A menina do vento faz 97 anos


Já escrevi e publiquei aqui algumas vezes sobre a paixão de minha mãe pelo vento. Hoje, ela faria 97 anos.

Sem ela e sem vento, republico a saudade dela.

O vento e a menina que gostava dele

Tem gente que gosta de sol. Tem gente que gosta de chuva. Sim, e tem gente que não gosta de nada.

Minha mãe gostava de vento. Não um vento específico, mas o vento. Qualquer um. Uma suave brisa ou uma ventania, um vendaval daqueles de fazer as roupas darem cambalhota no varal.

Tem gente que se incomoda com o vento. Despenteia o cabelo. Ela gostava disso, de sentir o vento nos cabelos.

Ela dizia que quando criança corria e brincava com o vento. Não apenas sentia seu sopro no corpo, mas gostava de vê-lo movimentar a vida.

Corria para o muro, subia num caixote e ficava olhando o balanço das árvores, o desalinho dos cabelos, o movimento das roupas, das saias, as pipas...

Tem gente que acredita em reencarnação. Tem gente que não acredita nem desacredita. Tem gente que não acredita em nada.

Fico pensando, se minha mãe reencarnasse. Sempre ouvi falar na possibilidade de reencarnação até como uma nova pessoa. Ou um animal.

Aí minha mãe poderia ser uma pombinha, porque ela sempre invejou nas pombas (as comuns e também as pequenas, rolinhas) a capacidade de voar.

Nunca ouvi falar na possibilidade de uma pessoa reencarnar num fenômeno da natureza. Não sei se tem. A pessoa voltar como água. Como vento.

Só sei que toda vez que venta, me lembro dela.

Hoje é dia do aniversário dela. Se estivesse viva, comemoraríamos. Como não está, invento.

Sempre vento.



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'As pessoas que sobrevivem, que sofrem e morrem pelas ruas nos questionam a construir uma cidade mais humana'


O padre Julio Lancelotti é dessas pessoas que deveriam merecer toda a atenção dos governos, porque ele acolhe a população em situação de rua em São Paulo há décadas.

Por ela já sofreu e sofre agressões, ameaças, sem se desviar de sua rotina de estar presente no quotidiano dessas pessoas.

À frase do slogan de Bolsonaro, o padre Julio contrapõe outra: Deus não está acima de nós. Ele está no meio de nós.

É assim que ele vive. É assim este seu artigo, publicado na Folha deste domingo.

