O Brasil pára por José Dirceu?

Uma olhada pelos blogs políticos mais conhecidos a esta hora (18h) mostra que todos estão ligados no julgamento de deputado José Dirceu, que deverá ocorrer daqui a pouco, a partir das 19h.
Dirceu teve sua importância, é fato, quando da campanha de Lula e enquanto foi ministro. Mas, hoje, qual a importância dele? Em que o Brasil amanhecerá diferente caso ele venha a ser cassado (o que é praticamente certo que ocorrerá) ou não?
Dizer que não se pode atropelar o estado de direito não vale. Ele foi atropelado no caso Collor, que teve os direitos políticos cassados por oito anos, embora haja renunciado antes. E, não se pode esquecer, na linha de frente da condenação de Collor estava o deputado José Dirceu. Que agia politicamente.
Cassado José Dirceu será, mais dia, menos dia. Vende para o país (e de tanto repeti-lo já há quem acredite em suas palavras) que é inocente. Mas inocente certamente ele não é. Pode ser que não haja provas contra ele - o que é coisa bem diferente - , mas será que passa pela cabeça de alguém que todo esse esquema desvendado (e provado) de "dinheiro não contabilizado" (no dizer de "nosso Delúbio") foi bolado pelo ex-tesoureiro, sem a participação daquele que sempre foi considerado (e isto ele nunca negou) o homem forte do governo? Aquele que sempre se disse que governava, enquanto Lula viajava e discursava?
Fico pensando se a dona Maria lá de Marajó, ou o seu Jesuíno, na fronteira do Rio Grande do Sul, sabem de quem se trata.
Dirceu, como já disse em outra postagem, é um balão apagado. O máximo que pode fazer é cair fazendo estragos.

Revelado quem é Fristão

Ao dar umas bengaladas no deputado José Dirceu (PT-SP), o escritor Yves Hublet gritava: "Fristão, Fristão".
Perguntado sobre quem era, ou o que era aquilo, ele mandou que lessem Don Quixote.
Pois bem. Fristão, ou Fritón, ou Frestón, é aquele a quem Quixote acusa de ter roubado sua casa, seus livros e de haver transformado os gigantes que ele (Quixote) vencera em moinhos de vento, para desmoralizá-lo e não deixar que comemorasse e se rejubilasse com essa vitória.

Um pouco de Oscar Wilde

Em 30 de novembro, há 105 anos, morria Oscar Wilde.
Embora ele seja mais conhecido entre nós por haver cunhado a expressão "o amor que não ousa dizer o nome", Oscar era um homem de cultura ampla, que conhecia a fundo as obras de Platão, Aristóteles, Spinoza, Goethe, Hegel, Emerson e Baudelaire.
Foi casado com Constance Lloyd, com quem teve dois filhos: Cyril e Vyvian.
Escreveu contos, poemas, um romance ( "O Retrato de Dorian Gray") e peças teatrais. O romance e as peças o tornaram famoso no mundo. E a principal razão desse sucesso talvez seja a excelência e o humor tipicamente britânico contidos em frases estrategicamente espalhadas pelos textos.
O sucesso de seu trabalho atiçou ainda mais nele o gosto pela polêmica, e suas atitudes e comportamento zombavam abertamente dos padrões e preconceitos da época. Seu relacionamento com lorde Alfred Douglas chocou a conservadora Londres. Por conta disso, envolveu-se em um processo, que o levou à prisão e, posteriormente, ao exílio.
Frasista incomparável, com um tremendo senso de humor, Oscar, dizem, manteve essa característica mesmo à beira da morte. Vitimado por uma meningite, exilado, hospedado num quarto do modesto Hotel d'Alsace, em Paris, disse a um amigo: "estou morrendo como vivi: além das minhas posses". Consta que suas últimas palavras foram uma ameaça contra o papel de parede do quarto, que ele achava horrendo: "ou ele se vai, ou eu me vou".
O papel ficou.
Algumas de suas frases:
"Fale a toda mulher como se estivesse apaixonado por ela e a todo homem como se ele lhe causasse aborrecimento, e no fim de sua primeira temporada terá a reputação de possuir o mais perfeito trato social."
"Os bons acabaram bem. Os maus acabaram mal. Isto é ficção."
"Para obter êxito político, é importante pensar como um conservador e falar como um radical."
"A única maneira de lidar com uma mulher é o amor, se ela é bonita. Ou amar a outra, se ela é feia."
"Um casamento é tão desmoralizante quanto os cigarros, e muito mais dispendioso."
"As mulheres são capazes de descobrir tudo, exceto o que está logo à vista."
"Amar-se a si mesmo é o começo de um romance que dura a vida inteira."
"O pior das mulheres é que dizem que somos maus e querem tornar-nos bons. E se nos tornamos bons, elas nos rejeitam e não querem amar-nos."
"Não há nada que eu não seja capaz de fazer para conquistar minha juventude, nada...exceto fazer exercícios, levantar-me cedo ou ser um membro útil da comunidade."
"A diferença entre o santo e o pecador é que todo santo tem um passado e todo pecador, um futuro."
"Para as mulheres, o homem de 70 anos é o homem ideal. Somente os homens que passaram dos 70 anos podem verdadeiramente oferecer às mulheres uma dedicação de vida inteira."
"Uma mulher capaz de dizer a idade verdadeira é capaz de tudo!"
"Eu resisto a tudo, menos à tentação."
"A Bíblia Sagrada começa com um homem e uma mulher no jardim... e termina no Apocalipse."
"As mulheres nunca se desarmam verdadeiramente com os galanteios. Os homens, sempre. Esta é a diferença entre os dois sexos."
"Cínico é um homem que sabe o preço de tudo e ignora o valor de nada."

Privatização dos políticos

O prefeito da cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio, Rubens Bontempo (PSB-RJ) sancionou uma Lei, no mínimo, polêmica. A partir de agora está autorizada a propaganda de empresas privadas ou públicas nos uniformes escolares da rede municipal. Em contrapartida, as empresas deverão doar os uniformes à prefeitura.
Trocando em miúdos (com duplo sentido), o que o prefeito propõe é a transformação das crianças em outdoors ambulantes.
A lei absurda deve ser logo colocada para escanteio. Mas até que ela nos dá uma boa sugestão. Deveria ser aplicada não às crianças, mas aos políticos. Eles só receberiam seus salários se conseguissem patrocínio.
Se aprovada a sugestão, o deputado poderia começar o depoimento assim:
- Num oferecimento do banco Omo, que lava mais branco, eu tenho a declarar que...
Ou então, o locutor oficial, com voz grave:
- Com a palavra agora o Excelentíssimo Senhor Presidente da República num oferecimento exclusivo de... (aceitamos sugestões).

Toda testemunha é fantasma

Surge uma nova testemunha no caso do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT-SP). É uma mulher que afirma que Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, teria planejado o seqüestro do prefeito para conseguir dinheiro para saldar uma dívida com um traficante.
Como no caso dos "dólares de Cuba", essa testemunha também não viu nada. Quem lhe contou tudo foi um tal Paraíba. Pergunte-se ao Paraíba então, sugere o leitor. Não pode, está morto. Quem o matou, segundo a testemunha, foi um tal Cabo Lima. Aliás, esse mesmo Cabo Lima seria o executor do prefeito, segundo a mesma testemunha. Interroguemo-lo então, sugere o leitor ansioso. Não pode, também está morto.
Pelo andar dos carros funerários, não é a toa que a CPI dos Bingos é conhecida como a CPI do Fim do Mundo, onde reinam absolutos testemunhas fantasmas e o Sombra.
A única solução a vista é marcar uma convocação geral num centro espírita.

"Palocci pede a mão de Dilma"

Não vou estranhar se ler esta manchete acima amanhã ou depois em um jornal.
A imprensa continua a cair de pau nos ministros Palocci e Dilma, explorando ao máximo uma suposta desavença intransponível que haveria entre os dois, mas que ambos insistem em negar. Eles afirmam que sim, há uma diferença de pontos de vista, mas asseguram que ela é pontual e não inconciliável.
Mas a imprensa não larga do pé.
Hoje, após mais uma reunião em que um voaria no pescoço do outro - segundo previsão da imprensa - os dois se declararam a favor de uma nova investida para a aprovação da criação da Super-Receita.
Mais dia, menos dia, de tanto terem que provar que não se odeiam, os ministros podem descobrir que se amam - como acontece nas comédias românticas de Hollywood.
Já é possível ver as manchetes, caso isso aconteça: "Ministros resolvem se infernizar, até que a morte os separe".

Tia Lurdes encara a tropa de choque da PM

foto de Jefferson Coppola/Folha Imagem
Esta foi sem dúvida a foto da semana que passou. "Tia Lurdes", como é conhecida a aposentada Maria de Lurdes Negreiro de Paula, de 76 anos, encarou a tropa de choque da PM aos brados de "Abaixo a repressão!". Ela estava ali para protestar contra o governo, na visita que o presidente Lula fez a Fortaleza, sexta-feira, dia 25.
Tia Lurdes é integrante de um grupo conhecido como Crítica Radical, que já enfiou uma torta na cara do deputado Roberto Berzoini (atual presidente do PT), quando este era ministro da Previdência.
Ela disse que participa de atividades políticas desde a anistia, mas especialmente após a morte do marido, que, segundo suas palavras, era muito conservador.

Oração dos réus de Ribeirão Preto

Segundo reportagem de Dorrit Harazim em O Globo, no II Concurso de Miss Presidiária 2005, realizado quinta-feira passada no antigo complexo Carandiru de São Paulo, a platéia foi ao delírio quando a candidata de Ribeirão Preto começou a declamar o poema que havia escrito especialmente para a festa, chamado "Pai Nosso dos Encarcerados":
- Pai nosso que estás no céu/ Olhai por nós que somos réus/ Venha a nós a nossa liberdade/...
Como se vê, réus atuais e futuros de Ribeirão Preto já têm sua musa - e sua oração.

