Ainda sobre a emenda do terceiro mandato

Continua a discussão sobre a emenda que permitiria que Lula disputasse um terceiro mandato em 2010. O presidente já disse que é contrário á idéia. Mas há quem goste dela. E também quem não goste. Mas daí a chamá-la de antidemocrática, de ataque à Constituição, vai uma diferença enorme.

Um dos que abrem a boca e empinam o peito para criticar a idéia é o senador tucano Arthur Virgílio, aquele que se candidatou a governador em seu estado, o Amazonas, e foi menos votado que candidatos que se elegeram deputados federais.

No entanto, esse mesmo Virgílio, em 1997, falava assim sobre a possibilidade de um referendo para autorizar um segundo mandato para FHC (lembrem-se que, na época, a reeleição era proibida):

"Com o referendo, a aprovação da reeleição será uma barbada."

Então, como já perguntei aqui outro dia, por que naquela época pôde e agora não? Se a maioria do Congresso decidir pela medida, onde isso fere a democracia? Se a medida for levada a uma consulta popular e a população aprová-la, onde isso fere a democracia? Se Lula vier a se candidatar e vencer mais uma vez nas urnas, onde isso fere a democracia?

O que fere a democracia é comprar votos para a emenda da reeleição, como confessou Ronivon Santiago, na que favoreceu Fernando Henrique.

Se for a vontade da maioria do Congresso, se for a vontade de Lula e da população, onde seria antidemocrático um terceiro mandato?

Antidemocrático é a oposição sem voto querer ganhar no grito, tentar derrubar um presidente eleito, como ameaçaram várias vezes no passado, até com a participação da OAB, com um processo de impeachment.

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‘Se o relatório for aprovado, nós estamos fodidos’

Oba! Fomos escolhidos para sediar a Copa do Mundo de 2014. É ótimo para o país que é hospitaleiro, festeiro e, principalmente, adora futebol.

Mas as exigências da FIFA são muitas, o Brasil vai ter que fazer o dever de casa. Ou então, nada de Copa. Portanto, mãos à obra.

Deveríamos começar limpando a sujeira escondida sob o tapete, desde a CPI de 2001.

A frase aí de cima, que dá título a esta postagem, é do ainda presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Foi pronunciada numa reunião em que ele pedia a dirigentes que pressionassem seus congressistas para que acabassem com a CPI (exatamente como a Veja está pressionando agora contra a CPI da TVA). Só que Teixeira deu um azar: a reunião estava sendo gravada e vazou para a imprensa.

As investigações da CPI estavam descobrindo tanta falcatrua, que a expectativa criada em torno do relatório deu origem à frase de Ricardo Teixeira:

"Se o relatório for aprovado, nós estamos fodidos"

Há tempos recebi por e-mail uma série de links de reportagens de O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo com acusações contra vários cartolas, Teixeira à frente. São todas daquela época, com uma enxurrada de revelações. Ei-las. Divirtam-se. Inclusive com uma briga entre Teixeira e a Globo.

» Os coronéis do futebol
» CPI quer acabar com "dinastia" na cartolagem
» Teixeira acusado de desviar dinheiro
» CBF ameaça a Globo com seleção às 20h30
» Teixeira se aproxima de federações, mas se afasta de clubes
» CPI reconvoca Ricardo Teixeira
» CBF não pode mudar horário de jogos
» Nem advogado defende a integridade de Teixeira
» Cartola que lançou Teixeira até 2008 é hoje rival declarado
» Ricardo Teixeira vislumbra a reeleição
» CPI contra-ataca e aprova mais devassa na CBF
» Jogo da Seleção derruba JN e novela
» Globo discute se vai transmitir jogo do Brasil na Argentina às 20h
» CBF usa os Estaduais como moeda de troca
» CPI investiga o Mundial de Clubes
» Melles quer renúncia de Teixeira
» Fita revela: CBF trama ataque à CPI
» Teixeira fala demais e se complica na CPI
» A nobreza de Irina
» Contrastes e diferenças
» Poder de Teixeira sofre baque com fita
» Teixeira diz que fita não o levará a pedir renúncia do cargo
» Surge autor da gravação
» Clubes querem Koff no comando da CBF
» Senador pedirá perícia de fita de rádio
» CBF vai a Justiça contra CPI
» CPI quer agência reguladora do futebol
» CPI quer obrigar a criação de ligas
» Ricardo Teixeira é operado do coração
» Federações adulam Teixeira
» CBF doou R$ 12,5 milhões às filiadas, afirma relatório
» Balanço do Fla aberto ao MP
» CPI decobre uma teia de corrupção no Vasco
» Cupello aprovava depósitos na conta de Aremithas
» Ferj sob ameaça da lei
» Vasco é condenado por fraude na venda de Bebeto, em 1992
» Eurico admite uso de conta de 'laranja' do Vasco
» Oposição se move para cassar Eurico
» Melles envia projeto de decreto da Liga
» Um estranho e polêmico negócio no São Paulo
» Jogo sujo
» Conta no exterior ainda é um mistério
» Insatisfeita, CPI pede um novo decreto para ligas
» Aremithas confírma à CPI que Eurico utílizava a sua conta
» Cirurgia e goleada adiam depoimento de Edmundo
» Torcedor rejeita cartolas, mas apóia aliado da CBF
» Deputada quer renda divulgada
» Futebol completa um século no Estado do Rio


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Globo, Record e SBT querem matar TV Pública

Se perguntar, Globo, Record e SBT dizem que não são contra a TV Pública, mas só pensam em inviabilizá-la. E a estratégia para isso já está traçada: tentar de todas as formas sufocá-la com falta de verbas. Sabem que só com o dinheiro público a TV não se sustenta. Por isso estão trabalhando nos bastidores, numa operação abafa. Como mostra Daniel Castro na Folha:

Preocupadas com a eventual perda de publicidade oficial, as principais redes do país deflagraram uma campanha nos bastidores políticos para modificar a medida provisória (MP) que criou a Empresa Brasil de Comunicação - a futura rede pública do governo federal.
Integrantes da Abert (a associação das TVs), Globo, Record e SBT decidiram na semana passada pedir a parlamentares para que apresentem emendas definindo o que é publicidade institucional e apoio cultural. A idéia é limitar o financiamento da TV pública com publicidade.
A MP proíbe na EBC "anúncios de produtos e serviços", mas libera a captação de "publicidade institucional de entidades de direito público e privado, a título de apoio cultural, admitindo-se o patrocínio de programas, eventos e projetos".
"A radiodifusão não é contra a TV pública. Nossa preocupação é com a captação de publicidade. Ou as emissoras são comerciais ou sobrevivem só de recursos oficiais", diz Daniel Pimentel, presidente da Abert.
A EBC terá R$ 350 milhões do Orçamento da União e pretende arrecadar R$ 60 milhões com publicidade. "Isso é um desvirtuamento", protesta.
As redes querem que a futura TV pública só possa citar os nomes dos apoiadores de projetos e programas, sem anúncios nos intervalos. A Globo também defende que a EBC seja obrigada a tornar público todo valor recebido de patrocinador.

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Mais um Airbus A320 atravessa a pista sem parar.
Dessa vez não era da TAM nem morreu ninguém

Airbus A320 em Butuan

Aconteceu em Butuan, nas Filipinas, na sexta-feira passada, dia 26. Um Airbus A320 da Phillippine Airlines, vindo de Manila para Butuan, atravessou a pista do aeroporto e só foi parar adiante numa plantação de banana e cocos. Não morreu ninguém. Foram 19 feridos, inclusive piloto e co-piloto.

As causas do acidente estão sendo investigadas, mas fica claro para qualquer um que ainda mantenha ao menos um Tico e um Teco funcionando no cérebro que os A320 têm algum problema, provavelmente no sistema inteligente de pouso, que parece ser meio burro. Afinal, esse é o sexto acidente do tipo.

A culpa, como sempre - é esperar para ver - vai parar nas costas dos pilotos. Numa hora porque não puseram o manete para frente, em outra porque não o colocaram para trás, mais em outra porque um ficou de um jeito e outro de outro. Só não explicam por que os pilotos erram tanto durante os pousos apenas com os Airbus A320. Será implicância?

Resta torcer para que os novíssimos Airbus A380 – que podem transportar até 800 passageiros - não sofram da mesma teimosia.

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Rio esplendoroso, filme de 1936


A primeira vez que vi este vídeo foi no Blog do Gadelha, na semana passada. Pensei logo em colocá-lo aqui também, mas o tempo foi passando, e nada.

Agora é a hora.

