Diminuição da maioridade penal, prisão perpétua, pena de morte e outros ingredientes da salsicha

É a tal história: o sujeito quer comer salsicha, mas não quer saber como ela é produzida.

O mesmo acontece com certo tipo de imprensa – simbolizado pela revista Veja – e de boa parte da população brasileira. Eles querem que os problemas da violência, dos menores na rua, dos mendigos e das mulheres pobres que engravidam sem parar sejam resolvidos. O meio não importa. Pode ser pela diminuição da maioridade penal, prisão perpétua, pena de morte, construção de milhares de presídios de segurança máxima com RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), esterilização das mulheres pobres, internação dos menores de rua...

Se um político lograr êxito nessa empreitada terá sua eterna gratidão. Mais ainda se poupá-los de saber dos indigestos ingredientes dessa salsicha.

EUA acham gás cloro no Iraque. Isso não está cheirando bem

Acho que todo mundo conhece a história do pequeno pastor de ovelhas que gritava anunciando o lobo. Quando as pessoas iam socorrê-lo, ele morria de rir, porque não havia lobo algum. Até que um dia um lobo apareceu realmente, ele gritou e ninguém apareceu.

Pensei nessa história quando li reportagem em O Globo afirmando que os EUA encontraram cilindros de gás cloro no Iraque. E mais: que dois caminhões com o produto foram usados em atentado que matou 11 pessoas e internou mais de cem, intoxicadas.

Você, meu arguto leitor, recorda-se que essa guerra começou por causa disso, as tais armas químicas que estariam em poder do Iraque. Essas armas nunca apareceram. Agora, quando vários aliados dos EUA estão retirando seus exércitos, no todo ou em parte, do Iraque; agora que os americanos estão morrendo aos magotes; que helicópteros estão sendo derrubados como patos; que só se fala na disputa entre os candidatos democratas, Hillary e Obama, como se os republicanos (partido de Bush) estivessem fora do páreo da sucessão; agora que a popularidade de Bush está tão lá embaixo que ele se dispõe até a vir ao Brasil; bem agora surge o gás cloro...

O que é ainda mais estranho nisso tudo é que o New York Times afirmou que “os ataques foram pobremente executados: o gás foi explodido e não liberado no ar – o que poderia matar ou ferir milhares de pessoas e provocar pânico em massa”.

Será que isso não aconteceu exatamente porque os ataques não foram executados por iraquianos? O que é que vocês acham? Existe o lobo ou os americanos querem fazer o mundo de bobo?

A morte e a outra morte do menino João (o caso Veja)

Em sua busca por satanizar o problema da violência no Brasil e na busca mais pragmática por faturar a indignação e o sofrimento dos outros, a revista Veja da semana passada produziu uma das mais abjetas páginas do jornalismo, com a descrição minuciosa do padecimento do pequeno João.

Detalhes escabrosos, sentimentos mórbidos, escondidos numa pretensa descrição imparcial dos fatos. Sim, porque a Veja foi além de qualquer tablóide mais vagabundo, desses que se dizia antigamente que quando se espreme sai sangue, narrando os pormenores do que teria acontecido ao corpo do pequeno João, enquanto era arrastado pelo carro dos criminosos por vários quilômetros.

Qual o interesse de tal narrativa? Qualquer um que tenha ao menos dois neurônios, o Tico e o Teco, em funcionamento e se comunicando é capaz de imaginar o que aconteceu ao corpo do garoto. Em que a descrição do que de fato teria acontecido ajuda?

É apenas carniça para alimentar os abutres de plantão, aqueles que querem o estado vingador, um estado “prende e arrebenta” ao estilo da ditadura para não ter que falar no escândalo maior desse país, que é a causa primeira da imensa maioria dos conflitos que estão aí: 91% das riquezas do Brasil estão nas mãos de apenas 4% da população.

Quem é o menor infrator

Dados do Degase, que cuida dos menores infratores no Rio de Janeiro, mostram que 70% dos adolescentes atendidos têm renda familiar de menos de um salário mínimo. Mais 15% de até dois salários.

80% deles têm o ensino fundamental (o antigo primário) incompleto. 5% deles são analfabetos.

85% são negros (43%) e pardos (42%). Os brancos são 15%.

Esse é o perfil do jovem infrator: preto ou pardo, com renda familiar de até um salário-mínimo e com o ensino fundamental incompleto.

Esses jovens são os atuais inimigos dos abutres, que se alimentam em reportagens como a da Veja, e se amparam na desculpa de que a injustiça social não justifica o crime. Concordo. Mas, na maioria das vezes, explica.

Cai o presidente do Metrô de São Paulo

Já é alguma coisa. Antes estava caindo o metrô. Mas eu quero ver o que vai acontecer com as empreiteiras responsáveis pelas obras. São as cinco maiores do país.

Reportagens da TV Globo têm mostrado problemas e mais problemas nas obras comandadas pelo Consórcio. E na hora das respostas e soluções as empreiteiras são mooooles como o concreto que estavam usando na linha 4, aquela que desabou.

Reportagem exibida no Fantástico mostrou que o Consórcio usou material fora de especificação e demorou a dar respostas exigidas pelo Metrô. Problemas apontados em maio tiveram resposta em outubro, e por aí vai. Ou melhor, foi. Para o buraco.

Agora cai o presidente do Metrô. Parece uma resposta do governo tucano. Foi-se o anel. Quero ver o que vai acontecer aos cinco dedos: Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

Trocadilhando o presidente Lula:

- As empreiteiras têm que mostrar o dado concreto.

Há 20 anos morreu Andy Warhol

Cresce o número de acidentes de carro nas estradas durante o carnaval

Quem já não leu essa manchete? Está mais uma vez hoje na Folha afirmando que aumentou o número de acidentes nas estradas de São Paulo. Entra ano, sai ano, é a mesma história. Imprudência, estradas mal conservadas, carros idem, mas, principalmente, álcool na cabeça do motorista.

Já não é mais caso de campanhas educativas, apenas. O motorista sabe que álcool não combina com o volante. No entanto, todos pensam que acidentes só acontecem com os outros. Muitos até acreditam que dirigem melhor quando estão bêbados. Quem não conhece pelo menos um idiota que afirma isso?