180: Ajuda para mulheres vítimas de violência

Em O Globo hoje:
Foi lançada ontem pelo governo federal uma central telefônica especializada no atendimento a mulheres vítimas de violência. Nos três primeiros meses, o serviço funcionará em caráter experimental. As denúncias e pedidos de informação poderão ser feitos a quem discar 180 de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h40m, exceto em feriados. Depois desse do período de teste, o serviço passará a atender 24 horas por dia, todos os dias.
A intenção é atender todos os tipos de caso, como assédio sexual no trabalho, violência doméstica e estupro. As mulheres receberão orientações de como enfrentar agressões e informações sobre instituições que poderão procurar — como delegacias de atendimento especializado à mulher, defensorias públicas, casas de abrigo e postos de saúde.
Segundo a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, o objetivo da campanha é provocar uma mudança de atitude da sociedade diante da violência contra a mulher.
— Em briga de marido e mulher, em relação à violência contra a mulher, o Estado e a sociedade têm que meter a colher — afirmou a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

Aonde pode nos levar José Dirceu

Há pouco tempo, o coronel Mário Pantoja, comandante da tropa da PM que praticou aquilo que ficou conhecido como "massacre de Eldorado dos Carajás" foi libertado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob a alegação de que ainda não se haviam esgotado todas as suas possibilidades de defesa.
Se isso fosse aplicado à totalidade de presos do país, provavelmente 99% deles estariam nas ruas.
A última instância do Judiciário no Brasil é só para quem tem dinheiro para bons advogados ou tempo para esperar 20, 30 anos até que as ações cheguem lá em cima.
Agora assistimos à luta do ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) pela salvação de seu mandato. Segundos os jornais, deputados - de oposição, é bom que se diga - estão preocupados porque, por conta das idas dos advogados de Dirceu ao STF, ele poderá não ser cassado, pois pode se esgotar o prazo que o Conselho de Ética da Câmara tem para julgá-lo.
Ocorre que o julgamento do Conselho de Ética é político. E assim sempre foi tratado. Esticando a corda de seu julgamento, o deputado José Dirceu pode estar criando uma "jurisprudência" para a vida política brasileira. Seguindo seu raciocínio, todos os atos, não apenas dos deputados, mas inclusive aqueles dos executivos municipais, estaduais e atos do governo federal, têm que, antes, passar pelo crivo do STF para que sejam colocados em prática.
Aliás, até para dar coerência a seu raciocínio, o deputado deveria responder à seguinte pergunta:
- O que pensa do impeachment do ex-presidente Collor, que mais adiante foi absolvido pelo Supremo? O que acha de o ex-presidente ter seus direitos políticos cassados por oito anos, embora tenha renunciado antes do julgamento pelo Plenário - o que, pela lei, o livraria de tal pena? Afinal, o deputado foi um dos homens da linha de frente que levaram ao impeachment de Collor.

Desdêmona mais uma vez assassinada

No primeiro dos dezesseis dias de mobilização pelo fim da violência contra a mulher, mais uma Desdêmona é assassinada friamente.
Segundo o jornal O Globo, Desdêmona de Souza Brandão, de 46 anos, foi assassinada com três tiros pelo aposentado Irany Montes de Souza, de 68. Ela, que era casada com outra pessoa, foi amante de Irany - segundo ele afirma em bilhete que deixou escrito - por três anos. Inconformado com a separação, ele a assassinou ontem. Em seguida se suicidou.
Na tragédia de Shakespeare, Otelo, o personagem-título também assassina a esposa, Desdêmona, e depois se mata.
Também em O Globo ficamos sabendo que a indústria de armamento financiou 97,6 % da campanha pelo "Não", que saiu vitoriosa no referendo. A Taurus e a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) doaram R$ 5,58 milhões dos R$ 5,72 milhões gastos pela campanha.
Muitas pessoas compraram a idéia de uma "legítima defesa da vida", quando votaram no "Não". Agora, devem sentir-se lesadas, ao descobrir que estavam na realidade fazendo o jogo da indústria da morte.
Não quero dizer que se o "Sim" tivesse saído vencedor o crime não teria ocorrido (por favor, não atirem em mim por conta disso!). Mas a divulgação da morte de Desdêmona e dos financiadores da campanha do "Não" no primeiro dia da campanha pelo fim da violência contra a mulher não deixa de ser simbólica.

Quem é quem no ranking da corrupção

O embaixador de Angola no Brasil, Alberto Correia Neto, retratou-se junto às autoridades brasileiras, e pediu desculpas por suas declarações publicadas pelo jornal O Globo. Naquela ocasião, o embaixador disse que Angola esforçava-se para que a corrupção lá não atingisse os níveis do Brasil e da Nigéria.
Segundo o mesmo O Globo, o embaixador se explicou:
- Eu disse que não tive a intenção de ofender ou hostilizar as autoridades brasileiras. Se de fato ofendi, peço desculpas.
Se não teve intenção de ofender ou hostilizar, qual a intenção do embaixador? Ironizar?
Pior a emenda que o soneto.

A ponte parou para Lula passar

O tráfego da ponte Rio-Niterói foi interrompido ontem por dez minutos para que uma embarcação da Marinha, com o presidente Lula a bordo, passasse sob ela.
Nenhuma reportagem informou o que eles temiam.
Será que algum homem-bomba tucano ou a mando do senador "Essa Raça" Bornhausen poderia atirar-se do alto da ponte sobre a embarcação?
Um carro do PMDB do ex-governador Garotinho atravessando a ponte em direção a Campos, ou vindo de lá em direção ao Rio, perdendo a direção e caindo da ponte na cabeça de Lula?
Um choque da embarcação de nossa Marinha, que não vai bem das hélices, num dos pilares da ponte, tombando-a?
Ou apenas resquícios de mais de 20 anos de ditadura?

Um fato, duas notícias diferentes

Para os que acreditam que a imprensa reproduz apenas os fatos, o exemplo a seguir mostra como isso nem sempre é verdadeiro.
O jornal O Globo de hoje, na coluna do Ancelmo, nos informa que David Jesus de Souza bateu na porta de uma delegacia em Niterói, no Rio de Janeiro, pedindo para ser preso. Segundo David, na cadeia ele trabalhava, ganhava 300 reais por mês, e do lado de fora estava desempregado e passando por necessidades.
Já o jornal Extra, do mesmo grupo de O Globo, diz que David Jesus de Souza é mais conhecido - e apresenta-se assim - como Gina, um travesti. Foi realmente à delegacia e queria ser preso, como informou a coluna do Ancelmo em O Globo. Mas o motivo alegado era outro: sentia-se muito só e gostaria de reencontrar seu grande amor, o traficante Tigrão, que se encontra preso na mesma delegacia.

O mundo em rosa dos tucanos

foto de Ruy SalaverryOs tucanos estão com tudo e não estão prosas. Além de saborearem os números da última pesquisa CNT/Sensus, um tucano do bico preto acaba de vencer o concurso de fotos do SOS Mata Atlântica.
A foto vencedora (esta aqui ao lado) é de Ruy Salaverry, e outras do autor podem ser vistas neste endereço aqui.
Além do mais, os tucanos comemoram um detalhe da mesma pesquisa que não foi muito comentado: o êxito de sua estratégia de manter o governo sob fogo cerrado.
A uma pergunta sobre denúncias de corrupção, 77,5 % dos entrevistados responderam que podem surgir fatos novos. 16,4 % acreditam que a maior parte das denúncias já foi feita, e 6,2% não sabem ou não responderam. Portanto, quase cada oito em dez acreditam que o pior ainda pode estar por vir.
Por isso, para tucanos e demais adversários de Lula a ordem é alongar a crise até o meio do ano que vem.

Sobre a última pesquisa CNT/Sensus

Os números da última pesquisa CNT/Sensus são realmente preocupantes para o presidente Lula. Mas convém não esquecermos alguns detalhes que certamente influenciaram esses números.
O massacre diário da mídia ao governo, com a queda do ministro Palocci na primeira página todos os dias como favas contadas. O Noblat, em seu blog, até hoje sustenta que o corpo do ministro está estendido no gramado do Palácio à espera do rabecão.
Além disso, a pesquisa foi feita no período de 14 a 17 de novembro.
Nos dias 3, 5, 8, 10 e 17 de novembro o PSDB teve 5 minutos diários de inserções em rede nacional de rádio e TV para bater no governo Lula. Essas inserções são a mais eficiente forma de propaganda política que existe, pois são distribuídas pela programação e pegam o telespectador (ou ouvinte, no caso do rádio) de surpresa, exatamente como os "comerciais normais".
Talvez esteja aí a causa da queda de Lula, e da subida dos governadores Alckmin e Aécio Neves.
E o PFL teve seu programa nacional de 20 minutos, no dia 8, também em rádio e TV. O partido, presidido pela senador "Essa Raça" Bornhausen, não é exatamente simpático ao presidente, pois não?

Jornalismo ou fofoca?

Para tentar demonstrar o que venho afirmando, vou dar como exemplo um texto hoje da Folha online. A reportagem é de Janaína Lage. Quero destacar que a escolha da reportagem foi ao acaso. Existem várias outras semelhantes.
Reparem que a primeira parte é baseada em depoimentos reais, colhidos pela repórter. Ela reafirma o que Lula e Palocci vêm dizendo há vários dias para ouvidos moucos de boa parte da imprensa: que a política econômica não muda, que o ministro não muda.
Já a segunda parte, é um festival de fofocas: alguém teria dito, ou ouvido, fontes próximas, amigos...
Reproduzo em azul a reportagem aqui. Os comentários em itálico e na cor vermelha entre parênteses são meus.

Lula garante Palocci até o final do mandato
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que o ministro Antonio Palocci continuará na Fazenda até o fim de seu mandato. Segundo Lula, o governo não pode se deixar levar por especulações. "[Palocci] é uma figura imprescindível para o Brasil, todo mundo sabe o que ele significa para a economia brasileira."
Indagado se a saída de Palocci seria uma joga da oposição, Lula afirmou que existem pessoas que trabalham em cima de tropeços e que o país deveria ser agradecido pelo que Palocci fez à economia brasileira.