Curta o vídeo, repare na beleza da cidade, no crime que fizeram acabando com toda aquela área, que vai da Praça Mauá até a enseada de Botafogo. Observe as pessoas curtindo a praia na avenida Beira-mar, que agora, com o Aterro no meio, é uma beira muito distante do mar.

Curta o vídeo até amanhã, porque depois de amanhã vou postar aqui um comentário que a visão do filme me sugeriu, que só não faço agora para não estragar o grande barato que são essas imagens.

Clique aqui se tiver dificuldades para assistir ao vídeo

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Afinal, Chinaglia engavetou ou não a CPI da TVA?

A coluna Panorama Político de O Globo continua a dar como certo que o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), engavetou a criação da CPI da TVA. Nota publicada na sexta-feira afirmava o seguinte:

Os autores do requerimento que cria a CPI TVA/Telefônica estão se preparando para entrar no STF contra o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Em 2005, o STF obrigou o Senado a instalar a CPI dos Bingos.

O incrível é que só essa coluna dá a notícia. O silêncio sobre o assunto é geral, o que nos leva a perguntar: afinal, Chinaglia engavetou ou não a CPI?

Para elucidar a questão, o Blog do Mello enviou o seguinte e-mail ao deputado:

Prezado Deputado,
por duas vezes a coluna Panorama Político do jornal O Globo anunciou a seus leitores que o senhor "engavetou a CPI da TVA". Como não ouvi ou li declaração alguma de Vossa Excelência sobre o assunto, gostaria que o senhor esclarecesse a mim e aos leitores de meu blog se a notícia é verdadeira ou não.
Atenciosamente,

Vamos aguardar a resposta do deputado. Mas se Chinaglia engavetou mesmo a CPI, esse é o caminho, a ida ao Supremo. Vamos ver então a posição do STF, em especial a do ministro Marco Aurélio Mello. Naquela ocasião, ele votou a favor da criação da CPI dos Bingos. E agora, quando ela pode atingir o coração de sua querida Veja, a revista que lhe dá régua e compasso?

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Por que FHC pôde e Lula não?

É impressionante a hipocrisia demo-tucana e a cara de pau de seus arautos, pitblogueiros, “grande imprensa” etc., ao falar em golpe, quando alguns deputados da base aliada pensam num plebiscito para que seja decidido pelo povo se quer ou não a possibilidade de um terceiro mandato para o presidente Lula.

Por que só agora falam em Constituição, cláusula pétrea, em golpe de Estado? Não foi exatamente o que fez Fernando Henrique Cardoso, quando, num lance inédito, que nem os militares ousaram fazer durante a ditadura militar, rasgou a Constituição – com 200 mil Reai$ motivos, segundo o ex-deputado Ronivon Santiago - em busca do segundo mandato, que acabou conquistando nas urnas?

Se não foi pecado mortal Fernando Henrique emendar o primeiro mandato com um segundo, por que o será agora emendar o segundo de Lula com um terceiro, se isso for aprovado pelo Congresso e depois pela população nas urnas?

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Lula devorou FHC, o bispo Sardinha tucano

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
- Manifesto Antropofágico, Oswald de Andrade

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo ontem o economista Márcio Pochmann, presidente do IPEA, afirma que governo Lula põe por terra mitos construídos na década de 90 e – digo eu – tidos como verdades inquestionáveis pelo governo FHC.

Falso mito 1: “A geração de inempregáveis”

Primeiro, teve relevância na reorientação das políticas públicas dos anos 90 o falso mito da geração dos inempregáveis, tendo em vista a dicotomia entre a perspectiva do determinismo tecnológico na supressão dos postos de trabalho e o avanço na oferta de mão-de-obra. Por causa disso, pregava-se que o setor industrial não mais geraria emprego e o assalariamento estaria com os dias contados, restando, em contrapartida, o salve-se quem puder pelo auto-emprego (empreendedorismo) ou pelos cursos de qualificação profissional.
À medida que o Brasil vai se distanciando da visão neoliberal, o emprego assalariado volta a crescer, permitindo que o desemprego comece a diminuir. O país está longe do ideal, mas não há por que deixar de acreditar que o desemprego possa voltar às taxas inferiores a 3% da população economicamente ativa vigentes até a década de 1980, desde que nossa economia insista no ritmo de expansão acima dos 5% ao ano, acompanhado de um novo padrão de políticas públicas.

Falso mito 2: “Salário mínimo maior aumenta desemprego”

Em segundo lugar, deve-se destacar o falso mito de que o salário mínimo em alta implicaria elevação do desemprego (fechamento de empresas) e da informalidade das relações de trabalho (ocupações sem carteira assinada) ou queda do salário real (aumento da inflação). Diferentemente disso, percebe-se nos dias de hoje que a marcha de contínua recuperação do valor real do salário mínimo nacional vem acompanhada da manutenção da estabilidade monetária, queda do desemprego e da informalidade.

Além disso, destaca Pochmann, o aumento do mínimo é fator decisivo para a diminuição da desigualdade no país, como mostraram dados recentes da Pnad 2006.

O rendimento dos trabalhadores de salário de base (intervalo do segundo ao quinto decis da estrutura da distribuição da renda do trabalho) foi o que mais cresceu em 2006 -12,6%, contra 7,8% no rendimento do extrato superior.

Falso mito 3: “Legislação social e trabalhista no Brasil é anacrônica”

Por fim, em terceiro lugar, ganhou dimensão o falso mito a respeito do anacronismo da legislação social e trabalhista no Brasil. Além de antiga, pois constituída na década de 1940, se apresentava como um verdadeiro entrave ao avanço das relações de trabalho, pois suprimiria empregos e fomentaria a informalidade. Em síntese, a CLT era apontada pelos neoliberais de plantão como portadora do desemprego ou da ocupação precária.
Acontece que a cegueira situacional em que se meteram os automatistas e exclusivistas das forças de mercado os impediu de constatar não só que as medidas regulatórias do trabalho no chamado mundo desenvolvido eram ainda mais antigas que as do Brasil mas também que as mudanças executadas mais recentemente haviam gerado a volta ao passado, com intensa precarização e desigualdade entre os trabalhadores, conforme atestam estudos internacionais produzidos pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Como não poderia deixar de ser, as mais de duas dezenas de alterações introduzidas na CLT voltadas para a desregulação e a flexibilização do mercado de trabalho produziram o óbvio: perdas irreparáveis para a maioria daqueles que dependem do seu próprio trabalho para sobreviver.
Desde o afastamento do assédio liberal-conservador, que torna menos intensa a pressão pelo desmanche da legislação social e trabalhista, o mercado de trabalho reage menos desfavoravelmente aos trabalhadores. Não somente o emprego formal é o que mais cresce no país desde 2003 (4% em média ao ano) como também permitirá ultrapassar o estágio da estruturação do mercado de trabalho atingida na década de 1980, caso a economia continue a perseguir o ritmo de expansão acima dos 5% ao ano.

Lula devorou tucanos, como caetés o bispo Sardinha

Agora, digo eu: Lula apoderou-se do discurso dos tucanos pregando e defendendo como sua a estabilidade do país, o controle da inflação. Mas lançou sobre esse discurso o seu próprio e, antropofagicamente, melhorou todos os números do país – até aqueles de que os tucanos tanto se gabavam – deixando-os sem discurso, sem proposta, sem rumo, a ponto de terem de apelar ao STF para não perderem, um a um, seus parlamentares, como já acontecia com os Demos.

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Pelados, pelados, nuzinhos, nuzinhos, em frente à Petrobras


Aposentados e pensionistas da Petrobras ficaram nus, em protesto em frente à sede da empresa no Rio. De quebra, fizeram um enterro simbólico do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e do gerente de RH, Diego Hernandes.

- Aprovamos este protesto em assembléia para mostrar o estado de penúria em que os aposentados da Petrobras se encontram, ficando pelados na frente da empresa - diz o secretário-geral do Sindipetro, Emanuel Cancella. (leia mais)

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Tucanos comemoram: Cacciola pode bater asas mais uma vez

O advogado de Salvatore Cacciola no principado de Mônaco, Frank Michel, disse à BBC Brasil que o pedido de extradição enviado pelo governo brasileiro tem divergência de assinaturas. E logo na assinatura do juiz do mandado.

Baseado nisso, Michel pediu perícia no documento, o que fez com que o julgamento do pedido de extradição fosse adiado para o final de novembro.

"A assinatura do documento enviado à Itália naquela época não é semelhante à do mandado de prisão recebido pelas autoridades judiciais de Mônaco", disse o advogado.

E a lei de extradição de Mônaco exige o envio do mandado original. Caso contrário, nada feito.

Se houve mesmo esse erro, a quem debitar a trapalhada? Ou a o quê? Incompetência ou má-fé?