Quando é que as autoridades vão tomar a medida que já se faz urgente para poupar a vida dos que não têm nada a ver com as escolhas individuais criminosas desses idiotas? É preciso dar um fim à impunidade. Garanto que uns diazinhos na cadeia para meditação teriam um poderoso efeito profilático.

- Bebum no volante, perigo constante.

Beija-Flor campeã de 2007

Espetacular a vitória da Beija-Flor. Além de ter apresentado o melhor desfile, a vitória da escola de Nilópolis é a vitória do trabalho em grupo, de um grupo que entende de samba, de escola de samba e que realiza um trabalho que vai além de simplesmente desfilar e vencer o Carnaval no Grupo Especial do Rio.

Diferentemente das outras escolas, quem comanda o carnaval da Beija-Flor não é um carnavalesco, mas uma comissão de carnaval, comandada por Laíla - cria da grande escola do Salgueiro. A Beija-Flor até tem carnavalesco (este ano foi Alexandre Louzada, que havia vencido o desfile do ano passado com a Vila Isabel), mas ele é mais um dentro da comissão, que foi criada em 1998, com os seguintes resultados:

98, campeã; 99, vice ; 2000, vice; 2001, vice; 2002, vice; 2003, campeã; 2004, campeã; 2005, campeã; 2006, quinta ; e agora campeã novamente em 2007.

Enquanto isso, carnavalescos marrentos e dirigentes incompetentes ficam batendo cabeça e afastando do desfile os verdadeiros sambistas. Só parodiando o "Deixa o homem trabalhar" da campanha de Lula:

- Xô, chuchus, deixem o sambista sambar.

(E "olha o Neguinho da Beija-Flor aí, gente!"... Grande Neguinho, com quem já trabalhei algumas vezes, parabéns!)

Negligência ou incompetência no desabamento do metrô em São Paulo?

Reportagem de Walter Nunes publicada na revista Época desta semana faz a pergunta: Negligência ou incompetência no desabamento do metrô em São Paulo?

Um ano antes do desastre, o Metrô e o consórcio de empreiteiras responsável pela obra já sabiam de um afundamento na Rua Capri, vizinha à estação, que desmoronou com o buraco aberto na obra de construção da Linha 4. Os registros sobre o afundamento da rua aparecem em atas de reuniões de representantes do Metrô com o Consórcio Via Amarela. As atas estão agora em poder do Ministério Público de São Paulo e da Assembléia Legislativa para a investigação do desastre.

Engenheiros consultados pela revista “foram unânimes em dizer que os registros de afundamento no solo da Rua Capri representam indícios de problemas sérios para a obra, que não foram enfrentados nem pelo Metrô nem pelas empreiteiras por ‘incompetência ou negligência’”.

Mas como se trata de governo do PSDB e das cinco maiores empreiteiras do país (OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez), o assunto corre em banho-maria. Com o fogo desligado, se é que me entendem.

Jornalismo chapa-branca de O Globo mostra César Maia fantasiado de prefeito

O ex-prefeito do Rio, ainda no exercício do cargo, César Maia já está em campanha. Como todos sabem o prefeito só dá as caras nas ruas do Rio quando se aproximam as eleições. Não é segredo. Ele mesmo confessa isso. Na época em que seu ex-blog ainda era um blog ele respondeu a um repórter de O Globo que o questionava sobre o tempo que gastava com o blog e não com a administração da cidade:

- É coisa de desocupados. Se fosse em ano eleitoral eu me preocuparia.

Pois é, estamos em época eleitoral. Ano que vem teremos eleições para a prefeitura. Portanto, o prefeito começa a dar as caras. Voltou, por exemplo, a aparecer no desfile das escolas de samba – o que não fez nos últimos anos. Quis mostrar a cara, dizer que é um prefeito participativo e que gosta de carnaval.

César mostrou sua alma de sambista fazendo aquilo que mais gosta nos desfiles: apertar mãos, dar abraços, varrer o chão, secar poças de água e empurrar carros alegóricos. Ou seja, no carnaval ele se fantasia de prefeito.

Que o ex-prefeito tente enganar mais uma vez os incautos, é opção política dele. Mas o jornal O Globo abrir espaço para isso é demais. Em sua edição de hoje, o jornalão informa que César “distribuiu e recebeu pelo menos 1823 abraços, beijos e tapinhas nas costas...trocou de camisas quatro vezes e tirou restos de fantasia e serpentina da pista em 14 ocasiões”.

Como diria o falecido Bussunda: - Fala sério! O repórter contou os abraços, as trocas de camisa e as limpezas de pista, ou foi uma notícia plantada pelo grupo que assessora César, freudianamente conhecido como Juventude César Maia (embora juventude e César Maia sejam uma contradição em termos...)?

A imprensa já viveu dias melhores.

Mangueira deixa Nélson Sargento e Beth Carvalho fora do desfile

Ano passado aconteceu com Martinho da Vila. Uma discussão interna na escola de samba Vila Isabel, e Martinho não desfilou. Um escândalo. O pior é que a escola foi campeã e ainda houve quem comemorasse essa vitória sem Martinho.

Também no ano passado a Portela deixou de fora toda a sua Velha Guarda, que não pôde desfilar, porque isso estouraria o tempo determinado para o desfile. Um crime, todo aquele pessoal que construiu a glória da azul e branco barrado em nome do regulamento.

Nelson Sargento e Beth Carvalho


Este ano a bomba estourou na Mangueira. Nelson Sargento não desfilou. Ele que é uma das glórias da verde e rosa, remanescente do grupo de fundadores da escola, como Cartola, Carlos Cachaça e Nelson Cavaquinho. Sargento não desfilou porque a escola não providenciou a fantasia de sua esposa e filho, que o acompanhariam durante o desfile, já que ele tem 82 bem vividos anos.

Mas a Mangueira pisou ainda mais na bola. Beth Carvalho foi proibida de desfilar na escola, porque pediu para sair sobre um carro alegórico, pois não poderia desfilar no chão - como sempre fez - por um problema na coluna. O carnavalesco Max Lopes não acreditou no problema de coluna dela e Beth foi barrada no carro. Um absurdo. Muita gente é Mangueira por causa de Beth. Da divulgação que ela deu à escola e a alguns de seus grandes compositores.

