Blog do Mello - Crônicas: Eu amo minha sogra

Ontem no Blog do Mello - Crônicas:

Tudo bem, sei que é uma frase que não costuma ser enunciada. Sei que algum leitor mais cético – ou cínico, talvez – vai pensar: esse cara está planejando o crime perfeito. Vai fazer uma crônica elogiando a sogra para usar como álibi e poder matar a desgraçada tranqüilamente.

Nada disso. Ontem, sábado, 28 de abril, foi o Dia da Sogra.. Há todo um folclore de que as sogras são umas bruxas, que elas enchem o saco etc. Não é a minha experiência. Muito pelo contrário. Embora eu deva frisar que três horas de viagem me separam da mãe de minha mulher. E que ela não gosta muito de viajar. Nem eu. (leia o restante da crônica aqui, no Blog do Mello - Crônicas)


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Botafogo 2, Torcida do Flamengo 2

A essa altura do campeonato, até o presidente Lula – que nunca sabe de nada – sabe que eu sou Botafogo. E, ontem, no primeiro tempo do primeiro jogo da decisão contra o Flamengo, poderíamos ter matado o jogo e praticamente definido o campeonato. Metemos dois a zero, e ainda houve um pênalti clamoroso – daqueles que até Stevie Wonder veria – não marcado, e a marcação de um impedimento inexistente, quando Lúcio Flávio partia sozinho para cima do goleiro.

Mas aí vem o segundo tempo. Antes de a bola rolar, o técnico Cuca, do Botafogo, deu uma declaração ao repórter da Globo. Ele disse que o Botafogo jogaria nas brechas que o Flamengo deixaria na defesa. O que significava que o “estrategista” Cuca havia combinado com os jogadores do Botafogo no intervalo, que eles deveriam atrair o Flamengo, aproveitar que buscariam o empate, para matar o jogo num contra-ataque. Na hora, tive um pensamento curto e grosso: fudeu.

Só quem não conhece a torcida do Flamengo – ainda mais a torcida do Flamengo numa final de campeonato – pode falar uma bobagem dessas. A torcida do Flamengo é maravilhosa. Ela transforma um Fio num Pelé, ela levanta qualquer defunto.

E, mais uma vez, foi o que se viu. Ela levantou aquele defunto time do Flamengo, que partiu para cima de um Botafogo que lhe era nitidamente superior, e só não virou o jogo por sorte e por falta de tempo. Mais uns cinco minutinhos de jogo e o resultado seria outro.

Vamos ver se dessa vez Cuca – e outros técnicos que viram o jogo – aprendem a lição. Contra o Flamengo – ainda mais numa decisão – só tem um jeito: encurralar seu time desde o início para calar a torcida. E seguir com ele encurraladinho e sua torcida caladinha, até o fim.

A torcida do Flamengo calada é música para os meus ouvidos.

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O Sapo Barbudo, os Sapos do BC e do Mercado, segundo Ricupero

Excelente artigo escrito pelo ex-ministro Rubens Ricupero, publicado hoje na Folha. Ataca aquela que talvez seja a maior fragilidade do governo Lula, com precisão, humor e estilo. (O destaque em negrito é meu.)

A luz os deslumbra

Em coro embevecido , clama a saparia dos comentaristas econômicos: "Nunca foi tão bom!" - "Foi!" - "Não foi!" - "Foi!".

No charco tristonho e escuro, a economia cresce menos que o mundo, que os emergentes, os latinos, os africanos, lenta e pálida como a flor da noite.

No entanto, "enfunando os papos, saem da penumbra [...] os sapos. A luz os deslumbra".

Que luz será essa? A taxa de juros mais alta do planeta, em nível incompatível com a expansão da produção e do investimento?
A de câmbio, que só perdeu neste ano para a da Austrália em termos de apreciação, deixando para trás chineses, indianos, japoneses e outros povos vagarosos?
A de investimento, que mergulhou à fundura de 16%, um dos pontos mais baixos de nossa história?
A do aumento do volume de exportação de manufaturados, que escorregou de 26% em 2004 para 11% em 2005 e apenas 2% em 2006, indicando o triste fim que nos espera?

O brilho que ofusca os batráquios e faz cantar as pererecas não tem nada a ver com a luzinha pisca-pisca de uma economia real mergulhada no lusco-fusco. Esta acende e apaga como os vaga-lumes de que falava Fernand Braudel: brilham, mas não indicam o caminho.

Os fachos sulfurosos que por intervalos varrem o pântano provêm do fogo-fátuo da economia faz-de-conta do mercado financeiro: a queda dos pontos de risco, a miragem do grau de investimento, os fluxos de capitais de arbitragem atraídos pelos juros altos e a moeda valorizada.

Da mesma forma que o obsceno delírio das Bolsas quando empresas demitem milhares de empregados, os vampiros do mercado mal disfarçam a excitação com que, deliciados, saboreiam as quedas do dólar.

Para eles, a desindustrialização não tem importância, o real apreciado é um problema positivo. Por que será que nenhum comentou o estudo da Carta do Iedi de março (www.iedi.org.br) mostrando que só nove, de 34 setores industriais, não registraram sensíveis reduções no valor agregado? Ninguém terá achado sugestivo que quase todas essas exceções se concentram nas áreas extrativas e similares, não na indústria de transformação?
Por que o silêncio com que se acolhe a notícia de que os segmentos de alta e média tecnologia (eletroeletrônicos, automobilístico, químicos) sofreram perdas de valor adicionado que chegam a 50%?
Quantos jornais deram destaque ao artigo de 16 de abril do "Herald Tribune" sobre as milhares de demissões anunciadas por multinacionais no Brasil?
Algum meio de imprensa preocupou-se em publicar reportagens "de interesse humano" sobre o laborioso Vale dos Sinos gaúcho, que teve, em 2006, perdas de emprego de 5,4% no vestuário, 13,2% em calçados, 6,9% em máquinas e equipamentos, com mais de 4.000 demissões adicionais nos primeiros meses deste ano?

Enquanto isso, no brejão do Banco Central, bradam os sapos-tanoeiros: "A grande arte é como lavor de joalheiro". Na partitura do Cecom, não é preciso mudar nada: é preciso apenas que seja uma canção bem martelada.
Crescer, para quê, se, no fim do dia, os juros pingam gordos?
Emprego? É coisa pra chinês, que só come uma vez por mês.
Eufórica, entoa a orquestra hilária:
"Não há mais economia,
Mas há meta inflacionária...."
Para melhor nutrir as tripas, o manguezal é loteado em 38 minicharcos pelos sapos-pipas.
Em brado que o Planalto todo aterra, o barbudo sapo-boi raivoso berra: "Neste lamaçal, sou eu que impera!" - "Sou!" - "Não sou!" -"Sou!".

Longe, bem longe dessa grita, 3,5 milhões de jovens de 16 a 24 anos, 45% da força de trabalho, não encontram emprego nem guarita. Quatro milhões já deixaram o país e, a cada ano, dos que partem, 150 mil têm diploma superior.
Dobrou, de 95 a 2005, o número de desempregados jovens, um em cada cinco, uma em cada quatro das mulheres, 15,3% dos homens. As cifras deixam mudo, é natural, o coro dos sofistas, mas não são estranhas ao horror do crime, ao medo que nos corrói e nos habita.
São esses "inúteis para o mercado", fugidos ao mundo, sem glória, sem fé, no perau profundo, que soluçam, transidos de frio, sapos-cururus da beira do rio...
(Com as homenagens e os agradecimentos à involuntária colaboração de Manuel Bandeira).

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The Zimmers: 'My generation' da mais velha banda de rock de todos os tempos









The Zimmers ("zimmer" é como os ingleses chamam os andadores para idosos) não é a mais antiga, mas certamente é a mais velha banda de rock de todos os tempos. E a mais bem humorada. Seus integrantes têm 80, 90 anos, e alguns são até centenários.

Acima, um slideshow com alguns deles, no MySpace, e, no Youtube, a música que os está transformando em uma febre da internet inglesa: uma interpretação de "My generation", um clássico do The Who. É hilariante ouvi-los cantar que querem morrer antes de envelhecer.

Clicando aqui você vai à página deles no My Space.

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Desempenho de alunos cotistas é semelhante ao dos demais universitários

Uma pesquisa realizada pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e pela Comissão de Acompanhamento de Cotistas na UFPR (Universidade Federal do Paraná) revelou que o desempenho dos alunos cotistas é muito semelhante aos dos demais estudantes, e em muitos casos superior. É o que informa reportagem do jornal paranaense Gazeta do Povo.

“Nos quesitos nota e IRA (Índice de Rendimento Acadêmico), o cotista social se sai ainda melhor o que para nós é até uma surpresa tendo em vista que o desempenho dele no vestibular fica um pouco abaixo”, afirma a professora Rosana de Albuquerque Sá Brito, pró-reitora de Graduação.

A pesquisa teve por base os anos de 2005 e 2006 e põe por terra os adversários das cotas que afirmam que elas pioram ainda mais a qualidade do ensino no país.

São os mesmos que comemoram a recente medida da Comissão de Constituição e Justiça do Senado de propor a diminuição da maioridade penal para 16 anos. Querem cadeia para os menores, em vez de medidas sócio-educativas, mesmo sabendo que a cadeia não melhora ninguém, muito pelo contrário.

Cidades como São Carlos, em São Paulo, onde o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é levado a sério e as medidas sócio-educativas são efetivamente aplicadas, reduziram e muito a reincidência. Em São Carlos, apenas 4% dos menores voltam a praticar algum tipo de delito. São 4 em 100. Na cadeia, o índice é de 70, 80 e em alguns lugares 90 em 100 os reincidentes.