A população e a rua


A população em situação de rua cresce em todo o Brasil e nas grandes cidades do mundo. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não faz o censo dos que sobrevivem nas ruas por considerá-los sem domicílio. Já o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que há 220 mil pessoas pelas ruas das cidades do país.
A população em situação de rua é heterogênea e necessita de propostas que comtemplem a diversidade humana. Respostas únicas, como centros de acolhida, não respondem mais às reais necessidades. Precisamos ampliar respostas que priorizem a autonomia, a não burocratização e a não institucionalização. Nesse sentido, a locação social e o acesso às políticas de moradia são fundamentais. O binômio moradia e trabalho são inseparáveis.
As respostas das chamadas políticas públicas têm sido ineficazes e pífias por serem insuficientes e cerceadoras da autonomia. É comum ouvir dos administradores públicos: “Há vagas sobrando!”. As autoridades esquecem que quem precisa de vagas são carros. Pessoas precisam de lugar! Lugar com significado, pertencimento e autonomia.
As cidades são muitas vezes governadas pela especulação imobiliária. As pessoas são expulsas das regiões centrais, invisibilizadas, reprimidas e tratadas com repressão e violência. A propriedade e a especulação ferem e matam.
Conviver com a população em situação de rua é resistência e denúncia da opressão e da banalização da miséria a que são submetidos. A vida, em todas as dimensões, é negada e reprimida. Não se levam em conta os sentimentos, as emoções. A sexualidade é negada, e a diversidade, reprimida e moralizada.
Respostas humanizadoras são prementes! Não aceitamos a zeladoria urbana que considera as pessoas como lixo, que furta seus poucos pertences. Não aceitamos segurança pública racista que sempre os trata como suspeitos.
A população em situação de rua não é toda dependente de álcool e de outras drogas. Muitos padecem de sofrimento mental, são pessoas que perderam quase tudo na vida e esperam resistir e superar desafios imensos.
Todos os dias me pedem trabalho, querem ser reconhecidos. Precisam ser reconhecidos e tratados com respeito e humanidade.
Refugiados urbanos, expulsos e indesejáveis. Dizem sempre: “Leve para casa!” Queria que fossem para uma casa. A casa deles, onde tivessem a chave, a cama, a mesa e os alimentos.
As pessoas que sobrevivem, que sofrem e morrem pelas ruas nos questionam a construir uma cidade mais humana, que tenha lugar para todos.
Não podemos idealizar nem demonizar, mas humanizar. Nem flores nem bombas. Mas, sim, respostas humanas e dignas!
Neste tempo de pandemia, precisamos refletir e nos comprometer a olhar com compaixão o sofrimento dos descartados, que não têm sequer onde lavar as mãos, onde dormir com privacidade e proteção e praticar o isolamento social.
Não são as pessoas em situação de rua que adulteraram álcool em gel nem superfaturaram respiradores durante a pandemia. Muitos ficaram abandonados pelas ruas e praças à espera de socorro —que, em vários lugares, tardou a chegar. As redes hoteleiras poderiam ter sido mais solidárias e acolhedoras.
Os consultórios de rua deram exemplo e testemunho de presença, como na cidade de São Paulo. Aqui, é comum dizerem: “Há mais casa sem gente do que gente sem casa”.
As ruas não são lugares para ninguém viver —e muito menos para morrer! Que os sofrimentos, ameaças e ataques destes tempos nos ajudem a lutar para sermos fiéis e não desanimarmos na busca de mais fraternidade e partilha.
A renda mínima será uma boa resposta em todo o país, mas que poderia ser iniciada em nível municipal para que as desigualdades desapareçam e as pessoas em situação de rua cresçam em esperança e possibilidades.
Reprimir e criminalizar é pouco eficiente, além de desumano, e não dignifica ninguém. A coragem de considerar fraternalmente a população em situação de rua é um desafio para todos e todas que se consideram humanos e dignos de credibilidade.


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Domingo com Música. 'Tua boca'. Itamar Assumpção



Tua Boca

A tua boca me dá água na boca
Que vontade de grudar uma na outra
E sugar bem devagar
Gota por gota
Beija-flor beijando a flor
Ou borboleta

A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de rasgar a nossa roupa
Vamos pra qualquer lugar
Praquela gruta
Pra qualquer quarto de hotel
Praquela moita

A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de gritar
É uma bomba
Acho que vai rebentar, desgraça pouca
Azar eu vou me matar na tua boca

Azar eu vou me matar na tua boca
Azar eu vou te matar na minha boca
Azar eu vou me matar na tua boca
Azar eu vou te matar na minha boca
Azar eu vou me matar na tua boca
Azar eu vou te matar na minha boca





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Domingo com Poesia. 'Poema em linha reta', de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa


Poema em linha reta - Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das
etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.





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Sábado com Cinema. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Antonio das Mortes), Glauber Rocha, na íntegra


O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, conhecido no exterior pelo nome de seu protagonista, Antonio das Mortes, deu a Glauber Rocha a Palma de Ouro de Melhor Diretor, em 1968.




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Projeto de destruição da Amazônia por Bolsonaro vem da ditadura militar: 'Chega de lendas, vamos faturar!'


Na época da ditadura que Bolsonaro revive, a floresta Amazônica era chamada por eles de "inferno verde".

A ideia era ocupá-la, retalhá-la, abrir estradas (a partir da Transamazônica), pasto, mineração, exploração humana. Exatamente como hoje.

É o que mostra artigo de Ricardo Cotrim na Quatro Cinco Um.

A partir de uma edição especial da revista Manchete dos anos 1970, imagens traduzem o pensamento da milicada sobre qual deve ser o destino da floresta Amazônica.