Só nos resta torcer para que tudo não passe de um mal entendido ou de uma manobra de tapetão do advogado de Cacciola. Ou o ítalo-ex-banqueiro-brasileiro sai dessa livre, leve e solto e não nos revela nada sobre os bastidores daqueles dias que antecederam a maxi-desvalorização do real, que quase quebrou o país.

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Veríssimo: ‘Terceirização’

Imperdível a crônica de hoje de Luis Fernando Verissimo, que é publicada em vários jornais brasileiros.

Quem diz que nunca houve matança sistematizada de judeus, ciganos e incapazes na Alemanha tem razão: Auschwitz, Treblinka, Sobibor e os outros campos de extermínio nazistas ficavam na Polônia. A Polônia anexada pelo Reich era uma extensão do solo alemão e os campos eram construídos e geridos por alemães, mas isto é detalhe para quem pretende a inocência pelo distanciamento formal. Os americanos que hoje levam suspeitos de terrorismo para serem interrogados em países onde a tortura é comum, longe dos Estados Unidos, também pretendem a absolvição pela geografia. Tem-se discutido muito no Congresso, na imprensa e nos tribunais americanos os limites do permitido na busca da informação antiterrorista depois do 11/9, mas os escrúpulos quanto à tortura chegam atrasados. Torturar pela mão dos outros é uma prática antiga dos Estados Unidos, mais notoriamente - no que nos diz respeito - nas atividades da “School of the Américas” onde policiais e militares latino-americanos iam aprender métodos de interrogatório e contra-insurgência para combater o comunismo no continente. A Escola das Américas chegou a ser chamada ironicamente de anexo da Escola de Chicago, produzindo técnicos em repressão para garantir os teóricos do neoliberalismo que saíam do Departamento de Economia da universidade onde o Milton Friedman era a estrela, para nos catequizar. É bom lembrar, nestes tempos de entusiasmo das platéias pelo fascismo contra o crime e de reacionarismo ostensivo e

festejado, no que deu tudo aquilo. Coisas como a “Operação Bandeirantes”, a aliança de empresários paulistas com policiais e militares na caça, literalmente, à esquerda, que deixou mortos e mutilados por toda parte - menos, aparentemente, na consciência dos

responsáveis, ou, presumivelmente, no livro de realizações dos formandos da Escola das Américas.

Que continua no mesmo lugar, Fort Benning, na Geórgia, agora com o nome mais específico de Instituto de Cooperação para a Segurança do Hemisfério Ocidental.

Não se sabe se o currículo ainda é o mesmo.

Do Iraque chega a notícia de outro exemplo de distanciamento remissor.

Neste caso, uma novidade - a terceirização da guerra. A ocupação do país está sendo um grande negócio não só para a Halliburton e outras empreiteiras superfaturadoras mas para empresas paramilitares, exércitos privados que substituem a tropa normal em certas tarefas e que já têm quase tanta gente no Iraque quanto o exército regular, com contratos milionários.

Há dias uma dessas empresas, a Blackwater, que pertence a um conhecido financiador das campanhas do Bush e do Cheney, se viu envolvida na morte de civis iraquianos.

A Blackwater não está sujeita nem às leis do Iraque, nem às leis dos Estados Unidos e nem aos estatutos militares americanos.

Só precisou pedir desculpas.

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25 de outubro de 1975: Assassinato de Wladimir Herzog

Wladimir Herzog assassinado

A foto acima é a montagem feita pelos assassinos de Wladimir Herzog, na tentativa de simular um suicídio que não ocorreu. Herzog morreu torturado no Comando do II Exército em São Paulo.

Mais um motivo para lembrar aos assanhadinhos defensores do tratamento “Tropa de Elite”, que a tortura é abjeta, ainda mais quando praticada por agentes do Estado.

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O caso do padre Lancelloti

Da mesma forma como comentei aqui o furto das gravatas pelo rabino Sobel, acho que a imprensa deve investigar sim, a policia idem, o caso bumerangue do padre Júlio Lancelloti.

Chamo de bumerangue porque foi o padre quem fez queixa à polícia de que estava sendo chantageado havia bastante tempo. Levou provas da chantagem. Mas as acusações voltaram-se contra ele, num efeito bumerangue.

O padre, que cuida dos moradores de rua e é diretor de uma entidade que acolhe crianças portadores do vírus HIV, está sendo acusado de pedofilia, desvio de dinheiro de ONG, o diabo. Tudo isso, sem uma prova sequer. Apenas suspeitas. Para deleite de um jornalismo de esgoto.

Como no caso do rabino, é importante que as investigações prossigam e a verdade venha à tona. Mas convém não esquecer que Sobel foi pego em flagrante e Lancelloti, até o momento, é vítima e não réu.

O que eu espero é que o padre não se deixe manobrar por advogados e diga a verdade. O que ele não pode é permitir que seu trabalho seja contaminado pelo episódio.

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O Globo: Chinaglia engaveta CPI da TVA

No dia 26 de setembro, o presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, afirmava que iria aguardar o desfecho do caso Renan para tocar a CPI da TVA, como mostra o vídeo acima. Disse que agia assim para que não parecesse uma interferência da Câmara no processo do Senado, já que Renan e a Veja estavam trocando acusações – ao que parece, ambos com razão.

A declaração de Chinaglia, reproduzida no vídeo, corresponde a uma notícia anteriormente divulgada pelo Estadão, que começava assim:

Apesar de o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ter comunicado que viu fato determinado para a criação da CPI da venda da TVA, do Grupo Abril, para a Telefônica...

No entanto, hoje, quando o tal caso Renan já saiu das primeiras páginas, sou surpreendido com a seguinte nota, perdida na coluna Panorama Político de O Globo:

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, engavetou o requerimento pela criação da CPI TVA/Telefônica.

A nota está assim, a seco, sem outra informação. E não encontrei vestígio dela em nenhuma outra publicação. Será um furo da coluna de O Globo? Ou uma barriga? Ou uma premonição? Ou um desejo?

Se for verdadeira, o deputado Chinaglia vai ter que explicar por que mudou de idéia, se antes via fato determinado para a criação da CPI.

A CPI da TVA é fundamental para explicar não apenas a nebulosa transação entre o Grupo Abril e a Telefônica mas também uma outra que envolve a venda de parte da Abril para a Curundeia, e que necessita de mais de um Renan de explicações, como mostra reportagem da Band reproduzida a seguir. É um tal de empresa desconhecida, número inexistente, CNPJ truncado, que parece mesmo acusação da Veja contra Renan, só que com sinais trocados. Confira:


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Blog do Mello: Mais de 200 mil visitas

Na hora em que faço esta postagem são 200105. E 1659 postagens, com esta. Direto do Rio, remando contra maré.

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Marlene Dietrich canta Luar do Sertão, em português. Ouça

Marlene Dietrich

1959. Marlene Dietrich apresenta-se no palco do Golden Room do Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro. Para surpresa da platéia, Marlene canta em português “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Ouça a gravação histórica.

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CPT: 'Empresa de transgenia assassina trabalhador'

Nota oficial da Comissão Pastoral da Terra:

A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra vem se juntar às diversas expressões de indignação que ecoam Brasil afora diante da morte do sem-terra Valmir Mota, encomendada pela empresa multinacional Syngenta Seeds, no dia 21 de outubro passado, em seu campo de experimentos, no município de Santa Tereza do Oeste, Paraná. Além de Valmir, os pistoleiros ainda feriram outras cinco pessoas, entre as quais Izabel do Nascimento Souza, internada em estado grave no hospital de Cascavel. No confronto um pistoleiro também foi morto.

A área onde ocorreu o conflito ficou conhecida nacionalmente quando no início de 2006, 70 famílias da Via Campesina a ocuparam para que a nação brasileira tomasse conhecimento de que nela se efetuavam experimentos com plantas transgênicas em desobediência aberta à legislação ambiental que proíbe tais práticas em áreas próximas a reservas florestais. A propriedade acabou sendo desapropriada pelo governo do estado para que se transformasse num centro de experiências em agroecologia. Uma decisão da justiça, porém, anulou a desapropriação e determinou a retirada das famílias. Neste domingo as famílias da Via Campesina voltaram a ocupá-la.

O que deixa a Coordenação Nacional da CPT preocupada é que em pleno século XXI, pistoleiros fortemente armados estejam ainda em plena ação em estados considerados desenvolvidos, como é o Paraná, num frontal desrespeito ao estado de direito vigente, e a serviço da elite latifundiária e agora também de empresas transnacionais. Estas além de se apropriarem de parte do território nacional, recorrem ainda à utilização de milícias privadas para proteger seus interesses.