Ontem, ao participar de uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Palocci disse que apenas Lula poderia responder sobre sua permanência no cargo (o cargo de ministro não pertence ao ministro, mas ao presidente. Como poderia Palocci responder que fica no cargo se o cargo não lhe pertence?). O ministro também resistiu a responder se de fato havia pedido demissão. (Em seu depoimento, Palocci afirmou claramente que não conversara com o presidente sobre esse assunto).
Sobre as divergências entre ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e Palocci, Lula afirmou que o equilíbrio precisa ser igual a de um time de futebol. "Só dá certo porque tem 11 jogadores com características diferentes. No governo é a mesma coisa."
Durante o discurso, o presidente defendeu a política econômica promovida pelo ministro e afirmou que às vésperas da eleição, há muita gente que "vende facilidades". "Quando você vira governo, sai da era do eu acho para a era do eu faço", disse ele.
Lula disse que o país nunca teve um crescimento com uma conjuntura macroeconômica tão positiva: com aumento do PIB, inflação sob controle e exportações em alta.
"A questão da inflação no Brasil é cultural. Tem gente que começa a vender um pouco mais e logo aumenta o preço", afirmou.

Clima
Na última segunda-feira, Palocci teria dito a Lula que poderia deixar a pasta se não tivesse suas reivindicações atendidas ( “teria dito”,” que poderia”,” se”, três condicionantes podem fazer uma afirmação? Além do mais, “teria dito” a quem? ). Palocci teria pedido ( novamente o “teria” ) demissão na semana passada, mas o presidente não aceitou ( de novo: Palocci negou peremptoriamente que tenha falado desse assunto de demissão com Lula ).
O ministro condiciona a permanência à recomposição de seu poder no governo, o que passa pelo fim do chamado "fogo amigo" (críticas públicas de ministros e de caciques do PT) e sinais claros de que tem carta branca na área econômica (onde e quando o ministro afirmou isso? ). Ou seja: o que Lula dizia antes de Palocci ser atacado por Dilma em entrevista na qual ela chamou de "rudimentar" a proposta da equipe econômica de ajuste fiscal de longo prazo.
Nos últimos dias, Palocci tem dado evidências de que sua insatisfação é real (quais? Tirando as fotos tiradas durante um pronunciamento de Lula, em que Palocci estava com cara de saco cheio - e no lugar dele quem não ficaria, ouvindo todo dia que vai cair, que está sendo fritado? - todas as vezes em que se pronunciou, Palocci se mostrou bem humorado, tranqüilo e confiante ). Na quinta-feira passada, um dia depois de ter falado aos senadores na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, ele disse que achava "melhor sair" quando pediu demissão ao presidente (quando Palocci fez tal afirmação?Ontem ele voltou a dizer que nunca tocou nesse assunto com o presidente ). Uma semana antes, já havia dito a Lula que poderia deixar o cargo devido ao "fogo amigo" e à evolução da crise política (acusações de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto) (mais uma vez: quando o ministro afirmou isso? ).
Na última quinta-feira, Palocci teve conversa franca com Lula, segundo relato dado pelo presidente e pelo ministro a amigos (o presidente e o ministro desmentem essa afirmativa o tempo inteiro. Além do mais, que “amigos” são esses que saem espalhando para os repórteres o oposto do que declaram Lula e Palocci? ). Palocci criticou Dilma (isto o ministro fez, e para todo o Brasil. Mas, note a diferença: ele não criticou Dilma, mas a proposta dela ) e se queixou do próprio presidente, dizendo achar que sua dubiedade na economia custaria a confiança dos investidores construída em três anos (quando o ministro fez essa queixa? ).
O ministro disse ainda achar um erro Lula estimular Dilma a enfrentá-lo, pois isso provocaria perda de sua credibilidade, algo fatal para um ministro da Fazenda (mais uma vez: quando Palocci disse isso? ). Lula respondeu que cobrava apenas execução orçamentária mais eficaz. Afirmou que o papel de Dilma era tirar projetos do papel e que ela lhe disse que encontrara obstáculos na equipe econômica, que seguraria recursos para elevar o superávit primário (quando e a quem o presidente disse isso? ).

Provavelmente a repórter, e todos os demais que escrevem essas matérias "interpretativas", às vezes até "telepáticas" (quando conseguem ler o que vai na cabeça das pessoas), dirá que as informações vieram de "fontes"... Serão essas fontes como aquele descrita pela jornalista Marina Amaral na reportagem "Como se constroem as notícias"?

Por que querem a cabeça de Palocci

Absolutamente patético. Não há outra forma de tratar o espetáculo deprimente de ver um bando de repórteres, como foquinhas amestradas, correndo atrás do presidente Lula, debaixo de um temporal, e gritando:
- E o Palocci?
- E o Palocci?
- E o Palocci?
- E o Palocci?
- E o Palocci?
- E o Palocci?
- E o Palocci?
A cena foi na hora em que o presidente saía de um congresso de agricultura familiar, em Luiziânia. Sei que eles não têm culpa. Os chefes de redação, ou os chefes dos chefes, exigem esse comportamento deles.
Em "Midiagenia: crônica de uma morte anunciada" denunciei esse processo. Parece que a imprensa só vai sossegar quando conseguir inverter completamente a ordem natural das coisas e, ao invés de o fato virar notícia, a notícia (demissão de Palocci) virar fato.
Aí todos vão falar: Eu não disse?

Rosinha Garotinho culpa a imprensa

A governadora do Rio, Rosinha Garotinho, informou numa entrevista à Rede TV! que os índices de violência no Rio de Janeiro são exagerados pela imprensa.

Mas, voltando ao assunto, vários leitores de O Globo mostraram sua indignação com a declaração de Rosinha Garotinho, na seção Cartas dos Leitores do jornal. Todos sugeriam à governadora que saísse às ruas, sem estar num carro blindado e cercada por seguranças, e fizesse roteiros definidos por eles como potencialmente perigosos.
Ao ler - se o fizer - as cartas, certamente a governadora reagirá com indignação. Vai pensar que o jornal publicou apenas as que lhe eram desfavoráveis, e que a imprensa a persegue e ao marido, o ex-governador Anthony Garotinho.
As pessoas tendem a achar que isso não passa de um cinismo dos políticos. À vezes até pode ser. Mas nem sempre. Acontece que, geralmente, os políticos vivem cercados por um cordão de puxa-sacos, que tem quase que como missão divina elogiá-los e fazer com que nenhuma notícia negativa chegue até seus ouvidos.
Por isso, governadora, arrisque-se a uma coisa diferente. Chame seu chefe de Polícia, ou o secretário de Segurança, para um passeio por esses locais, exatamente nas condições sugeridas pelos leitores. Talvez a governadora descubra que está certa. Talvez não. Mas deixe um pouco os puxa-sacos de lado. Eles estão apenas defendendo seus empregos. Não o seu governo, sua carreira política, ou a de seu marido.

Maluf, quem diria, é exemplo na igreja

A Coluna do Ancelmo de hoje em O Globo deu uma nota informando que o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf virou exemplo numa igreja do Rio. Exemplo de como não se deve agir, bem entendido.
Segundo a nota, o pároco de uma igreja na Zona Sul do Rio fazia um sermão sobre a importância de os pais darem uma boa educação para os filhos. Senão...
"Veja o caso de Flávio Maluf. Por causa da educação que recebeu do pai, Paulo Maluf, em casa, terminou preso" - disse o pároco.
Amém.

O presidente no fio da navalha

Se a oposição quer chegar ao poder, tem que tentar derrotar Lula agora. Se esperar pelas eleições, o presidente pode fazer barba (o povão), cabelo (o mercado) e bigode (a classe média).
O povão não oferece problemas para Lula. Carismático e popular – até pela origem – o presidente ainda tem a seu lado o Bolsa Família, que vem recebendo elogios até do estrangeiro, e outros programas voltados para essa faixa. Todas as acusações por que passam PT e governo não são surpresa para eles, que acham (por experiência própria) que a política e os políticos são assim mesmo.
O mercado também não preocupa. É verdade que a chamada classe dominante não gosta muito dessa história de um sapo na festa do céu, mas Lula não os decepciona desde que assumiu. Alguns industriais reclamam aqui e ali, mas são reivindicações pontuais, que o presidente pode resolver numa canetada, se for preciso. E mesmo essas reclamações são da pessoa jurídica. A pessoa física deles brinda com champanhe o governo do presidente metalúrgico.
Resta a classe média, esse balaio de gatos. Grosso modo, ela pode ser dividida em dois grupos: os que nunca votaram nem votarão no PT, por diversos motivos. E um outro que, ou sempre foi petista, ou não gostava muito do PT mas votou em Lula apenas nas últimas eleições. O que os iguala é a decepção trazida pelas denúncias contra o PT e o governo.
Esse segundo grupo (petistas e os que votaram em Lula em 2002) pode repetir o voto ou não, dependendo do que aconteça daqui até as eleições. Já o outro comemora e solta fogos com o inferno astral do PT e de Lula.
Esse grupo antiPT e antiLula também pode ser divido em dois subgrupos: os que não concordavam com um certo comportamento aistórico do PT, que foi brilhantemente definido pelo ex-governador Leonel Brizola como a “UDN de macacão”. E um outro, raivoso, para quem a pregação de ética e moralidade do PT sempre foi como um tapa na cara, porque seus membros praticam a famosa lei de Gérson (“é preciso levar vantagem em tudo, certo?”). São os que compram drogas, mas criticam os traficantes. Os que subornam guardas, e criticam a polícia. Os que votam em Maluf, e dizem que todo político é ladrão. O representante desse grupo no Congresso é o senador Arthur Virgílio (PFL-AM).
Resta ao presidente continuar com dois pés (o mercado e o povão) bem firmes no chão para se equilibrar no fio da navalha ( a classe média) e conseguir a reeleição.

Presidente do PT na campanha de Lula

Reportagem de Hugo Marques no Jornal do Brasil de hoje informa que o governo pode investir R$ 20 bilhões no ano que vem para buscar a reeleição do presidente Lula.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), é um dos que acreditam nisso. Segundo Berzoini, "o aumento dos investimentos é reflexo natural da política adotada pelo governo, com austeridade fiscal e controle da inflação".
Mas, se essa é mesmo uma estratégia do presidente, por que divulgá-la? Não seria mais sensato adotá-la em silêncio e colher os frutos na campanha?
Além do mais, não sei não, mas quanto mais o candidato Lula tiver sua imagem colada ao do presidente do PT, pior. Quando as oposições mostrarem as terríveis imagens de velhinhos com mais de 90 anos chegando aos postos da Previdência em cadeiras de rodas, macas, o diabo a quatro, para provar que estavam vivos, a população vai se lembrar do nome daquele que os obrigou àquela humilhação: o atual presidente do PT, deputado Ricardo Bezoini, na época ministro da Previdência.