Veja este anúncio de página inteira da  Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). O texto não deixa dúvidas sobre o que pretendiam fazer da floresta [grifo meu]:
Siga a Transamazônica. Essa estrada abre caminho para a exploração da região mais rica do mundo.
O Brasil está investindo na Amazônia e oferecendo lucros para quem quiser participar desse empreendimento.
Comece agora. Faça sua opção pela SUDAM. Aplique a dedução do seu imposto de renda num dos 464 projetos econômicos já aprovados pela SUDAM. Ou então apresente à SUDAM seu próprio projeto. Seja industrial. Ou agropecuário. Ou de serviços. Você terá todo o apoio do governo federal e dos governadores dos estados que compõem a Amazônia
A Amazônia é uma mina de ouro.
Transfira boa parte desse ouro para o seu bolso.

Em forma esse nos escritórios da SUDAM e nas agências do banco da Amazônia


Leia na íntegra o texto de Ricardo Cotrim e veja mais imagens daquela época, clicando aqui.

A destruição não é fruto do acaso nem projeto de agora, é coisa dos tempos da ditadura.

E nós brasileiros temos "asco, nojo da ditadura" (Ulisses Guimarães). Ou não?



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Crescimento de Bolsonaro em pesquisa é vitória parcial da narrativa sobre a realidade


Tirando os bilionários e milionários, nenhum brasileiro pode estar satisfeito com a realidade real (desculpe o pleonasmo, mas ele é necessário e você vai ver por que) em que vivemos.

O país se aproxima dos 150 mil mortos por COVID e os números voltam a aumentar em alguns estados e cidades.

O desemprego aumenta, lojas e empresas - pequenas, médias e grandes (como a Sony) - fecham ou saem do país.

Eventos que costumavam atrair público, turistas e, consequentemente, dinheiro para o país gerando empregos, como o Carnaval do Rio, o Réveillon, o futebol, tudo isso ou foi adiado ou está sendo disputado sem público.

As pessoas estão vivendo o novo normal, que é o contrário do normal de nossas vidas anteriores, quando saíamos para encontrar amigos, ir à praia, ao cinema, ao teatro, ou simplesmente bater um papo com amigos nos bares e praças.

Hoje, existe quem faça isso, mas são os mesmos e principais eleitores do Bolsonaro, que vivem a narrativa da realidade e não a realidade real, como chamei.

Essa narrativa da realidade é que explica a aprovação de Bolsonaro.

Ele desde o início ridicularizou a pandemia e disse que as pessoas deveriam sair às ruas. Bateu de frente com os governadores e, naquela ocasião, a população estava ao lado dos governadores e do ministro da Saúde da época, Mandeta.

Bolsonaro era contra a concessão do auxílio emergencial e, quando se dobrou a ele, queria um valor de R$ 200. O Congresso aprovou R$ 600 e, em alguns casos, o dobro desse valor.

Com o passar do tempo, Bolsonaro pressionando os governadores, não enviando verbas da saúde para os auxiliar, esses passaram a voltar atrás nas medidas de segurança e, hoje, o que vemos é quase um liberou geral.

O raciocínio que fica é: "bem que o Bolsonaro avisou".

O auxílio emergencial também chegou a mais de 40 milhões de brasileiros, muitos deles recebendo mais do que recebiam antes da pandemia. Essas pessoas também acham que foi Bolsonaro o autor do auxílio.

Isso explica em grande parte a popularidade de Bolsonaro.

Só que a realidade real é outra. O auxílio emergencial caiu de valor e para um número bem menor de atendidos. Essas vão cair na realidade real.

A economia não melhorou nem a geração de empregos.

Numa hora, o repique da realidade, como o da COVID, vai voltar e com ele as críticas a Bolsonaro e a queda de sua popularidade.



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Psiquiatra de Assange vê alta probabilidade de suicídio no caso de sua extradição para os EUA


O psiquiatra Michael Kopelman, professor emérito de neuropsiquiatria do King's College London, está tratando de Julian Assange no período em que ele se encontra preso em Londres.