As cotas sociais e raciais e as medidas sócio-educativas são conquistas na luta por uma sociedade mais justa e fraterna.

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Mário de Sá-Carneiro, 26 de Abril de 1916, cinco frascos de arseniato de estricnina, Fim

poema de Sá-Carneiro, chamado Fim

Guernica, 70 anos

Em 26 de abril de 1937, a aviação alemã destruiu a cidade espanhola de Guernica. O bombardeio foi imortalizado por Pablo Picasso.
Procurando uma imagem para ilustrar esta postagem, encontrei este vídeo no Youtube. Foi postado por um jovem venezuelano:


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Dois pesos e duas medidas, sempre contra Lula

Em decisão unânime, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou ontem ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a imediata instalação da CPI do Apagão Aéreo. Foi decisão unânime, que reconheceu o direito da oposição à investigação parlamentar, mesmo sendo minoria política.

É sempre bom ver a Justiça garantir o direito das minorias. Mas isso deveria ser uma regra. Por que, por exemplo, 70 CPIs não foram instaladas no governo Alckmin em São Paulo? Com maioria na Assembléia, o ex-governador barrou todas as tentativas feitas pela oposição nesse sentido. Lá, não se fez valer o direito da minoria.

O mesmo cansou de acontecer durante a campanha eleitoral do ano passado. Nas inserções e nos programas que antecederam as eleições, o PT perdeu direitos, foi condenado e teve várias inserções censuradas porque, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, “o horário das inserções deveria ser usado apenas para levar à população informações relativas ao Partido”.

No entanto, na mesmíssima ocasião o PFL usava suas inserções para atacar o governo, mostrar um dominó com ataques a figuras próximas ao presidente, que nada tinham a ver com o partido. E os programas foram ao ar tranqüilamente.

Dois pesos, duas medidas. O que mostra que, para os tribunais, a base aliada do governo é minoria até quando é maioria. Não seria o caso de os aliados do presidente entrarem com uma ação pedindo que fossem respeitados os direitos dessa minoria maior?

Do jeito que as coisas andam no Brasil, caso o governo Lula consiga realizar tudo o que está anunciando, o mundo pode assistir à mais nova jabuticaba brasileira. Com educação melhor, mais saúde e segurança, o candidato indicado por Lula para sucedê-lo será a maior barbada nas próximas eleições. Aí entra a nova jabuticaba: o STF, em defesa das minorias, proíbe a candidatura, por excesso de intenção de votos...

Alguém duvida de que isso possa acontecer? É só perguntar ao ministro Marco Aurélio de Mello. Garanto que ele tem uma tese sobre o assunto.

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Bancos demitem funcionários endividados, que ainda perdem direitos trabalhistas

Os grandes bancos caminham a passos largos para se tornarem as instituições mais odiadas do país. Se não bastassem as filas, os juros escorchantes, o atendimento distante - quando não ausente ou mal educado - as portas giratórias com seus vigias especialmente treinados para não saber como tratar o cliente (eles são tão incapazes e de tal forma a incapacidade é padronizada, que só pode ser fruto de muito treinamento)... Se já não bastassem esses atributos, uma reportagem publicada em O Globo mostra que os bancos demitem funcionários inadimplentes, baseados numa lei antiga ainda em vigor.

O artigo 508 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite que os bancos demitam seus funcionários endividados, sem poder sacar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e sem direito aos 40% de indenização ou ao décimo terceiro salário.

Ou seja, lucram de todas as formas: em cima do trabalho dos funcionários, nas dívidas contraídas por eles e na hora da demissão, pois se livram de pagar o que seriam direitos.

Não é à toa que pesquisa do Instituto Datafolha sobre imagem das empresas colocou um dos grandes bancos (o Unibanco) ao lado das empresas de telefonia, como aquelas que as pessoas não só não indicam como fazem campanha contra.

Mas, enquanto o Banco Central continuar a tomar suas decisões tendo-os como conselheiros, a situação continuará tranqüila para eles e absolutamente intranqüila para os bancários e clientes.

Só que a situação está mudando. Novos ares estão soprando, e eles parecem irreversíveis. Bem ao seu modo, o presidente Lula vai esticando a corda e Henrique Meireles vai assistindo à queda de seus dominós, um após outro. Logo, o presidente do Banco Central será como uma daquelas bóias no meio do mar, flutuando, sem nada que o sustente. Então, ele pedirá o boné e voltará a trabalhar para os patrões, agora de forma declarada.

Quando os bancos, para manter lucro e competitividade necessitarem de funcionários e de boa imagem junto aos clientes, vai ser um Deus nos acuda, em busca de consultorias, treinamentos.

Por enquanto, eles continuam agindo como o Unibanco, que, segundo a reportagem, distribuiu aos funcionários um comunicado no qual informa que, "depois de três cheques devolvidos no período de um ano e meio, o bancário será demitido por justa causa, depois de duas advertências".

Não importa o tempo de casa. Não importa o que ele já rendeu para o banco. Endividado, ele será jogado na rua, sem FGTS, sem a indenização ou o décimo terceiro. Como sucata.

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Hoje é dia de Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa

A seguir, a segunda parte da última entrevista de Clarice Lispector, feita pelo jornalista Junio Lerner para o programa Panorama em 1977, da TV Cultura. A primeira parte publiquei aqui ontem e as demais também estão no Youtube, nos seguintes links:

http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4 – Parte 2

http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s – Parte 3

http://www.youtube.com/watch?v=ptCJzf20rbY – Parte 4

http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA – Parte 5

Se você for à Exposição, mande mensagens, fotos, o que quiser.




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Assim não dá: Polícia Federal prende, Justiça manda soltar

A “Operação Hurricane” da Polícia Federal prendeu 25 pessoas, entre elas, advogados, juízes, desembargadores, policiais e bicheiros. Ontem, o ministro Cezar Peluso, do STF, mandou soltar os desembargadores José Ricardo de Siqueira Regueira e José Eduardo Carreira Alvim, e o procurador do Rio de Janeiro, João Sérgio Pereira. O juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, Ernesto Dória, também era para estar voando com os passarinhos, mas deu azar, porque fora preso em flagrante por porte ilegal de arma.

O presidente da OAB do Rio de Janeiro, Waldih Damous, criticou a medida do ministro do STF. Em entrevista ao Jornal Nacional, ele disse que não entendeu o desmembramento dos processos determinado pelo ministro Peluso.

- “Se formavam uma quadrilha, se praticaram o mesmo crime, por que houve esse desmembramento? Eu não consigo entender isso. De fato, pode soar como cooperativismo, porque não haveria porque desmembrar esse processo”.

Se o presidente da OAB/RJ não entende a decisão do ministro, entendemos menos ainda nós mortais. Afinal, parodiando o poeta, uma quadrilha é uma quadrilha é uma quadrilha.

É bom não esquecermos que as decisões do STF podem ser contestadas e seus membros não estão livres de processo. Cabe ao Senado Federal este papel. Então, por que não se mobilizam os senadores para tratar dessa decisão vergonhosa e corporativista?

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Enriquecimento de Lara Resende é real em dólar

A acusação é do jornalista Luis Nassif em seu mais recente livro, Cabeças-de-planilha (Ediouro, 320 pgs.,RS 39,90). Volto ao assunto, porque ele ainda nem começou a ser esclarecido. Segundo Nassif, o economista André Lara Resende, um dos formuladores do plano Real, fez uso das informações privilegiadas de que dispunha - como formulador do plano Real e membro da equipe econômica – para ganhar muito, mas muiiiiiito dinheiro, como mostra este trecho do livro:
“... algumas instituições começaram a atuar pesadamente no mercado de câmbio, apostando na apreciação do real... a mais agressiva foi a DTVM Matrix... com capital de R$ 14 milhões passou a ter uma carteira de R$ 500 milhões. Seu principal sócio era André Lara Resende“. (Pág. 197)

Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada, Nassif reforça a acusação:

Nassif – (...) Nesse ambiente é que o André Lara Resende monta o banco Matrix especificamente para se aproveitar daquele momento...
Paulo Henrique – Dessa apreciação do Real...
Nassif - Dessa apreciação e, depois, passar o banco pra frente.
Paulo Henrique - Então, eu te pergunto: o que você está querendo dizer é que o André Lara Resende, que ajudou a formular essa conversão de URV para Real sabia que ia ter uma apreciação e abriu um banco para se beneficiar disso
Nassif - Isso.
Paulo Henrique – É isso?
Nassif - É.
Paulo Henrique - O André Lara Resende ...
Nassif - Acho que um pouco mais. Foi cometido um erro, um erro que não tem base na lógica do Plano Real e pessoas - o André foi o que mais se beneficia disso - que participaram da formulação do Plano se beneficiaram disso.
Paulo Henrique - Quer dizer, um erro que o André sabia de antemão que haveria?
Nassif - Isso.

Até o momento, Lara Resende não deu uma palavra sobre o assunto. Para ele, parece, o silêncio é de ouro.

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PAN do RIO: Dominicanos made in China

Era só o que faltava. Depois dos CDs e DVDs piratas, dos tênis, relógios e todas as quinquilharias made in China, chega a notícia de que a República Dominicana vai disputar o torneio de tênis de mesa do PAN com dois dominicanos made in China.

Os chineses estão entre os melhores praticantes do esporte no mundo. Não é para menos, já que é muito popular por lá, o que significa que é praticado por centenas de milhões de mesatenistas. Por isso a República Dominicana importou dois deles para defender as cores da pátria dominicana.