O que nos deixa atônitos é que tudo isto esteja acontecendo nos mesmos espaços em que o agronegócio, em conluio com as multinacionais, se vangloria dos avanços tecnológicos na agricultura moderna capazes até de alterar a estrutura dos próprios seres vivos. Não se alteram, porém, a propriedade como direito absoluto acima da vida e dos direitos básicos da pessoa humana, nem os métodos utilizados desde os tempos da barbárie.

A CPT expressa à família do Valmir sua solidariedade neste momento de dor e de indignação. E exige que o poder judiciário seja ágil na punição dos responsáveis por este crime e que o governo do Estado do Paraná tome imediatas e enérgicas medidas a fim de combater eficazmente a formação e atuação dessas quadrilhas, que são milícias privadas, que espalham o terror e a violência entre os trabalhadores e trabalhadoras do campo.

Goiânia, 23 de outubro de 2007.

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Serra não conhece Massa

Para os que acham que o PSDB é um partido da elite, que desconhece o que seja o povão, a massa, um fato ocorrido no último domingo, durante a premiação da Fórmula 1, é prato cheio para piadinhas de duplo sentido.

Escalado para entregar o prêmio a Felipe Massa, pela segunda colocação na prova, o governador de São Paulo, José Serra, caminhou com o troféu em direção ao espanhol Fernando Alonso, terceiro colocado. Este alertou o governador do engano e apontou para onde estava Massa.

A notícia está no Panorama Político de O Globo hoje.

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Agências de Marcos Valério também reinaram no governo Aécio

Perdidinha, tímida e escondinha, esta nota na Folha deste domingo:

Valério dominou as licitações do 1° governo Aécio
Entre 2004 e 2005, os pagamentos do governo mineiro às empresas de Marcos Valério SMPB Comunicação e DNA Propaganda somaram R$ 30,3 e R$ 8 milhões, respectivamente. Das 14 maiores campanhas publicitárias do governo em 2004, que totalizaram de R$ 21,8 milhões, SMPB e DNA ficaram com R$ 10,6 milhões (49%).

Repararam nos anos: 2004 e 2005? Como se vê, só parou porque o escândalo do chamado “mensalão do PT” estourou em 2005.

Que tal uma investigada nesses dois anos? Quem sabe o valerioduto tucano, que começou no governo Azeredo, não continuou no governo Aécio? Afinal, essa era a especialidade de Marcos Valério.

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Mônica Veloso também foi superfaturada

Mônica Veloso no photoshop

A revista Época desta semana procurou especialistas em Photoshop para que eles apontassem onde estavam as notas frias das fotos de Mônica Veloso na Playboy, de onde foram apagadas as laranjas, onde arredondaram os bois e, principalmente, onde houve um superfaturamento de fundos. O resultado está reproduzido na foto acima.

Deram um tremendo trato nas curvas dela, e já há quem pense em abrir novo processo contra o senador Renan Calheiros, dessa vez por amante maquiada.

Os que compraram a revista e se impressionaram com as curvas de Mônica agora devem repensar a relação. Especialmente com as revistas masculinas. Depois do Photoshop é melhor imaginar a mulher pelada ou então criar sua musa com o programa, como no exemplo abaixo. Impressionante.


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Luiz Gonzaga Belluzzo: Os ‘correrias’ do Primeiro Mundo

Muito bom o artigo de Beluzzo na Folha:

A Polícia Federal conta: 70% das importações de produtos de informática e telecomunicações realizadas pela Cisco eram subfaturadas. A manipulação dos preços de transferência, com o propósito de burlar o fisco, era perpetrada, de acordo com o relatório da PF, na matriz americana. Digo manipulação porque as mercadorias entravam no país abaixo do custo de produção, incluída a margem de lucro da empresa.

Quem paga a diferença? A resposta é fácil: o Estado brasileiro não recolhe os impostos devidos, os concorrentes nativos ou estrangeiros são bigodeados pelos espertalhões e, finalmente, os trabalhadores brasileiros (com uma taxa cambial mais favorável) poderiam estar empregados na produção dos equipamentos, peças e componentes importados, o que geraria mais receita fiscal. Certo Mark Smith, diretor-gerente para o hemisfério ocidental da Câmara Americana de Comércio, declarou que "o subfaturamento é comum no Brasil".

No Brasil e no mundo, diria o empresário Raymond Baker, autor do livro "Capitalism's Achilles Heel", com o subtítulo "Dirty Money and How to Renew the Free Market System". Baker declara-se um entusiasta do livre comércio. Manifesta, no entanto, sua decepção e preocupação com as práticas das grandes empresas transnacionais que deformam o sadio exercício do intercâmbio de mercadorias.

Ele diz que aproximadamente 65 mil empresas internacionalizadas realizam operações transfronteiras. As transações entre matrizes e filiais representam, segundo Baker, de 50% a 60% das trocas internacionais. Uma fração importante das transações é feita com preços falseados. "Isso serve para eliminar impostos, evitar controles aduaneiros e acumular dinheiro secretamente. A falsificação de preços é realizada diariamente, em todos os países, numa larga fração das operações de importação-exportação."

Jogada é similar ao tráfico de drogas e ao crime organizado


"Essa é a técnica mais comum para gerar e transferir dinheiro sujo, dinheiro que viola a lei na sua origem, em seu movimento e em seu uso. A falsificação de preços é um conluio entre os poderosos do mundo para lesar os mais fracos. O fato é que para cada dólar, euro, libra, peso, rublo ou outra moeda qualquer que se move para fora dos países mais pobres, há um produtor ou financista do Primeiro Mundo que facilita a operação."

Baker é impiedoso: a combinação entre falsificação de preços de transferência, paraísos fiscais, empresas fantasmas, jurisdições secretas pode ser comparada "ao tráfico de drogas, ao crime organizado, ao terrorismo e aos funcionários corruptos". Os executivos das múltis contribuem para a manutenção desse sistema.

Imagino que, à semelhança da controvérsia Huck-Ferréz, o deplorável episódio Cisco vá provocar um maremoto de indignação contra as malfeitorias dos "correrias" do Primeiro Mundo. Os impostos surrupiados aos brasileiros talvez servissem para financiar a educação, a saúde e a segurança dos cidadãos de Pindorama, fossem eles os "correrias" do Terceiro Mundo ou os legítimos e indefesos usuários de relógios Rolex.

Cacciola vem aí, e já disse que vai abrir o bico

Sexta-feira, o Ministério Público do Principado de Mônaco aprovou os documentos brasileiros para o pedido de extradição do banqueiro fujão Salvatore Cacciola. Pela rotina do Principado, os documentos devem ser enviados agora ao príncipe Albert I, que é quem dá a palavra final. E, em geral, o príncipe acata os pareceres do Ministério Público. Portanto, vem aí de volta o banqueiro que deu um prejuízo de R$ 1,5 bi ao país.

A turma tucana é que não deve estar gostando nada da brincadeira. Para quem não se lembra, na época de sua prisão Cacciola chegou a tentar um acordo com a Polícia Federal. Ele disse que contaria tudo o que sabia sobre o esquema, em troca de um abrandamento da pena. Só que ele fugiu antes, logo após uma providencial liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello.

Agora, pense bem, meu leitor arguto: se vários integrantes do BC do governo Fernando Henrique foram condenados pela operação, sem que Cacciola abrisse o bico, imagine como ficarão as coisas, quando Cacciola finalmente abrir a boca.

Definitivamente, os tucanos estão vivendo seu inferno astral. Além do valor exorbitante dos pedágios nas rodovias, da denúncia que o Procurador Geral da República deve fazer do valerioduto tucano, a volta de Cacciola deve jogar ainda mais no ventilador tucano aquilo que os atores se desejam no início dos espetáculos.

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Cadê o ministro Marco Aurélio Mello?

Ironia da leitora de O Globo Cristina Oliveira, do Rio, na seção de Cartas, hoje:

Nessa incursão que a polícia [do Rio] fez na Favela da Coréia, mataram dois cidadãos que estavam fugindo. Eu pensava que era assegurado pelo Supremo o direito de qualquer cidadão fugir enquanto não é condenado!

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Por que não Lamarca?

Da coluna do Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa online:

Não foi só Lamarca

"O Forte de Copacabana estava sob o comando do capitão Euclides Hermes da Fonseca. Lá então preparou-se a revolta desde a madrugada de 3 de julho de 1922. Reuniram-se ali cerca de 300 rebeldes.

O general Bonifácio da Costa, emissário de Pandiá Calógeras, ministro da Guerra, deu voz de prisão ao capitão Euclides Hermes. Nesse exato momento, entrou o tenente Siqueira Campos, já no papel de líder da revolta: - Somos revolucionários e recusamos as ordens do governo. Portanto, general Bonifácio, o senhor é quem está preso. A uma companhia do 3º Regimento de Infantaria, mandou dizer:

- Retirem-se ou serão aniquilados!