O dr. Kopelman depôs como testemunha de defesa e afirmou que é altamente provável que Assange tente suicídio caso seja extraditado para os Estados Unidos.

Assange tem histórico de depressão registrado há 30 anos e casos de suicídio na família - um tio e o avô materno.

Como agravante, Assange é portador da síndrome de Asperger, um tipo de autismo que também parece aumentar a probabilidade de suicídio.
“É a iminência da extradição e / ou uma extradição efetiva que vai desencadear a tentativa, na minha opinião.

"Será resultado diretamente de sua depressão clínica, exacerbada por sua síndrome de ansiedade e seu PTSD e executado com a determinação obstinada de seu transtorno do espectro do autismo de Asperger", disse ele.

Ele também listou outros fatores que agravam o risco de Assange tirar a própria vida, incluindo o alto risco relatado de suicídio entre presidiários em celas isoladas, a intensidade das preocupações suicidas de Assange, evidências de planejamento e preparação, bem como sua própria "consciência aguda de as perspectivas que ele enfrenta ".

Kopelman disse que Assange havia relatado a ele que vinha sofrendo alucinações, incluindo ouvir vozes e música em sua cabeça, bem como ter alucinações somáticas em que uma pessoa experimenta sensações físicas apesar de nenhum contato ter ocorrido.

“As vozes são coisas como 'Você é pó, você está morto, estamos vindo para te pegar.' Eles são depreciativos e persecutórios ", disse Kopelman.

"O Sr. Assange ficará muito envergonhado com isso vir a público", acrescentou. Ele disse que as drogas antipsicóticas ajudaram a suprimir as alucinações. [The Sidney Morning Herald, em inglês]
Pela narrativa do psiquiatra de Assange, os Estados Unidos conseguiram em parte seu intento: em vez de estarem como réus no Tribunal por crimes de guerra, Assange é quem está.

Extraditado ou não (a possibilidade maior, vergonhosamente, é pela extradição), Assange está severamente castigado, física e mentalmente, apontando ao mundo a tortura que pode se abater sobre quem se atreve a desafiar os EUA.

Mas tudo isso será ainda pior com a extradição.

No entanto, mesmo com o silêncio cúmplice, ou quando muito a cobertura discreta da mídia comercial sobre o julgamento, aumenta pelo mundo o número de pessoas que apoiam Assange e defendem não apenas que ele não seja extraditado como sua liberdade.

Divulgar crimes de guerra não é crime. Crime é cometê-los.

#FreeAssange



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Jogadora de vôlei que mandou 'Fora, Bolsonaro!' explica seu gesto numa rede social


No final de um jogo de vôlei de praia em que se saiu mais uma vez vencedora, a jogadora Carol Solberg pediu o microfone e mandou um "Fora, Bolsonaro!" para delírio da plateia.

A ação repercutiu nas redes e ela usou a própria rede para justificar seu grito, em seu perfil no Instagram, com o texto que reproduzo a seguir.
Gostaria de poder responder a cada um de vocês, mas é impossível dar conta de tantas mensagens. Só quero agradecer demais e dizer que me senti abraçada por todo esse amor. O meu grito é pelo Pantanal que arde em chamas em sua maior queimada já registrada e continua a arder sem nenhum plano emergencial do governo. Pela Amazônia que registra recordes de focos de incêndios. Pela política covarde contra os povos indígenas. Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas durante a atual pandemia se não houvesse descaso de autoridades e falta de respeito à ciência. Por ver um governo com desprezo total pela educação e cultura. Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados e sem as mesmas oportunidades. Por termos um presidente que tem coragem de dizer que “o racismo é algo raro no Brasil”. São muito absurdos e mentiras que nos acostumamos a ouvir, dia após dia. Não posso entrar em quadra como se isso tudo me fosse alheio. Falei porque acredito na voz de cada um de nós. Vivemos em uma democracia e temos o direito de nos manifestar e de gritar nossa indignação com esse governo. Não sou de nenhum partido, não sou ativista, sou uma atleta. É o que gosto de ser. Eu amo meu esporte, represento meu país em campeonatos mundiais desde meus 16 anos e espero que o ambiente esportivo seja sempre um lugar democrático, onde os atletas tenham liberdade de expressão e que saibam da importância da sua voz. Saber que todas as pessoas que eu admiro e que são importantes pra mim estão do meu lado, me faz ter certeza de que estou do lado certo da história.
Tamo junto!
Carol é filha de Isabel, que foi craque também de nossa primeira seleção feminina a chegar à final das Olimpíadas e ajudou a popularizar o vôlei feminino no Brasil.