Os chineses – um de cada sexo (nos dias de hoje é melhor deixar claro: um homem e uma mulher) – são favoritos para as medalhas. O objetivo deles é um só: vencer para se classificarem para as próximas Olimpíadas de 2008, que serão disputadas...na China.

Entrevistada por uma repórter da TV Bandeirantes, a dominicana made in China, Wu Xue, confessou que não sabe cantar o hino do país que representa.

Ainda há tempo. Precisa ver se há interesse.

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Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa

A partir de amanhã, dia 24, começa uma exposição sobre a vida e a obra de Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo. Além de comemorar o primeiro aniversário do Museu, a Mostra vai comemorar também os 30 anos da publicação de A Hora da Estrela, um dos livros mais importantes e conhecidos da escritora e jornalista. 2007 é também o ano do 30° aniversário de sua morte.

A exposição tem curadoria de Ferreira Gullar e Júlia Peregrino e cenografia de Daniela Thomas e Filipe Tassara.

No vídeo abaixo, a primeira parte da última entrevista de Clarice Lispector, feita pelo jornalista Junio Lerner para o programa Panorama em 1977, da TV Cultura. As demais partes da entrevista também estão no Youtube, nos seguintes links:

http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4 – Parte 2

http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s – Parte 3

http://www.youtube.com/watch?v=ptCJzf20rbY – Parte 4

http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA – Parte 5

Entrevista com Clarice (Parte 1)




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Defesa de americanos do Legacy culpa controle aéreo

José Carlos Dias e Theo Dias, advogados dos pilotos do jatinho Legacy da ExcelAire, os americanos Joe Lepore e Jan Paladino, entregaram um relatório ao delegado Renato Sayão, da Polícia Federa, responsável pelo caso da tragédia do acidente com o avião da Gol, que provocou a morte de 154 pessoas.

O relatório afirma que a principal causa do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy foi a falha do sistema de controle de tráfego aéreo.

Segundo reportagem de Juliano Machado no Estadão os advogados apontam que o centro de controle de Brasília "alterou erroneamente" o nível de vôo em sua faixa de dados de 37 mil para 36 mil pés sem que houvesse autorizado os pilotos americanos a mudar para essa altitude.

Os advogados também apontam falhas que teriam ocorrido em equipamentos do jatinho Legacy e que não foram comunicadas à ExcelAire pela Embraer.

Falta apenas os doutores responderem:

Por que o transponder parou de funcionar em Brasília e voltou a funcionar, providencialmente, logo após o acidente? Por que o rádio de comunicação do Legacy funcionou normalmente até Brasília, depois ficou subitamente no volume mínimo (fato registrado na caixa-preta), e só voltou a funcionar normalmente após a colisão?

O resto é manobra de advogados para evitar o pagamento das milionárias indenizações.

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‘Haverá um dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo’

A partir dessa frase de Josué de Castro criei o título de um panfleto (como o identificou Gustavo Bernardo) a la Swift (não os enlatados, mas o escritor irlandês) que escrevi, em janeiro/fevereiro de 1998: “A Fome e o medo”. Foi publicado em dezembro de 1999.

Tento no livro mostrar que esse dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo, já chegou.

Desempregados de vários tipos se juntam e formam uma empresa, a Demu – Desempregados do Mundo Uni-vos SA – para tentar uma negociação com os poderosos. Para serem ouvidos, seqüestram os familiares dos principais dirigentes dos grandes grupos multinacionais e lhes enviam uma proposta. O livro é essa proposta.

Segue abaixo um pequeno trecho. Se quiser fazer o download do livro, ele está aí à direita. É só clicar.

(...)... exis­tem vários de nós, como dizíamos, que adorariam pe­gar um de Vós (e fariam isso graciosamente, sem co­brar absolutamente nada, pelo simples prazer), pegar um de Vós, como dizíamos, e rea­gir, ter a oportunida­de de colocar as mãos, ambas, com todos os dedos, em Vosso pescoço, apertá-lo até sentir que Vossa Ex­celência, que é tão sufocante, começa a implorar por ar, que Vossos olhos se esbugalham apavorados, que Vossa garganta quer emitir um som desesperado, um pe­dido de socorro - agora tão inútil, extemporâneo, até ig­nóbil -, que todo Vosso corpo se contorce em convul­sões, enquanto a morte se aproxima de Vós, calma­mente, e ela não parece Vos ter respeito algum, ne­nhum medo na face da morte que se aproxima - e isso Vos desconcerta e apa­vora ainda mais - , e já não há cartão de cré­dito, promessa de emprego, aumento, dinheiro, pro­messa de felicidade, não há nada que afaste aquelas mãos de Vosso pescoço, não há nada mais que Vossa Excelência, que é tão pode­roso, possa fazer, a não ser tentar convencer, com Vossos uivos de sufoco, Vossos olhos esbugalhados, que tudo o que Vossas Excelên­cias, que são, como já dissemos, exce­lentes, tudo o que vêm fazendo foi sem querer, nunca houve ne­nhuma má intenção - foram apenas, como está escrito nas bulas de remédios, "efeitos colaterais indesejá­veis". Mas, infe­lizmente para Vós, é claro, as mãos em Vosso pescoço não concordarão com isto.(...)

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O Bem e o Mal, Steven Weinberg

É de Steven Weinberg, detentor do Prêmio Nobel de Física de 1979, esta bela frase que recolhi do artigo de Antonio Cícero, na Folha de hoje:

"Com ou sem religião, as pessoas bem-intencionadas farão o bem e as pessoas mal-intencionadas farão o mal; mas, para que as pessoas bem-intencionadas façam o mal, é preciso religião".

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À procura do candidato ideal?

O que você pensaria de um candidato com esse perfil, para governar o país?

Ele é um herói de guerra, devidamente condecorado. É vegetariano, não fuma, bebe cerveja muito ocasionalmente. É patriota mesmo, muito preocupado com os valores do país, capaz de dar a vida pela pátria. Amante da pintura e escultura clássicas.

Bom orador. Veio de baixo, enfrentou todas as dificuldades até conseguir seu objetivo. Um líder nato, capaz de motivar e organizar seus seguidores.

Esse homem existe. Ou melhor, existiu. Nasceu num dia 20 de abril como hoje, na cidade austríaca de Braunnau. Seu nome: Adolf Hitler.

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Jornalistas recebiam mensalinho na Câmara

Quando o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), anunciou a mudança de local do comitê de imprensa dos jornalistas credenciados na Câmara, a chiadeira foi geral.

Abriram manchetes até no exterior (no espanhol El País falaram em "confinamento" da imprensa) contra esse atentado à liberdade de imprensa. Disseram que a mudança de local visava prejudicar o trabalho dos jornalistas. Que coisa.

Mas a Folha de São Paulo desta quinta mostrou que a história é outra:

A Câmara oferece há pelo menos 15 anos uma espécie de "plano de saúde" gratuito para os jornalistas credenciados a fazer a cobertura noticiosa da Casa. Eles têm à disposição cerca de 20 das principais especialidades médicas, além de exames clínicos, benesse que é estendida aos seus dependentes e a pais e mães, caso eles não tenham "economia própria".
Só em 2006, jornalistas ou seus familiares usufruíram de 1.874 consultas ambulatoriais, uma média de sete por dia útil. Levando-se em conta que dificilmente uma consulta particular em Brasília sai por menos de R$ 100, a conta ficou em ao menos R$ 187 mil no ano passado.
(...) O atendimento médico gratuito não é a única benesse oferecida pela Câmara a jornalistas ao longo dos anos. Na década passada, era comum a Casa bancar viagens internacionais de repórteres para que eles acompanhassem deputados ou participassem de eventos. Além das passagens, a Câmara pagava uma diária de US$ 200.

Por que, durante todo esse tempo, essa jabazada não foi denunciada?

Jornalistas e repórteres que sempre se encheram de indignação para apontar seus dedos e acusações udenistas jamais escreveram uma linha ou disseram uma palavra sobre o assunto.

Sonegaram dos leitores, telespectadores, ouvintes, que recebiam seu mensalinho da Câmara na forma de um plano de saúde que se estendia aos familiares.

Quero ver agora se vão vazar nomes, como sempre acontece quando não se trata de jornalistas.

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Há 10 anos, jovens incendiaram índio para se divertir

Hoje ainda é dia 19, Dia do Índio, como há dez anos. Só que na madrugada daquele dia 20 de abril de 1997, em Brasília, o índio pataxó Galdino chegou tarde ao alojamento onde dormiria¸ deu com a cara na porta e foi dormir na rua. Acordou com o corpo em chamas, vítima de uma “brincadeira” criminosa de cinco jovens de classe média – um deles menor de idade.

Segundo o que relataram posteriormente à polícia, eles viram o homem deitado, não sabiam que era um índio, imaginaram que fosse um mendigo, e resolveram tocar fogo nele para se divertir, vejam só.

Pois é, na passagem do dia 19, na madrugada do dia 20, a “brincadeira” dos jovens mostrou no corpo de Galdino que o Dia do Índio tinha acabado. Galdino não resistiu à “brincadeira” e morreu.

De lá para cá, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), pelo menos mais 257 índios foram assassinados em todo o Brasil.

Os jovens assassinos de Galdino foram condenados a 14 anos de prisão. Não cumpriram nem três.

Portanto, índios e mendigos, não dêem bobeira de madrugada. Eles estão soltos.