Técnicos, carnavalescos e políticos de gabinete


Os carnavalescos são uma praga, tão endeusada e perniciosa como os tecno-burocratas. Logo me vêm à cabeça as figuras empoladas de Parreira, do ex-prefeito ainda no exercício do cargo César Maia e agora desse Max Lopes, que surge como legítimo representante da classe dos arrogantes carnavalescos. A eles juntam-se os dirigentes, que acham que são mais importantes que o clube, a escola de samba ou a cidade, estado ou país que dirigem. Tristes tempos.

Não vai me causar espanto se um idiota desses vier um dia a proibir o grande Jamelão de desfilar pela Mangueira, já que agora ele se encontra impossibilitado de cantar. A desculpa vai ser uma idiotice qualquer. Porque é só o que produzem os idiotas.

Este blog protesta veementemente contra a indelicadeza feita a Nelson Sargento e a grosseria contra Beth Carvalho. Que esses defensores do futebol sem gol ("O gol é apenas um detalhe" - Parreira), escola de samba sem sambistas e política sem povo saiam da frente, abram alas pro povo passar.

No desfile deste blog Martinho da Vila, a Velha Guarda da Portela, Nelson Sargento e Beth Carvalho desfilam como, quando e por quanto tempo quiserem. Bumbum-baticundum-prucurundum!

No carnaval de Meinz, na Alemanha, Bush apanha no bumbum-baticundum-prugurundum

Nos EUA, homem morto há mais de um ano é encontrado com a TV ligada

Vincenzo Ricardo, de 70 anos foi encontrado morto em sua casa de Southampton Town (EUA) mais de um ano após seu falecimento e com a televisão ainda ligada.

Tá certo. É notícia. E é curiosa. Mas conheço gente que está morta há bem mais tempo em frente à TV e nem por isso é notícia. Pelo contrário, produz notícia.

Pergunta para os que querem baixar a maioridade penal

Como é que fica o caso do menor de 12 anos encontrado pela PM arrastando o corpo da avó, Hilza Pereira da Silva, que ele matou a facadas em Japeri, no Rio de Janeiro?
A lei deve baixar para a partir de doze anos?

Obesidade e Segurança Pública

Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, dez. 2004.

Todos os dias lemos nos jornais cartas de leitores, artigos e entrevistas dos mais variados especialistas fazendo críticas e apresentando soluções para o problema da (in) segurança pública no Rio. No entanto, ela só aumenta.

Será que não estamos como certos obesos que querem emagrecer sem ter de fazer dieta ou exercícios físicos e vivem à espera de um remédio milagroso? Quando comentamos sobre a violência e defendemos uma polícia mais enérgica, Exército nas ruas, penas mais duras, uns ''bons cascudos'', ou até mesmo a pena de morte para os bandidos (esses ''outros'' que desrespeitam as leis e teimam em nos atingir com suas balas perdidas), não estamos agindo como esses obesos?

Queremos que a violência acabe, mas achamos que a solução não depende de nós. Porém, a verdade é que somos os principais financiadores dessa situação: 1) quando compramos drogas ilegais, softwares, relógios e outros objetos pirateados; quando jogamos no bicho; 2) quando subornamos policiais e pagamos a ''despachantes'' para ''abrir caminhos'' na burocracia, estimulando a corrupção; 3) quando com nossos votos e impostos sustentamos a política de (in) segurança que combate essa violência.

Usando mais uma vez o exemplo dos obesos, o que temos é que fazer dieta e exercícios físicos. A dieta implica em ''respeitar as leis vigentes''. Se não concordamos com elas, lutemos para modificá-las, mas, enquanto isso, devemos respeitá-las. Não comprar um baseadinho, não fazer uma fezinha no bicho, não estacionar em local proibido, ''é só um instantinho!'' - e todos os demais ''inhos'' a que nos habituamos no dia-a-dia. Se fizermos assim, vamos atacar dois lados do problema, cortando o financiamento dos criminosos e dos corruptos.

Vem então a outra parte, a dos exercícios físicos. Temos de sair de nossa acomodação, de acharmos que nossa participação na vida política deve se resumir a votar. Vamos cobrar: dos membros do Executivo (municipal, estadual e federal), que parem de brigar entre si e busquem os melhores meios para proporcionar segurança à população.

Dos policiais, que cumpram com seu dever. Se os salários estão baixos, os equipamentos defasados, a política atrapalha, tudo isso deve ser motivo para justas reivindicações. Porém, cumpram com suas obrigações enquanto as demandas não são resolvidas e não tenham medo de levar uma investigação ''às últimas conseqüências'', ainda que o ''chefão'' do caso investigado seja um político influente, um empresário de sucesso ou um juiz famoso.

Dos membros do poder Legislativo, que busquem adequar as leis vigentes às demandas da sociedade. Mas também dêem o exemplo, cortando na própria carne, evitando o corporativismo que os desmoraliza aos olhos da população.

Dos membros do Judiciário, que lutem para que a Justiça seja feita e não para adequar as leis às necessidades de seus clientes. Não é possível que criminosos conhecidos tenham para ''defendê-los'' mais de uma dezena de advogados, que buscam apenas brechas nas leis para colocar em liberdade indivíduos que eles sabem que deveriam estar atrás das grades.

Falando assim, parece que não vai dar certo. Desanimados, alguns chegam a pensar numa saída radical, que seria como a cirurgia do estômago: entregar a solução a um regime autoritário, que botaria a tropa nas ruas e faria com que a violência emagrecesse. Mas se o uso de uma força maior resolvesse, os Estados Unidos teriam vencido a guerra do Vietnã, Israel já teria resolvido a ''questão palestina''...

No entanto, se somos pessimistas no diagnóstico, temos de ser otimistas na ação. Portanto, dieta e exercícios já! Ou isso ou continuamos à espera de um remédio milagroso, um político que prometa que vai resolver tudo, sem que tenhamos de fazer nada, a não ser votar nele. Já tivemos essa experiência algumas vezes. Por isso estamos nessa situação.