Prêmio Nobel contra BC independente

Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz é um crítico severo do chamado Consenso de Washington, das políticas do FMI e do Bird. Em palestras pelo mundo, o economista defende coisas que a chamada banca internacional considera uma heresia.
Para Stiglitz a igualdade social é um fim em si e "a igualdade e a eficácia econômica e social devem se complementar".
Também critica a Rodada do Uruguai, uma negociação realizada entre 1986 e 1994 para liberalizar o comércio mundial.
- Nós os fizemos eliminar as barreiras e mantivemos nossos subsídios, afetando os países pobres, onde 90% dependem da agricultura.
Contra os defensores do Estado mínimo, Stiglitz diz que o importante não é o tamanho do Estado, mas o que ele fez, faz e como - o que talvez seja uma variante do ditado popular "não importa o tamanho, mas o prazer que ele proporciona".
Agora, em artigo publicado em O Globo hoje, onde analisa o desempenho do presidente do Fed, Alan Greenspan, Stiglitz (que estranhamente não é creditado pelo jornal como ganhador do Nobel) ataca a idéia de um banco central independente, na mão dos tecnocratas.
- A política macroeconômica nunca pode estar isolada da política: implica mudanças fundamentais e afeta diretamente grupos diferentes.
Vale a pena ler o artigo completo, que está aqui.

A real politik do embaixador de Angola

A entrevista do embaixador de Angola no Brasil, Alberto Correia Neto, ao jornal O Globo, é um, como dizer?, "espanto". Um primor de real politik.
Sobre corrupção:
- O capitalismo engendra a corrupção. Por que tem gente que luta para ser ministro, deputado, senador? Por que gosta do país, para salvar a população? Não. Por causa da bufunfa, do dinheiro.
Sobre ministros de Estado receberem comissões por obras:
- Qualquer negócio no mundo tem comissão. Se tem um negócio no Ministério das Finanças, vai dar comissão. Ele (negociador) é obrigado a declarar. Um bocadinho vai para ele, é um prêmio. Você acha que aqueles milhões que Maluf fez vieram de onde? É tudo comissão.
Sobre o "mensalão" brasileiro:
- Minha opinião sobre o mensalão é a seguinte: o único erro foi o uso de dinheiro público. Se você é de um partido oposto ao meu, vou lutar para você vir para o meu. Vou usar todas as armas. Primeiro ideologicamente. Quando perceber que não estou conseguindo do ponto de vista ideológico, vou fazer mobilização material. Agora você usar dinheiro público nesta operação é crime. Se é uso de dinheiro pessoal, qual o crime? Todo homem tem um preço. O que interessa saber é quanto. O erro foi mobilizar dinheiro público.
Diferenças entre Angola e Brasil:
- Nossa luta em Angola é para não atingir os níveis de corrupção do Brasil e países como a Nigéria.

PMDB no colo de Lula?

Na coluna Panorama Político de O Globo deste domingo, a jornalista Tereza Cruvinel informa que está tudo pronto para a votação do fim da verticalização.
Pode ser, mas só se não valer para as próximas eleições. Porque não é crível que PSDB e PFL deixem o PMDB cair no colo do presidente Lula, que já despachou o vice José Alencar e vive paquerando o partido - o senador e presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à frente -, acenando com a vice-presidência numa chapa PT-PMDB no ano que vem.
Além disso, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o atual governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, declararam que pretendem concorrer à presidência. A quebra da verticalização vai atrapalhar o caminho dos dois, principalmente se Lula continuar a se recuperar nas pesquisas e voltar ao favoritismo de que já desfrutou. Se isso acontecer, vai ser difícil que o namoro não acabe em casamento.

O comportamento da mídia

A velocidade das notícias (e não dos fatos, que parecem repetir-se) é tão grande, que o assunto Dilma X Palocci já está até meio caduco. Mas para quem quer acompanhar tintim por tintim o comportamento da mídia na tal crise em que vivemos, sugiro uma ida ao blog Contrapauta , do jornalista Alceu Nader. No dia 18 passado, ele publicou um artigo chamado "Dilma x Palocci - ou como a imprensa conta um conto e aumenta um ponto" que vale a pena ser lido.

As CPIs, os cães e a caravana...

Que tal mudar um pouco o disco? Os mesmos personagens, as mesmas CPIs por todo o tempo é demais! Não precisamos sair da política nem dos problemas do país, mas mudar apenas de temas. Só trocar o disco.
Por exemplo, a CPI do Banestado que morreu. Não se fala mais nela, mas por ali escorreram 75 bilhões de dólares. O descaramento era tanto que o carro-forte pegava o dinheiro no banco para ir ao Paraguai, mas dava apenas uma voltinha na praça, e o dinheiro voltava limpinho, limpinho... A cartilha do à época ainda ministro (do presidente Itamar Franco) Fernando Henrique Cardoso que explicava as regras para a CC-5 era tão, como dizer?, surpreendente, que ficou conhecida no mercado por "Cartilha da Sacanagem Cambial" (procurem no Google sobre o tema). Por que não reabrir essa CPI?
Outro assunto que rende: o ministro das Comunicações, Hélio Costa, quer aprovar a toque de caixa um sistema para TV digital no Brasil, que ele deseja ver funcionando já na próxima Copa do Mundo de futebol, daqui a menos de um ano. Se seguirmos o desejo do ministro, que quer comprar um pacote pronto, pagaremos royalties pelo resto de nossos dias pelo sistema a ser implantado. O site do Intervozes tem uma vasta documentação sobre o assunto.
Resumindo, o que está em discussão é:
. Pagamos por um sistema pronto e vivemos pagando royalties por isso ou desenvolvemos um sistema próprio?
. Priorizamos apenas a alta qualidade de imagem e som ou abrimos a faixa para contemplar mais emissoras, democratizando a informação?
O ministro já se definiu: está ao lado das emissoras de TV. Quer comprar um sistema pronto, nada de mais emissoras na faixa (o rádio já está praticamente decidido assim).
E o governo, a oposição, a sociedade?
As CPIs são importantíssimas, e devem investigar a fundo tudo o que vem acontecendo. Inclusive uma nova do Banestado poderia ser criada. Mas são tantas e às vezes tão estranhas e estapafúrdias as revelações a cada dia, que nos surpreendemos quando saímos às ruas e vemos que estão por lá os mesmos mendigos, os mesmos menores de rua, as faculdades e escolas federais desabando, as estradas aos cacos, a mesma violência, a mesma falta de atendimento médico (aqui no Rio, então, nenhum hospital funciona, seja municipal, estadual ou federal)...
A impressão que dá é que enquanto os cães ladram, a caravana (a vida) passa...

Para quem a economia vai bem

A coluna do Boechat deste sábado no Jornal do Brasil divulga números de um relatório do Banco Central, referentes ao mês de setembro passado.
O Governo Lula coletou dos brasileiros R$ 87,5 bilhões em impostos.
E pagou aos bancos R$ 99,5 bilhões.
O imposto de renda de pessoa física recolheu R$ 30 bilhões do bolso dos trabalhadores, assalariados e autônomos.
Dos bancos apenas R$ 5 bilhões.

Por que Lula elogia Dilma e não Palocci

A imprensa hoje destaca que o presidente Lula fez elogios à ministra Dilma e nenhum ao ministro Palocci. O Globo chegou ao requinte de publicar numa mesma página uma série de fotos com o presidente sentado ao lado da ministra, com uma das legendas afirmando que Lula "ficou ao lado dela o tempo todo"...
Será que não sabem que existe uma coisa chamada cerimonial? Uma solenidade em que comparece o presidente da República não é uma festinha de república estudantil, onde cada um senta onde quer - ou onde der.
Além do mais, o ministro Palocci foi tão bem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que certamente o presidente quis dar uma força para a ministra para empatar o jogo. Assim é o Lula, que sempre decide...não decidir. No embate Dilma X Palocci, como no anterior Dirceu X Palocci, o presidente ora elogia um, ora outro, e deixa que o tempo faça o que ele não sabe fazer: decidir.
É preciso também levar em consideração o local da declaração a favor de Dilma: a cerimônia sobre o projeto do biodiesel, que foi tocado pela ministra, quando ainda estava à frente do ministério das Minas e Energia.

A Super-Receita foi pro brejo

A vaca (com febre aftosa) não foi para o brejo, mas para um possível céu dos bovinos. Quem foi para o brejo foi a MP da Super-Receita, aprovada na Câmara mas abatida agora há pouco no Senado. O motivo: falta de quorum.
Também, a Super-Receita tornaria mais eficiente o combate à sonegação nas áreas fiscal e previdenciária. Será que isso interessa a nossos congressistas - e aos lobistas que representam - envolvidos até o pescoço em investigações de três CPIs sobre sonegação, Caixa Dois, dinheiro "não contabilizado", como diz o "nosso Delúbio"...?
Para resolver o problema, o governo acena com o envio de um projeto de lei que seria votado em regime de urgência urgentíssima. A oposição não diz nem que sim nem que não, muito pelo contrário. Mas hoje, à meia-noite, a MP caduca.
Como a estrutura para funcionamento da Super-Receita já estava sendo montada desde agosto, o governo vai correr atrás do prejuízo para tentar aprovar sua criação o mais breve possível.
Os lobistas estão rindo à toa. Como a pressa é inimiga da perfeição, e eles trabalham exatamente nas brechas das imperfeições, grupos descontentes com a criação da Super-Receita já estão comemorando a oportunidade de conseguirem vantagen$. Afinal, eles podem perder por um lado, mas querem recuperar pelo outro. Como no caso das indústrias que querem o Refis 3 para renegociar suas dívidas até sabe lá Deus quando, com aqueles juros pequeniniiiinhos. (Isso, é claro, até o Refis 4...)
Por isso, é importante que acompanhemos as CPIs, mas também as demais votações e negociações que ocorrem no Congresso enquanto elas funcionam.
Traduzindo: um olho no padre e outro na missa.