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A estréia do Telejornal do Brasil, com Boris Casoy

Não sei se vocês assistiram ontem à estréia do Telejornal do Brasil, do Boris Casoy, na nova TV JB. Foi, para dizer o mínimo, constrangedor.

Não vou comentar cenário, iluminação etc., mas procurar ater-me ao essencial.

Começa o telejornal e Boris chama uma matéria. A matéria entra e roda inteirinha, completamente sem áudio. Quase dois minutos, tudo mudo. Ninguém corta. Parecia que o Boris estava sozinho no estúdio.

Volta pra ele, e ele não dá uma palavra sobre o assunto. Segue como se estivesse tudo bem. E chama outra matéria. E não é que a nova matéria entra sem áudio como a anterior, e também roda inteirinha, sem ninguém para interromper o mico? Tive certeza de que estava sozinho, nem o vigia assistia ao telejornal.

Volta para o Boris, e ele, nada. Impávido colosso. Chama matéria do próximo bloco.

Aí vem o intervalo. Deve ter durado uns 15 minutos. Imagino o Boris descendo da bancada e correndo até a ilha para plugar o áudio.

Volta ao ar. Boris não toca no problema. Os telespectadores não merecem dele uma única palavra de explicação.

Felizmente, ele chama a reportagem e dessa vez o áudio funciona. Boris então fica mais calmo e passa a exercitar seu esporte predileto, descer o pau no governo de forma irônica.

A maioria das matérias, nota coberta. Mas ele tem um trunfo – ou pelo menos pensava ter um: no último bloco uma entrevista com o empresário Antonio Ermírio de Moraes. Este certamente desceria o malho em Lula.

Mas até o empresário frustrou Boris. Ele tentou de todo jeito fazer Ermírio desancar o governo, mas ele, quando não elogiava, reconhecia que o problema não era só deste governo. Meio sem jeito, Boris encerrou o jornal.

Hoje, às 22h, tem mais. Esperemos que o que aconteceu ontem não se repita, porque aquilo foi “uma vergooooonha”.

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César Maia informa quando desinforma

O ex-prefeito do Rio, ainda no exercício do cargo, César Maia continua a ser o melhor crítico de César Maia. Hoje em seu ex-blog, César começa afirmando o seguinte:

Em geral se analisa a ação da imprensa pelo que publica. Mas há uma análise que deve ser feita e que é tão importante quanto a primeira. É a que trata dos fatos relevantes que não se publicam ou que se publicam de forma a ocultá-los num canto de página interna ou num "caco" em rádio ou TV.

Lá adiante, ele mostra números de uma pesquisa recentemente feita pelo instituto GPP, aqui no Rio. Divulga apenas aqueles em que ele não aparece mal, mas esconde estes, que foram publicados na coluna da Tereza Cruvinel em O Globo:

Avaliação dos governos. Índice ruim/péssimo:
Lula: 27%; Sérgio Cabral: 14%; César Maia: 28.7%

Ou seja, ao não divulgar a péssima avaliação de sua ex-administração, César Maia confirma o que diz em seu ex-blog: “Desinformar,(sic) é certamente informar” (é desse jeito mesmo que está escrito por César, com a vírgula entre o sujeito e o verbo...).

Di de Glauber – Liberou geral

- Era dia do aniversário de Glauber. Lembrei-me dele e do filme ["Di Cavalcanti Di Glauber"], de que gosto muito, e que há muito não assistia. Fui ao site do Tempo Glauber e o filme estava lá, como ainda está.

Foi exatamente isso o que aconteceu e contei ao repórter Lúcio Flávio, do Correio Braziliense, que me entrevistou sobre o assunto. Imediatamente comecei a receber comentários via e-mail e por telefone. Gente que, como eu, gostava do filme e não o assistia há tempos.

Em seguida, Elio Gaspari falou do filme e do blog em sua coluna, e a coisa se espalhou. Até hoje ainda recebo pedidos de informação sobre o site e o filme.

(Aproveitando, anotem aí: clique aqui para ir ao site do Tempo Glauber, que cuida da obra do cineasta e é tocado por sua família. Ou clique aqui para assistir ou fazer o download do Di).

Aliás, na reportagem de Lúcio Flávio, publicada no Correio Braziliense e no Diário Catarinense, João Rocha, que é sobrinho de Glauber e diretor de relações institucionais do Templo Glauber, afirma que já foram feitos milhares de downloads do Di.

Nessa mesma reportagem ficamos sabendo também que após 30 anos o filme está finalmente liberado, o que não deixa de ser mais uma prova do poder da internet:

- A família do Di, ciente de tudo, se calou diante da situação. A reportagem tentou contatos com a família do pintor, sem sucesso. Segundo a secretária particular de Elizabeth Di Cavalcanti, a família encara como encerrado o episódio sobre o filme, não pronunciando qualquer nota.

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11 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás

Ano passado fiz uma postagem sobre o assunto, que continua atual. Troquei apenas as datas.

Os mortos de Eldorado dos Carajás. Revista IstoÉ. Foto de Dida Sampaio/AE
O massacre de Eldorado dos Carajás completa hoje 11 anos. Punidos apenas os 19 agricultores que morreram e seus familiares.

O coronel Pantoja, comandante do massacre, aguarda em liberdade seu último recurso - agora ao STF. Ele já foi condenado a 228 anos de prisão. Chegou a estar preso, mas foi solto pelo ministro do STF Cezar Peluso. Na época, publiquei um comentário aqui no blog, que reproduzo agora:

O Supremo liberou geral

O ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso mandou soltar o coronel Pantoja, comandante daquilo que ficou conhecido como “massacre de Eldorado dos Carajás”. Em abril de 1996, o coronel comandou a tropa da PM que executou 19 agricultores.

Embora o coronel Pantoja tenha sido condenado a 228 anos de cadeia em ação que havia sido julgada até pelo Superior Tribunal de Justiça, o ministro Peluso determinou a liberdade do réu até que se esgotem todas as possibilidades de recurso.

Com esta decisão, o ministro liberou geral: só fica preso quem não pode constituir advogado, quem foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal ou quem prefere a cadeia ao chamado “mundo livre”.

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Nassif acusa André Lara Resende de enriquecer às custas do plano Real

Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, o jornalista Luis Nassif volta a acusar André Lara Resende, um dos formuladores do plano Real, de fazer uso das informações privilegiadas de que dispunha - como formulador do plano e membro da equipe econômica – para ganhar muito, mas muiiiiiito dinheiro, como mostra este trecho do livro que Nassif está lançando, “Os cabeças-de-planilha”:

“... algumas instituições começaram a atuar pesadamente no mercado de câmbio, apostando na apreciação do real... a mais agressiva foi a DTVM Matrix... com capital de R$ 14 milhões passou a ter uma carteira de R$ 500 milhões. Seu principal sócio era André Lara Resende“. (Pág. 197)

A seguir, trecho da entrevista:

Nassif – (...) Nesse ambiente é que o André Lara Resende monta o banco Matrix especificamente para se aproveitar daquele momento...
Paulo Henrique – Dessa apreciação do Real...
Nassif - Dessa apreciação e, depois, passar o banco pra frente.
Paulo Henrique - Então, eu te pergunto: o que você está querendo dizer é que o André Lara Resende, que ajudou a formular essa conversão de URV para Real sabia que ia ter uma apreciação e abriu um banco para se beneficiar disso
Nassif - Isso.
Paulo Henrique – É isso?
Nassif - É.
Paulo Henrique - O André Lara Resende ...
Nassif - Acho que um pouco mais. Foi cometido um erro, um erro que não tem base na lógica do Plano Real e pessoas - o André foi o que mais se beneficia disso - que participaram da formulação do Plano se beneficiaram disso.
Paulo Henrique - Quer dizer, um erro que o André sabia de antemão que haveria?
Nassif - Isso.

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O massacre de Virginia Tech, Michael Moore e os economistas brasileiros

Segundo o New York Times, o presidente da Virginia Tech (onde aconteceu o massacre), Charles W. Steger, confirmou que o atirador foi estudante da Universidade:

- Ele era um asiático que viveu em um dos dormitórios do campus.

O jornal do campus da Virginia Tech publica uma lista com a identificação de 14 mortos. Entre eles, há quatro professores. Os demais são estudantes de turmas diferentes.

Ou seja, mais uma vez um desmiolado, sem nada na cabeça mas com muitas balas na agulha, sai atirando a esmo sobre colegas e/ou ex-colegas nos Estados Unidos. Não é de estranhar que isso aconteça num país onde de vez em quando se mata um presidente a tiros.

Num país fortemente armado, onde comprar um rifle é tão fácil quanto comprar um chiclete, como documentou Michael Moore, em Tiros em Columbine.

No entanto, de lá pra cá nada mudou. Até mesmo no Brasil, com a vitória dos defensores das armas no plebiscito.

O problema de Moore é que ele escolheu para si o papel de bufão, por isso não é levado a sério. Ele tem muito a aprender com ex-diretores do Banco Central e economistas de todo tipo, cabeças de vários planos que quebraram o Brasil algumas vezes. Eles mantêm o ar blasé e o corte impecável do cabelo e do terno à frente de suas trapalhadas. Assim continuam com espaço livre nos jornalões para deitar falação sobre a economia brasileira. Muitos deles saíram do governo diretamente para os bancos, eliminando assim um grau na cadeia de chefia.

Se Moore tivesse o jeitão deles, talvez o episódio de Columbine fosse levado a sério e a tragédia de agora na Virginia pudesse ser evitada.