A morte do menino João e outras mortes

Carta de um leitor de O Globo:
A sociedade, com seu comportamento permissivo, vem sendo conivente com o crime, com o jogo do bicho, tráfico, corrupção policial e está pagando um preço por isso.
Fico pensando se agora as pessoas ficaram realmente indignadas e vão começar a reagir.
Será que vão deixar de comprar cocaína, maconha, mercadorias roubadas nos camelôs, peças de carro roubadas nos ferros-velhos? Será que, para fortalecer as leis, vão começar a respeitar as pequenas leis que já existem, vão deixar de levar cachorro à praia, deixar de jogar lixo nas ruas, parar de estacionar nas calçadas? Será que os pais vão começar a educar seus filhos, ensinando que ser é mais importante que ter? Exercer cidadania dá trabalho. Fico com medo de pensar que, para muitos, é mais fácil dizer que a culpa é apenas do governo, vestir branco nas passeatas e falar que a imprensa exagera. Quem vai ser o próximo João?
Edson Quadros, Brasília, DF

Este foi exatamente o tema de um artigo que escrevi para o Jornal do Brasil e foi publicado em dezembro de 2oo4. Chamou-se Obesidade e Segurança Pública.

Reportagem do Jornal Nacional denuncia negligência em obras do metrô de São Paulo

Reportagem de César Tralli no Jornal Nacional de ontem mostrou que corre perigo de desabar mais um trecho da linha do metrô que está sendo construída, como ocorreu no trecho da estação Pinheiro. Agora o problema está na Fradique Coutinho.

É mais uma tragédia anunciada. Vamos ver as providências que serão tomadas pelo governador José Serra. Dessa vez ninguém pode alegar desconhecimento dos vários e graves problemas denunciados na reportagem.

Segundo laudos obtidos com exclusividade pelo repórter, as soldas que prendem as vigas que sustentam a estação estão completamente fora das normas, pondo em risco toda a estrutura da obra, que corre o risco de desabar.

Apesar disso, o engenheiro do metrô responsável (??) afirmou que garante que a obra é segura. Sugestão: ele deveria despachar num escritório montado sobre ela até sua conclusão.

O consórcio responsável (se é que se pode usar esta palavra, diante de tudo o que a reportagem denunciou) também disse que todas as medidas estão sendo tomadas para corrigir os problemas apresentados.

De parabéns o Tralli pela reportagem muito bem estruturada (ao contrário da obra). Faltou apenas uma entrevista com o governador – o que certamente aconteceria se ele fosse do PT. Faltou também dizer o nome das empreiteiras responsáveis pelas obras. Mas a coragem do JN não vai a tanto. O que é uma pena. Se essas empreiteiras, que são as cinco maiores do país, tivessem seus nomes anunciados no telejornal da dupla Ali Kamel-William Homer, certamente as providências seriam mais imediatas.

Mas o que você não soube no Jornal Nacional sabe aqui. O Consórcio Via Amarela é liderado pela Odebrecht, a maior construtora do país, e integrado por OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

Recomendo a todos os paulistas – e aos que tenham o estranho hábito de passar o carnaval em São Paulo - que cliquem aqui e dêem uma olhada na reportagem de Tralli que denuncia uma série de problemas na obra do metrô de SP para ficarem longe do perigo.

A morte e a outra morte do pequeno João (3)

Continua o sensacionalismo barato com a exploração da tragédia do menino João. O Jornal Nacional de ontem ganhou o prêmio Lágrimas de Ouro com o auto-referente “momento lindo” em que William Bonner perguntou a Fátima Bernardes como ela se sentiu ao fazer a entrevista com os pais do menino barbaramente assassinado.
Aguarda-se hoje a seqüência. Fátima deve perguntar a Bonner como ele se sentiu ao ouvi-la contar como se sentiu ao entrevistar os pais do menino.
De exploração em exploração - podem apostar - já, já teremos uma entrevista com um médium que incorporou o pequeno João.
Tudo isso é asqueroso.

Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL, ou PD?) pede desculpas

Em artigo publicado na Folha, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, pede desculpas pela agressão covarde - que ele chama de descontrole – que praticou há uma semana.

Demorou. Mas, de qualquer modo, parabenizo o prefeito pela atitude. Abaixo, um trecho do artigo.

Não vou tergiversar, não uso meias-palavras. Errei, me excedi. Perdi a cabeça. Não tenho sangue de barata e reajo, às vezes, como muitos reagiriam. Não tinha o direito de perder a calma, e perdi. Foi um acidente. Mas nada o justifica. Mostrei-me como não sou. No dia seguinte, pedi desculpas. Não tenho problemas em reconhecer um erro. Faço-o novamente agora, por escrito. Peço desculpas ao senhor Kaiser, à cidade e aos brasileiros. Faço-o de coração aberto.

Assinante da Folha pode ler o artigo completo em que Kassab pede desculpas, clicando aqui.

Entenda o que é Web 2.0

Vi a dica deste vídeo no Blog do Gravatá, que o indicava no Br Point. Mas ele está hospedado onde quase sempre tudo está, no Youtube. Vale a pena assistir.


Blog do Mello Letras, Blog do Mello Empresas

Leia parte da entrevista com Paul Auster, publicada em O Globo, clicando aqui no Blog do Mello - Letras.

Saiba como uma comunicação mal feita ajudou a derrubar o muro de Berlim, clicando aqui no Blog do Mello - Empresas.

Veja escreve hoje o desmentido de amanhã

Dizem que a mentira tem pernas curtas. Parece que as reportagens e entrevistas da Veja também. Perdem a validade rapidinho. De uma semana pra outra não servem nem para embrulhar jornal, como se fazia antigamente.

Semana passada, as páginas amarelas do hebdomadário (veja Maiakovsky) se abriram para o ex-embaixador do Brasil nos EUA Roberto Abdenur. Ele falou mal do Itamaraty e bem do governo. Mas a Veja colocou tudo no mesmo saco de maldades, e sobrou pro governo Lula. Abdenur disse que o Brasil tinha um antiamericanismo atrasado, o que foi contestado em seguida pelo governo Bush, que enviou em missão ao Brasil o subsecretário Nicola Burns.