O voto 171 e a assinatura de Dornelles

Já falei aqui sobre a "Decisão 171", aquela que prorrogou a CPI dos Correios. Comentei que o deputado federal Francisco Dornelles (PP-RJ) não teve seu voto respeitado. Dornelles havia votado a favor da prorrogação, mas depois mudou de idéia e enviou um fax corrigindo seu voto. O fax não foi aceito por "divergência de assinaturas" - embora o deputado reafirme que ambos os documentos são legítimos.
Ele reclamou. Mas parou por aí. Mesmo sua reclamação não sendo atendida.
Curiosamente, nem o governo parece se empenhar em fazer valer o voto de Dornelles, embora se isso viesse a acontecer o resultado do jogo seria outro, e a CPI dos Correios não seria prorrogada, como desejam governo e deputado. Por que essa paralisia então?
Ontem saiu uma nota na Coluna do Ancelmo, em O Globo, que lança uma luz sobre o assunto e, de quebra, uma suspeita sobre Dornelles, que é líder do PP no Rio. A nota diz que a polêmica das assinaturas é assunto tabu em Brasília. Por quê? A nota explica:
"Muitos parlamentares deixam suas secretárias assinarem documentos por eles quando não estão na capital."
Será que foi o caso?

Por que eles não gostam de Palocci

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, declarou a O Globo que vê com tranqüilidade uma possível saída de Antonio Palocci do comando da Fazenda.
Paulo Skaf tem lá seus motivos para não gostar do ministro. Semana passada, Skaf esteve em Brasília fazendo lobby junto aos senadores para que incluam o Refis 3 na MP 258, a que cria a Super-Receita. Industriais inadimplentes, que já foram contemplados anteriormente com um alongamento da dívida de suas empresas, agora querem mais. Este novo parcelamento seria o Refis 3. E vários senadores, inclusive o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já se disseram favoráveis à medida.
Agora, adivinhem quem é contra: o ministro Palocci. Por isso Skaf não vê problema algum em sua substituição. Aliás torce por ela.

Lula pode sangrar até 2010

No final do depoimento de Palocci, o dólar caiu, a Bolsa subiu. E a oposição saiu dizendo que sua estratégia de não tocar nos casos de corrupção foi vitoriosa...
O presidente Lula deve estar muito preocupado. Se a oposição continuar a derrotá-lo assim, ele acaba se reelegendo no primeiro turno.
Mesmo assim, a oposição vai continuar a dizer-se vitoriosa, e alegará que sua nova estratégia será sangrá-lo por mais quatro anos...
Como dizia o grande filósofo baiano Zé trindade:
- O que é a natureza...

O fogo contra Palocci era fogo-fátuo

Acaba de cair a máscara da coligação PSDB-PFL. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) acaba de dizer que a "base oposicionista" não fará nenhuma pergunta ao ministro Antonio Palocci sobre temas que não sejam os rumos da economia brasileira.
O ministro nem começou a falar e a oposição já jogou a toalha. É o fim da farsa. Se tivessem algo de concreto, ou uma suposição mais forte que envolvesse Palocci, o senador, que já ameaçou dar uma surra no presidente Lula, não iria usá-la?

A mídia já prepara o desmonte do circo

Depois de passar a última semana repetindo o mantra "Palocci vai cair, Palocci vai cair", a mídia já começa a recolher a lona, desmontar o picadeiro e guardar o circo para nova temporada, mais adiante.
Hoje, os temas são a habilidade de Palocci, ou do governo, em antecipar a ida ao Senado; a estratégia do PSDB de não partir para cima do ministro; a falta de tempo hábil para que Suas Excelências os senadores se preparassem para o encontro com Palocci.
Querem preparar o terreno para a mais que provável permanência de Palocci à frente do ministério.
Logo, estaremos convivendo com intermináveis elogios ao ministro, porque, afinal, o show tem que continuar...

Arthur Virgílio, quem diria, defende o Caixa 2. Dele

Como dizia um famoso slogan de uma transportadora, "O mundo gira e a Lusitana roda"...
A revista Carta Capital desta semana, sob título "Mil faces de um Tucano", nos pergunta:
- Que tal relembrar o dia em que o enfático senador Arthur Virgílio assumiu ter feito caixa 2 na campanha eleitoral de 1986?
Leia aqui o artigo de Maurício Dias.

Quem está esperneando, o Senado ou a elite?

Se não for votada até a próxima sexta-feira, caduca a medida provisória que cria a Super-Receita.
Realmente, parece estranho que fossem deixar funcionar uma estrutura que, em tese - e até pelo nome de "Super-Receita" -, combateria de modo mais eficaz a sonegação. Pois se tem uma coisa que deixa nossas elites (e aqui, é bom especificar, trata-se da elite econômica) de cabelo em pé é o combate à sonegação e ao uso do caixa 2 - deles, bem entendido. São os primeiros a condenar esse comportasmento nos parlamentares, mas quando a Polícia Federal chega à Daslu, à Schinchariol ou até mesmo ao Maluf, essa elite chia, reclama do uso das algemas, o diabo a quatro.
Mas, é claro que ninguém vai dizer que a medida provisória vai caducar porque a criação da Super-Receita não interessa à elite econômica. O motivo alegado é outro: é uma forma de protesto por ela ter sido criada como medida provisória e não como um projeto de lei. O protesto é, portanto, contra um possível abuso do presidente Lula no uso do recurso das medidas provisórias.
Pois bem. O presidente poderia pôr à prova a veracidade dessa informação. Para isso, basta que envie uma medida provisória dobrando os salários de Suas Excelências. Vamos ver se eles continuam "protestando".

Antônio Mello, Perfil

Antônio Mello, Blog do Mello, perfil

Antônio Mello é escritor, roteirista, publicitário, diretor de eventos, consultor em Comunicação Interna de empresas. Coordenador de campanhas políticas e autor de inúmeros jingles de campanhas. Quase psicólogo - abandonou a faculdade no último ano.

Autor de "A metáfora de Drácula" (Livraria José Olympio Editora, 1982), contos; "A fome e o medo" (InternAd, 1998), ficção; e de "Madame Flaubert" (inédito), romance.

Consultor de comunicação interna de empresas, com uma abordagem própria, criada a partir das técnicas de roteiro cinematográfico.

Criou e dirigiu as primeiras cerimônias de premiação do Ibest. Criou também as cerimônias do Prêmio Cultura Inglesa de Teatro.

Dramaturgo e roteirista, autor de Taió, a Guerra do Contestado (1985); Taberna, 1789 - Viva a Revolução! (1989); e Amor Platônico, inédita. Taberna 1789 foi escrita sob encomenda para a Rede Manchete, com patrocínio da Air France, para comemorar os 200 anos da Revolução Francesa.

Um dos autores da série para a TV angolana "Papa'Ngulo e Chico Caxico", uma espécie de O Gordo e O Magro divertido e educativo.

Autor de jingles premiados, especialmente políticos, é responsável por grande parte dos jingles de candidatos majoritários do PT do Rio. Também é coordenador de campanhas políticas, articulista e resenhista.

Clique aqui e receba gratuitamente o Blog do Mello em seu e-mail

imagem RSSimagem e-mail

"Midiagenia": crônica da morte anunciada

Esta postagem, revista e ampliada, transformou-se em um artigo, que está publicado no Jornal do Brasil de terça, dia 15 de novembro.
Está nas bancas ou aqui na versão online do jornal.

Pode cair a "Decisão 171"

Você recebe telefonema do gerente do banco onde tem conta. Ele lhe pergunta sobre um cheque seu. Há um problema na assinatura. Você confirma que o cheque é seu, diz que ele pode pagar. Mas ele diz que não vai fazê-lo, porque a assinatura não confere.
Absurdo? Algo semelhante a isso aconteceu na já famosa "Decisão 171", a que prorroga a CPI dos Correios até abril. O deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) havia assinado o requerimento a favor da prorrogação. Depois mudou de idéia e enviou por fax solicitação para que seu nome fosse retirado da lista. Mas as assinaturas eram diferentes, e mesmo o deputado confirmando que o fax era dele, isso não foi levado em conta e seu voto pela prorrogação continuou valendo. Só este voto já levaria a vitória para o lado do governo.
Mas há mais: dois deputados assinaram a lista. Mas às 23h37min protocolaram pedido para que seus nomes fossem retirados. E foram dormir tranqüilos. Só que a oposição tinha uma carta na manga. Até aquele momento, não havia protocolado as assinaturas dos dois "a favor" da prorrogação. O fizeram às 23h59min. Como o último documento é o que vale, os votos dos dois acabaram ao lado da oposição, ou seja, a favor da prorrogação. Mesmo não sendo esse o desejo de ambos.
Agora, um deles, o deputado federal Carlos Willian (PMDB-MG), ameaça entrar com uma ação judicial para retirar sua assinatura do requerimento. Deve fazê-lo mesmo. Aliás, a "Decisão 171" deveria ser anulada e feita nova votação em Plenário. Por que protocolos? Convoquem-se os nobres excelentíssimos deputados para votar, ao vivo, de preferência declarando o voto. Assim ninguém pode reclamar depois.

Bancos não querem o Código de Defesa do Consumidor

Os bancos continuam lucrando como nunca. E desrespeitando nossos direitos como sempre. E têm um aliado (mais um) importante a seu lado: a morosidade do Supremo Tribunal Federal (STF), que deveria ter julgado no último dia 10 se os bancos devem ou não obediência ao Código de Defesa do Consumidor.
Segundo Augusto Nunes, em sua coluna de domingo no Jornal do Brasil, o ministro Nelson Jobim excluiu o processo da pauta de votações.
Agora vai para a fila. Como nós, nos bancos.
O interessante é observar que o STF calça bota de sete léguas, quando é para soltar os Maluf, por exemplo. No caso dos bancos, é um cágado manco.

Vai começar a greve na Petrobras

Por enquanto, ela é uma nota pequena, perdida no meio das páginas de Economia, mas logo estará nas primeiras páginas de todos os jornais: a partir do dia 17 entram em greve os trabalhadores da Petrobras.