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Operação Furacão atinge Beija-Flor

No centro do furacão da Operação Idem, o delegado da Polícia Federal Emanuel Henrique de Oliveira afirmou que houve fraude na vitória da Beija-Flor no desfile deste ano das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Via e-mail (o prefeito só aparece quando a notícia é boa e ele pode faturar politicamente) o ex-prefeito do Rio, ainda no exercício do cargo, disse não acreditar em fraude.

Acreditar ou não é uma questão de fé. O delegado não deve ser louco para dar uma informação dessas sem que tenha pelo menos fortes indícios de que a compra de jurados ocorreu.

A justificativa de que ninguém poderia comprar 40 jurados (ou pelo menos seria muito difícil fazê-lo) também não procede. Não é necessário comprar os 40. Quatro deles tirando pontos aqui e ali das principais concorrentes já dariam conta do recado.

Mas isso tudo será devidamente esclarecido (se essa minha santa ingenuidade estiver certa) no decorrer do processo. Agora, a pergunta que faço é:

- Qual a importância da compra de um jurado ou outro comparada com a entrega da administração do desfile das Escolas de Samba aos bicheiros, como fez César Maia?

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Empresas de ônibus do Rio querem que a gratuidade não seja grátis

Um primor de cinismo a carta do presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), Lélis Marcos Teixeira, ao jornal O Globo. Ele afirma que “as empresas de ônibus do Rio de Janeiro nunca foram contrárias à concessão do benefício da gratuidade para crianças, idosos e portadores de necessidades especiais”, desde que (como deixa claro mais adiante) “o custo das gratuidades, atualmente em cerca de 20 milhões de passagens gratuitas diárias, não fique com as empresas de ônibus”. Ou seja, desde que a gratuidade não seja grátis.

Alguém precisa explicar a este senhor que o transporte público é uma concessão que as empresas que Teixeira representa recebem do Estado, e a gratuidade é sua contrapartida. Simples assim. Quem não estiver satisfeito, que largue o osso.

Aliás, cadê aquele grupinho que é louco por uma CPI? Que tal uma CPI das empresas de ônibus? Gostaria de ver colocada uma lupa bem possante sobre a contabilidade dessas empresas e a relação promíscua que têm com parlamentares de vários partidos.

Mas isso não vai acontecer, porque na caixa-preta das empresas de ônibus mora o caixa dois de muitas campanhas.

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Luis Nassif: A equipe econômica do real comprometeu o futuro do país

Vale a pena ler a entrevista de Luis Nassif a Daniel Bramatti no Terra Magazine. Mais uma vez, o jornalista, escritor, músico e blogueiro aponta sua artilharia para os cabeças-de-planilha, especialmente André Lara Rezende, que ele acusa de ter enriquecido às custas do câmbio, na época em que era um dos formuladores da política econômica do governo FHC.

(...) “eles tomaram um conjunto de medidas técnicas cuja única lógica foi permitir enormes ganhos para quem sabia para onde o câmbio ia caminhar. E o grande vitorioso desse período é o André Lara Rezende, que é um dos formuladores dessa política cambial.”

(...) “O banco Matrix ganhou centenas de milhões de dólares naquele período. O Matrix é do André Lara Resende. E outros bancos de investimento ganharam. Quando você pega o Encilhamento, do Rui Barbosa, você dá o direito de liquidez, de emitir moeda, para um determinado banco. A liquidez em si garante uma certa riqueza, mas, com um ambiente especulativo, essa riqueza pode ser multiplicada. No tempo do Rui Barbosa era a Bolsa de Valores e o mercado de câmbio. No Real era o mercado futuro de câmbio, o mercado de derivativos. No que consistia o jogo: fazer uma aposta na apreciação do real e ficar na ponta vendida do mercado. Só que, para que desse certo, era preciso afastar os grandes bancos desse jogo. Porque se o câmbio começasse a cair muito, os grandes bancos, que tem acesso a linhas de crédito em dólar, poderiam entrar forçando do lado dos comprados. Eles afastaram os grandes bancos definindo uma flutuação de mais 15%, menos 15%, que criava um fator de risco muito grande. Os bancos comerciais não iam entrar porque corriam risco de descasamento entre ativo e passivo. Então ficam no jogo os bancos de investimento - um grupo de bancos de investimento que têm reuniões alguns meses antes do Real - e, do outro lado, um conjunto de empresas que queria comprar dólar para hedge. Essas empresas apostavam que o dólar poderia ir até a R$ 1,08. Com o modelo que eles adotaram, aquela taxa de juros violenta, e o Banco Central garantindo que o dólar não passaria de R$ 1, criou-se todo um ambiente para a apreciação do câmbio. Na primeira tacada ele vai para R$ 0,90 e os vendidos ganham um horror.”

Nassif considera que os “erros” da equipe econômica do Real (“erros” que ele julga propositais – “Eles eram muito preparados e muito competentes para ser um erro teórico um desastre daquelas proporções”) prejudicam o país até hoje:

- Essa conta comprometeu o futuro do país inexoravelmente. A gente não perdeu só dez anos de crescimento, a gente perdeu a maior chance da história.

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Creative Commons e a polêmica dos direitos autorais

Se você quer conversar sobre dinheiro, economia, procura um economista. Se quer falar sobre cultura, procura um artista. Certo? Errado. É mais fácil bater um papo sobre os últimos shows, filmes e o mundo cultural em geral com um economista do que com um artista. A conversa destes últimos geralmente gira em torno da falta de dinheiro, da busca do patrocínio, dos detalhes da lei tal, da confecção de orçamentos, projetos etc. É um ninho de magafagafos cheio de mafagafinhos. Quando se unem os dois assuntos – grana e cultura -, como na questão dos direitos autorais, aí é que o bicho pega.

O escritor Ruy Castro sentiu isso na pele, quando do lançamento de sua biografia de Garrincha, que foi apreendida pela Justiça, por causa da família do jogador, que queria receber direitos autorais da vida (sic) do genial craque do Botafogo e da seleção brasileira.

O mesmo está acontecendo agora com o filme de Lírio Ferreira e Hamilton Lacerda, com o belo título de “Cartola – Música para os olhos”, sobre a vida de outro brasileiro genial, o mestre Cartola da Mangueira. Familiares do cantor e compositor também brigam na justiça para receber uns caraminguás da produção do filme.

Creatives Commons versus Compositores

Em sua edição de sábado, o jornal O Globo também mostrou que no mundo musical a situação não é diferente. De um lado está a ONG Creative Commons, que defende novas formas de distribuição do direito autoral, que facilitariam a produção e divulgação da cultura. Do outro lado os compositores, que acham que o objetivo último da ONG é acabar com o direito autoral.

Para o compositor Fernando Brant, letrista de alguns dos maiores sucessos da música brasileira, entre eles Travessia (com Milton Nascimento), o Creative Commons é “um engodo”. Presidente da União Brasileira dos Compositores, Brant declarou na reportagem do jornal que “Eles defendem que a música deve ser de graça, que o artista vai ganhar dinheiro com os shows. Mas o autor não faz show!”.

Para a advogada Deborah Sztajnberg, da Comissão de Direito Autoral e Entretenimento da OAB-RJ, o Creative Commons “faz um desserviço ao sugerir que os direitos autorais estão ultrapassados”.

Já o coordenador do Creative Commons no Brasil, Ronaldo Lemos, afirma que eles não são contrários ao direito autoral:

- Não trazemos inovação jurídica, e sim nas práticas de licenciamento. Quando o autor antecipa os usos liberados de sua obra, permite que ela circule mais facilmente.

O fato é que é absolutamente compreensível a grita dos autores. Quase todo mundo acha que fazer música é uma moleza, que sua vida daria um romance, e que ele só não o escreve porque é uma pessoa muito ocupada, ao contrário dos escritores, que vivem no mundo da lua e na boa vida.

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Elio Gaspari e o 'Risco Bevilaqua'

Da coluna de Elio Gaspari hoje:
Ao tempo em que os tucanos cantavam, espalhou-se a crença segundo a qual uma interferência do governo na ortodoxia do Banco Central dispararia uma sucessão de renúncias na sua diretoria, espalhando descrédito no
mercado.
Algo como os Mosqueteiros: Um por todos, todos por um.
Foram-se embora do BC dois legionários dos juros altos (Afonso Bevilaqua e Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Credit Suisse First Boston) e não aconteceu nada.
Se o comportamento do mercado reflete juízos políticos, a saída de Bevilaqua e Azevedo foi bem recebida. Quando Bevilaqua deixou o BC, o Risco Brasil estava em 196. No dia seguinte, caiu para 191. Na semana passada, depois da saída de Azevedo, foi a 156.
Essa fidelidade é uma fantasia do terrorismo financeiro. O mercado gosta de dinheiro, não de diretores do BC.
Na verdade, o tal comportamento do mercado, quando colocado para quarar ao sol da realidade, revela-se um fantasminha de lençol, feito menos para assustar do que para lucrar em cima dos temores que provoca.

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César Maia e a Operação Hurricane

O ex-prefeito do Rio, ainda no exercício do cargo, César Maia, comanda a cidade do Rio há quase duas décadas. Foi prefeito, fez seu sucessor, depois voltou à Prefeitura e se reelegeu para este mandato de agora, quando nada na cidade funciona, e ele - como ex-prefeito - toca seu ex-blog, olimpicamente, como se não tivesse nada a ver com isso. De vez em quando ele aparece nos jornais, sempre sorridente, cumprimentando alguém que colocou - ou vai colocar - mais algum dinheiro na caixinha da Prefeitura.