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Lula grava vÍdeo em apoio a Assange e contra sua extradição aos Estados Unidos


Depois de ter publicado um artigo no The Guardian ontem, o ex-presidente Lula reforça sua manifestação em favor da liberdade de Assange e contra sua extradição aos Estados Unidos.

Lula cobra também dos jornalistas, das Associações de Jornalistas e dos países democráticos a defesa de Assange, que Lula considera um herói por ter levado ao mundo o conhecimento dos crimes de guerra dos EUA.

Assista a seguir.





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Flávio Bolsonaro foge e zomba da Justiça para evitar acareação com seu suplente


Estava marcada para ontem a acareação de Flávio Bolsonaro com o empresário e seu suplente no Senado, Paulo Marinho.

Marinho foi um dos responsáveis pela eleição dos Bolsonaro. Em sua casa no Jardim Botânico, aqui no Rio, perto da Rede Globo, foram gravados programas e inserções de rádio e TV, além de material para a internet.

Marinho havia afirmado à Polícia Federal que Flávio Bolsonaro fora alertado por um delegado da PF que estava para explodir o caso de corrupção da família conhecido como rachadinhas do Queiroz, antes das eleições. Foi o próprio Flávio quem teria contado a história a Paulo Marinho.

Flávio nega tudo, como sempre.

Foi marcada então uma acareação entre ambos, há mais de dois meses. Ficariam frente a frente. Quem estaria falando a verdade?

Seria ontem.

Mas, na hora marcada, Flávio fugiu. Mandou recado por seus advogados dizendo que não compareceria, porque estava em agenda oficial em Manaus, Amazonas.

A agenda oficial era a presença num programa de auditório, fazendo dancinha, onde parecia zombar da Justiça. Confira no vídeo a seguir.

Vai ficar por isso mesmo?




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Lula no The Guardian: Assange é um herói da liberdade de expressão, e não pode ser extraditado para os Estados Unidos


O The Guardian, que está mal no caso do julgamento da extradição de Assange, guardando um silêncio cúmplice, publicou hoje um artigo do ex-presidente Lula em defesa de Assange e da liberdade de imprensa.
Assange é um herói da liberdade de expressão, e não pode ser extraditado para os Estados Unidos.

Nos próximos dias a Justiça britânica vai decidir o destino do jornalista australiano Julian Assange, um homem que está sendo injustamente tratado como criminoso. Assange não cometeu crimes, Assange é um herói da liberdade.