Vale a pergunta do Garrincha

Frase do senador Tasso Jereisssati (PSDB-CE) em entrevista à revista VEJA, escolhida como a frase do dia de hoje no Blog do Noblat:
- Nós não podemos querer o impeachment do presidente sem que a grande maioria da população esteja convencida, como esteve no caso Collor, de que está na hora de o presidente da República, eleito por ela, ser impedido.
Este é o objetivo de toda essa campanha: convencer a população. Primeiro, vão comendo o presidente pelas beiradas, como um mingau quente: Delúbio, Dirceu, Gushiken, agora Palocci, Gilberto Carvalho... Depois é tentar provar que não apenas o PT pecou, mas o presidente também, para convencer o povo de que Lula não vale nada, e aí tentar o impeachment...
Este é o motivo principal dessa escalada de ataque da semana. Como já publiquei semana passada na postagem "Agir para influenciar", o objetivo é a próxima pesquisa do Ibope. Tentar conter a subida de Lula e, se possível, fazer com que caia um pouco.
Digressiono: houve uma vez um jogador chamado Garrincha, que foi do Botafogo e da seleção brasileira. Para muitos, foi o maior jogador de todos os tempos. Um dia, o treinador virou-se para Garrincha e disse tintim por tintim tudo o que tinham que fazer para ganhar o jogo. Ao final, Garrincha perguntou:
- Mas combinaram com eles?

Como se constroem as notícias - Marina Amaral

Aproveitando o feriadão, indico a leitura de uma reportagem excelente da jornalista Marina Amaral, da revista Caros Amigos. Foi publicada em um número especial da revista sobre Corrupção, sob título “Como se constroem as notícias”. Quem não conseguir encontrar a revista, clique aqui e leia a reportagem na íntegra, conforme publicada pelo site do Observatório da Imprensa.
Ela narra o dia a dia de um fabricante de dossiês, um tipo de jornalista que vive de armazenar fofocas, intrigas, baixarias de personalidades – especialmente políticos – para serem usadas por quem pagar por elas.
Muito do que está acontecendo agora no país tem origem nesse banco de dados.
É imperdível.

A frase da semana

É do senador Romeu Tuma (PFL-SP) a frase da semana. Ontem durante o depoimento de Vladimir Poleto, o senador, após chamá-lo mais uma vez de deputado, desculpou-se:
- Desculpe-me, mas vou continuar chamando-o assim... O senhor não se ofende, não é?
Até o momento desta nota, segue o impasse sobre a prorrogação ou não da CPI dos Correios até abril. No momento, o resultado é a favor da oposição, que conseguiu o número exato de votos favoráveis à prorrogação. Mas o governo contesta, e a situação segue indefinida.
O número de votos de deputados que define a questão é emblemático: 171. Para quem não sabe, é o artigo que define o crime de estelionato.
Tudo a ver.

Maluf perde o voto, mas fica com a grana

O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou ontem à noite a cassação dos direitos políticos dos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta. A notícia parece boa. Mas já foi ótima. É que antes, em decisão de primeira instância, além da cassação dos direitos políticos a dupla foi condenada a devolver mais de R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. Na decisão de ontem, o Tribunal "esqueceu" o dinheiro.
Os advogados de Paulo Maluf já disseram que vão recorrer ao Supremo. Essa história a gente já conhece. Perto da data do julgamento, Maluf pára de pintar o cabelo e de fazer a barba. Faz exames no Incor e sai numa cadeira de rodas, com expressão de dor. Comovidos, os juízes liberam o "pobre velhinho doente" (que não tem nada de doente nem de velhinho, muito menos de pobre) para que possa concorrer novamente...
Taí, dessa vez torço para que isso aconteça. Estou louco para ver quantos votos o povo de São Paulo vai dar a Maluf.

O "mercado" quer o Caixa Dois

O presidente Lula precisa definir urgentemente se o Caixa Dois é um problema maior ou não. Pode estar aí o “xis” da questão para definir se ele continua presidente, ou é impichado.
Operação da Receita Federal, com a Secretaria de Segurança e o Ministério Público Federal prendeu ontem no Espírito Santo 11 pessoas, integrantes de um grupo que teria fraudado R$ 150 milhões.
Isso deixa o “mercado” com a pulga atrás da orelha. O “mercado” quer que valha para ele a mesma regra aplicada às campanhas políticas: eu finjo que declaro, você finge que acredita.
Aí está a chave da questão, para aqueles que se perguntam por que o governo Lula está sendo ameaçado, embora dê aos bancos a oportunidade dos maiores lucros de sua história. A resposta é:
- A galera quer sonegar para lucrar, e lucrar sem declarar.
Se a PF vai em cima daslu – quer dizer, deles - então eles vão em cima do presidente.
Eles acham que o Caixa Dois tem que ser (des)moralizado - ou valer apenas para eles -, porque senão, daqui a pouco, o governo vai querer controlar, por exemplo, a remessa de divisas para o exterior...

A varredura da ministra Dilma "Bushef"

A ministra Dilma Roussef foi convidada pelo senador Ney Suassuna para um jantar na casa dele, onde também compareceriam lideranças do PMDB.
Empolgada com a visita de Bush, a ministra confirmou presença, mas antes enviou uma turma da "segurança" para fazer uma varredura na casa do senador, para evitar "grampos".
Se a ministra não confia no anfitrião, ou em seus convidados, deveria ter recusado o convite, ou então - o que seria mais gentil - convidado o senador e demais peemedebistas para sua casa.
Da maneira como agiu, noves fora a falta de educação, a ministra conseguiu apenas deixar uma pulga atrás da orelha do distinto público brasileiro - que, afinal, é quem paga o salário da ministra, do anfitrião e de seus convidados:
- O que eles têm a conversar de tão inconfessável que não pode chegar aos nossos ouvidos?

Atiram em Palocci para acertar Lula

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é a bola da vez. Deputados e senadores descem o malho no ministro – embora seu alvo seja outro, o presidente Lula. Eles sabem que Palocci é o homem-símbolo da equipe econômica. Se conseguirem derrubá-lo, colocam Lula na defensiva, e o mercado – esse ser sem rosto e de mão invisível – em suspense.
O motivo é o mesmo de sempre: o prato requentado do mensalinho do lixo de Ribeirão Preto, cidade que Palocci administrou. O ministro já se explicou sobre o assunto, e naquela ocasião todos ficaram satisfeitos, embora as explicações não fossem lá muito convincentes. O motivo desse comportamento cordato dos nobres deputados e senadores à época foi o...mercado, esse monstro que é perigoso atiçar. Mas o motivo de fundo mesmo é que eles achavam que o presidente Lula já era uma galinha morta – por gripe -, ou um boi morto – por aftosa.
Mas agora eles estão sentindo que Lula está se recuperando, e volta a ser o mais forte candidato nas eleições do ano que vem. Por isso, voltam à carga contra Palocci. Aproveitam para tirar algumas “diferenças” com o ministro. É que Palocci, como se sabe, é duro na liberação de verbas, e com isso atinge em cheio a região mais sensível de nossos congressistas, o bolso. Eles querem a forra com o ministro.
Palocci, esperto, ofereceu-se espontaneamente para comparecer ao Senado, no próximo dia 22, jogando água na fervura. Até lá, libera uma verbinha aqui, outra ali – quem sabe algo para o Pan no Rio de Janeiro, acalmando assim o “radical” pefelista Rodrigo Maia, filho do ex-prefeito em exercício César idem. Ontem, em pronunciamento na Câmara, Rodrigo Maia atacou duramente o ministro:
- O ministro da Fazenda, além de envolvido em vários esquemas, escândalos de corrupção, é mentiroso, não cumpre sua palavra.
Por “não cumpre sua palavra”, entenda-se: não libera as verbas prometidas.
Quem sabe agora ele libera?

Ex-prefeito Cesar Maia ainda no cargo

O ex-prefeito do Rio, mas ainda no cargo, Cesar Maia, disse que, em relação ao PAN a prefeitura...
Na verdade, o que ele disse não tem a menor importância. Nos últimos tempos, ele diz uma coisa hoje, desdiz-se amanhã, e, nas palavras do poeta (Carlos Drummond de Andrade), "depois de amanhã é domingo, e segunda-feira a gente nunca sabe o que vai acontecer".
O fato é que o ex-prefeito, embora - repito - ainda no cargo, está perdidinho. Criou para si tantos tipos, que acabou se perdendo e - citando outro poeta - "Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara" (Fernando Pessoa).

Maluf ameaça voltar

"Injustiça me obriga a continuar na vida política", disse o ex-prefeito de SP Paulo Salim Maluf.
Nada disso, quem o obriga a continuar na vida política não é a injustiça, é a... Justiça. A jogada do ex-prefeito é eleger-se deputado, provavelmente tentar a eleição do filho também, e depois ficar empurrando com a barriga o processo em que é acusado de desviar meio bilhão de dólares dos cofres paulistanos.
Vamos ver como vai se comportar o eleitorado paulista no ano que vem.

Um jabuti em cima da árvore

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que se precipitou ao anunciar a descoberta de um foco de aftosa no Paraná. Até o momento, os resultados dos testes deram negativo. Querendo ser mais realista que o rei e mostrar serviço, foi uma tremenda mancada do ministro. Aliás, mais uma.
Quando surgiu o primeiro foco de aftosa, o ministro apontou um culpado - ou melhor, uma culpada: a equipe econômica, que, segundo ele, não liberara as verbas necessárias para o setor.
Levou um chega-pra-lá do ministro Palocci, que disse que liberou as verbas, mas elas não foram utilizadas pelo ministro por falta de projetos. Rodrigues enfiou a viola no saco, e não deu um pio.
Agora, dá essa mancada, e volta a reclamar de verbas. Põe a culpa no governo - mas, peraí, ele não é governo?...
Aí tem coisa.
Enquanto isso, o boi ouve a Kelly Key e manda "baba, baby, baby, baba, babaaaaaa!"...

Zé Dirceu, muy amigo

Enquanto o presidente Lula o defendia na entrevista ao Roda Viva, o compañero José Dirceu descia o cacete nele.
Segundo O Globo de hoje, o deputado criticou o presidente numa reunião com 54 integrantes de uma corrente petista, num hotel de São Paulo. Disse que Lula não gosta de ouvir problemas, nem soube montar sua equipe. Dirceu queixou-se especialmente das escolhas de Luiz Gushiken para a Secom e do ex-ministro Humberto Costa, para o Ministério da Saúde.
Mas, o deputado José Dirceu não saiu do governo exatamente para se defender e defender o governo Lula?