Mas os jornalões compraram com alegria a versão da Veja. O Estadão chegou a fazer um editorial a respeito. Agora que percebeu que “suas idéias não correspondem aos fatos” parece que mudou de idéia, ao ver que encampou uma mistificação, como eu já havia anunciado aqui numa postagem chamada A entrevista do ex-embaixador do Brasil nos EUA à Veja.

Tanto que hoje o tradicionalíssimo jornal paulista publica uma boa entrevista com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Alguns trechos da entrevista:

Como o sr. vê as críticas de Roberto Abdenur, que apontou a existência, no Itamaraty, de uma doutrina anti-Estados Unidos cuja influência se daria até na hora de definir as promoções dos diplomatas?
Houve a transformação de algo burocrático numa coisa política. Abdenur foi embaixador em Washington durante dois anos e oito meses, executando fiel e lealmente a política do presidente Lula, mas orientado por mim. É leviano afirmar que as promoções no Itamaraty obedeçam a critérios ideológicos. Isso é uma ofensa.
Mas há algum viés antiamericano na política externa brasileira?
Como é que uma postura antiamericana pode gerar um interesse tão grande sobre o Brasil? Seria pensar que os EUA são mulheres das peças de Nelson Rodrigues. E obviamente não é o caso. Nossa atitude é pragmática e procura defender o interesse brasileiro. Não há antiamericanismo. Muito pelo contrário. A busca de parceria não é só a discussão em torno de acordos bilaterais como o do etanol, mas a busca de um diálogo sobre o mundo. Se os EUA percebessem uma atitude antiamericana, você acha que isso ocorreria? A melhor resposta está nos fatos.
Aponte, por favor, alguns fatos.
Os contatos intensos do presidente Lula com o presidente George W. Bush, muitas vezes por nossa iniciativa e muitas vezes por iniciativa deles. Sempre de maneira produtiva e amistosa. Por exemplo, na discussão em torno do biocombustível, temos o interesse comum em criar o mercado global do etanol. Isso foi uma iniciativa brasileira. Temos também trabalhado juntos no Haiti, sobre o qual eles nos ouvem muito. Há uma relação madura e positiva em relação aos temas do continente.

A íntegra da entrevista de Celso Amorim ao Estadão está aqui.

Vale a pena ler também o Blog Contrapauta, do jornalista Alceu Nader, sobre esse mesmo assunto.

Mainardi e Bonner: Veja e Globo X Brasil

Há um tempo, vazou a informação de que William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, define o telespectador-padrão do JN como Homer Simpson, do desenho animado Os Simpsons.

Hoje, em sua coluna da Veja, o guru-mor dos “indignados úteis”, Diogo Mainardi, vai além e diz que todo brasileiro, se ainda não o é, deveria ser como Homer Simpson.
Homer Simpson está esgoelando seu filho Bart. A troco de nada, ele pergunta:
– Pode haver país pior do que o Brasil?
Bart responde imediatamente:
– Nenhum país é pior do que o Brasil.
Homer Simpson se satisfaz com a resposta e solta a garganta de Bart.
Se todos os pais esgoelassem seus filhos e os obrigassem a repetir diariamente que nenhum país é pior do que o Brasil, já estariam cumprindo seu papel. Apesar de seus modos rudes, apesar de sua falta de cultura, Homer Simpson educa direitinho o pequeno Bart.
Essa é a imagem que eles querem passar para a população, a de um país derrotado, sem presente e sem futuro, medíocre. A de que não existe país pior do que o Brasil.

Mas, como a “toda ação corresponde uma reação, com a mesma intensidade, mesma direção e sentidos contrários” (terceira lei de Newton), a cada dia aumenta o número de pessoas que lutam contra essa alienação, em seus blogs, sites, comunidades do Orkut, organizações.

A morte e a outra morte do pequeno João (2)

E a exploração da tragédia do menino João continua... Em sua edição de hoje, o jornal O Globo afirma que a morte da criança virou parte da trama de uma de suas novelas:

A notícia sobre a morte de João voltou ontem à noite à TV. Desta vez, foi na novela da Rede Globo "Páginas da vida".
No capítulo, escrito às pressas pelo autor Manoel Carlos, a freira Natércia (Bete Mendes) chega à sala da diretoria do hospital e mostra o jornal com a reportagem sobre o caso a outras duas freiras.
- Minha Virgem Maria, não dá para acreditar numa barbaridade dessas! - diz Natércia.
As três freiras choram em silêncio. "Aí, num mesmo gesto, elas se ajoelham, fazem o sinal da cruz, baixam suas cabeças e rezam", escreve Manoel Carlos.

Está aí escancarada a espetacularização da tragédia para aumentar a audiência. É a mistura de “conteúdo livre” com “faturamento publicitário”, tema da postagem Diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger queima a imagem da Globo.

É proposital essa busca de uma interseção entre ficção e realidade. O objetivo é buscar a alienação, a apatia, que levam ao consumo como única forma para alcançar a felicidade. Por isso também é fundamental mostrar que o país não tem jeito, nossos políticos são os piores, nosso povo é chinfrim (a esse respeito leia a postagem Mainardi e Bonner: Veja e Globo X Brasil).

Diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger queima a imagem da Globo

A arrogância da Rede Globo de Televisão não tem limites. Os que trabalham ali parecem achar que estão acima do bem e do mal. Qualquer crítica à emissora é vista como um atrevimento que deve ser respondido não com argumentos, mas com agressões e demonstrações de prepotência.

Agora foi a vez do diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger, dar sua “demonstração de força” (é curioso usar essa expressão aqui, porque as Organizações Globo estão quebradas, com uma dívida tecnicamente impagável – apenas empurram com a barriga o desfecho que virá, mais dia, menos dia).

Mas a falta de educação, o sarcasmo e a prepotência que Erlanger desfila em seu texto ficam pior ainda por ele ser diretor do núcleo que é responsável pela imagem que a Rede Globo tem perante a população.