O Reino Unido dirá se aceita ou rejeita o pedido de extradição de Assange para os Estados Unidos, onde ele responde a 18 acusações por parte do governo daquele país. Se for extraditado, Assange, de 49 anos, pode ser condenado a até 175 anos de prisão, pena equivalente à prisão perpétua.
Para impedir que essa barbaridade seja consumada, convoco os democratas comprometidos com a liberdade de expressão do Brasil e de todos os cantos do mundo a nos unirmos à corrente internacional que defende a inocência de Assange e exige sua imediata libertação.
Esta é a primeira vez, na história dos Estados Unidos, que um jornalista é processado por espionagem. O mundo sabe, porém, que Julian Assange jamais espionou os Estados Unidos. O que ele fez foi tornar públicos documentos que recebeu da soldado Chelsea Manning, analista de inteligência do Exército, função que exercera no Iraque e no Afeganistão. Chelsea foi julgada, condenada a sete anos de prisão e já está em liberdade.
Todos sabem de onde vem a sede de vingança do governo dos Estados Unidos contra Assange. Em parceria com os jornais The New York Times, El País, Le Monde, The Guardian e a revista Der Spiegel, Assange revelou ao mundo as atrocidades e os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante as invasões do Iraque e do Afeganistão e as torturas a que submeteram os prisioneiros na Base de Guantánamo.
O mundo ainda se lembra do vídeo aterrador divulgado por Assange, gravado de um helicóptero militar, registrando que soldados norte-americano fuzilaram nas ruas de Bagdá – aparentemente pelo simples prazer de matar – doze civis desarmados, entre eles dois jornalistas da agência Reuters.
Além de todas essas razões, os brasileiros temos uma dívida adicional com Julian Assange. Foram os arquivos revelados por sua página Wikileaks que tornaram públicos diálogos ocorridos a partir de 2016 entre ministros do governo golpista e altos funcionários do Departamento de Estado para tratar de questões relativas à privatização do pré-Sal brasileiro.
Foi lendo os documentos secretos divulgados por Assange que os brasileiros souberam das relações promíscuas entre o então ministro das Relações Exteriores de Temer, José Serra, e altos dirigentes das gigantes petroleiras norte-americanas Exxon Mobil e Chevron – entre eles Rex Tillerson, CEO da Exxon, nomeado secretário de Estado por Donald Trump.
É falsa e perigosa a afirmação inventada pela administração Trump para justificar o processo – a de que Assange tentou ajudar Manning a hackear os computadores do governo.
É falsa porque o único esforço de Assange foi tentar ajudar a proteger a identidade da sua fonte, direito e dever de todos os jornalistas. É perigosa porque aconselhar fontes sobre como evitar ser preso é o que todo jornalista investigativo ético faz. Criminalizar isso é colocar jornalistas de todo o mundo em perigo.
Quando Bolsonaro tentou processar o jornalista americano Glenn Greenwald, no início deste ano, por expor a corrupção que levou à minha prisão injusta e ilegal, o governo brasileiro copiou esta nova e perigosa teoria usada pelo governo dos EUA contra Assange.
Todas as pessoas e instituições comprometidas com a liberdade de expressão – e não apenas os grandes veículos com os quais o Wikileaks compartilhou os segredos de Washington – têm nas mãos uma tarefa essencial: exigir do Reino Unido a imediata libertação de Julian Assange.
Sabemos que as acusações contra Assange ferem frontalmente a Primeira Emenda da Constituição americana, que assegura a liberdade de imprensa e de expressão. Sabemos também que os tratados entre os EUA e o Reino Unido impedem a extradição de acusados de crimes políticos.
Os riscos de que ele seja extraditado, porém, são reais. Nenhum democrata pode permitir que alguém que prestou tão relevantes serviços à liberdade seja punido por isso. Assange, eu repito, é um herói da democracia. E deve ser colocado imediatamente em liberdade.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil
No Guardian, original:https://www.theguardian.com/commentisfree/2020/sep/21/extradition-julian-assange-wikileaks-democracy-not-criminal




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Punir Assange é um meio para alcançar um fim: punir toda a mídia crítica aos governos



Seguindo nossa série de publicações sobre o julgamento para a extradição de Julian Assange, um texto do jornalista e escritor canadense Cory Doctorow.
As audiências de extradição de Julian Assange são francamente aterrorizantes, e se você se preocupa com a liberdade de imprensa, deve se preocupar, independentemente de gostar de Assange ou do WikiLeaks. Como diz o velho ditado, "Casos difíceis geram leis ruins."

A acusação do Departamento de Justiça de Trump vai a algum lugar que nenhum outro presidente ousou ir: acusar criminalmente um editor por seu papel na publicação de documentos classificados, algo que os meios de comunicação fazem regularmente.

Assange foi acusado de acordo com a Lei de Espionagem - mais uma vez, a primeira vez para um editor - porque ele fez algo rotineiro: aconselhou uma fonte sobre como se proteger de retaliação. Isso é algo que eu fiz.

Se você é um jornalista investigativo que trabalha com denunciantes, você também já fez isso. Por exemplo, uma fonte me contatou sobre corrupção dentro de uma empresa de tecnologia na qual trabalhava.

