Pretensos milicianos com ambições políticas, que planejam cumprir
missões paramilitares no Brasil, com Bolsonaro acima de tudo, devem
prestar atenção no que aconteceu na Bolívia.
Não são apenas os líderes civis e militares do golpe de 2019 que
estão encarcerados. Há milicianos presos. Todos foram abandonados na
cadeia pela direita e pela extrema direita que desfrutavam dos seus
serviços.
Os milicianos bolivianos são trastes sem utilidade. Esta aí, sem
máscara, à esquerda na foto, é Milena Soto, a Sara Winter deles, líder
da temida RJC, a Resistência Juvenil Cochala. É uma dessas figuras que
ficaram inúteis.
A RJC foi um braço paramilitar ativo e poderoso da extrema direita.
Sara Winter tinha tochas, capuzes e meia dúzia de militantes gritando na
frente do Supremo. A RJC de Milena tinha centenas de ‘soldados’
mascarados, que vestiam jaquetas com as cores da Bolívia e espalhavam o
terror pelas ruas e diante das casas de inimigos.
Eram jovens que sumiram com suas motos e seus coquetéis molotov
depois do golpe de novembro de 2019 (na foto, Milena está na garupa).
Participavam de ações violentas e só seguiam em frente com financiamento
de empresários e partidos, mesmo que tudo fosse clandestino.
Milena está presa com mais dois líderes da milícia, Yassir Molina e
Marco Antonio “Tonchy” Bascopé. É acusada de ter participado do ataque
de outubro de 2019 contra a sede do Ministério Público em Sucre, pouco
antes do golpe que derrubou Evo Morales.
O grupo tentou incendiar o prédio para forçar a renúncia do então
procurador-geral Juan Lanchipa. A milícia teve participação decisiva, ao
lado da Polícia Nacional e do Exército, na queda de Morales.
Cochala é como se designa o cidadão de Cochabamba. Apesar do nome
Resistência Juvenil, o grupo é liderado por trintões e até por
quarentões.
Todos os presos preventivamente foram denunciados pelo Ministério
Público por formação de organização criminosa, agressões físicas, uso de
explosivos em manifestações e destruição de bens públicos.
Líderes da direita e mesmo da extrema direita, como o governador de
Santa Cruz de la Sierra, Luiz Fernando Macho Camacho, não querem
conversa com os delinquentes.
Eles são perdedores. Milena chora na cadeia e manda cartas aos jornais em que acusa o governo de perseguição.
Era ligada a Camacho e depois se bandeou para a turma da senadora
Jeanine Añez, quando esta se ofereceu para o cargo de ‘presidente
provisória’, depois do golpe contra Morales.
Presa em março e também abandonada pelos companheiros de golpe,
Jeanine teria hoje apenas uma utilidade para a direita boliviana. Morrer
na prisão e ser a mártir dos golpistas.
Há nos jornais conservadores da Bolívia a antecipação de uma
tragédia. Jeanine também passa o dia chorando e indo e vindo da cadeia
para os hospitais, está mal.
Tem depressão, problemas cardíacos e perda de peso. Carolina Ribera, filha dela, diz que a mãe pode morrer a qualquer momento.
Carolina é acusada do desvio de doações aos pobres, quando ocupou um
cargo honorífico (geralmente entregue à primeira-dama) na área social
durante o governo provisório da mãe.
A direita boliviana desistiu de salvar Jeanine e alguns devem torcer
mesmo pela sua morte. A ex-senadora não tem serventia nem liderança.
Tentou ser candidata a presidente na eleição de outubro do ano
passado, vencida pelo Movimento ao Socialismo do agora presidente Luis
Arce e de Morales, e desistiu por aparecer mal nas pesquisas.
Cumpriu a tarefa de ser mandalete dos chefes do golpe que durou
apenas um ano e hoje é um arquivo com segredos da corrupção e com pelo
menos seis crimes nas costas.
A extrema direita precisa se livrar de Jeanine. Seus crimes mais
graves são as ordens para que policiais e militares reprimissem com
violência nas ruas os manifestantes pró-Morales, depois do golpe.
Mataram 36 pessoas a tiros, a maioria nas chacinas de Senkata e
Sacaba. Nesta sexta-feira, a Procuradoria-Geral a denunciou por esses
crimes, classificados como genocídio, com pena de até 20 anos de prisão.
Jeanine é a ‘mártir’ que o fascismo tenta produzir, enquanto Camacho
continua caçando Evo Morales, para que não seja candidato nas próximas
eleições. A extrema direita está mais preocupada em atacar Morales do
que em salvar os amigos presos.
Os candidatos a miliciano no Brasil precisam saber o que, quando um
golpe fracassa, a direita faz com paramilitares derrotados e presos.