Pois bem. Em resposta a um artigo do jornalista Mauro Malin, em que este questionava o direito que as TVs julgam ter de arbitrar o que devem ou não exibir ao público e no horário que lhes for mais conveniente, Erlanger respondeu com agressões, como nestes dois exemplos pinçados do texto:

(...) Fico imaginando se hoje, de vez em quando, você chicoteia as costas ou usa cilício sob o jeans ianque para se purificar das vezes que serviu de redator para projetos comerciais.... Vade retro!

(...) Mauro, não está satisfeito: desliga televisão. Manda a babá ou a empregada desligar.
Vende ou quebra o aparelho.

Como diz um outro contratado da emissora, "Tá feia a coisa!"...

Leiam o artigo de Mauro Malin e depois a íntegra da resposta de Erlanger

A morte e a outra morte do pequeno João

O caso da morte do pequeno João, de apenas seis anos, que teve o corpo arrastado por quatro bairros do Rio provocou comoção na cidade e no país inteiro.

Mas temos que tentar pôr a cabeça no lugar e não agirmos como loucos ou desesperados. Assim agem os bandidos.

Provavelmente, os três, que já estão presos e confessaram o crime, não tinham intenção de fazer o que fizeram. Nenhum deles tem passagem anterior pela polícia. Usavam uma arma de brinquedo. Enquanto fugiam com o carro que acabavam de roubar, não devem ter percebido que arrastavam e destroçavam o corpo do menino.

Mas a exploração da notícia pela imprensa é absolutamente nojenta. O sensacionalismo, a busca da emoção barata, com a exposição de desenhos e mensagens da criança, narrativas no diminutivo, tudo isso é um segundo crime cometido contra o menino.

Mas quem procura por detalhes da notícia descobre a causa principal da tragédia. Mais de 70% dos roubos de carro no Rio acontecem na Zona Norte da cidade, como o que vitimou João. Na Zona Sul, onde ficam Ipanema, Copacabana, Leblon, e é a área mais policiada, são apenas 2%. Os números falam por si.

Hoje o dia vai ser penoso. A morte do menino será explorada pela mídia sensacionalista até a exaustão, como já o foi ontem. Mas, amanhã é sábado, a uma semana do carnaval. Logo, a grande imprensa - jornalões, emissoras de rádio e TVs – vão tirar a máscara do sofrimento e vestir a máscara da alegria, conforme combinado com os patrocinadores. Para eles, a exploração da notícia é apenas o meio de que se utilizam para engrossar o faturamento, com o aumento de audiência ou de exemplares vendidos, o que se reflete num maior número de anunciantes. A notícia – como o gol para o Parreira – é apenas um detalhe.

Por que Congonhas não pode parar?

Parece haver consenso sobre a necessidade de obras na pista do aeroporto de Congonhas. Ela está muito emborrachada e, nos dias de chuva, fica difícil pousar ali.

Só que as obras nunca começam. Não podem ser feitas em dias comuns, porque Congonhas não pode parar – especialmente a Ponte. Não pode ser no período de férias, porque as agências de viagem reclamam. Carnaval, idem.

Todos os dias a imprensa toca no assunto. Com mais, ou menos destaque. Mas as obras não começam, porque Congonhas não pode parar. Até que um dia um avião não consiga parar, um acidente sério aconteça. E aí?

É melhor parar pra pensar se Congonhas não pode parar.

Legislativo e Judiciário querem mais dinheiro

Quem começou foi o Congresso. O novo presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), andou falando que os ministros do Supremo ganham bem, e não os deputados. O ministro Marco Aurélio Mello reagiu. Disse que é o contrário. Mas achou pouco e foi além. Resolveu redistribuir a verba a que têm direito os partidos. Essa verba era dividida da seguinte maneira: 1% era rateado entre todos os partidos. Os outros 99% eram divididos proporcionalmente. O ministro propôs que o rateado passasse a 42%, enchendo de verba os pequenos partidos. Mexeu assim no bolso dos grandes, PMDB, PT, PSDB e PFL. Só que, quando se trata de dinheiro, não há diferença ideológica entre eles. Todos querem o seu e já preparam uma reação.

Já vimos esse filme inúmeras vezes. Legislativo e Judiciário vão bater boca, até que, ao final, chegam a um consenso. O Legislativo propõe mais verbas para o Judiciário. Este aprova mais verbas para aquele.

E nós, ó...

Na Itália, encontrado o mais longo dos abraços

Esqueletos se abraçando

Os dois esqueletos aí da foto morreram assim, abraçadinhos, há cinco ou seis mil anos. Eles foram encontrados por um grupo de arqueólogos romanos que faziam escavações nos arredores de Mantova, no norte da Itália.

Pouco se sabe sobre eles, mas, segundo a arqueóloga Elena Menoti, eram jovens, pois os dentes ainda estavam intactos.

- Nunca encontramos na Itália um sepultamento duplo da Idade da Pedra, muito menos de duas pessoas se abraçando.

Pois é. Hoje em dia está mais difícil encontrar pessoas se abraçando nas ruas do que nas escavações arqueológicas. Nem que seja por cinco segundos. E, se ficam abraçadas por mais tempo, pode apartar que é briga.

A entrevista do ex-embaixador do Brasil nos EUA à Veja

Quem tomou conhecimento da entrevista que o ex-embaixador do Brasil nos EUA concedeu à última Veja por intermédio dos jornalões e de colunistas como Miriam Leitão ficou com a impressão de que Abdenur é só críticas à política externa do governo Lula. Mas isso não é verdade. Ele faz rasgados elogios a essa política na entrevista:

O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos...

Ex-embaixador elogia relação com EUA

Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo.

As críticas de Abdenur

O que Abdenur critica - para alegria dos colunistas e blogueiros tucanos – é aquilo que ele chama de ideologização, uma doutrinação que estaria acontecendo no Itamaraty, onde pessoas com idéias mais afinadas com o governo são promovidas em detrimento de outras.

- As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência.

Mas, peralá. Quem é competente é competente para alguma coisa. No caso, competente para representar o país e a política externa brasileira do governo escolhido democraticamente pelo povo, nas urnas, no voto. Governo que tem o direito, portanto, de estabelecer as regras e prioridades dessa política, de acordo com o programa que apresentou para a população durante a campanha.