Expliquei a eles como mudar para o Signal, ativar mensagens que desaparecem, obter um gravador e como encontrar um advogado trabalhista para ajudá-los a entender seus direitos (imagino que o conselho do advogado os assustou, porque logo após fazerem contato, eles desapareceram )

Este é realmente o mínimo dever de cuidado que nós jornalistas devemos às nossas fontes e está no cerne do caso do Departamento de Justiça de Trump contra Assange - que não enfrenta acusações por nada relacionado com a eleição de 2016 ou "Russiagate".

Esta é, mais uma vez, uma inovação única de Trump: argumentar que o editor, e não a fonte, deve ser acusado criminalmente por seu papel em revelar segredos de estado.

As fontes há muito enfrentam retaliação (é por isso que os jornalistas procuram protegê-las), mas os editores estavam fora desse alcance.

Mesmo o governo Obama, que usou a Lei de Espionagem contra mais vazamentos do que todos os presidentes da história somados, não foi atrás dos editores.

Isso é uma coisa de Trump, e ele está usando Wikileaks e Assange para abrir o precedente. Trump - e seus aliados políticos mais astutos e táticos - sabem que seus adversários não gostam de Assange e não vão defendê-lo, então Assange é um meio para seu fim.

Esse fim: permitir que futuras administrações cobrem criminalmente as editoras que publiquem vazamentos de que não gostem. Fechar meios de comunicação e colocar seu pessoal-chave na prisão por longas sentenças.

A indiferença pública ao tratamento absolutamente medonho de Assange encorajou aqueles no Reino Unido e nos EUA que querem usar esta oportunidade para tomar o máximo de poder para punir a imprensa. [original em inglês, aqui]




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Domingo com Poesia. 'Tecendo a Manhã', João Cabral de Mello Neto


Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.




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Domingo com Música. 'Morro Velho', de e com Milton Nascimento



Uma aula de História do Brasil, Morro Velho tem letra e música de Milton Nascimento e diz mais do Brasil do que muitas páginas de história.

Para ouvir sempre.


No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada

Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho

Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, conta histórias pra moçada

Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande

Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante
Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha pra apresentar

Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha






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Acusação usa jornalistas do Guardian contra Assange e eles não se manifestam




Em seu perfil no Twitter, Craig Murray lança dura crítica a dois jornalistas do The Guardian, que têm sido usados pela acusação contra Assange e não têm se prontificado a vir a público testemunhar em seu favor.

O Guardian e outros grandes jornais da mídia comercial pelo mundo, inclusive do Brasil, publicaram material do WikiLeaks de Assange e agora estão acompanhando à distância, ou nem isso, o julgamento que pode levar à extradição do jornalista, editor e publisher do WikiLeaks, fazendo a egípcia.
Dois indivíduos - David Leigh e Luke Harding do The Guardian foram citados pelo Ministério Público que atacou Assange, como justificativa para sua extradição, em todos os dias da audiência. Ambos têm mantido um silêncio vergonhoso e covarde.
Muitas testemunhas a esse respeito disseram que Julian Assange era extremamente cuidadoso em proteger identidades - mesmo "obcecado" por isso - no material do Wikileaks e cuidando da redação antes da publicação. O advogado do governo dos EUA cita apenas os dois, Leigh e Harding, dizendo o contrário.
A promotoria os cita várias vezes, mas eles não têm coragem de ficar no banco das testemunhas e ser interrogados sobre essas declarações. Talvez pelo fato de ter sido a publicação DELES da senha do cache em seu livro que levou ao vazamento do material não editado.
Por que esses jornalistas agem assim? Para se protegerem ou protegerem o The Guardian?

Por que a mídia comercial se mantém praticamente ausente do julgamento? Não percebem que estão permitindo um precedente que poderá ser usado contra eles no futuro?

A acusação já disse que nenhum jornalista estará a salvo de vir a ser julgado pela lei dos EUA, caso publique material confidencial daquele país.

Vamos ver se com a provocação de Murray, que os citou com as arrobas do Twitter que possuem [eu também fiz o mesmo, em seus perfis] eles continuam em silêncio.



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