Moreira Franco mudou de lado

Em sua coluna Panorama Político, no jornal O Globo de hoje, Tereza Cruvinel informa que o deputado Moreira Franco lhe enviou uma proposta de emenda constitucional, formulada por ele, que busca dar um basta na gastança, não apenas federal, com publicidade oficial. Segundo Tereza, Moreira Franco afirmou que “além do desvio, há o absurdo de um país com tantas carências gastar tanto em publicidade”.
Desse assunto ele entende. Afinal, Moreira Franco foi condenado duas vezes exatamente por usar desse expediente quando governador do Rio.
Primeiro, teve que devolver ao estado R$ 340 mil, em 1998, por ter publicado um livro sobre as obras realizadas em sua gestão, às custas dos cofres públicos.
Depois, a devolver R$ 525.696,67 por causa de anúncios veiculados em rádios, jornais e TVs, que faziam propaganda pessoal dele, quando governador.
Sem a caneta, o deputado dá uma de Madalena arrependida.

Mais “elite” contra Lula

O Bradesco divulgou ontem seu balanço do período de janeiro a setembro. Nele, registrou um lucro líquido de R$ 4,051 bilhões, batendo o Itaú, que na semana passada anunciara um resultado de R$ 3,8 bilhões.
Como o governo acusa as elites pela crise por que passa, é de se imaginar que ela vai se agravar com esses números. Certamente os acionistas do Bradesco, como antes os do Itaú, com problemas de consciência por conta desse lucro elevado, querem tirar Lula do poder, afinal, “não agüentam mais ganhar dinheiro fácil, fácil”.... É possível até imaginar o grito de guerra desse grupo:
- Fora Lula, ou vamos acabar podres de ricos!

Lula ganhou no tapetão

A entrevista do presidente Lula no programa Roda Viva, exibida ontem à noite na TV, foi decidida no tapetão. Ao escolher o local da entrevista – a sala de audiência do palácio do Planalto, o presidente decidiu o jogo a seu favor.
O cenário original do programa Roda Viva é opressivo para o entrevistado. Este fica colocado no centro de uma espécie de Coliseu, só que mais estreito, onde é jogado literalmente às feras – os jornalistas, que o olham de cima para baixo o tempo todo, e podem lançar perguntas de todos os lados, muitas vezes pelas costas.
Quando escolheu o cenário da entrevista, o presidente Lula praticamente definiu o resultado dela a seu favor. Ele ficou sentado numa cadeira acolchoada, com braços, tendo ao fundo as bandeiras, símbolos do país. Sob seus pés um imenso tapete delimitava seu espaço: o espaço presidencial.
Os entrevistadores foram colocados em cadeiras sem braços, dispostos em semicírculo, fora do tapete, como que mostrando espacialmente a diferença existente entre eles e aquela figura presidencial. O que o cenário e a disposição dos entrevistadores dizia o tempo todo a eles era: “cuidado com o que vão falar, meçam suas palavras, não sejam indelicados, nem impertinentes, estão falando com Sua Excelência, o presidente da República”.
E foi o que se viu. O constrangimento dos entrevistadores era visível. A entrevista por isso foi meia-boca.
Ponto para Lula, que ainda ficou de “repensar sua relação” com a imprensa, talvez concedendo mais entrevistas coletivas - uma reivindicação dos jornalistas.
Calma, pessoal, no ano que vem teremos eleições, e Lula vai estar correndo atrás da imprensa o tempo todo.

Lula hoje no Roda Viva

Quem espera por declarações bombásticas do presidente Lula hoje à noite no programa Roda Viva, da TV Cultura, vai dar com os burros n'água. Em primeiro lugar porque, em linhas gerais, o conteúdo da entrevista já foi "furado" - pelo Blog do Noblat, por exemplo. Em segundo lugar, porque candidato que está na frente na disputa eleitoral (afinal, é disso que se trata) não dá declarações bombásticas, apenas joga o jogo.
O presidente Lula sabe que está com a bola toda, após a visita de Bush. Todos os principais jornais publicaram fotos dos dois presidentes na primeira página. A Tv também repercutiu positivamente o encontro Lula-Bush. O Jornal Nacional agora deve levantar ainda mais a bola.
A grande massa "sabe" que é muito bom ter amigos poderosos. Portanto, Lula subiu ainda mais no conceito dela.
O Roda Viva é só mais um motivo que Lula tem para se colocar em evidência, a poucos dias da nova pesquisa do Ibope. Não diziam que ele é arredio à imprensa? Pois agora já não poderão dizer mais - é este talvez o principal motivo dessa entrevista agora, colada à visita de Bush.

Agir para influenciar

Tradicionalmente, as últimas pesquisas do Ibope vêm sendo feitas na segunda dezena do mês. Portanto, o distinto público que se prepare, porque, nos próximos dias, governo e oposição vão dar muitas declarações, produzir "fatos novos", pegar pesado mesmo para mostrar que Lula é um incompetente, corrupto, seu governo é ruim e ele merece sair, ou então o exato oposto disso tudo.
E o objetivo não será esclarecer a opinião pública ou buscar melhorar a vida do país, mas apenas tentar influenciar a opinião daqueles dois mil eleitores que serão entrevistados pelo Ibope.

A camiseta antiBush da senadora

Hoje, sábado, e nenhuma palavra sobre as graves acusações que a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) fez ao governo e ao Congresso Nacional.
Ontem, jornais e blogs falaram e mostraram fotos da senadora no Plenário com a camiseta antiBush. Mas nenhuma palavrinha sobre as denúncias.
Hoje, nem a camiseta.
A senadora deve (para usar uma expressão que as mulheres adoram) "repensar sua relação" com o público e os possíveis eleitores. Quando veste uma camiseta como aquela, "fala" diretamente com um público jovem e contestador, mas perde os tais formadores de opinião, que a criticam ou ignoram o que ela fala. E seu pronunciamento tinha conteúdo, mas ficou perdido.
Vamos combinar assim, senadora: use a camiseta numa hora, se isto lhe interessa. E faça o pronunciamento em outra. Do jeito que foi, deu soma zero.

Abicalil em contradição

O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) criticou o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), acusando-o de agir com imprudência e precipitação ao declarar que o banco do Brasil (BB) irrigou os cofres do PT com R$ 10 milhões, via valerioduto.
— É possível supor. O que não se pode é afirmar. Dizer que o Banco do Brasil orientou que o dinheiro fosse desviado para o PT é um grande salto interpretativo – teria declarado Abicalil, segundo O Globo.
Mas, nobre deputado, não será também um grande salto interpretativo (no estilo Twist Duplo Carpado da Daiane) querer que o distinto público eleitor aceite como normal uma agência de propaganda receber R$ 35 milhões adiantados do BB, pegar R$ 10 milhões e aplicar em outro banco (BMG), para quatro dias após pedir a esse banco onde fez a aplicação um empréstimo no valor... dos mesmos R$ 10 milhões aplicados? E depois ainda contabilizar esse empréstimo como sendo para o PT?
Ainda na matéria de O Globo, o deputado do PT afirma:
— Ele (Valério) tinha dinheiro no caixa da empresa e R$ 23 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil. Não precisaria dos R$ 10 milhões. Poderia ter lançado mão de outros recursos e não precisava esquentar a operação.
Pois é. Se não precisava, por que o fez, deputado? Por que o dinheiro pulou de um banco para outro? Por que pediu o empréstimo? Por quê?

"O que é a natureza!..."

Já falei dele aqui, e repito: havia um humorista baiano, chamado Zé Trindade, um sujeito baixinho, gordinho, que encarnava um tipo mulherengo, que quando via uma coisa a seu modo de ver estranha, como, por exemplo, uma bichinha (naquela época não se falava gay), ele dizia:
- O que é a natureza!...
Não era uma pergunta, mas uma exclamação, um espanto...
Pois bem, hoje, no blog do Josias de Souza, deparei-me com esta incrível declaração de ninguém menos que Fernando Collor, aquele ex-presidente posto para correr por corrupção, sobre o escândalo do mensalão:
- Não há registro na história republicana de nada parecido com isso. O que houve foi um assalto organizado às burras do Estado brasileiro. Tudo isso concatenado com o aparelhamento do Estado por um partido político para fazer com que este aparelho, que tomou de assalto o tesouro do Estado, participasse de um projeto de perpetuação no poder. E o projeto era muito ambicioso, porque era um projeto da quebra das regras do jogo democrático.
Lembrei-me novamente do Zé Trindade:
- O que é a natureza!...

A mídia corre atrás de um balão apagado

O deputado José Dirceu (PT-SP) vive reclamando da mídia, mas é inacreditável o espaço que lhe é concedido diariamente pelos principais jornais e pelos mais famosos blogs do país.
Todo dia somos inundados por inúmeras antinotícias, todas com verbos como “deve”, “quer”, “deseja”, “pretende”, “anuncia”, “avalia”, outros conjugados no futuro como “deverá”, “votará”, “anunciará”, e, ainda assim, cheias de condicionantes como “se”, “provavelmente”, “talvez”...
Fatos? Zero. O único é que o deputado é um balão apagado, que a mídia acompanha diariamente apenas para ver onde e quando cairá.
A prioridade é acompanhar quem bate o tambor. Dão destaque à camiseta antiBush da senadora Heloísa Helena, mas nenhuma linha sobre as graves acusações que ela fez ao governo e ao Congresso no Plenário, quando usava a tal camiseta.
Querem dar um ar de epopéia à luta de José Dirceu. Mostram-no como um homem que sempre colocou a ideologia acima de seus projetos pessoais, quando sua luta atual mostra o oposto, um homem que defende sua biografia (contratou até um jornalista famoso para escrevê-la) a qualquer preço.
E ele ainda reclama!