O primeiro canhão disparou. No ardor da revolta, os sediciosos esperavam acertar um petardo no prédio onde estaria o ministro da Guerra. No meio do caminho, várias casas foram atingidas. Alguns civis morreram".

18 do Forte

"O tenente Eduardo Gomes manobrava um canhão, disparando-o ininterruptamente. Na Escola Militar de Realengo, os oficiais instrutores Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Odylo Denis, Canrobert Pereira da Costa, Falconiere da Cunha e outros, com mais 400 cadetes, conseguiram retirar da fábrica de cartuxos grande quantidade de munição e marcharam para a Vila Militar e dali rumar para o Palácio do Catete, para derrubar Epitácio Pessoa.

Enquanto isso, no Forte de Copacabana, a luta prosseguia. A situação tornou-se desesperadora: - Preparem-se para morrer, gritou Siqueira Campos aos companheiros. Novo telefonema do ministro da Guerra levou um ultimato aos rebeldes. Se não se rendessem, seriam arrasados. O capitão Euclides Hermes respondeu que, nesse caso, revidariam com toneladas de explosivos, fazendo chover fogo sobre a cidade. Liberaram Hermes para sair e parlamentar. Combinaram que, se ele fosse preso, bombardeariam a cidade".

Juracy

"Mesmo em desvantagem, os revoltosos bateram-se com sobrenatural fervor e conseguiram liquidar cerca de 30 soldados do governo. Um sargento avançou sobre Siqueira Campos e, numa traiçoeira carga de baioneta, perfurou-lhe o abdome. Siqueira, mesmo ferido, conseguiu puxar o gatilho de sua parabellum e disparou sua última bala na cara do sargento. Em poças de sangue na areia da praia, jaziam os corpos dos jovens massacrados". (Memórias de Juracy Magalhães, "O último tenente", a J.A Gueiros.)

Prestes e Agildo

A história das Forças Armadas, no Brasil, nunca foi uma procissão, uma parada de 7 de Setembro. É uma fieira de levantes, rebeliões e lutas.

Em 24, Prestes se rebelou no Rio Grande e sua Coluna andou 25 mil quilômetros, atravessou 13 estados, até 27, lutando "para depor Bernardes". Em 30, na Paraíba (Juracy conta), "Agildo Barata, numa ação fulminante, distribuiu os oficiais e soldados já aliciados na conspiração, fazendo prender todos os que esboçavam resistência.

Era de uma coragem pessoal extraordinária. A luta foi encarniçada. Dei tiros, certamente abati alguns adversários, mas ali estávamos numa guerra, a opção era matar ou morrer. O general Lavanere Wanderley tentou uma reação, Agildo gritou: - Abram as portas ou jogarei uma granada! E Agildo fez fogo contra ele".

Veloso

Por não aceitarem a vitória e a posse de Juscelino, em fevereiro de 56, o major Haroldo Veloso e outros oficiais da Aeronáutica "apoderaram-se de um avião bimotor Beechcraft no parque dos Afonsos, no Rio, repleto de armas, explosivos e bombas, com destino a Cachimbo e Jacareacanga, comandando trabalhadores civis, armando índios e seringueiros" (DHBB da FGV).

Em dezembro de 59, o mesmo Veloso, com João Paulo Burnier e outros também da FAB, apoderou-se de um avião de linha comercial em pleno vôo e obrigou a tripulação a levar o aparelho a Aragarças, Goiás" (DHBB-FGV). E o Brasil inaugurava mundialmente o seqüestro de aviões comerciais.

Cordeiro

Em suas memórias ("Meio século de combate", Ed. Nova Fronteira), gravadas por Aspasia Camargo e Walder de Goes, Cordeiro de Farias contou: "Em fevereiro de 56 fui procurado no palácio de Pernambuco (era o governador) por cerca de 12 oficiais da Aeronáutica. Avisaram-me que pretendiam repetir o levante de Jacareacanga. A idéia era praticar um ato de grande violência: explodir a usina de Paulo Afonso. Disse a eles: - Vocês estão completamente loucos. Bombardeiem qualquer coisa, mas Paulo Afonso, que é a redenção do Nordeste, isso vocês não vão fazer não".

Lamarca

Todos eles, os de 22, 24, 30, 56, 59 e tantos outros episódios, inclusive os torturadores e assassinos de 64, foram unanimemente anistiados, voltaram às Forças Armadas e terminaram como generais, almirantes, brigadeiros. A nenhum deles foram negadas as patentes e as pensões para suas famílias.

Agora, tenta-se impedir que a viúva do ex-capitão Lamarca receba sua pensão. Alegam que ele "desertou, saiu do quartel com armas e matou um". Tudo que Lamarca fez os outros todos também fizeram. A história está aí.

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Chumbo grosso contra o bispo Macedo

Segundo reportagem de Elvira Lobato na Folha, a Polícia Federal entrou no meio da guerra entre as Redes Globo e Record.

A Polícia Federal abriu inquérito, em São Paulo, para investigar o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. O objetivo do inquérito, segundo informação do sistema de consulta da Justiça Federal, é apurar supostos indícios de crimes contra a fé pública e de falsidade ideológica.
(...) A acusação é de que o bispo teria se apropriado de patrimônio (as emissoras de rádio e de TV) construído com recursos doados por fiéis, supostamente para causas religiosas e assistenciais.

A PF poderia aproveitar e fazer o serviço completo: investigar também as nebulosas transações entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life, que originaram a Rede Globo. De quebra, investigar também a negociação da Abril com a Curundeia, uma empresa com capital social registrado de apenas R$ 878 mil, mas que pagou US$ 178,5 milhões por parte da Editora Abril.

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DEM e PPS, os incríveis partidos que encolheram

Reportagem de Ranier Bragon e Felipe Seligman na Folha hoje informa que dirigentes do DEM e do PPS vão recorrer à Justiça para que os que abandonaram suas fileiras devolvam seus mandatos. Isso porque, além de um desempenho pífio nas últimas eleições, quando encolheram para caber na Kombi dos ressentidos, eles ainda perderam alguns dos que conseguiram se eleger, especialmente prefeitos – eleitos em 2004, portanto, antes da tsunami do ano passado que quase matou os dois partidos.

"Vamos buscar o que é nosso. Para a gente, o prazo é 27 de março e ponto final", afirmou o deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM. Ele disse que o problema maior no seu partido ocorreu nas prefeituras. "É muito mais grave, é tanta gente que vai haver um engarrafamento na Justiça."

O presidente do PPS, Roberto Freire, afirmou que pedirá todas as vagas:

"Vou sim buscar o cargo de todos os que saíram do PPS, principalmente do [José] Fogaça, do Blairo Maggi e do senador Expedito [Júnior]".

Agora, eu pergunto:

- E quando quem muda é o partido? Como ficam aqueles que se elegeram pelo PFL e de repente se viram transformados em DEMOS? Como ficam aqueles camaradas do Partido Comunista (para os que não se lembram, o PPS é o novo nome do antigo PCB) que viram seu partido se transformar a tal ponto, que hoje é apenas a asa direita dos tucanos?

E se alguém gritar “Eu quero meu PFL de volta! Quero de novo meu PCB!”, como é que fica?

O mundo gira, a Lusitana roda, e, no jogo político, quem tem que recorrer à Justiça para segurar seus filiados é porque já perdeu o bonde da História.

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Grupo Abril passa a controlar distribuição em bancas

Do Blog do Rovai:

Acabo de receber um telefonema da Revista Imprensa com o objetivo de repercutir a aquisição da Fernando Chinaglia pela Dinap, empresa de distribuição de revistas da Editora Abril. Quase caí da cadeira.

Isso foi divulgado na quinta-feira, 11, em circular interna da Chinaglia segundo a Revista Imprensa. No mesmo dia 11, a Abril soltou nota sobre o tema. Classifico essa notícia como a pior para o mercado editorial nos últimos anos. É ruim para todos os outros editores que disputam as bancas com a empresa dos Civita e péssima para a liberdade de informação.

Querem um exemplo? Fórum sempre criticou Veja. Vai continuar a fazê-lo, porque Veja não vai deixar de fazer o jornalismo golpista que a caracteriza. O que você acha que vai acontecer com a Fórum com a compra da Chinaglia pela Dinap? Fórum corre risco de não ser mais distribuída em bancas de todo o Brasil. Outras publicações passam pelo mesmo tipo de situação.

Algo precisa ser feito urgentemente. As bancas de jornais não podem virar um monopólio de uma única editora. Ainda mais da Abril, comprometida até a alma com a concentração midiática e o golpismo.