Daí a minha perplexidade com o que aconteceu nesta semana. No dia 12, César Maia publicou no Diário Oficial o decreto 27.791, que proíbe o uso das máquinas de caça-níqueis em qualquer estabelecimento.

Um dia depois, a Polícia Federal desencadeia uma Operação ultra-secreta, chamada Hurricane, com policiais vindos de outros estados, e prende várias pessoas - entre elas bicheiros, desembargadores, delegados, juízes - ligadas à máfia dos caça-níqueis, que César proibiu no dia anterior.

O que aconteceu? O que teria levado o ex-prefeito, ainda no exercício do cargo, a publicar o tal decreto 15 anos após estar à frente da Prefeitura e exatamente um dia antes da Operação Hurricane? O que terá levado César a essa atitude? Apenas uma incrível coincidência? Ou a Operação não foi tão secreta assim? E, se ela não foi tão secreta assim, por que o prefeito se antecipou a ela com o decreto?

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O vídeo 'perdido' do bispo Macedo

Não passa um mês sem que eu receba pelo menos um pedido via e-mail do vídeo do bispo Macedo, que já postei aqui algumas vezes. Resolvi então postá-lo no Youtube, assim resolvo o problema de todos.

Mesmo assim, eis aqui mais uma vez o tal vídeo, porque se é bom o calor que a Record está dando na Globo, não podemos esquecer o que está por trás da emissora da Universal. Nesse sentido, o vídeo é muito educativo.

O vídeo mostra uma reunião onde o bispo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus ensina a uma platéia de novos bispos e pastores como eles devem pregar e conquistar novos fiéis depositantes.



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Sobre o 'Código de Conduta dos Blogs'

Uma confusão envolvendo ameaças de morte a uma blogueira foi o ponto de partida para que Tim O´Reilly – um dos gurus da internet, criador do termo Web 2.0 - decidisse finalmente pôr em prática o que já passava por sua cabeça – e pelas de vários outros internautas, especialmente blogueiros: a criação de um Código de Conduta para os Blogs. A ele se juntou Jimmy Wales, um dos criadores da Wikipedia, e ambos colocaram para discussão um rascunho do que seria esse código.

A versão deles (escrita basicamente por O´Reilly) está aqui (em inglês). Há também uma versão em espanhol, aqui. E uma versão muito resumida, em português, aqui.

No tal rascunho eles propõem o fim dos comentários anônimos (as pessoas terão que fornecer um e-mail válido, embora possam usar pseudônimos); não permitir ataques, ofensas, calúnias ou injúrias; respeito ao direito autoral. Ou seja, nada além de uma relação civilizada. A única novidade, para mim, foi tomar conhecimento da palavra troll, que significa aquela pessoa que freqüenta os blogs para tumultuar, ofender e difamar.

Vai colar? Não sei. Tenho minhas dúvidas. Depois do 10MinutesMail, por exemplo, a noção de e-mail válido perdeu o sentido.

Mas, vou além: há necessidade mesmo desse código?

Em minha opinião os blogs devem crescer livremente, refletindo a personalidade de seu responsável. Ele deve estar subordinado apenas a sua cabeça e às leis do país. Injuriou, caluniou, que responda na justiça.

Meu blog completou dois anos neste último 1° de abril, o dia da Mentira – excelente para iniciar um blog sobre a política e os políticos. De lá pra cá já vi nascerem e morrerem incontáveis blogs. Mas o meu pensamento sobre os blogs e os comentaristas continua o mesmo de uma postagem que fiz, com esse título, em outubro de 2005, e que reproduzo a seguir:

Os Blogs e os Comentaristas

Para muitos dos que ainda não criaram seus blogs, os que o fizeram são apenas, ou bastante, narcisistas.
Não há como negar o narcisismo, mas levanto um outro ponto de vista: mais narcisistas são os que alugam a mulher (ou o marido), os vizinhos, o dono do bar, os colegas de trabalho e a família com suas opiniões sobre tudo e todos, mas não se arriscam a postá-las num blog.
Porque num blog – e aí está o grande barato dele – há a possibilidade dos comentários... E você não sabe nunca quem vai ler aquilo que postou. Muito menos como suas palavras serão interpretadas. Mais ainda: os que o criticarem não o estarão fazendo em particular, mas também para toda a rede...
Você fica nu em público – e sem photoshop...
É um pouco de exibicionismo sim, mas é também dar a cara à tapa, ousar opinar num mundo cada vez mais pasteurizado.
Postar num blog tem um sentido mais amplo que apenas exibir-se: é expor-se ao contraditório. Falamos para ouvir também. Opinamos para ouvir as opiniões dos outros.
Por isso é tão chato quando as pessoas não discutem a postagem que comentam e ficam falando de assuntos que nada têm a ver com ela. Você fala de borboletas, e eles vêm falar que você é Lula ou FHC. Não apreciam nada do vôo...
Fazer o quê? Há os petistas e os antipetistas. Os governistas e os antigovernistas. Ou melhor: a mim me parece que são os antipetistas contra os antiantipetistas. E os antigovernistas contra os antiantigovernistas. Porque essas pessoas são apenas do contra, do “anti”, não querem o diálogo, a opinião diferente.
É uma pena. Porque com os grupos de comunicação cada vez mais nas mãos dos grandes conglomerados, a notícia independente vai estar cada vez mais na rede.
Sorte sua, leitor, que sabe aproveitá-la. Azar de quem ainda não o faz – mas que, espero, com o tempo aprenderá. [Atualização: esta expectativa não tenho mais. Para muitos comentaristas os blogs são apenas mais um local para descarregarem suas insatisfações, seus ressentimentos, num estranho exibicionismo]

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O 'Código de Conduta dos Blogs'

Vocês leram sobre o Código de Conduta dos Blogs? O que acham?

Vou fazer uma postagem sobre isso aqui, ainda hoje.

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Vovó hippie comemora no Iraque o décimo aniversário da criação dos blogs

Para quem não sabe, neste mês de abril comemora-se o décimo aniversário dos blogs. É longa a discussão sobre quem teria sido o primeiro blogueiro, mas não se discute que abril de 1997 foi o mês do blog.

Para comemorar, o jornal espanhol El Pais traz uma reportagem divertidíssima contando a história de uma avó hippie, da Califórnia, que se mandou para Bagdá e dá frente de batalha manda postagens contra a guerra e contra Bush.

Para conseguir dinheiro para a passagem, Jane Stillwater, de 64 anos, ficou mais de um ano comendo apenas sanduíches.

Pra lá de Bagdá, ela manda seu recado:

"Estou cansada de estar no Iraque. Estou cansada de enfrentar a tragédia aqui, dia após dia. Este país tem problemas. Este país está fodido"

O blog de Jane Stillwater, direto de Bagdá, está neste link.

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Henri Sobel não esteve no enterro de Vladimir Herzog

Um leitor me enviou por e-mail um link para uma postagem do jornalista Luiz Weis, ainda sobre o rabino Sobel. Vale uma lida na íntegra da postagem. Ela comenta uma medida editorial da Folha, ao mesmo tempo em que dá uma nova visão da real participação do rabino no enterro de Vladimir Herzog.

O texto a seguir é de outro jornalista, Rubens Glasberg:

Sobre Sobel, nesse episódio, pode-se hoje seguramente dizer o seguinte:

1) Nem ele e nenhum outro rabino estiveram no velório e no enterro. D. Paulo Evaristo foi ao velório e manifestou surpresa pela ausência de um rabino.

2) Houve pressões para que o cardeal não organizasse depois o culto ecumênico na Sé. O rabino Sobel, segundo testemunhas, estava entre os que não queriam a cerimônia pública.

3) O culto ecumênico saiu pelo empenho e determinação do cardeal.

4) O rabino Sobel acabou comparecendo ao ato (o que, sem dúvida, foi prova de coragem) e lá fez seu nome no Brasil e ganhou notoriedade internacional.

5) Apesar de procurado depois pelos advogados da família Herzog, ele não prestou depoimento no processo movido contra a União.

Quero ressaltar que o comportamento do rabino e dos demais líderes da comunidade judaica na época não diferiram em nada do comportamento do resto da sociedade brasileira. Todos tinham medo, muito medo. Médicos não-judeus que viram o corpo de Vlado também calaram. Vale lembrar ainda que muitos brasileiros originários da comunidade judaica foram assassinados na luta contra a ditadura ou perderam preciosos anos de sua juventude na prisão e no exílio.

Ainda falta uma explicação objetiva: por que Herzog não foi enterrado na área reservada aos suicidas? Autorizar o enterro em outro local – como aconteceu – significava bater de frente com a versão de suicídio espalhada pela ditadura. Não deve ter sido uma decisão fácil. Nem de terceiro escalão.

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Zuenir Ventura e Henry Sobel

Aproveitando o fato de que estamos em plena comemoração da Semana Santa cristã, publico este trecho do artigo de hoje do jornalista Zuenir Ventura, de O Globo, sobre o rabino Henry Sobel, que vem sendo achincalhado por muitos.

Não sou judeu, mas nesse caso de Sobel, sim, sou judeu – se é que me entendem.

Há 35 anos à frente da Congregação Israelita Paulista, Sobel teve algumas atitudes cívicas cujas dimensões transcenderam a comunidade judaica. Ao desobedecer os militares e se recusar corajosamente a sepultar como suicida o jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado nas dependências do II Exército em 1975, ele ajudou a apressar o fim da ditadura. Pela tradição judaica, o suicídio é crime, e quem o comete deve ser enterrado fora do cemitério.