Se o ex-embaixador não concorda com essa política (o que não é o caso, já que faz rasgados elogios a ela, como nos exemplos acima), assim como vários colunistas e blogueiros, eles devem se unir e ver se conseguem chegar ao poder pelo voto nas próximas eleições. Assim poderão realizar a política externa de seus sonhos.

Abdenur diz que Itamaraty está pior que na ditadura

O ex-embaixador chega a fazer uma comparação da época de hoje com a do regime militar. Afirma que naquele tempo era melhor, porque não se cobrava ideologia de ninguém. Como não, cara-pálida? Quer dizer que a política do cacete, da prisão, da tortura é preferível a essa, que tem como critério – segundo Abdenur - a afinidade de pensamento, e não a competência? Quer dizer que era mais palatável (para o paladar dele, é claro) uma – segundo suas próprias palavras na entrevista – “política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista, imposta à força pelos militares”?

Há três anos, um Abdenur diferente na IstoÉ

O que parece estar havendo é uma guerrinha interna no Itamaraty. Abdenur perdeu a embaixada e o prestígio. Está magoado e destila sua mágoa nas páginas amarelas de Veja. Mas isso é agora, quando está se sentindo como o patinho feio.

Numa reportagem da IstoÉ de abril de 2004, Abdenur é apresentado assim:

[O padrinho de Abdenur é...] Celso Amorim em pessoa. Abdenur é homem da mais absoluta confiança do chanceler. Quando Amorim foi chanceler de Itamar Franco, Abdenur era o secretário-geral do Itamaraty, segundo homem na hierarquia da carrière. Ele também é ligado ao atual secretário-geral, o polêmico Samuel Pinheiro Guimarães. Assim como Samuel, Abdenur não simpatiza muito com o unilateralismo americano. Também tem sérias restrições à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) – Abdenur acha que seria mais vantajoso para o Brasil fechar um acordo com a União Européia. “Espero que os Estados Unidos estejam conscientes do fato de que eles correm risco de perder terreno no Mercosul”, afirma.
Nos bastidores do Itamaraty, é dado como certo que a estada de Abdenur em Washington seria apenas um trampolim para vôos mais altos. Pelas regras da casa, ele só poderá ficar no exterior até a metade de 2005. A grande aposta é que ele ocupará a cadeira de Samuel Guimarães.

Como nada disso aconteceu Abdenur anda bicudo como um tucano e a imprensa que se identifica com essa ave da família dos ranfastídeos faz a festa. A triste festa dos perdedores, que unidos ao ressentido-mór, FHC, “pulula na crítica e nos hebdomadários”, como disse Maiakovsky, via Haroldo de Campos.

Aniversário de Bob Marley: Is This Love

Kassab perde a Kabeça com Kaiser

O prefeito de São Paulo, Giberto Kassab (PFL, ou PD?), perdeu a linha com um manifestante, na manhã desta segunda-feira, em um hospital de SP.
Kassab partiu para cima do sujeito, aos gritos, empurrando-o e expulsando-o do local. O manifestante, Kaiser Paiva , estava acompanhado do filho, de apenas sete anos.


O prefeito, que teve uma atitude muito positiva, quando do desabamento da construção do metrô, pisou feio na bola, na minha visão de carioca. Mas não sei se os paulistas veem o acontecido do mesmo modo que eu.
Eles, que já elegeram Maluf e Jânio, podem acabar aprovando a atitude de Kassab, que passaria assim a figurar como favorito nas próximas eleições. Comentários em alguns blogs indicam que muitos acham que o prefeito agiu bem e que o agredido não passa de um baderneiro que estava a fim de defender seu negócio de outdoors.
Mas a atitude do prefeito é covarde e desmedida, pois ele usou de todo o peso de seu cargo contra um cidadão indefeso. Ainda por cima acompanhado do filho de sete anos.
Recomendo ao prefeito a urgente leitura de um conto de Rubem Fonseca, O Inimigo. À certa altura, o protagonista dá uma de Kassab e humilha um homem. Mas, na saída:
“Percebi que no hall um garoto parado olhava assustado para nós dois. Na hora não dei bola e bati a porta da rua com força. Mas em casa fiquei pensando naquele menino, testemunhando a humilhação sofrida pelo pai.”

Coca-Cola com coca, e o problema da água

Agora, após a divulgação do relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), quando problemas do clima e da água voltam à pauta, vou trazer mais uma vez um assunto que abordei numa postagem aqui há quase um ano e que até agora não teve conseqüência.

Coca-Cola com coca?

Laudo do Instituto Nacional de Criminalística do Departamento da Polícia Federal concluiu: a Coca-Cola do Brasil usa folhas de coca como matéria-prima na fabricação do extrato vegetal (também chamado de mercadoria nº 05) utilizado como um dos componentes na fabricação do seu refrigerante de cola.

Segundo a legislação de entorpecentes em vigor (DL 891, de 25/11/1938, itens 13 e 14), o uso de folhas de coca e suas preparações é terminantemente proibido no país, assim como a utilização de cocaína, seus sais e preparações. A lei faz distinção clara e cita todas as formas proibidas, tanto quanto ao uso, cultivo, transporte e comercialização. O item 13 abrange a folha de coca e suas preparações; o item 14 veta a utilização de cocaína, seus sais e preparações.
Ou seja: em estrito respeito à lei, a Coca-Cola não poderia ser comercializada no país.

Você arguto leitor, leu sobre o assunto em algum lugar?

A Coca limitou-se a um comunicado curto em que afirmava que há muito tempo não usava folha de coca em seu preparo.

No entanto, a agência peruana antidrogas, DEVIDA, disse que a companhia compra 115 toneladas de folha de coca do Peru e 105 toneladas da Bolívia por ano.

Evo Morales: Coca só para a Coca-Cola?

Em reportagem da BBC Brasil, publicada dia 22/12/2005 presidente boliviano Evo Morales (à época eleito, mas ainda não empossado) insistiu que a empresa compra a coca, apesar das informações de que o produto saiu da fórmula do refrigerante em 1929.

- "Se já retiraram esse ingrediente da Coca-Cola, então por que seguem comprando?"

Coca, Pepsi e a água da Índia

Em um dos comentários sobre a postagem, uma leitora que se identificou como Cláudia Gonçalves enviou-me um link de uma reportagem do Le Monde Diplomatique. Aquele link caducou, mas descobri o novo.

