo-assinado pela CPI da TVA porque não quero servir de massa de manobra para uma pequena imprensa que se preocupa apenas com seus próprios interesses. Nela as vozes dissonantes são, no resto do tempo, reduzidas a pó: somos os ressentidos da classe média, a asa direita dos tucanos (definição que voce criou para o PPS) ou simplesmente a "direita". A política de desqualificar o oponente para nao ser obrigado a discutir nada corre solta na pequena imprensa, que prefere aderir a dois princípios bem mais simples: primeiro, uma abordagem quantitativa da democracia, segundo a qual quem tem voto faz o que quer e a minoria é reduzida ao silêncio. O argumento final que dissolve todas as discussões é a presença de um governo democraticamente eleito (argumento que legitima, por tabela, as privatizações tucanas e a prisão de Guantánamo). O segundo princípio consiste em excluir da discussão qualquer um que nao se alinhe às suas concepções. Se as concessões de TV e rádio são públicas, por que nao se tenta discutir uma forma de democratizá-las, através da criação de conselhos, por exemplo, ou de um código de ética que permitisse avaliar objetivamente e sob quais condições uma concessão deve ser cancelada? É mais fácil falar pura e simplesmente em cancelamento, na esperança de criar do dia para a noite a impressão de que o país mudou numa canetada.
Para concluir: nao participo do movimento dos sem-mídia por achar que a discussão deve ir um pouco além das fotos do Delegado Bruno ou da dupla personalidade de Walfrido Mares Guia (ministro-companheiro no governo Lula, mensaleiro-bandido no PSDB mineiro).
André Carone,
ResponderExcluira CPI da TVA era - e é - para discutir e investigar as transações entre as teles, TV e outras mídias.
O mesmo vale para as concessões de rádio e TV.
Para os governos democraticamente eleitos, idem.
Deve-se cumprir a lei em todos os casos. Lei que é democraticamente pactuada por nossos representantes eleitos.
O Movimento dos Sem Mídia é outra história. É uma reivindicação legítima que ainda não encontrou sua melhor forma de expressão.
O Agepe tocou em alguns aspectos importantes, que merecem uma postagem.
Mello,
ResponderExcluira julgar pelos critérios quantitativos que voce aplica, por exemplo, para defender a democracia venezuelana, o movimento pela criação da CPI da TVA levou uma surra fragorosa: nao elegeria um vereador numa cidade de cem mil habitantes. Se a vitória numérica dá razão de sobra a Lula, ela também arrasa quem só consegue juntar uns gatos pingados para assinar um documento.
(O argumento das vitórias arrasa-quarteirao sao os mesmos apresentados pelo Campo Majoritário nos tempos de José Dirceu, e que acabaram com a democracia interna no PT. Uma pena perceber que ele continua em alta no seu blog).
O que dizer entao do Movimento dos Sem-Mídia, que está perdendo até para baile de debutante? Reuniu noventa pessoas na frente da "Folha de Sao Paulo". Entendo que voce o considere uma reivindicação legítima, já que participa dele. Nao poderia esperar menos. O movimento "Cansei" era igualmente legítimo, além de hipócrita e oportunista. Discutir a legitimidade e o mérito de um movimento são coisas diferentes.
Mas já que vocês buscam uma melhor forma de expressão, sugiro que nao se pautem por uma disputa pelo poder. Nao tentem transformar os outros em cabos eleitorais. Do contrário, terao que apelas para as Kombis do Jilmar Tatto se quiserem ver o movimento crescer (recomendo fortemente uma visita a http://www.mensagemaopartido.org.br/conteudos/exibe/211).
Em tempo: acredito sim que a Venezuela viva uma democracia. Apenas lamento que Chavez nao tenha interesse em escutar os estudantes e conquistar sua simpatia. É mais fácil apelar para o contato direto com a massa e jogá-la contra o resto da sociedade, como se tenta fazer agora no Brasil.
André,
ResponderExcluira democracia representativa é assim: quantitativa. Ganha quem tem mais votos.
Quanto à comparação entre o Cansei e o MSM, ela só pode ser feita na pequena quantidade de manifestantes que reuniram. Só que o Cansei contou com a adesão de famosos e farta campanha na grande imprensa. O MSM não.
De resto, um não tem nada a ver com o outro. E você dá pista de que sabe disso, quando afirma que existe diferença entre legitimidade e mérito dos movimentos. Este é um caso típico.
E, apenas para esclarecer: não sou filiado ao MSM. Nem ao PT.
Quanto aos estudantes da Venezuela, recomendo a você assistir a este vídeo postado aqui mesmo no blog.
Mello,
ResponderExcluiragradeço pela recomendação do vídeo (que nao posso assistir com a conexão que tenho em casa) e pela correção a respeito do MSM.
Sobre a democracia representativa: se o critério deve ser a quantidade, nao podemos selecionar as "boas" escolhas e rejeitar as "más". E se quisermos levar realmente a sério o critério da quantidade, teremos que trocar a bossa nova por Sandy & Junior, Cortazar por Paulo Coelho. Afinal, maioria é maioria.
André,
ResponderExcluirjá que não dá para assistir ao vídeo, leia isto:
http://www.voltairenet.org/article153434.html