Pois ele não só tomou a decisão de sepultá-lo numa área nobre do cemitério israelita, como presidiu a solenidade. A denúncia era indireta, mas o país entendeu o que ele queria dizer com o gesto - que a versão oficial era mentirosa, que o governo torturava e matava em seus quartéis.

Sete dias depois, uma cerimônia ecumênica em memória de Vlado, celebrada conjuntamente pelo cardeal de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, por D. Hélder Câmara, pelo pastor James Wright e por Henry Sobel, transformou-se num poderoso protesto contra a ditadura. A partir de então, o rabino promoveu importantes ações que aproximaram as religiões, incluindo a muçulmana. A democracia e o ecumenismo muito devem a ele.

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Onde está o nosso anti-americanismo?

Esta postagem é para todos aqueles que acham que nossa política externa está toda equivocada, é anti-americana etc., e deitaram e rolaram quando da entrevista ressentida do ex-embaixador Abdenur à Veja (clique aqui para ver comentário sobre ela).

Segundo reportagem publicada agora pela manhã na BBC Brasil, a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, acha que a liderança de Lula poderá salvar a rodada de Doha.

''O presidente Lula tem um papel especial como líder global. Ele sabe de seu potencial para ajudar a promover e até mesmo para salvar a Rodada de Doha''

Contrariando o tal anti-americanismo, a representante comercial qualificou o encontro entre o presidente Lula e o líder americano, George W. Bush, no último sábado, em Camp David, como ''excelente'' e afirmou que a reunião dos dois líderes contribuiu para que a posição dos dois países em relação a Doha se estreitasse ainda mais.

''Brasil e Estados Unidos têm interesses bem semelhantes em relação a Doha. Ambos queremos um desdobramento que seja ambicioso e equilibrado.''

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Bolívia vai acabar com o analfabetismo até o final do ano que vem

Li no Blog do Emir a notícia de que até o final do ano que vem não haverá mais analfabetos na Bolívia.

Utilizando-se do método cubano de alfabetização (em Cuba, é bom lembrar, não há analfabetos), chamado “Yo, si Puedo” (Eu, sim, Posso) o governo de Evo Morales está conseguindo cumprir a meta de acabar com o analfabetismo em 30 meses, lançada em março de 2006.

Além da ajuda de Cuba, Evo conta com a da Venezuela (onde, também é bom lembrar, não há analfabetos). O governo de Chávez colaborou com quase dez mil geradores a energia solar e 200 mil livros.

O fato é tão espetacular que mesmo o principal jornal de oposição a Evo Morales (La Razón) o elogia em editorial.

Por que o presidente Lula não lança algo semelhante no Brasil? Acabar com o analfabetismo no país até o final de seu governo seria uma bela conquista.

Se “eles, sim, podem”, por que nós não podemos?

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Como ajudar a agência Carta Maior

O site da Carta Maior andou fora do ar. Desde ontem venho tentando acessá-lo em oportunidades diversas e somente agora consegui. Foi com alívio que vi que ainda está lá.

Todos sabem da crise que atinge a Carta Maior em cheio – e os que não sabiam estão sabendo agora. Mas há uma forma de ajudá-la, assim explicada por seu editor Flávio Aguiar:

Temos duas propostas sobre esta ajuda concreta. Em primeiro lugar, é inegável que a divulgação de nossa precariedade financeira gerou uma repercussão de monta entre os leitores não só da Carta Maior, mas de toda a imprensa alternativa àquela das grandes corporações. Acrescer esta repercussão é fundamental para ajudar a Carta Maior e a democratizar a comunicação no Brasil. Ou seja: solicitamos aos leitores que divulguem os editoriais da Carta Maior, que escrevam seus comentários e os enviem para nós, e que peçam a seus colegas, amigos, companheiros e companheiras de redes, blogues, faculdades, de trabalho, de escola etc. que também o façam. Isso é fundamental.

Em segundo lugar, é fundamental inscrever-se no nosso cadastro. Na página principal da Carta Maior, os leitores encontrarão a pequena janela “Cadastro – clique aqui para se cadastrar”. Os que assim procederem e preencherem os dados necessários estarão se cadastrando para receber o boletim diário da Carta Maior. Nossa página trabalha em sistema de “copyleft”, ou seja, todo o material nela divulgado é de domínio público, bastando reproduzi-lo corretamente, com a indicação da fonte e do autor. Mas o leitor cadastrado, que recebe o boletim, transforma-se num assinante da Carta Maior, recebendo em seu endereço eletrônico a atualização da página assim que ela é feita. Atualmente temos 33.093 leitores cadastrados. Eles são a prova documentada da repercussão da página da Carta Maior.

É necessário multiplicar esse número, para que os responsáveis por agências, empresas e demais entidades que trabalham com publicidade ou patrocínio em relação a este tipo de veículo se dêem conta de sua importância. Assim, pedimos aos nossos leitores e leitoras que se cadastrem na página da Carta Maior, e que peçam a seus amigos, colegas, correligionários etc. que também o façam.

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'Jornalismo de resultados' de O Globo quer derrubar Pires

Há quase um ano, criei aqui a expressão “jornalismo de resultados”. Reproduzo aquela postagem, depois volto a esta:

A moda do 'jornalismo de resultados'

Depois do "futebol de resultados", com o resultado que vimos, agora é a vez do "jornalismo de resultados". Para seus defensores, este tipo de jornalismo é o jornalismo habitual, mas sem as frescuras. É irmão do "futebol de resultados", porque para ambos não interessa jogar limpo, respeitar as regras e os adversários - o importante é o resultado.

Por exemplo: se alguém é acusado de um crime e ele nos parece realmente culpado, por que chamá-lo de acusado, se podemos chamá-lo de criminoso? Por que devemos ouvir a versão dele, se sabemos que ele irá mentir, porque assim agem os de seu partido, religião, classe social?

Portanto, onde o jornalismo escreveria que o deputado Fulano de Tal, acusado de desviar verbas da educação em benefício próprio, alegou X e disse que apresentaria as provas Y, o "jornalismo de resultados" diria simplesmente o deputado Fulano de Tal desviou verbas da educação em benefício próprio.

Se duas pessoas têm visões opostas sobre um mesmo assunto, para que ouvir as duas partes? Para o "jornalismo de resultados" deve-se escolher apenas a versão do "lado certo" e ignorar solenemente a outra. Esse "lado certo", é claro, é o do veículo, jornalista ou blogueiro.

Para os praticantes desse "jornalismo" só existe um pecado mortal no veículo, jornalista ou blogueiro: a falta de posicionamento. Se você, por exemplo, acha que o presidente Lula é uma besta, isso deve ficar claro em todas as reportagens ou postagens. Como nessa história:
O Papa vem ao Brasil para visitar os fiéis e resolve ir a Manaus conhecer o Rio Amazonas. Lula vai com ele, junto com toda a comitiva, mais aquele monte de gente da imprensa. Chegando lá, resolvem passear de barco pelo rio, mas, num solavanco das águas, o Papa cai e começa a se afogar.

Pânico. Ninguém sabe o que fazer, pois as águas estão agitadas demais. O papa se distancia cada vez mais do barco. Lula, então, pula no rio, mas em vez de afundar começa a... andar sobre as águas!!! Ele caminha sobre o rio até chegar junto ao Papa, estende-lhe a mão e o leva com segurança para o barco.

Manchete do "jornalismo de resultados":

"LULA NÃO SABE NADAR!"

Reparem agora o “jornalismo de resultados” de O Globo.

Abaixo, duas reproduções da edição de hoje.

A primeira imagem foi retirada da primeira página.

A manchete diz: “FAB recusou avião para Pires”. Continuamos lendo e ficamos sabendo que “[Pires] tentou voltar a Brasília, mas a FAB não cedeu aeronave”. Nos é indicada a página 20 para obtermos mais informações.

A segunda imagem foi retirada da matéria da página 20. Nela, lemos que o ministro pediu um avião da FAB, “mas foi avisado de que não havia aeronave disponível”, o que é completamente diferente de uma recusa. Não se recusa o que não se tem para oferecer.

Se não é má-fé, o que é?





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Reformas Trabalhista e Previdenciária apenas para mexer nos direitos dos trabalhadores e aposentados e pensionistas

Hoje em O Globo, o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, afirma que é necessária uma reforma trabalhista para que o Brasil possa crescer e gerar empregos. Como durante todo seu artigo ele chama os direitos dos trabalhadores de “direitos suíços”, é de se supor que ele defenda uma modificação nesses direitos. Evidentemente para reduzi-los. Até aí nenhuma novidade.

O que me chama atenção é que toda vez que se fala em reforma trabalhista ou previdenciária no Brasil os gênios de plantão querem mexer nos direitos dos trabalhadores e dos aposentados e pensionistas. Combate à sonegação, cobrança das dívidas previdenciárias das empresas, nada disso. Eles querem cortar dos trabalhadores e dos aposentados e pensionistas.

Enquanto isso...

No domingo, em reportagem de Marília Martins no Globo, o promotor distrital de Manhattan, Robert Morgenthau, afirmou que, num período de apenas cinco anos, políticos e empresários brasileiros transferiram cerca de US$ 60 bilhões para paraísos fiscais. Só essa graninha cobre com folga o déficit da Previdência e ainda pode gerar milhões de empregos diretos e indiretos, se aplicada no Brasil.

Que tal, em vez de cortar direitos dos trabalhadores e pensionistas, estancar essa sangria de US$ 12 bilhões por ano, US$ 1 bilhão por mês? E olha que esses valores se referem apenas ao dinheiro que passeou por Manhattan antes de tomar o rumo dos paraísos fiscais.