A reportagem do Diplô mostra um quadro aterrador, decorrente da utilização da água pela Coca e sua irmã siamesa, a Pepsi, no Kerala, na Índia, e a luta das mulheres do local contra as gigantes multinacionais.

As duas empresas possuem atualmente noventa “usinas de engarrafamento”, que são na realidade nada mais que “usinas de bombeamento”: 52 unidades pertencem à Coca-Cola e 38 à Pepsi-Cola. Cada uma delas extrai entre 1 milhão e 1,5 milhão de litros de água por dia.

Essas práticas resultaram na secagem de 260 poços, cuja escavação tinha sido garantida pelas autoridades para servir às necessidades de água potável e para a irrigação agrícola. Nesta região do Kerala – chamada “celeiro de arroz”, em razão de um rico ecossistema dotado de água abundante – os rendimentos agrícolas diminuíram 10%. O cúmulo é que a Coca-Cola redistribui aos camponeses, sob forma de esterco, os dejetos tóxicos produzidos por sua usina. Os testes efetuados, no entanto, mostraram que este esterco tem um forte teor de cádmio e de chumbo, substâncias cancerígenas.

Pergunto: será diferente aqui no Brasil? Você, arguto leitor, leu alguma reportagem a respeito?

Parece que antes do compromisso com o leitor vem o compromi$$o com o anunciante. Essa é a ética dos jornalões?

Internet: Neutralidade Ameaçada

Analisador de datagramas.Você sabe o que querem dizer essas três palavras? Elas estão hoje entre as maiores ameaças à neutralidade da internet.
Esse é o início do artigo de André Machado, em O Globo. Para ler o artigo completo clique aqui.

A Imprensa pede socorro

Não é só a grande imprensa que está sendo afetada pelas novas mídias, especialmente pelos sites e blogs de notícias na internet. A imprensa de esquerda, alternativa, sofre ainda mais. É o que afirma o diretor do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, em artigo publicado em sua edição mais recente.

Nele, Ramonet elogia a pluralidade de ofertas que a internet coloca à disposição da população mundial, mas critica a concentração que já está acontecendo, com blogs e sites sendo adquiridos pelos grupos de comunicação mais poderosos.

A situação está tão difícil para o Diplô, que Ramonet termina seu artigo conclamando os leitores a assinarem o jornal para garantirem a continuidade de sua publicação.

"Assinar o jornal, no momento em que denunciamos uma guerra midiática assimétrica frente aos gigantes da comunicação, constitui ao mesmo tempo um ato de resistência e a melhor maneira de nos manifestar apoio. É também um compromisso em prol da imprensa livre, da pluralidade de idéias e do jornalismo realmente independente. É, enfim, a resposta mais eficaz contra a ameaça da informação única."

Quando a ordem dos fatores altera os corruptos

Carta de um leitor de O Globo, no jornal de hoje (o destaque é meu):
A primeira página do GLOBO é de dar nojo. Ver fotos de Fernando Collor, Roberto Jefferson, Maluf, José Genoino, Palocci e Picciani, todos sabidamente corruptos, com exceção de Jefferson, tomando posse, é dose para Leão. Conclusão: as moscas voltaram, mas a sujeira continua a mesma.
Como Jefferson teve os direitos políticos cassados, por isso não se candidatou e portanto não se elegeu, "com exceção de Jefferson" deveria estar após "tomando posse". Ou a ordem dos fatores altera os corruptos.

Cesar Maia erra feio mais uma vez

Do ex-prefeito do Rio, ainda no exercício do cargo, Cesar Maia (PFL ou PD?), em seu ex-blog, na segunda-feira passada:

SENADÔMETRO!
Senadores Jose Agripino e Renan empatados. Mas 8 senadores não definiram seus votos.

Resultado da eleição ontem: Renan Calheiros (PMDB),51, Agripino Maia (RN), 28.

É um erro muito grande para ser debitado na conta de um desvio da pesquisa. Parece mais caso de desvio do ex-prefeito, que como político é marquetólogo, e como marquetólogo é político.

O dia mais importante do mundo da falta de notícias importantes

Finalmente é hoje o dia tão esperado. Dia daquele acontecimento que rendeu capas e páginas principais. Que consumiu análises e mais análises de especialistas os mais variados. O dia da eleição para a presidência da Câmara. No Brasil, só se fala em outra coisa.

Durante boa parte do tempo, os analistas dos jornalões tentaram vender a história de que o grande derrotado dessas eleições seria o presidente Lula, seja lá quem fosse o vencedor. Bobagem. Nesse tempo o presidente tirou férias, pescou, discursou, viajou, e viu a oposição se dividir. Viu, principalmente, o PSDB se dividir. Num racha tão grande quanto a cratera do metrô paulista. Mas sobre esse racha os jornalões passaram batidos.

O negócio deles é procurar divisões na base governista. Depois das eleições para a presidência da Câmara, talvez descubram que a base de Lula está dividida. Quando começar o Brasileirão 2007. Há os gremistas, os atleticanos, os santistas, os botafoguenses, e até os flamenguistas - porque ninguém é perfeito.

Mas projetar futuras votações a partir de análises da eleição de hoje é forçar demais a barra. Essa eleição tem uma importância interna. Ali se negociam vagas na garagem, mordomias de todo tipo, viagens internacionais, representações, o escambau. Na hora de votar projetos do Congresso e medidas do governo, a história é outra.

O que se tentou foi confundir o u com as alças. O centro e seu entorno, se é que me entendem.

O PFL, quem diria, vai virar PD

A informação está no Estadão. O PFL vai mudar. De nome. Vai se chamar Partido Democrata (PD).

Não sei não. Mas chamar o PFL de Partido Democrata só será menos estranho que chamá-lo de PD na França. Eis o que significa PD, segundo o Trésor de la Langue Française:
Pédé, subst. masc.Abrév. pop. - Homme qui éprouve une attirance amoureuse et sexuelle pour les jeunes garçons, enfants ou adolescents; p.ext., homosexuel.
Synon. de homosexuel, inverti, pédophile, sodomite.