Já entramos em contato com a assessoria de imprensa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que nos disse que o processo passa primeiro pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. E aí ministro Tarso Genro, isso pode? Uma única empresa tem o direito de controlar a distribuição de informação em pontos de venda?

Convoco a todos a repassar essa noticia para o maior número possível de colegas e militantes da democratização das comunicações. É preciso iniciar um movimento contra essa ameaça de monopólio já, antes que se torne um fato consumado.

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É um pássaro? É um avião? - Não, é o ministro Jobim

Enquanto uns preferem testar hipóteses no conforto do aquário em que vivem, o intrépido e destemido ministro Jobim gosta de verificar ao vivo e em cores a realidade do ministério que comanda.

Nos últimos dias, travestido de militar, em roupa camuflada, ele segurou a cobra, abraçou o macaco e foi ver a onça beber água. Tudo isso para investigar nossas fronteiras.

Aguarda-se o momento em que ele saltará de pára-quedas para verificar a qualidade de nosso espaço aéreo.

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O dia em que Kamel preferiu não testar hipóteses

O professor Ali Kamel, diretor de jornalismo de Rede Globo, aquele que ensina que não existe racismo no Brasil (mas, segundo ele, pode vir a existir, caso o movimento negro continue a defender a política de cotas); que Bush fez bem em testar a hipótese da existência de bombas no Iraque e, por isso mesmo, bombardear e invadir aquele país; que a Globo errou por incompetência e não por má-fé no escândalo Proconsult, em 1982; que não manipulou desavergonhadamente a edição do último debate entre Lula e Collor na eleição de 1989; este Kamel, para justificar a cobertura que o Jornal Nacional fez do acidente com o Airbus da TAM em Congonhas, disse que eles apenas estavam “testando hipóteses”.

"A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim".

Mas nem sempre Kamel age assim, testando hipóteses. Por exemplo: no ano passado, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, a Globo recebeu do delegado Bruno as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal, no polêmico caso do dossiê. Embora dispusesse do material desde cedo, a Globo aguardou o JN para que a notícia pudesse ser mais espetacular.

Mas aí, às 18h50, acontece o terrível acidente envolvendo o Boeing da Gol e o jatinho da ExcelAire. A Globo recebeu a notícia, ainda incompleta e vaga, mas se ela fosse ao ar na mesma edição disputaria a atenção do público com a montanha de dinheiro. E aí, em vez de testar hipóteses, como no acidente da TAM, o que fez Kamel?

"As primeiras informações sobre o desaparecimento de um avião nos chegaram quando o JN já estava havia muito no ar (o telejornal teve início às 20h). Imediatamente, nossas equipes saíram à cata de informações, que eram escassas e sem confirmação. Seria um avião de passageiros que estava desaparecido ou atrasado? Ele era da Gol ou da Embraer? Ele sumiu em Mato Grosso, indo para Brasília, ou no Pará, indo para Manaus? Em nossas redações, foi aquela correria, mas todos tínhamos uma convicção: só poríamos a informação no ar quando tivéssemos certeza dela."

Por que agiu assim? O leitor quer testar hipóteses?

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Chega de Saudade: Bossa Nova é Patrimônio Cultural Carioca



Decreto publicado nesta terça-feira, no Diário Oficial do Município, torna a Bossa Nova Patrimônio Cultural Carioca. No vídeo, a música inaugural (Chega de Saudade) e os criadores da Bossa Nova: Tom Jobim e João Gilberto.

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Nas estradas, o governo Lula e o de FHC

Na coluna de Elio Gaspari hoje:

Dilma detonou a privataria dos pedágios

NA TARDE DE terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas. Depois de dez anos de idas e vindas, o governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, um percurso que custaria R$ 10 de acordo com as planilhas dos anos 90, saiu por R$ 2,70. No ano que vem, quando a empresa espanhola OHL começar a cobrar pedágio na Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, cada 100 quilômetros rodados custarão R$ 1,42. Se o cidadão quiser viajar em direção ao passado, tomará a Dutra, pagando R$ 7,58 pelos mesmos 100 quilômetros. Caso vá para Santos, serão R$ 13,10. Não haverá no mundo disparidade semelhante.

Se essa não foi a maior demonstração de competência do governo de Nosso Guia, certamente será lembrada como uma das maiores. Sua história mostra que o Estado brasileiro tem meios para defender a patuléia, desde que esteja interessado nisso. Mostra também que se deve tomar enorme cuidado com o discurso da modernidade de um bom pedaço do empresariado. Nele, não se vende gato por lebre. É gato por gato mesmo.O lote das sete rodovias entrou no programa de desestatização do tucanato em 1997. Desde então, desenhavam-se editais restringindo a disputa a empresas de engenharia nacionais. No final de 2002, após uma trombada com o Tribunal de Contas da União, o caso foi para a mesa de FFHH. O monarca desconfiou da pressa e deixou o assunto para o novo governo. Em 2003, o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, armou outra concorrência. Nova trombada com o TCU. Alguns preços baseavam-se em custos do mercado paulista, o mais caro do país. O tribunal determinou que o ministério largasse o osso, entregando-o à Agência Nacional de Transportes Terrestres. Ela achou R$ 300 milhões de gordura nas planilhas, y otras cositas más.

Em meados de 2005, o governo quebrou a cláusula da reserva de mercado para empresas nacionais. Anunciou um leilão, aberto a quaisquer interessados. Além disso, chegou a xerife. A ministra Dilma Rousseff, a ANTT e o Tribunal de Contas discutiram o projeto e conseguiu-se uma redução de 56% no preço estimado para os pedágios. A taxa de retorno dos concessionários, que inicialmente era de 18% anuais, caiu para 13%. Dilma queria, no máximo, um retorno de 9%. Argumentava que as empresas estavam lucrando algo em torno de 25% ao ano. Em janeiro passado, o leilão das concessões foi suspenso.

O "Financial Times" viu na iniciativa um viés de inépcia, talvez estatizante, a la Hugo Chávez. Confundiu-se deliberadamente adiamento com cancelamento. Vale relembrar a gritaria: "Retrocesso. Se isso (o fim do leilão) acontecer, os recursos internos e externos serão aplicados em outros países. (...) Se há distorções, elas têm de ser corrigidas, mas com base em avaliações técnicas, não ideológicas." (Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base, a Abdib. "O Brasil corre o risco de ficar na contramão dos Estados Unidos, Europa, Chile e México." (Renato Vale, presidente da CCR, concessionária de 1,4 mil quilômetros de estradas brasileiras.) "É um equívoco, porque o Brasil não tem capacidade de investimento." (Geraldo Alckmin).

Não havia equívoco, não se corria risco, nem havia ideologia no lance. O governo cansou de explicar que não estava cancelando coisa alguma. Disse aos empresários, e eles entenderam, que pretendia apenas discutir a relação. Diante de números que encolheram à metade a partir das avaliações técnicas, sentira-se o cheiro de queimado. Não adiantava, a sabedoria convencional ensina que, se o governo de Nosso Guia não cumpre as agendas das empreiteiras, isso reflete más intenções ou preconceitos esquerdistas que afugentam capitais e travam o progresso.

Durante oito meses, uma força-tarefa da Casa Civil e da ANTT trabalharam no caso. A ministra lembrava que os juros tinham baixado e a economia brasileira de 2007 não era a de 2002. Murmurava-se que o projeto era inviável, sonho de guerrilheira, pois não apareceriam candidatos.

Na terça feira, quando o leilão começou, havia 30 empresas na disputa. Três horas depois, os sete lotes de estradas estavam vendidos. Nenhum dos clientes tradicionais conseguira emplacar sua oferta e o grupo espanhol OHL ganhou os cinco trechos que disputou, tornando-se o maior concessionário de estradas do país, com 3.225 km. Quando ele arrematou a Fernão Dias, oferecendo um pedágio de R$ 1,42 para cada 100 quilômetros houve espanto no salão. A ANTT fixara um teto de R$ 4,00, a segunda colocada pedira R$ 2,21 e as demais, em torno de R$ 3,57. Os cavaleiros do Apocalipse micaram, triturados pela lógica da competição internacional.

Esse resultado só aconteceu porque o governo não se deixou encurralar pelo alarmismo. Trocou a mão invisível de Brasília pela de Adam Smith.

Fica agora o tucanato paulista numa enrascada. Tem no colo um pacote de cinco leilões de rodovias estaduais num modelo que produziu os pedágios mais caros do país. Isso deriva de um conjunto de fatores. Um deles é o de se exigir dos concessionários um pagamento chamado de outorga. A empresa explora a rodovia, mas adianta um prêmio ao erário, em obras ou em dinheiro. Lula seguiu a escrita de FFHH, que não cobrou esse tipo de dote nas concessões da ponte Rio-Niterói e da Dutra. Será difícil provar que ambos fizeram besteira.