Há muito dinheiro brasileiro viajando pelo mundo, que deveria ser repatriado, antes de se discutir a extinção de qualquer direito.

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Arma-se o cenário para o ‘grande golpe’

Nos jornais e nos blogs e portais da internet só se fala em crise. No entanto, o mercado está tranqüilo. O risco país, lá embaixo, e descendo. O dólar também. Todos os indicadores em velocidade de cruzeiro (já que a linguagem aeronáutica está na moda).

Mas, repito, só se fala em crise. Em golpe. Tudo bem. Faz parte do jogo político. Quem está na oposição quer esvaziar a situação. Esta por sua vez tem que acusar a oposição de querer derrubá-la.

Mas a coisa já se aproxima do ridículo. Um dos gurus dos “indignados úteis” pede abertamente a renúncia de Lula. Quer isso mesmo? Quer nada. O outro guru deles disse em alto e bom som que a saída de Lula da presidência acabaria com sua coluna, por falta de assunto.

Do outro lado, a mesma coisa. Uma grita desproporcional, diante da falta de importância da tal crise da aviação para o futuro das instituições. Não há mais guerra fria. Não existe o “perigo comunista”. Pelo contrário, Lula é um fator de equilíbrio na América Latina, usado pelos EUA para controlar los hermanos venezuelanos e bolivianos. Então, golpe para quê?

Até o momento essa histeria toda produziu uma única batalha: uma trabalhadora, atendente de um balcão de companhia aérea, foi esbofeteada covardemente. O valentão, após o tapa na mulher, mostrou toda a sua disposição quando foi cobrado por um homem: botou o rabo entre as pernas e ainda acabou levando uns merecidos safanões.

De todo modo, o que os dois lados estão conseguindo é passar para a população a idéia de caos aéreo, de aeroportos mal administrados. A quem interessa isso?

Aos que querem a privatização dos aeroportos.

É isso o que está por trás de toda essa “crise”. É por isso que se defende tanto a tal CPI do Apagão. Sabem que ela não vai dar em nada, mas desmoraliza ainda mais o setor. Isso interessa aos nossos “homens de negócio”. Depois do investimento de milhões e milhões em obras de reformas, bancadas pelos cofres públicos (até sob suspeita de desvio de verbas), eles querem de mão beijada administrar o filet mignon de nossos aeroportos.

Esse é o “grande golpe” que está sendo armado.

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Notícias Desaparecidas: Por que não se investiga o que foi levantado na CPI do Banestado?

Eu já havia feito uma postagem aqui cobrando isso. Repito-a agora. Quem sabe dessa vez...

Falta uma CPI

(...) tudo isso aconteceu e continua acontecendo por conta da “abortada” CPI do Banestado.

Para quem não está ligando o nome à coisa, esclareço: a CPI do Banestado estava investigando mutretas com as CC-5, contas assim chamadas porque foram criadas por uma carta circular n° 5 do Banco Central.

As CC-5 não permitiam fazer movimentação em dinheiro do Brasil para o exterior, e vice-versa, acima de R$ 10 mil. Até que no governo FHC o Banco Central estabeleceu uma autorização especial para movimentação acima desses valores, alegando que a finalidade era facilitar o repatriamento dos dólares movimentados na fronteira Brasil-Paraguai.

Apenas cinco bancos foram autorizados a fazer essa movimentação: Banco do Brasil, Banco Real, Banestado (que era o banco do estado do Paraná), o Bemge (banco do estado de Minas Gerais) e o Araucária.

Se os outros eram ou megabancos ou banco médios, o Araucária...bem, o Araucária tinha duas agências, uma em Curitiba e outra em Foz do Iguaçu, e num andar alto. Por que ele entrou na autorização, em meio a bancos graúdos, não sabemos, já que a CPI ficou pelo meio do caminho. Mas dizem que é um banco relacionado à família de um famoso senador por Santa Catarina...

Acontece que, a partir dessa autorização, o uso das CC-5 explodiu. Dinheiro vinha do Brasil todo, “passava” por Foz, ia e voltava, numa lavagem fenomenal que atingiu a cifra espantosa de 75 bilhões de reais. O que, ao câmbio de hoje, dá mais de 30 bilhões de dólares.

Em entrevista à revista Caros Amigos de setembro, o procurador da República Vladimir Aras declarou que a desfaçatez chegou a tal ponto que carros-fortes saíam de uma agência de banco em Foz do Iguaçu, davam uma volta na praça e retornavam, fingindo que haviam ido até o Paraguai. Levavam o dinheiro para passear e ele voltava limpinho, incrível, não?

No entanto, apesar – ou por causa – desse vasto material colhido pelo Ministério Público, a CPI deu em nada. Muitas acusações foram feitas – inclusive ao relator e ao presidente dela –, mas o resultado foi nenhum.(...)


Por que não se investiga a fundo? Por que o assunto desapareceu do noticiário? Se alguém tiver alguma informação sobre mais essa Notícia Desaparecida, envie-a aqui para o blog.

Notícias Desaparecidas: Pelo menos GM, Chrysler, Scania, Firestone, Philips e Volks ajudaram a ditadura no Brasil

Como todos sabemos, houve uma ditadura no Brasil. O golpe que veio a originá-la aconteceu num 1° de abril como hoje, há 43 anos, mas foi oficializado como se tivesse acontecido um dia antes, no dia 31 de março, para fugir do estigma do Dia da Mentira, numa das primeiras falsificações (não a última, nem a mais importante) da História que se iria praticar naqueles tempos.

Por isso escolhi para inaugurar esta nova seção do Blog – Notícias Desaparecidas – um tema que ainda não foi devidamente esclarecido: a colaboração das grandes corporações com a ditadura.

Em maio de 2005, uma reportagem de José Casado, publicada em O Globo e reproduzida no Blog do Noblat, tratava do assunto.

A cooperação entre empresas e ditadura militar foi permanente, intensa e quase sempre discreta, revelam documentos inéditos guardados nos arquivos do extinto Dops paulista.

Uma parte foi descoberta e entregue ao GLOBO pelo historiador Antonio Luigi Negro, autor de um excelente livro sobre a emergência do sindicalismo brasileiro depois da Segunda Guerra (“Linhas de Montagem”, Editora Boitempo, 2004).

Outros papéis foram localizados em arquivos públicos e particulares de São Paulo, Buenos Aires e Washington.

O conjunto é eloqüente na demonstração de um colaboracionismo muito além dos milionários donativos empresariais recolhidos pelo banqueiro Gastão Vidigal, o industrial Henning Albert Boilesen e o advogado Paulo Sawaia para custear a criação de um corpo de polícia política dentro do Exército (a Operação Bandeirantes).

O intercâmbio entre empresas e órgãos de segurança ultrapassou o fornecimento rotineiro de Fuscas da Volkswagen, de Galaxies blindados da Ford, de caminhões da Ultragás, de refeições congeladas Supergel e de “gratificações” às equipes dos porões do regime.

Grandes empresas recrutaram pessoal nas Forças Armadas e na polícia, mantiveram aparatos de espionagem dos empregados dentro das fábricas e nos sindicatos. A Volks e a Chrysler, por exemplo, repassaram listas de funcionários aos órgãos de segurança, às vezes com as respectivas fichas funcionais. Na semana passada, ambas negaram o envolvimento.

A Volks ressalvou ter sido “sempre apolítica”. A DaimlerChrysler alegou total desconhecimento, “portanto não temos comentários”.

E mais não lhes foi dito. E mais não lhes foi perguntado.

Na Argentina, a história é outra

No outro dia, o jornal voltou ao assunto, com nova reportagem de Casado. Nela, ficamos sabendo que, se no Brasil a história estava abafada, na Argentina a conduta era outra, bem diferente:

Na Argentina, durante a ditadura, essa mesma conduta gerou uma série de processos judiciais contra grandes corporações. Um deles, contra a Ford, tem audiência judicial amanhã. Nos EUA, correm processos contra a Ford e a DaimlerChrysler, movidos por famílias de argentinos desaparecidos depois de presos nas fábricas.

Comandante de campos de extermínio nazista organizou segurança da Volks no Brasil

Outra reportagem de Casado em O Globo informava:

Nos arquivos da polícia política há uma profusão de registros e listas de empregados remetidos por empresas privadas, com dados para identificação individual. As fichas serviam a todos os órgãos de segurança. Com freqüência, davam origem a inquéritos no Departamento de Ordem e Política Social (Dops) — e, claro, a detenções.

Ainda na mesma reportagem, esta informação (o grifo é meu):

Uma das que mais investiram [em departamentos de segurança] foi a Volkswagen, cujos pátios reuniam cerca de 30 mil funcionários. Entre os especialistas que contribuíram na montagem do "serviço" da Volks estava o alemão Franz Paul Stangl. Fugitivo nazista, fora privilegiado por Hitler com o comando de dois dos principais campos de extermínio do III Reich na Polônia, Sobibor e Treblinka. Descoberto e preso, foi extraditado em 1967.

Depois o assunto sumiu, e agora encabeça a nossa seção de Notícias Desaparecidas.

Em países onde a imprensa é verdadeiramente livre, até mesmo as grandes corporações morrem de medo dela, porque sabem que imprensa pode revelar seus intestinos. Aqui no Brasil é a imprensa que morre de medo (tá bom, não é medo, são intere$$e$) das empresas.

Vamos parar com isso?

Ah, e se você tem Notícias Desaparecidas para sugerir, colabore.

(Hoje à noite, "Intervenção kafkiana em Ipanema", no Blog do Mello - crônicas)