Senadora faz graves denúncias contra governo e Congresso

Talvez por seu comportamento passional - ao contrário dos nobres colegas, em geral aparentemente frios e até mesmo cínicos - e também pelo nome de heroína de novela, a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) é encarada quase que como uma figura folclórica pela mídia e por boa parte dos eleitores, especialmente do sudeste do país. Por conta disso, a não ser quando ela se atraca com alguém numa das CPIs, a imprensa não costuma cobrir seus pronunciamentos. Aliás, a bem da verdade, a imprensa, em geral, não cobre pronunciamento algum. O deputado ou senador tem que explodir a bomba no colo da imprensa para que ela a noticie.
Ontem, em pronunciamento no Plenário, a senadora Heloísa Helena disparou petardos contra a política econômica do governo Lula, mostrando que o superávit primário, de que o presidente e a equipe econômica tanto se orgulham, vem sendo construído às custas da falta de investimentos sociais definidos no Orçamento da União.
Segundo ela, “o governo Lula conseguiu ser pior do que o governo Fernando Henrique do ponto de vista da disponibilidade orçamentária das políticas públicas e das políticas sociais”.
E citou números: de R$ 2,6 bilhões para investimentos em saúde, foram liberados até o final de outubro apenas R$ 146 milhões. Para Habitação, apenas 2,76% do que estava orçado. Saneamento, apenas 5,64%. Para ações do Programa de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, no nordeste, onde o problema é gravíssimo: Zero.
E, bem a seu estilo, acusou o presidente Lula e o Congresso:
- A Constituição brasileira diz que é crime de responsabilidade não cumprir a lei orçamentária. O Fernando Henrique não fazia, o Lula não faz, porque contam com a omissão, a cumplicidade vergonhosa do Congresso Nacional.
Qual a pena para "crime de responsabilidade"?
Com a palavra, Suas Excelências.

A origem do dinheiro

Pela primeira vez, a CPI dos Correios conseguiu rastrear o desvio de dinheiro público para os tais “empréstimos” das agências de Marcos Valério ao PT.
Segundo informou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), o dinheiro teria vindo da Visanet (de quem o Banco do Brasil detém 32% do capital), chegou ao BB, que o repassou à DNA (agência que tem Marcos Valério como sócio). Era um total de R$ 35 milhões. R$ 10 milhões destes foram “aplicados” no Banco BMG. Quatro dias depois, o dinheiro vira garantia de um empréstimo a sócios de Marcos Valério e é contabilizado como sendo para o PT. Bingo!
Se for verdade, complica-se a vida do presidente. Pela primeira vez chega ao governo o escândalo, que estava circunscrito ao PT, a Marcos Valério e ao Caixa Dois de campanha de alguns deputados.
Como nossos nobres deputados só avançam quando empurrados, é provável que o deputado Serraglio tenha passado esta informação à imprensa ontem à tarde, apenas porque tenha ficado sabendo de alguma bomba que virá na capa de uma revista semanal. É esperar para ver.

Recordar é viver

Em 14 de outubro, publiquei aqui no blog a postagem que reproduzo a seguir. Quem quiser conferir no local é só clicar aqui.

O que vem por aí...
O Ibope divulgou hoje nova pesquisa mostrando o índice de confiança da população no presidente.
Os que confiavam em Lula eram 43% em agosto, 44% em setembro e agora são 46%.
Os que não confiavam eram 52% agosto, 51% em setembro e agora são 49%.
A variação dos números não é grande, mas mostra uma tendência de recuperação da imagem do presidente junto à população.
Como o que é bom para Lula é péssimo para seus opositores, deve vir chumbo grosso por aí.

Agora, matéria do repórter Gerson Camarotti em O Globo de hoje afirma que o presidente Lula avalia que a crise do momento é porque "a oposição está desesperada com a recuperação da popularidade".

O que vem por aí II...
Se a próxima pesquisa do Ibope mostrar números melhores ainda para o presidente, a oposição certamente vai tentar o Plano B .
Será que cola?

Maluf bebe e começa a devolver o dinheiro

Maluf bebe e começa a devolver dinheiro
Depois de ver o sol nascer quadrado, Maluf faz Skol descer redondo.
É a cara de Paulo Maluf!
Este flagrante de Kadu Schiavo/AE foi feito em Campos do Jordão, SP, onde o ex-prefeito se recupera da temporada na cadeia.
Ele deu pequenas declarações, dizendo-se vítima de perseguição política. Deixou 11 reais de caixinha no bar e deu mais vinte reais para o flanelinha que tomou conta de seu Corvette.
Não é nada, não é nada, já são 31 reais que voltaram para o bolso do povo paulista.
Pelo andar da carruagem, distribuindo 31 reais por dia, Maluf vai levar apenas trinta e cinco milhões, quatrocentos e oitenta e três mil, oitocentos e setenta e um dias (ou noventa e sete mil, duzentos e dezesseis anos) para devolver o meio bilhão de dólares que o acusam de ter desviado dos cofres públicos.

O Plano B dos Aprendizes de Feiticeiro

Os adversários do presidente Lula já têm um plano B, para o caso de fracassarem em seu objetivo de sangrá-lo com denúncias quase diárias, que atingem agora também o ministro Palocci. Se a próxima pesquisa Ibope confirmar a subida do presidente, empatando ou mesmo vencendo José Serra num hipotético segundo turno, o plano B entra em ação.
Esse plano ganhou força entre os membros do grupo a partir do referendo, com a derrota humilhante que o grupo do Não impôs ao Sim. Eles verificaram que a população se mobiliza mais para tratar de assuntos do seu dia-a-dia do que quando é chamada para tratar de embates políticos, que implicam “nessa chateação” de ideologia, programas de governo, coligações partidárias etc. Daí surge o plano B: uma tentativa de aplicar a “solução Karl Rove” nas eleições do ano que vem.
Karl Rove é o guru do presidente Bush, e principal responsável por sua vitória esmagadora nas últimas eleições presidenciais americanas. Diferentemente de nossos mais famosos marqueteiros, que são homens de comunicação visual, forjados nos filmes publicitários, Karl é um especialista em mala-direta. Por conta disso, um estudioso, quase que obsessivo, da demografia.
Nas últimas eleições presidenciais, enquanto as pesquisas indicavam uma provável derrota de Bush, Karl trabalhava em surdina estudando-as e fazendo comparações com as migrações populacionais e o comparecimento às urnas (é bom lembrar que nos EUA o voto não é obrigatório). A partir desse cruzamento verificou que venceria as eleições se conseguisse mobilizar a imensa massa conservadora, muito religiosa, moralista, que tradicionalmente não votava - talvez por absoluto desprezo à política e aos políticos. Na eleição anterior, por exemplo, ele descobriu que cerca de quatro milhões desses não votaram.
Para levar esse imenso contingente às urnas e garantir a vitória do candidato conservador (Bush) entra a “solução Karl Rove”: ele promoveu intenso lobby entre os congressistas, que resultou numa consulta à população, concomitante à eleição, sobre emendas constitucionais com temas polêmicos (aborto e união civil e religiosa de homossexuais) em estados com grande percentual de crentes fundamentalistas. Ou seja, casou a eleição presidencial com o referendo. Esses crentes compareceram em peso às urnas para barrar as “emendas pecaminosas” e votar no candidato que as condenava - Bush.
A mesma “solução Karl Rove” os adversários de Lula começam a ensaiar no Brasil. Não com o objetivo de aumentar o comparecimento às urnas, já que a votação aqui é obrigatória. O objetivo é “despolitizar” a campanha, tirar de Lula a iniciativa de poder apresentar os resultados do Bolsa Família e da política econômica, que são os dois pés que apóiam o presidente em sua caminhada para tentar a reeleição. Em lugar disso, pretendem casar a eleição com um referendo, por exemplo, sobre a liberação do aborto, para mobilizar o sentimento religioso, especialmente dos nordestinos – onde Lula é mais forte. Ou sobre temas como prisão perpétua, diminuição da maioridade penal etc, diretamente relacionados à segurança pública – onde o governo Lula tem o desempenho mais fraco.
O problema é que esse embaralhamento do jogo político pode não favorecer a nenhum dos principais adversários de Lula, mas dar lugar a um Mico Preto, que é aquela figura de baralho infantil que não tem par – no caso, alianças. Um Enéas, por exemplo. Um “salvador da pátria”, moralista, sem apoio político, que levará o país a uma crise que ninguém em sã consciência deseja.
Transformar a eleição para presidente – e também para governadores, senadores e deputados – em eleição de segunda classe, subordinada a temas polêmicos, como aborto ou estabelecimento da pena de prisão perpétua, pode levar o país a um beco sem saída. Este pode ser o preço que todos venhamos a pagar pelos que querem o poder a qualquer preço.

Garotinho quer crescer

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho escreveu um artigo hoje em O Globo em que defende o populismo e critica seus detratores.
O artigo merece ser lido, para quem consegue ir além do preconceito que existe contra Garotinho e sua esposa, especialmente na cidade do Rio – diga-se de passagem que, em boa parte, por culpa dos dois.
Nele, Garotinho mostra a descaracterização do populismo, que passou a ter apenas um sentido pejorativo, diferente do que tinha quando surgiu, nos anos 30. Garotinho defende também sua aplicação nos dias de hoje, tentando colocar-se como herdeiro de Vargas e do trabalhismo deste.
Aliás, como já vinha fazendo desde a eleição passada, onde, ao nome de Vargas acrescentava também o de Juscelino, para se caracterizar como um candidato preocupado com os pobres e os trabalhadores, mas também com o desenvolvimento. Não falou em Juscelino agora provavelmente porque Lula já o vem fazendo repetidamente este ano.
O problema é que Garotinho se vê diante de três dilemas:
O primeiro é que ele quer se colocar como uma alternativa séria, responsável e histórica ao eleitorado. No entanto, comporta-se várias vezes tal qual um garotinho, como aconteceu nas últimas eleições municipais aqui no Rio, quando subiu aos palanques e ameaçou deixar a pão e água municípios que não votassem em candidatos indicados por ele e sua esposa.
O segundo, é que precisa se decidir se é candidato a presidente, a pastor ou a comunicador. O lado divertido do comunicador, o pastor carola, o candidato que se quer sério e competente batem de frente.
O terceiro – e talvez mais importante dilema – é conseguir sua candidatura à presidência da República pelo PMDB. Que hoje parece muito pouco provável.
São dilemas que Garotinho vai ter que enfrentar para crescer.