A comparação é tão deprimente para os tucanos, que há pitblogueiro apresentando apenas a parte inicial da coluna de Gaspari e tentando contorcionismos e malabarismos verbais - como menores num sinal de trânsito - para tentar defender o indefensável.

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Entrevista com Julio Cortázar

Da Entrelivros, uma entrevista do genial escritor argentino Julio Cortázar concedida ao programa “A Fondo”, da TVE (televisão espanhola), em 1977, há exatos 30 anos.

Cortázar fala sobre sua família, seus primeiros escritos, a Argentina e o exílio. O escritor argentino ainda revela detalhes do processo criativo de seus contos e seus hábitos de escrita.

Clique na foto para assistir ao vídeo.

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Vem aí a revelação do mensalão tucano em SP

Editorial da Folha hoje:

Mal contado

O contrato não era pequeno: envolvia R$ 671 milhões. Quem desembolsou a quantia foi a Nossa Caixa, durante o governo Alckmin, em 2003. Do outro lado estava a Asbace, entidade que congrega bancos estatais. O gasto se destinava à instalação de terminais de auto-atendimento da Nossa Caixa em todo o Estado.
A partir daí, tudo se cerca de graves suspeitas. Os R$ 671 milhões foram entregues à Asbace sem licitação. O argumento se baseava na "inquestionável reputação ético-profissional" da entidade, e no fato de que a Asbace não tem fins lucrativos.
Quaisquer que sejam a reputação e os fins da Asbace, o fato é que a entidade não tinha estrutura para realizar o serviço contratado. Repassou a tarefa para outras empresas, estas sim, com fins lucrativos e capazes de implantar a rede de auto-atendimento desejada.
Sete pareceres técnicos do Tribunal de Contas do Estado contestaram o contrato. Afinal, se outras empresas teriam de fazer o serviço, por que não realizar uma concorrência pública? O contrato foi a julgamento no TCE: graças ao voto de três conselheiros, terminou aprovado. Novos contratos entre a Nossa Caixa e a Asbace se firmaram durante a última gestão do governador tucano, somando cerca de R$ 740 milhões.
Provavelmente, teria tudo ficado por isso mesmo, não tivesse a Polícia Federal desencadeado em junho a Operação Aquarela: desta resultou a prisão de dois ex-dirigentes da Asbace, sob a acusação de terem lesado o BRB, banco estatal de Brasília, em R$ 50 milhões. O ocorrido em Brasília "não tem nada a ver" com os contratos paulistas, garantem o ex-governador Alckmin e seu ex-secretário da Fazenda.
Será? O caso Asbace ainda está por ser plenamente elucidado.

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Dia da Criança
Propaganda para criança deveria ser proibida? Já é

Eu acho totalmente, absolutamente, criminosamente absurda a propaganda direcionada às crianças. A quantidade de “compre”, “peça a seu pai”. “peça já o seu” a que as crianças são submetidas é um crime. De vários matizes. Há os apenas informativos, mas que na verdade visam a incluir a criança no universo mais amplo da insatisfação que gera consumo. E há os definitivamente criminosos, como aquele antigo de algum produto da Xuxa que pregava descaradamente o preconceito e a exclusão com um refrão que dizia “Eu tenho, você não tem-ê, Eu tenho, você não tem-ê”.

Desde sempre sou favorável à proibição da propaganda voltada para o público infantil, mas agora descobri que ela já é proibida no Brasil. Só que a Lei não é cumprida. Exatamente como acontece no caso das concessões de Rádio e TV.

Está no Código de Defesa do Consumidor:

SEÇÃO III
Da Publicidade
...
ART. 37 – É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

...
§ 2º – É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
...
Das Sanções Administrativas
ART. 67 – Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:

Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.

Segundo artigo publicado pela psicóloga Lais Fontenelle Pereira na Folha hoje, o valor gasto no Brasil em publicidade dirigida ao público infantil foi de aproximadamente R$ 210 milhões (Ibope) e o valor do investimento no Programa Federal de Desenvolvimento da Educação Infantil (FNDE) foi de aproximadamente R$ 28 milhões.

Até os quatro anos as crianças não conseguem diferenciar publicidade de programas. Conforme pesquisa norte-americana, bastam apenas 30 segundos para uma marca influenciá-las. Se pensarmos que a criança brasileira passa em média cinco horas por dia em frente à TV (Ibope, 2005), quanta influência da mídia ela sofre?

O que estamos esperando para fazer cumprir a lei?

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O que é Web 2.0


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Renan sai. Qual a próxima não-notícia?

O senador Renan Calheiros pediu agora à noite licença do cargo de Presidente do Senado por 45 dias.

Vamos ver qual é o novo assunto que os jornalões, a Veja e a Rede Globo vão inventar para não terem que falar na renovação das concessões de rádio e TV, na CPI da TVA, no valerioduto tucano, na acusação de Azeredo de que a campanha de FHC levou dinheiro desviado do governo de Minas, no bilhão doado a Cacciola, na venda imoral da Vale do Rio Doce...

Qual não-notícia vai ser a próxima atração?

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Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV

Movimentos sociais e organizações da sociedade civil que defendem a democratização dos meios de comunicação realizaram atos e mobilizações em 15 capitais de todo o país no último 5 de outubro, pedindo democracia e transparência nas concessões de rádio e TV. O dia foi escolhido por ser a data em que vencem várias concessões, incluindo emissoras próprias e afiliadas da Rede Globo, Bandeirantes, Record e CNT/Gazeta.

As mobilizações marcaram o lançamento de uma campanha nacional sob o mote “Concessões de rádio e TV: quem manda é você”, que pretende discutir com a população o caráter público das concessões de rádio e TV e denunciar uma série de irregularidades praticadas pelas empresas na exploração do serviço de radiodifusão. Exemplos de práticas ilegais no uso das concessões vão desde o não cumprimento do limite de veiculação de 25% do tempo de programação com publicidade até o funcionamento de emissoras com outorgas vencidas há mais de 10 anos. Incluem ainda outorgas dadas a deputados e senadores, prática proibida pela legislação vigente. Durante os atos do dia 5/10, as entidades e movimentos apresentaram dados comprovando essas denúncias.

Em diversas capitais, foram entregues ao Ministério Público Federal representações contra emissoras que veiculam publicidade 24 horas por dia. Também foi encaminhado ao Ministério das Comunicações uma série de pedidos de informação acerca das emissoras com outorgas vencidas, para que a população possa acompanhar tais processos de renovação – já que, atualmente, não há transparência na publicização desses dados.

Pauta de reivindicações

As reivindicações imediatas da Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV são as seguintes:

- ações imediatas contra as irregularidades no uso das concessões, tais como excesso de publicidade, outorgas vencidas e emissoras nas mãos de deputados e senadores.

- fim da renovação automática: por critérios transparentes e democráticos para renovação, com base no que estabelece a Constituição.

- instalação de uma comissão de acompanhamento das renovações, com participação efetiva da sociedade civil organizada.

- convocação de uma Conferência Nacional de Comunicação ampla e democrática, para a construção de políticas públicas e de um novo marco regulatório para as comunicações.

Mais informações no SIVUCA.

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A pedidos: A verdadeira Tropa da Elite em ação


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Tropa de Elite, um choque de gestapo

Pela reação da platéia durante as sessões do filme Tropa de Elite, está na cara a política que querem para o Brasil aqueles que o presidente do Grupo Abril, Victor Civita, definiu como o leitor de Veja:

Na economia clamam por um choque de gestão.

Na segurança pública, querem um choque de gestapo.

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A Associação dos Magistrados e o Maníaco da Cantareira

Em artigo bombasticamente intitulado Basta! Basta! Basta!, publicado hoje na Folha, Sebastião Luiz Amorim comenta o brutal assassinato dos irmãos Francisco e Josenildo, que ainda foram violentados pelo assassino, Ademir Oliveira do Rosário, conhecido como Maníaco da Cantareira.

Nos parágrafos finais de seu artigo, Amorim direciona seu Basta! Basta! Basta! Aos poderes Executivo e Legislativo. Repare:

É preciso que os nossos legisladores compreendam que o tema segurança pública deve ser tratado com prioridade absoluta.
Um Estado minimamente decente deve conferir garantias a um chefe de família para que possa reencontrar seus filhos quando volta da dura rotina de trabalho. Ou seja, que nem ele, nem sua esposa, nem seus descendentes serão números frios de estatísticas policiais.
Basta de planos emergenciais ou de soluções mirabolantes.
Basta de tentar se omitir.
Basta de discursos histriônicos.
É preciso rapidamente compreender os problemas e ainda mais celeremente encontrar soluções.
Nós, magistrados paulistas, estamos dispostos e disponíveis para fazer parte desse processo de mudança. Conhecemos as dificuldades experimentadas pelas vítimas e pelos familiares, muitas das quais nem sequer são registradas em notas dos jornais, mas que nem por isso são menos dolorosas que as histórias de Neném e de Neto.

Nem uma palavra sobre o poder Judiciário. Aí leio que o autor é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e presidente da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados).

É preciso atacar o corporativismo no Judiciário também, senhor Amorim. Por que em seu artigo não é dito que foi uma juíza quem mandou para as ruas o maníaco assassino que violentou e tirou a vida dos irmãos? Por que não diz que a juíza fez isso, contrariando laudo do psiquiatra Charles Kiraly, onde está escrito que Ademir Oliveira do Rosário é um psicopata que não pode sair da cadeia?

Em vez do depoimento emocionado da mãe dos jovens, seu artigo teria mais clareza e profundidade se desvendasse a sentença da juíza que mandou o maníaco para a rua. Como foi escrito, seu artigo não poderia ter como título Basta! Basta! Basta!, mas apenas Basta! Basta! Faltou o terceiro Basta!, e bastaria ele para que o maníaco ainda estivesse preso e os meninos brincando no parque.

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Candidato à prefeitura de SP não tem currículo, tem ficha

Oscar Maroni filiou-se ontem ao PT do B, com direito a festa no bar Brahma, em São Paulo. Vai ser o candidato do partido nas eleições municipais do ano que vem. Quer ser prefeito de São Paulo.

Recentemente, Maroni esteve preso, “acusado de favorecimento e exploração da prostituição, formação de quadrilha e tráfico interno de pessoas”, segundo reportagem de Paulo Sampaio na Folha.

O presidente do PT do B, Antônio Rodriguez Fernandes, justificou assim a candidatura de Maroni:

- Você acha que alguém rico assim pode ser burro?

Maroni pode se apresentar ao eleitor paulistano como um candidato de perfil elástico, já que foi comunista, malufista e agora é fã do deputado Clodovil:

"Eu o admiro pela arrogância, por ser um homem que não ficou dentro do armário. Um homem que tem até um pouco da minha forma de ser."

O presidente do PT do B completa o perfil do candidato do partido a prefeito:

- Sabe a novela "Duas Caras'? Pois é, o Maroni tem quatro.

Na mesma festa, foi apresentado o candidato a vereador Vicente Viscome, que passou os sete últimos anos em cana, pagando parte dos 16 anos a que foi condenado por participar da chamada "máfia da propina" na Administração Regional da Penha. Ele também tem suas metas:

Em um ato falho, Viscome diz que vai "continuar ajudando os menos [sic] necessitados". "Antes eu era "inocentinho", mas, depois de sete anos na cadeia virei malandrinho."

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CHE


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'Choque de gestão' em SP libera R$ 752 milhões sem licitação

Não saiu na primeira página, nem na home da versão online, mas pelo menos a Folha deu a notícia de que a Nossa Caixa se meteu num negócio pra lá de escabroso, durante o choque de gestão do ex-governador Geraldo Alckmin, com reflexos até os dias de hoje. O banco paulista, que tem o governo de São Paulo (leia-se o povo de São Paulo) como seu principal acionista, fechou contratos num valor total de R$ 752 milhões, sem licitação, com uma empresa chamada Asbace.

Para justificar a contratação direta num valor tão alto, a Nossa Caixa se baseou no inciso XIII, do artigo 24 da lei nº 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação se a contratada não tiver fins lucrativos, gozar de inquestionável reputação ético-profissional e for voltada ao ensino, à pesquisa ou ao desenvolvimento institucional.

Só que, em seguida, a Asbace, “sem infra-estrutura para a execução dos serviços”, subcontratou a “ATP Tecnologia e Produtos, que tem fins lucrativos e pertence à própria associação”, para fazer o serviço. Na prática, a Asbace funcionou como fachada para a contratação da ATP, sem concorrência, num negócio de quase R$ 800 milhões. Acha pouco? Tem mais:

A ATP, por sua vez, subcontratou a ONG Caminhar, cujos funcionários relataram à polícia terem prestado serviços fictícios à Nossa Caixa.

R$ 1 bi sem licitação, isso é que é choque de gestão! Eu, por exemplo, estou chocado.

Ainda segundo a reportagem de Lilian Christofoletti:

A Asbace está sob suspeição desde junho, quando a polícia e a Promotoria do Distrito Federal deflagraram a Operação Aquarela, que prendeu o ex-presidente da associação e do BRB (banco estatal de Brasília) Tarcísio Moura e o ex-secretário-geral e principal homem da entidade, Juarez Cançado.

Juarez Cançado?! Estará aí a origem do movimento Cansei?

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Entropia da Elite, conto do livro A Metáfora de Drácula, de Antonio Mello

Primeiro, a necessidade de um salto rápido, quase um bote, depois da corrida louca, para detê-lo pela camisa, puxá-lo; depois, foi como um impulso, seta do desejo: a mão num soco, fechada como a frente de um Scania, bem no fígado, puf, seco, e, então, o outro se curva, quase uma cadeira, a boca, de dentes podres, abre-se, a língua tremendo num grito pavoroso, os olhos arregalados amarelecendo no rosto negro. Em direção aos dois, uma pessoa atravessa a rua - uma pessoa quase gato, tão ágil ela. Outras, outro lado da rua, olham apenas; isso, é fácil prever, é por enquanto. O ódio continua surdo, e ele, agora, aplica, mãos espalmadas, plaft, um telefone-sem-fio no outro; o menino cai, mãozinhas no ouvido, um milhão de abelhas na cabeça zumbindo, lágrimas dos olhos escorrendo, quase um feto no chão, retorcido. O homem chuta a cara do menino, cract; sangue e alguns dentes - que, podres, quebraram tão fácil - saltam pela boca, quase de velho agora: murcha. Outras pessoas cercam os dois, olham: espanto. Sobre suas cabeças: prédios e um céu azul, daqueles de se dizer diáfano, transparente, translúcido. Alguns comentam que eram dois os pivetes, e do morro do Pavãozinho, na certa, ou de muito longe, da Baixada, se tudo é incerto; mas dois, que um fugiu, "menorzinho ainda e já ladrão, deve estar por aí"; certo é que eram dois, pretendiam a bolsa de uma senhora, mas ela protestou, gritou, o homem viu, e o resto é o que estamos, impassíveis, presenciando. O homem pega a impressão de feto pelas pernas, segura-as bem, e, por elas, levanta-a. O menino de cabeça para baixo, o que o homem pretende? Um rapaz puxa a namorada, vamos embora daqui, ele diz, já vi esse filme. Ela pergunta qual o filme. Os dois afastam-se do grupo, que, de ciranda em ciranda, aumenta; afastam-se mais, atravessam a rua e, pouco adiante, a menina saltando no ombro do namorado, param - com certeza, o filme ele contou a ela. O homem, zum-zum, começa, mãos nos pés do menino, a girá-lo. Tão forte é o homem, o menino parece uma ausência súbita, sombra apenas, que roda por cima da cabeça do homem. Este começa a caminhar, ainda zum-zum, e o grupo abre, o grupo num burburinho, dando passagem ao homem-helicóptero, uma pergunta animando a cabeça de todos: o que pretende? Como o Átila do filme de Bertolucci, 1900, o homem, ainda, e sempre, girando o menino, bate, prac, com a cabeça dele num poste, onde, numa placa, lê-se ATENÇÃO ESCOLA DEVAGAR; e, prac, girando, bate outra vez, sangue e miolos espirrando - não em ninguém, que todos estão afastados, apenas olhando - prac, e prac, e prac. O homem, assim, cansa-se, ufa, e solta o ex-menino no chão de sempre. O grupo, cirandando, renova-se, uns que vão, são outros que vêm: a cara de espanto quando veem o ex-corpo; então, conversa de olhos curiosos, pequenas exclamações, dúvidas, ais. A cinco quarteirões dali, o menorzinho, que conseguiu fugir, limpa, na camisa suja, uma pera, lindo vê-la, apanhada pouquinho atrás num vacilo do comércio, e morde-a, uma delícia sob o céu azul, tantos prédios. Depois, o menino anda, um pé na frente do outro, sempre trocando, um e outro, assim, um pé na frente do outro. Um na frente do outro.

Este pequeno conto faz parte de meu livro A Metáfora de Drácula, editado pela Livraria José Olympio Editora, em 1982. No livro, recebeu o título de Relato.




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